NovelToon NovelToon

Um Novo Recomeço

capítulo 1

Não imaginei que um dia estaria nessa situação.

A minha vida era boa, de um certo modo sempre tive tudo. Vou tentar resumir o mais breve possível a minha história. Pelo menos para chegar no momento exato que estou vivendo. Isso me deixa apreensiva, não sei o que de fato ele quer.

Bom, vamos retornar aos fatos.

Me chamo Helena Lima Hertz, tenho 28 anos, sou casada com Emilio Hertz. Minha infância foi boa. Tinha tudo o que queria, era mimada pelos meus pais. Tinha as melhores roupas, os melhores brinquedos, uma vida de princesa. Mas o fato de ser mimada, não significava que eu tinha o amor dos meus pais. Hoje, acredito que eles tentavam suprir esse sentimento com bens materiais. O meu quarto era o sonho de consumo de qualquer criança. A coleção de bonecas, algumas extremamente caras, um parquinho exclusivo. Era meu, somente meu. O contato, com outras crianças se dava apenas no período escolar. A minha mãe, recusava qualquer convite de ir a algum lugar onde houvesse outras crianças. O motivo me foi revelado anos depois.

Cresci, e me tornei adolescente. Por ter dinheiro pensava que o mundo deveria girar ao meu redor. Se não consigo por mérito, consigo através do dinheiro. Meu pai tinha o suficiente para isso. Mas, isso não significava que eu tinha. Um velho bancário bem sucedido. Naquela época, não sei o que tinha na minha cabeça. Era tão fútil e burra que não percebia que ser bancário não era nada demais. O meu pai não era o homem mais rico da cidade. Mas na minha cabeça de vento, ele era tipo o "presidente". Quanta ingenuidade.

Quando comecei a sair com as minhas "amigas" entendi que todos os tipos de pessoas poderiam circular no nosso meio social. Muitos não tinham o mesmo meu status, e foi aí que as coisas começaram a entrar na minha cabeça.

Estava numa festa, num clube de prestígio da cidade. Estava na pista dançando, e um rapaz se aproximou de mim. Começamos a conversar. A conversa era agradável, bebemos um pouco, e minutos depois estava com a minha cabeça a mil. Acabei cometendo o maior erro da minha vida. Tinha 16anos, e acabei perdendo a minha virgindade numa festa, com um estranho, e nem ao menos lembrava de como tudo havia acontecido. Não posso colocar a culpa nele. Eu deveria ter parado, mas não. Bebi até não lembrar nem mesmo o lugar onde estava. Nessa hora, não existia nenhuma "amiga".

Acordei num sofá do clube, com o meu corpo doendo, minha cabeça ainda zonza. E duas pessoas tentando falar comigo. Um segurança, e a empregada do clube.

Lembro deles me perguntando se estava bem. Perguntando o meu nome. Perguntando se queria que chamasse alguém. Eram tantas perguntas, que não conseguia organizá-las na minha cabeça.

Por fim, não sei como, mas meus pais acabaram indo parar lá. Pelo estado em que me encontraram, fui levada a uma clínica. Quando finalmente voltei a estar consciente, a minha mãe mal olhava para mim.

_ Você tinha tudo Helena. Como pode nos fazer passar por uma humilhação dessas. _ ela apenas gritava. _ Bem dizem que a fruta não cai longe do pé. Você é igual a ela. _ ela quem? de quem ela fala.

_ Eu não sei porque está gritando dessa forma comigo. E de quem está falando? _ ela me deixava desorientada. Acusa, compara, grita.

_ Você está proibida de sair de casa. Acabou essas festas. Não criei você para se tornar uma qualquer. Criei você para ser alguém na vida e ter uma boa profissão. Casar com alguém digno e que possa continuar mantendo a sua vida de luxo. Mas está se jogando na lixeira. _ ela mantinha o tom de voz alterado.

Recostei a cabeça no travesseiro. Ela iria continuar gritando.

O médico me liberou depois que todos os exames foram feitos. Para minha sorte, aquele cara usou preservativo. Caso contrário, os meus problemas só aumentariam.

capítulo 2

Quando retornamos para casa, as coisas começaram a mudar. Precisava a ajudar a empregada. Isso claro se quisesse continuar tendo a vida boa que sempre tive. Minha mãe e o meu pai passaram a discutir com frequência. Ela estava sempre alterada.

Ela queria que eu entendesse que as coisas não são fáceis. Se você faz uma escolha errada, você se lasca. Mais atrapalhava a empregada do que ajudava. Isso me deixava irritada. Como não conseguia fazer algo básico, como arrumar a minha cama. Procurava não sentar na cama durante o dia. E passei a dormir numa poltrona do quarto. Não queria desarrumar a cama. Não foi por muito tempo. A empregada não falava nada. Mas, minha mãe descobriu. Ela entrou e desarrumou toda cama. Mandou retirar a poltrona do meu quarto.

_ Você tem que aprender a fazer as coisas. Não pode passar a vida toda tentando se livrar das suas responsabilidades. Você foi mimada demais, seu pai não teve pulso firme para lidar com você. Pretende ser o que dá vida. Não faz nada! Só come, e dorme. _ gritava ela. Os gritos já nem me incomodavam mais. Ultimamente era só o que ela fazia. Gritar, gritar e gritar. _ Você vai arrumar as suas coisas, vai passar uns dias na casa de uma velha conhecida.

_ Não vou sair daqui. Essa é minha casa, meu pai não vai deixar. _ pela primeira vez gritei com ela. Resultado, levei uma bofetada. Ela nunca havia me batido, até agora.

_ Seu pai foi viajar, vai ficar alguns dias fora. E você vai tirar férias e vai aprender que a vida não é um mar de rosas. Você sempre teve tudo, e nunca valorizou nada. Arruma a mala, coloca apenas o necessário.

Ela saiu. Me julgou por ter tudo, eles me deram tudo. Me criaram dessa forma. Não tinha culpa de nada disso. A bofetada que levei doeu. Peguei uma mala grande, coloquei várias peças de roupas e calçados. Na hora do almoço eu desci. Sentei a mesa, e percebi que ela me olhava com desdém.

_ Aproveita o seu almoço. Essa será a última refeição descente que você faz.

Naquele momento não entendi o que ela quis dizer. Comi a mesma quantia que estou acostumada a comer. Após o almoço, ela mandou chamar o motorista. Entregou a ele um papel.

_ Leve a Helena nesse endereço. Deixe-a lá e retorne.

O segurança apenas assentiu.

_ Espero que já tenha arrumado a sua mala. _ disse ela.

_ Sim, já está pronta. _ respondi ao olhar na direção dela.

_ Então pegue e vá. Talvez agora aprenda a valorizar o que você tem.

Ela estava me mandando viajar e queria que eu aprendesse algo. Isso foi o que pensei naquele momento. Mas a realidade do que vivi depois foi completamente diferente.

Quando desci com aquela mala enorme, ela apenas me observou. Não disse mais nada.

O motorista colocou a minha mala no carro. Fechou o porta malas, entrou e apenas dirigiu. A princípio a rota estava normal. Até ele pegar outro caminho. Nunca havia andado num lugar como aquele. Era uma estrada esburacada, lixo na rua. Aquelas pessoas pareciam tão sujas. Casas feias, algumas caindo os pedaços. Parecia um filme de terror. Era um pesadelo só pode. O carro parou em frente a uma casa. Feita de tábua. O que era aquilo? Não tenho certeza se é uma casa.

_ Chegamos senhorita. Vamos descer. _ disse o motorista.

_ Eu não vou ficar aqui. Isso é... nojento. Olha essas pessoas, esse lugar...

_ Tenho ordens para tira-la do carro a força se for preciso. Por favor se puder sair de livre e espontânea vontade.

_ Você não pode fazer isso. Eu vou gritar pedindo socorro.

_ Aqui ninguém vai dar importância. Se deixar a sua mala ali vão levar. _ como não saia do carro, o motorista me tirou a força.

Ele bateu naquela casa de tábuas. Uma mulher abriu, ela tinha uma criança no colo.

_ Essa é a senhorita Helena. Já está entregue, preciso voltar. _ disse isso a mulher e saiu.

Fiquei parada do lado de fora, agarrada a minha mala. Aquele lugar não era agradável.

_ Entre menina, não pode ficar parada do lado de fora. _ disse a mulher enquanto embalava a criança que estava no colo dela.

_ Eu não quero ficar aqui. Esse lugar é nojento. _ disse olhando em volta.

_ Se não entrar, você vai ser assaltada, vai ficar sem a sua mala, e sem as suas joias. Claro se não sequestrarem você, e matarem você. Seu corpo vai ser encontrado numa vala. Será tratado como apenas mais um caso.

Peguei a mala e entrei rapidamente. Não queria ser morta. A situação já era deprimente, imagina ter o corpo encontrado numa vala imunda daquelas.

capítulo 3

A casa era pequena, havia três crianças, e essa mulher. Não tinha como esquecer a forma com que me olharam.

_ Você deve ser a Helena. Eu sou irmã da sua mãe.

_ Você está brincando? _ aquilo não era possível, como assim irmã.

_ Apenas por parte de pai. Eu sei, não parece. Ela é a rica da família que se deu bem. Bom eu sou a Margo, esses são os meus filhos. Felipe, Mário, e Alex. Não tem muito para mostrar a você. Como pode ver, aqui é a cozinha e também a sala, ali fica o quarto onde durmo com as crianças e ali o banheiro. Aliás não temos energia elétrica, se quiser tomar banho, aconselho que faça isso enquanto é cedo. Não temos máquina de lavar, lavamos a roupa no tanque. As vezes precisamos buscar água lá de baixo, pois não tem pressão suficiente. Não aconselho você a ficar andando pela rua tarde da noite. E deveria tirar essas joias, alguém pode assaltar você. Isso se não arrancarem as suas orelhas junto. Não temos TV, apenas um radinho a pilha. Acho que é isso, alguma pergunta?

_ Por que você vive num lugar como esse? _ pergunto olhando tudo em volta.

_ Tem pessoas que não tem nem mesmo um lugar igual a esse para morar. Sabe como foi difícil construir essa casa. Eu não tinha uma casa assim. Morava em baixo de uma lona. Eu sei a sua casa é grande, bonita, com conforto e comodidade. Mas nem todos vivem essa mesma vida.

_ Por que minha mãe não ajuda você. Poderia...

_ Eu não preciso das esmolas da sua mãe. Meus filhos vivem muito bem com o pouco que posso dar a eles. Não me fale dela dentro dessa casa. Nem iluda meus filhos com a vida que você tem. Pode colocar a sua mala no quarto. Terá que deixar suas coisas aí, não tenho guarda roupa.

Não conseguia acreditar que estava num lugar como aquele. Aliás, não imaginava que poderia existir um lugar como aquele. Lembro de ter entrado no quarto, ali existia apenas uma cama de casal. Um pequeno armário sem portas, e algumas caixas de papelão. Estavam todas organizadas. A cama estendida, e poucos brinquedos organizados dentro de uma caixa de madeira.

As crianças começaram a conversar. Voltei até onde eles estavam e se calaram. Margo mandou o Felipe buscar algumas batatas. Mário iria buscar algumas tábuas para começar o fogo. Felipe tinha 12 anos, Mário 10 anos, e Alex apenas 4 anos. Quando cheguei não sabia, descobri alguns dias depois. Eles eram tão miudinhos, tão magrelos, pareciam ter menos.

Nunca vou esquecer, aquele menino buscou três batatas. Não eram grandes, mas eram três batatas médias. Éramos cinco pessoas, para três batatas. Imaginei que ela teria mais. Mas quando a vi descascar, e picar aquelas batatas, percebi que seria apenas elas. Nunca esquecerei a minha primeira refeição naquela casa. Era uma sopa, havia apenas um pequeno punhado de carne moída, aquelas batatas picadas, um pouco de massa, e couve. Vi ela cortar algumas folhas. As crianças estavam felizes com aquilo. Eu comi, pois não havia comido nada durante a tarde. Estava com fome, com medo de passar mal, e ao mesmo tempo tentando entender como eles conseguiam se alimentar somente com aquilo.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!