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Fábio, Diário De Um Desesperado

E fim...

24 de Janeiro de 2022

Estou próximo a uma ponte (outra vez) e espero que dê certo agora. Mas sei lá. Sinto que me falta coragem. Não para pular. Isso eu tenho de sobra, mas coragem para enfrentar o desconhecido ou o conhecido, para o caso de dar errado.

Talvez essa sejam as últimas coisas que escrevo e desenho. Interessante como eu aprendi a gostar de escrever.

Olho para trás, para um tempo onde o peso da vida era apenas uma sombra distante. Lembro-me de quando as preocupações eram tão simples quanto escolher o brinquedo do dia. No quintal da casa da minha infância, o sol parecia mais brilhante, e a inocência era minha fiel companheira.

Naqueles dias, minha imaginação era o meu refúgio, e as histórias que eu criava eram meu escape. Ainda consigo sentir o cheiro da grama cortada e o som suave do vento nas árvores. Eu, o pequeno Fábio, envolto em sonhos que não conheciam limites.

Contudo, nem todos os dias eram doces assim e o tempo não tarda em transformar contos infantis em realidades cruéis.

Então, aqui vou eu, revisitando aquele garoto cheio de esperanças. Reacendendo a chama que a vida tentou extinguir, pois talvez, nas páginas do passado, eu encontre forças para encarar o presente e enfrentar o futuro, seja ele conhecido ou desconhecido. Ou apenas aumente minha motivação para finalmente colocar um ponto final.

Bom, acho que é isso. Então aqui vou dizer, escrever na verdade, minhas últimas palavras:

Me chamo Fábio e sempre odiei estar vivo.

................

18 de novembro de 2014

- Deixa eu ler o que você está escrevendo, Fábio. - pediu ou melhor exigiu meu irmão.

- Não é nada, eu juro, eu... - antes que pudesse continuar, meu querido irmão me deu um tapa e tirou o caderno da minha mão.

- Você ainda não aprendeu, né? Agora deixa eu ler. Vejamos. Hmmm, é um diário.

- Por favor, Renato...

- Cala a boca. Vamos ver o que você anda escrevendo.

Renato leu algumas páginas e um sorriso sádico começou se formar em seu rosto.

- Papai vai amar ler isso aqui. Vamos ver o que mais que tem... Blá, blá, blá, "apanhei", blá, blá, blá, "sonhei que meu irmão entrava no meu quarto e me tocava de um jeito que eu não gostava, então acordei, mas percebi que já estava acordado." - Renato fechou o caderno bruscamente e me puxou pelo braço. - Vamos conversar, irmãozinho.

- Renato, o que está acontecendo?

- Você já vai saber, mãe. O pai está no escritório?

- sim.

- Ótimo.

Chegando na frente do escritório, Renato bateu à porta.

- Entre.

Renato me empurrou para dentro e eu caí.

- o que aconteceu? - questionou meu pai.

- Leia isso.

Meu pai e minha mãe folhearam o maldito caderno, enquanto eu permanecia no chão. Minha mãe saiu do escritório, o que significava que eu ia sofrer. Ela não se opunha, mas não participava.

- Você mostrou isso para alguém, Fábio?

- Não, senhor. Eu juro.

Enquanto eu estava caído no chão do escritório, meu pai examinava as palavras registradas no meu diário. Seus olhos expressavam uma mistura de raiva e desaprovação.

- Fábio, o que diabos é isso? - questionou meu pai, visivelmente irritado.

- Pai, eu não mostrei para ninguém. É só... são apenas...

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, senti minhas costas e um pouco da barriga queimar de dor com a cintada que levei.

- E engole o choro. - gritou Alberto.

Nesse instante doloroso, senti a dor física se misturar com a angústia emocional. O silêncio pairava no escritório, quebrado apenas pelo eco dos meus soluços abafados.

Renato, meu irmão, olhava com satisfação enquanto eu tentava conter as lágrimas. Minha mãe, ausente naquele momento, era uma testemunha silenciosa da minha humilhação.

- Eu só vou perguntar uma vez: porque você escreve?

- Acho que eu sei porque ele escreve, pai. Ele gosta de ficar relembrando.

- Não! - tentei dizer que não era nada disso, que era porque eu não tinha nada e nem ninguém e se eu não colocasse para fora toda aquela merda, eu ia sufocar e enlouquecer, mas minha voz não saia.

- Venha aqui Fábio.

Com certo esforço me levantei e me aproximei do meu pai. Renato ficou ao meu lado.

- Estende a tua mão na mesa.

Eu levei um tempo para processar a informação e quando percebi, Renato pegou meu pulso e colocou sobre a mesa. Ele ficou segurando meu braço lá, com a palma virada para cima. Meu pai dobrou a cinta e eu soube o que ele iria fazer.

As lágrimas ardiam nos meus olhos enquanto meu pai, com olhar severo, erguia a cinta ameaçadoramente. A tensão pairava no ar, e meu irmão, firme ao meu lado, segurava-me com uma força que quase rivalizava com o impacto iminente.

Senti minha mão estendida, palma para cima, como um alvo vulnerável. O estalo do couro contra a pele foi acompanhado por uma explosão de dor, uma queimação instantânea que parecia ecoar por todo meu corpo. Enquanto meus dedos cerravam em resposta ao impacto, meu irmão, com expressão imperturbável, mantinha sua posição, solidificando o papel de espectador silencioso na cena de disciplina que se desenrolava diante de nós. A cada golpe, uma nova onda de dor se infiltrava, e a sensação de impotência era palpável naquele momento carregado de emoções contidas.

- Quatro golpes está bom, né?

Lembro que meu pai e meu irmão continuaram conversando entre si, mas a dor que eu estava sentindo era muito forte e eu não conseguia prestar atenção. Só conseguia olhar para a minha mão roxa.

- Você entendeu? - Perguntou meu pai, levantando meu queixo. - Vou falar só mais uma vez: pode continuar escrevendo, desenhando, o que quiser, desde que ninguém, absolutamente ninguém pegue esse caderno. Agora, se você cogitar comentar qualquer coisa que possa causar problemas, além de eu arrebentar você na pancada, faço questão de quebrar dente por dente teu. Agora, vai para o teu quarto.

Sai praticamente correndo daquele lugar. Eu tremia, minhas pernas estavam bambas. Me joguei na cama e chorei. Minha mão queimava.

Uma escolha injusta

Não tenho muitas lembranças da minha infância. Ao menos lembranças felizes. Dizem que quando vivemos momentos traumáticos nosso cérebro cria barreiras para nos proteger e por isso não lembramos, porém, acho que tive momentos traumáticos demais para meu cérebro dar conta de apagar e optou por apagar os momentos felizes, se é que existiu algum.

Chega ser cômico que uma situação já ruim pode piorar. Eu achava que não podia ser pior que ser um saco de pancadas, até meu irmão me tocar. Aquele pervertido, nojento. Tudo começou um dia enquanto eu tomava banho, quando percebi ele estava parado na porta me olhando. Fiquei sem reação.

Ele então virou as costas e saiu. depois daquele dia passei a trancar a porta do banheiro. Porém não adiantava.

- Você tem dez segundos para destrancar a porta por bem. Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

Eu sempre abria no quatro, mas nesse dia em especial eu estava determinado a não abrir.

- Dez.

Esperei ele arrombar a porta ou algo do tipo, porém nada aconteceu. Tive a esperança de que ele tinha desistido e ido embora. Retomei meu banho, me sequei, coloquei a roupa e saí. Tudo tranquilo até eu chegar no meu quarto e encontrar ele sentado na cama segurando o cabo do carregador do computador dobrado em dez voltas. Pensei em correr e ele pareceu ler meus pensamentos.

- Te aconselho a não tentar correr. Entre e aceite o teu castigo.

Sem escolha entrei no quarto.

- me...

- nem começa. Até quantos eu contei? Responda, Fábio!

- Dez. - engoli em seco.

- Sabe o que significa? Está vendo esse cabo? Ele está com dez voltas e serão dez puxadas. Você escolhe: bunda, coxas, costas ou deixa para eu escolher?

A sensação de angústia e impotência tomou conta de mim enquanto as palavras do meu irmão ecoavam no quarto. Aquele momento, que já era carregado de trauma, transformou-se em um pesadelo ainda mais surreal. A escolha entre áreas sensíveis do corpo e a contagem meticulosa adicionavam um componente de terror psicológico à situação.

Diante da escolha dolorosa que me era imposta, engoli em seco e, resignado, murmurei "costas". O medo era palpável, e o cabo do carregador, agora dobrado em dez voltas, prometia ser um instrumento de castigo.

- Tire a camiseta. Vamos!

Obedeci.

- Fica de bruços na cama. E não esqueça de contar cada puxada, afinal eu posso me perder e acabar passando das dez.

A sensação de desespero crescia à medida que eu obedecia às ordens do meu irmão. Deitado de bruços na cama, a espera pelas puxadas do cabo do carregador parecia uma eternidade iminente. Cada fibra do meu ser clamava por escape, mas a ameaça silenciosa pairava sobre mim.

A primeira puxada cortou o ar, acompanhada pelo estampido do cabo atingindo minha pele. A dor se manifestava de forma aguda, como se o próprio castigo fosse uma extensão do sofrimento que já carregava. Contei cada puxada como um mantra de penitência, cada número ecoando no quarto como um testemunho silencioso do meu tormento.

Quando terminou, Renato saiu do quarto. O quarto agora envolto em silêncio, restava apenas a ressonância das puxadas do cabo e a presença sufocante do trauma que se acumulava. Cada ferida marcada nas minhas costas contava uma história de dor e submissão, enquanto eu permanecia ali, estremecendo e suando frio.

A saída de Renato deixou para trás um vácuo de terror, e eu me encontrava em um estado de vulnerabilidade crua. Cada respiração era um lembrete doloroso do que acabara de acontecer, e as marcas físicas agora se alinhavam às cicatrizes emocionais que me acompanhavam desde a infância.

A solidão do quarto era quase ensurdecedora, interrompida apenas pelo som abafado de minha própria respiração entrecortada. O tempo parecia ter perdido seu ritmo, enquanto eu tentava processar o que acabara de ocorrer, preso na teia sombria que minha própria família se tornara.

Devo ter adormecido ou desmaiado, pois quando recobrei a consciência, minha mãe estava passando alguma coisa gelada nas minhas costas. Devia ser alguma pomada ou era só gelo.

Enquanto minha mãe tentava aliviar a dor, as lágrimas brotavam de meus olhos, uma torrente incontrolável de emoções reprimidas. O choro era uma expressão visceral da minha angústia, uma resposta à violência infligida por meu próprio sangue.

Em meio à dor física e emocional, o abraço materno se tornou um farol de consolo na escuridão. As palavras não eram necessárias; o simples toque e a presença da minha mãe ofereciam um refúgio momentâneo da cruel realidade que habitava meu lar.

No entanto, mesmo envolto pelo calor maternal, eu permanecia enredado em um turbilhão de sentimentos confusos.

Minha mãe não é uma pessoa ruim, ela é gentil, carinhosa, companheiro, boa mãe... Para o Renato. Para mim ela é alguém que faz aquilo que é obrigado a fazer. Quando ela cuida dos meus ferimentos não é porque ela me ama ou algo assim, é porque ou meu pai pediu para ela cuidar dos machucados para não dar problema de eu faltar na escola ou passar mal e alguém descobrir ou, quando muito raramente ela sente pena de mim.

Independente do motivo, eu aproveito o máximo que consigo. e tento pensar que ela faz aquilo porque se importa comigo. E quando ela não faz nada para me ajudar, digo para mim mesmo que é porque meu pai não deixa. Sei que é mentira, mas, poxa, eu só quero um pouco de carinho e atenção da minha mãe. Ser verdadeiro ou não da parte dela não faz muita diferença para mim.

Na verdade, faz sim, mas deixa no off.

Aniversário infeliz

Não sei ao certo com quantas pessoas já fiz sexo. O que é meio assustador considerando a minha idade. Uns 50? Não. Tenho certeza que foi muito mais do que isso.

Quando eu achei que era impossível as coisas piorarem, minha querida família mostrou o oposto. Meu presente de aniversário de dez anos foi ser abusado. Por mais que eu queira apagar esse dia da minha cabeça, ele está como se estivesse a acontecer agora. Lembro com perfeição da surra do dia anterior e no dia seguinte tudo parecia normal como sempre, se não fosse pela presença de um dos professores do meu irmão.

Quantos anos ele devia ter? Uns 45, 50?

Eles estavam conversando, depois Renato ligou para o papai e os dois foram para o quarto do meu irmão, ficaram alguns minutos lá, até que meu irmão me chamou. Eu fui.

- Fábio, venha aqui. - mandou Renato, fazendo sinal para eu me aproximar deles que estavam sentados na cama.

Aquele nojento começou me tocar. Eu lembro que tentei me afastar, mas Renato não deixou.

- Vou deixar vocês se conhecerem melhor. - disse meu irmão. - Vou trancar a porta para garantir.

Quando escutei aquilo senti um frio na barriga e um impulso de correr. Porém, aquele maldito me segurou enquanto o meu irmão saia do quarto e trancava a porta. Lembro que consegui correr até a porta, mas estava trancada.

- Renato, por favor, abre. Eu vou me comportar, eu juro. Por favor, não faz isso comigo, sou teu irmão. Mamãe... Por favor.

Eu chorei, gritei e implorei, mas não adiantou. O homem me puxou até a cama. Eu lutei, chutei, arranhei, mordi, joguei o que eu conseguia pegar. Ele apenas ria. Até que eu deixei ele bravo e ele fez eu me arrepender.

Eu estava desesperado e tentava me defender de todas as formas que eu conseguisse. Então eu dei um chute nas bolas dele, me arrependo de não ter conseguido dar mais forte, mas foi o suficiente para deixar ele irritado. Ele me segurou e me jogou sobre a cama, tirou a cinta que ele usava e me bateu. Gritei e chorei de dor. Mas o pior nem tinha começado.

Ele então ficou pelado. Colocou minha mão naquele órgão nojento e passou ele em meu rosto. Embora eu lutasse e resistisse, ele era muito mais forte do que eu. E conseguiu tirar minhas roupas.

- Soube que é teu aniversário hoje. - disse ele em meu ouvido. - Vou te dar um presente.

- Me deixa sair, por favor. - implorei chorando. - Não me machuca.

- Pshiii. Vai ficar tudo bem se você se comportar e ser um bom menino. É só uma brincadeira.

Enquanto ele ia falando, duas mãos iam deslizando em minha bunda. Então, ele forçou um dedo. Eu gritei e me debati. Em resposta, ele me deu mais uma cintada e forçou dois dedos.

- Socorro! Alguém me ajuda, por favor! Mãe. Renato. Alguém... Socorro...

Ele me deu um tapa no rosto e riu.

- Eles não vão te ajudar, querido.

Ele então me virou de bruços e continuou forçando os dedos. Era horrível.

Então ele derramou alguma coisa na minha bunda, depois descobri que era lubrificante.

- Não vou ser tão maldoso com você e ir a seco. Vou te deixar molhadinho antes. - sussurrou no meu ouvido.

Depois de introduzir e retirar os dedos algumas vezes, senti ele forçar com algo maior que dedos. Eu chorava, gritava, me debatia, implorava, mas nada acontecia.

Então ele meteu tudo de uma vez. Eu perdi o ar por um tempo.

- Fica calmo que não vai doer muito. - disse ele fazendo movimentos de vai e vem que ficavam mais rápidos e fortes.

Depois de sei lá quanto tempo tudo ficou borrado e perdi a consciência. Quando acordei meu corpo doía, e eu estava no colo do Renato, que estava me dando banho. Senti vontade de vomitar e vomitei nele. Achei que ele fosse me bater por causa daquilo, mas ele me colocou no chão e segurou meu corpo enquanto eu vomitava.

Depois desmaiei de novo e só acordei sei lá quanto tempo depois. Só sei que estava na minha cama, com roupas confortáveis e uma caixa de bombom do meu lado.

Na manhã seguinte, acordei com um misto de exaustão e uma sensação de vazio. Além de uma febre de quase 40 graus, que obrigou minha mãe ficar cuidando de mim.

Depois daquele dia, eu passei a entreter os amigos do meu pai e os do meu irmão.

Aqueles homens asquerosos podiam fazer o que bem entendessem comigo. Me batiam, me xingavam, riam de mim, me humilhavam. Eu chorava, gritava, tentava escapar, mas não conseguia.

- Hoje não, por favor.

- Eu não vou repetir, vai tomar banho, agora.

Nossa casa tinha quatro quartos. Um dos meus pais, um do meu irmão, um meu e um que era usado como deposito, até meu pai ter a ideia de arrumar ele para eu "trabalhar". Eu odiava passar por aquele quarto , porque eu lembrava de tudo e eles sabiam disso, principalmente minha mãe que quando estava brava comigo me mandar ir para o quarto e arrumar ele.

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