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Amor E Desencontro

Capítulo Um

Eduardo

Meu nome é Eduardo Cardoso, tenho 28 anos e sou enfermeiro. Trabalho na saúde pública desde que me formei há 4 anos.

Sempre fui um garoto gordinho e afeminado, um prato cheio pra todos os valentões da escola, foi muito difícil e é na minha infância que tenho as piores lembranças, ser agredido, humilhado, ridicularizado e ofendido.

No ensino fundamental eram só apelidos e alguns socos, no ensino médio foi pior, eles me batiam mais, me colocavam apelidos ofensivos por conta do meu peso, me chamavam de big bag, bolo fofo, fardão e por aí vai. Também me chamavam de putinha, bicha gorda e viado obeso. Eles me excluíam de tudo, todo mundo que tentava ser legal comigo virava alvo deles, então todos se afastaram, teve um ano, que ele fingiram que eu não existia por um mês. Foi horrível. Batiam no meu rosto, prendiam minha cabeça na privada e pintavam minha cara com batom.

Em casa, as coisas não eram muito diferentes. Minha mãe morreu quando eu nasci, e meu pai meio que me culpava por isso. Ele detestava o fato de eu ser gordo, ele não entendia que eu desenvolvi essa compulsão por comida por causa dos abusos que eu sofria na escola, e por mais que ele soubesse nunca fez nada,ele acreditava que isso ia me fazer virar macho. Não funcionou, assim como o futebol,o judô, karatê, corrida e natação, em resumo eu era um pereba em qualquer esporte.

Meu irmão mais velho acabou se tornando um ótimo jogador, o que distraiu meu pai de mim e de tentar me fazer virar "homem".

Quando eu entrei na faculdade, meu irmão foi chamado por um olheiro pra jogar no CT de um grande time, meu pai estava tão orgulhoso que chegava ser engraçado. Eu continuava a ser invisível.

Quando entrei pra faculdade, as coisas melhoraram, ninguém tava nem aí pro fato de eu ser ou não afeminado ou gay. Eu até achei um crush, ele era lindo e fazia faculdade de fisioterapia, um dia ele pediu pra me levar em casa, ele me beijou no carro, foi o meu primeiro beijo e eu gostei muito. Quando ele me deixou em casa, desceu do carro e me deu outro beijo. Nisso meu pai chegou com o meu irmão que machucou o pé, por isso os dois chegaram em casa mais cedo. Meu pai fez um escândalo, gritou xingou, correu atrás do menino pra bater nele, o coitado saiu de lá desesperado, me deixando sozinho com a fera!

- Como você me faz uma coisa dessas? Se esfregando com outro macho na porta da minha casa? O que você quer que os vizinhos pensem?

- Pai, eu não fiz nada demais, não é diferente do que todo mundo faz na minha idade.

- Casais normais, não dia macho. Você me dá tanta vergonha, não quero nunca mais ver você fazendo isso de novo!

- Mas pai eu sou assim...

Ele levantou a mão e bateu na minha cara com força, deixando a marca dos dedos na minha bochecha.

- Enquanto morar de baixo do meu teto não.

- Se é assim me mudo amanhã.

- Isso vai ser um alívio, não ter mais você por perto me lembrando do fracasso que você é.

Sai e me corri dali,fui pra praia, passei a noite lá olhando o mar, andando pela praia e observando as estrelas. Pensei sobre tudo que aconteceu e pensei em um plano pra quando saísse da casa do meu pai. Resolvi ligar pra minha melhor amiga, Manuela. Ela mora no morro da Piedade, o dono de lá é casado com outro cara, então lá é de boa pra eu ir. Mas ela me disse que recebeu proposta pra trabalhar em outra favela, minha amiga é professora e ela vai dar aula de reforço lá nesse morro e ela ficou de ver se precisavam de um enfermeiro no posto de lá também, acabou que eles precisavam mesmo, eu saí da casa do meu pai e me mudei pro morro junto com a Manu.

Assim que chegamos, tivemos que pedir pra entrar, explicar o que a gente tava indo fazer lá e esperar a autorização do dono do morro pra subir, quando ele autorizou uma moça de uns 18 anos no máximo veio e disse que era cunhada do dono do morro e que ia mostrar onde a gente ia morrar.

A casa ficava lá no alto do morro, andamos pra cacete. A casa era simples e pequena, sala cozinha, 2 quartos e 1 banheiro,não tinha quintal e nem área, a porta dava direto pra rua, eu sempre morei em bairro pobre mas nunca em favela, achei estranho mas nem tanto. A casa ficava perto do posto e da escola, e tinha um mercado perto também e uma quadra onde aconteciam os bailes. Lugar onde eu nunca vou ir né, o que um cara gordo e desajeitado vai fazer num lugar daquele .

Mas enfim, essa agora é minha nova vida e eu to mega empolgado, espero que esse seja um recomeço pra mim e que tudo finalmente dê certo.

Pego meu telefone e abro o aplicativo e começo a ler uma nova história da minha autora preferida, ela escreve romances gays e através das histórias dela eu encontro um pouquinho de felicidade, me sinto como se fosse os protagonistas vivendo um amor intenso,mesmo sabendo que isso é tudo que eu terei do amor, apenas a ilusão dos romances fictícios.

Me olho no espelho e não gosto do que vejo, gostaria de ser magro, talvez assim alguém poderia me amar. Mas ninguém quer namorar um cara gordo , não importa se ele é carinhoso, fiel e verdadeiro, de você não segue o padrão de beleza é como se não merecesse ser feliz.

já saí em vários encontros, pessoas que conheci pelo aplicativo, e tudo terminava do mesmo jeito. Ou gostavam muito de mim, mas como amigo. Ou tentavam me ajudar a emagrecer, sabdu dicas de dieta e academias, até de cirurgião bariátrico eu recebi recomendação. E por último e mais triste, tem aqueles que chegam e olham pra mim, e nem sequer se sentam, apenas viram as costas e vão embora e dizem que não sou o que eles estavam procurando.

Por isso eu não faço mais isso, não fui eu que desisti do amor, foi ele que desistiu de mim.

Capítulo Dois

Meu nome é Bruno, tenho 32 anos e sou dono desse morro. Chegar onde eu estou não foi fácil, se manter vivo nesse mundo é complicado, e ter gente boa por perto da gente é raro. No meu caso é o meu irmão Breno, ele é dois anos mais novo e é o meu braço direito, e às vezes o esquerdo também. Minha mãe fica doida de saber que os dois filhos dela tão nessa vida, mas era isso ou passa fome. Meu pai meteu o pé quando eu tinha doze anos,ele arrumou uma veia rica pra banca ele, saiu um dia do nada sem se despedir de ninguém e sem olhar pra trás, nós nunca mais ouvimos falar dele.

E eu pra por comida na mesa virei vapor do tráfico, foi o único lugar onde eu arrumei emprego, eu era responsável pela casa, já que a minha mãe sempre foi fama de casa e dependeu do meu pai, quando ele sumiu deixou a gente sem nada, e eu tive que assumir a responsabilidade pela minha mãe e pelo meu irmão. Comecei de baixo depois fui subindo de função conforme ia ficando mais velho, um dia salvei o chefe de leva um tiro na cabeça, ele como agradecimento começou a me treinar e me disse que quando ele caísse era pra eu assumir o morro.

A gente não era igual pai e filho, e nem como melhor amigo, nada disso , era só trabalho. Ele me ensinou e eu aprendi e foi isso só. Tem 3 anos que o veio caiu e eu assumi. O começo foi difícil, mas depois eu peguei o jeito. O povo me respeita e me obedece, o mesmo pros meu soldados.

Nunca quis o Breno nessa vida, queria que ele estudasse e tivesse um futuro, mas ele queria ajudar e a gente precisava da grana, nossa mãe também trabalhava, fazia bico de faxina e cuidava de criança, mas era pouco e o dinheiro não dava, então acabei deixando o Breno ir pra boca trabalhar comigo, mas ele sempre foi o mais inteligente, era bom com número e dinheiro então sempre trabalhava na boca, quase nunca saia pra fazer corre.

Mandei trazer mais um professor e um enfermeiro, queria que fosse gente daqui, mas como não tinha, um parça meu me ajudou e mandou um enfermeiro e uma professora, soube que eles chegaram e liguei pra Bia minha cunhada ir lá e cuidar de receber eles, não tenho tempo tô cheio de B.O pra resolver na boca.

A minha mãe tem uma lanchonete aqui na boca, eu montei pra ela, rouba primeira coisa que eu fiz quando assumi o morro, queria que ela parasse de trabalhar e ficasse em casa descansando, mas a dona Nena é fogo não quis saber de ficar em casa e como ela faz um lanche gostoso, então eu montei essa lanchonete ajeitada pra ela. Sempre que dá nois tá lá pra comer e ver a veia, Breno e eu não mora com ela, cada um tem seu canto então sempre que nois pode a gente cola lá pra comer e ver ela, aí meio que virou nosso ponto de encontro, os vapor também vive lá, e a Dona Nena é a mãezona de todos nós, trata os vapor tudo como se fosse filho dela, ela diz que tem que tratar bem quem ajuda proteger os filhos dela. Eu não acho ruim não, só não quero meus soldado tudo gordo e roliço por causa da comida gostosa dela.

Breno cuida da parte financeira do morro, ele sabe quanto a gente fatura, e como a gente gasta o dinheiro, paga todo mundo e paga as mercadorias,o resto é comigo, eu negocio as drogas, as armas e todo o resto.

Mandei fazer escola no morro, e um posto de saúde que mais parece um hospital, dá até pra fazer cirurgia se precisa, tem um médico que vem todo dia, se eu ou meus homens precisa tem tudo aqui pra não deixa ninguém morrer, mas uma das enfermeiras fez a gracinha de se envolver com vapor casado, a vadia foi pras ideia e deu ruim pra ele e pro bonitão medito a pegador também, apaguei os dois, foram se pega junto no inferno agora.

Não sou um cara muito paciente, e também não confio em ninguém, ninguém mesmo, por isso não tenho relacionamento com mina nenhuma, tem várias aí querendo ser minha fiel, mas não tô afim de ter piranha grudada em mim, também não saio por aí pegando geral não, quando eu preciso mando trazer alguma me alívio e só, depois elas vaza, não quero nada mais que isso , nunca quis e nunca vou querer. O que o meu pai fez com a minha mãe qualquer mulher pode fazer comigo também, por isso eu não vou dar chance pra nenhuma me enrolar.

Terminei meu serviço, e desci lá pra lanchonete da minha veia junto com o Breno, mandei a fiel do Breno a Bia trazer os novo morador pra eu conhecer e já passa também a real pra eles de como as coisa funciona aqui na minha quebrada.

Quando a Bia voltou, trouxe uma menina do zoi rasgado e um cara gordinho do lado dela.

- Ae Bruno, essa aqui é a Manu e esse aqui é o Eduardo.

Os dois não falava nada, tavam tudo se cagano, o gordinho nem pra frente não olhava, só olhava pro chão e tava se tremendo todo.

- Seguinte seus porra, aqui na quebrada traidor a gente mata, então se vocês pensar em fazer uma gracinha dessa eu já aviso que vai dá ruim. Obedece as regras, respeita os povo e não se mete em confusão que vai tá tudo sussa. agora rala os dois,amanhã quero ver os dois trabalhando que eu não chamei ninguém aqui pra passa férias.

Os dois saíram sem nem da tchau, depois bandido que não tem educação. Continuei conversar com meus parça e depois fui pra casa, tava cansadão e queria dormir cedo hoje.

Mas não consegui nem chega em casa, tive que voltar pra boca porque dois dos meu vapor chegou ferido, eles tava entregando umas mercadoria no asfalto quando os polícia chegou, teve troca de tiro eles conseguiram fugir mas os tiro acertou eles, mandei levar eles pro posto e chama o médico e o enfermeiro gordinho.

Caraí, essa noite vai ser cumprida .

Capítulo Três

Eduardo

Eu estava dormindo quando ouvi alguém bater com muita força na porta e gritar meu nome. Sai correndo e abri a porta, um rapaizinho de uns 15 anos chegou dizendo pra eu correr por posto que tinha valor machucado e o Bruno tinha mandado me chamar. Corri pro quarto, vesti meu uniforme verde, peguei minha mochila com meu matérias e corri pra lá , quando eu cheguei o médico já estava lá e ele começou a me dar ordens pra preparar a sala pra fazer uma cirurgia de retirada da bala. Foi tudo muito rápido, no meio da cirurgia alguma coisa deu muito, mas muito errado.

- Dr. O que está acontecendo?

- Não sei, mas não é bom tem muito sangue, não era pra sangrar tanto assim, não consigo conter a hemorragia, os órgão já estão entrando em choque, vamos perde ele ..

Por mais que eu e o médico tentássemos, não conseguimos conter a hemorragia e o homem morreu na mesa.

- Merda, isso é ruim. O Bruno vai ficar uma fera, como eu vou explicar isso pra ele? Merda!

Quer saber, vai você novato, comunica pra família e pra quem tá lá fora.

- O que eu vou dizer?

- Vai dizer o que aconteceu,a gente tentou de tudo mas não conseguimos salvar o paciente.

Eu saí de lá desconfiado, mas não tinha o que fazer, realmente tentamos de tudo, não sei porque o doutor tá com tanto medo.

- E aí, qual é gordim cadê o Pedro? Como ele tá? - Bruno

- Moço pelo amor de Deus, como o meu homem tá? Já posso ver ele? - Nanda

- Eu sinto muito senhora, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas infelizmente o paciente veio a falecer, eu sinto muito.

Foi aquele alvoroço todo mundo chorando e os bandidos tudo querendo saber o que aconteceu.

- Como é que isso aconteceu cara, ele entrou naquela merda de cirurgia consiente e falando,como que do nada ele morre! Bruno

- Assim que a bala foi retirada, houve uma hemorragia, não teve jeito e não conseguimos conter o sangramento, os órgão dele entraram em choque e ele teve uma parada cardiorrespiratória, infelizmente não conseguimos trazer ele de volta, sinto muito.

- Meu Deus, mas como? - Nanda

- O paciente tinha alguma doença pré existente?

- Ele tinha uma coisa, hemofi alguma coisa, mas ele disse que era só tomar vitamina que tava tudo certo.

- Isso explica o que aconteceu, se soubessemos disse teríamos entrado com a medicação correta. O paciente tinha Hemofilia, uma doença que faz com que o sangue não coágule direito, o que faz o sangramento seja mais intenso e mais demorado.

O tal de Bruno ficou prestando bastante atenção quando eu estava explicando isso, e já ficou com raiva e veio falar comigo.

- É bom você não perde mais nenhum dos meus homens naquela merda de sala de cirurgia, ou eu te faço comer grama pela raiz.

- Senhor eu realmente sinto muito.

Esse cara me dá muito medo.

- E bom senti mesmo gordim, fica esperto comigo que tô de olho em tú.

Tenho uma ideia pra não perde mais nenhum paciente por falta de informação, mas acho que agora não é a melhor hora pra fazer isso. Vou passar essa ideia pro Dr. Carlos e ele que se resolva com o bandidão.

Odeio esse cara e a forma como ele e os homens dele me tratam, me lembra da escola, odeio que me chamem de gordinho dessa forma pejorativa, mas não tem nada que eu possa fazer isso é realmente muito parecido com o colégio, o que não dá traz boas lembranças.

Voltei pra dentro e tratei de arrumar a sala e esterilizar os materias, o médico, claro, foi embora deixando tudo pra mim arrumar. Voltei pra casa só a tempo de tomar um banho e voltar pro posto.

O médico me pediu pra fazer a triagem dos pacientes, basicamente eu resolvia o que podia e ele só atendia quem tava morrendo mesmo, nunca vi cara mais folgado.

Depois de atender todos, fui ajudar a colher sangue, colocar acessos, aferir pressão dos idosos e tudo mais, antes de ir embora falei sobre a minha idéia com o médico.

- você quer que eu consulte peça exames e faça a ficha de cada um desses bandidos? Porque se importar não é mais fácil deixar eles morrer, são criminosos esqueceu?

- São pessoas doutor, seres humanos, fizemos um juramento esqueceu? Fora que são eles que pagam nossos salários.

- Tudo bem, vou falar com o Bruno.

Não sei porque, mas desconfio que ele só falou isso pra que eu não toque mais no assunto, dúvido muito que ele vá realmente falar com o Bruno sobre isso.

Andei perguntando por aí sobre esse tal de Bruno, todos dizem o mesmo, que ele não é muito paciente,não é de muita conversa e tem poucos amigo. Todo mundo tem medo dele, mas o povo também respeita o que ele faz pela população.

Achei estranho, ele é o chefe dos bandidos e não parece muito com o que eu imaginava de um chefe do tráfico. Ele não tem tatuagem, nem pircing nem brinco ele usa. Bom enfim, pelo que eu ouvi ele parece ser um bom líder. Talvez eu possa falar com ele sobre essa minha ideia.

Apesar de saber que vai sobrar pra mim fazer todo o trabalho, eu realmente quero fazer isso.

Aqui no posto tem mais uma enfermeira e ela não é muito diferente do médico, desde que eu cheguei ela encosta todo o serviço em mim. Eu não ligo, gosto de ter bastante trabalho faz eu me sentir útil. Mas a cobra da Cíntia começou a ficar com ciúmes, porque os pacientes começaram a me elogiar, me trazer mimos, bolos, tortas, doces e até um filhote de gatinho eu ganhei, coloquei o nome dele de Botões, não sei da onde veio esse nome, mas eu achei fofo.

Como a Cíntia era antipática e mal educada, fira que ela não tinha um pingo de paciência com os velhinhos. Quando ela viu que os pacientes estavam chegando e procurando por mim, resolveu que queria mostrar serviço, como ninguém gostava dela, os pacientes preferiam esperar por mim,mas não queriam ser atendidos por ela. Isso fez a surucucu ficar com mais ódio ainda, sei que ela vai me dar trabalho, preciso ficar de olho aberto.

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