Definitivamente, nunca sabemos o instante em que a nossa vida mudará por completo. Independente de quão você tenha planejado seus passos, alguns eventos não podem ser controlados e são exatamente eles, que mudam totalmente o rumo da sua história, de uma forma que você jamais imaginaria.
— Que droga! Olha hora. Eu vou acabar chegando atrasada. Márcia só quer uma desculpa para pegar no meu pé e me jogar contra meu pai. — Pensei em voz alta enquanto abria a porta da minha casa. Minha madrasta sempre estava buscando motivos diferentes para criar problemas para meu lado.
Havia esquecido minha carteira em cima da minha cama antes de sair para trabalhar pela manhã. Por isso, acabei tendo que passar em casa antes de encontrar com Caio, meu noivo, na loja de vestidos de noivas depois do almoço, hoje seria a minha primeira prova. Se eu me atrasasse, tenho certeza que minha irmã, que é super amiga do meu noivo saberia e contaria para Márcia, sua mãe. Ao entrar, fui surpreendida com uma voz bastante familiar para mim.
— Virgínia! — Caio, o meu noivo, disse em um tom mais alto que o usual, chamando minha irmã, os dois estavam na sala conversando tão distraído que não perceberam que eu havia entrado na casa e podia ouvir toda conversa deles.
Ao notar que minha presença não havia sido percebida, achei que seria uma boa ideia me esconder e surpreender os dois quando passassem por mim. Nunca pensei que ao fazer isso, minha vida inteira mudaria em um piscar de olhos.
— Caio, você não deveria estar aqui. Se alguém nos ver, será problemático. Imagina se Alice nos descobre, como iremos explicar para ela que seu noivo está agarrando sua irmã? Ela pode ser uma grande idiota, mas não será burra a ponto de acreditar que nada estava acontecendo entre nós dois. — Virginia, minha irmã, alertou meu noivo tentando se afastar dele, olhando ao redor como se tivesse medo que alguém pudesse ver aquela cena.
— Eu não me importo com nada disso. Se ela descobrir azar o dela. Talvez seja até melhor. Não vou mentir. Você sabe quem eu realmente amo é você, apenas você e mais ninguém. Nunca amei Alice, nem nunca sentirei nada por uma mulher como aquela. Você é tudo para mim, Virgínia. — Caio acariciava levemente o rosto da mulher que deveria se tornar sua cunhada em alguns dias. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Não diga besteiras. Minha irmã é a sua noiva. Vocês precisam se casar. Sabe como foi difícil fazer o papai aceitar o casamento de vocês dois? Você não pode estragar tudo agora que foi tão longe. — Minha irmã parecia desconfortável com a situação. O que me deixou bem suspeita para falar a verdade. Virgínia desde pequena sempre fez de tudo para infernizar a minha vida de toda forma possível.
Ver minha irmã me defender daquela forma foi algo surpreendente, não posso negar, mas as pessoas podem mudar. Ainda mais agora que ela busca se casar com alguém tão importante. Talvez tenha amadurecido ou não queira polêmicas com seu nome. O que me fez pensar que talvez o sentimento de Caio por ela seja unilateral, o que não diminui o problema, mas inocentava minha irmã e colocava meu noivo na forca.
— Meu amor, não posso levar esse noivado em frente, fingir me importar ou gostar daquela mulher me desgasta. Cada minuto ao lado daquela dela me destrói completamente. Irei terminar com ela, assim finalmente poderemos ficar juntos e viver nosso amor como sempre sonhamos. Não permita que eu passe mais nenhum segundo longe de você. — Ouvir aquelas palavras de Caio machucaram bastante. Eu realmente acreditei que ele me amava. Nunca me senti parte dessa casa, mas esse traste me iludiu com a ideia que meu lar.
E agora fica cuspindo essas besteiras para Virgínia. Mesmo sabendo da relação complicada que temos dentro de casa. Por acaso, coloquei uma arma na cabeça dele e forcei a me pedir em casamento? Quando foi o próprio que veio atrás de mim desde o começo. Não posso deixar as coisas assim, ele ia me pagar. Vou fazer ele engolir essa maldita aliança vagabunda que me deu.
Tirei a aliança da mão preparada para enfiar ela goela abaixo daquele canalha. Entretanto, quando eu estava levantando para dizer poucas e boas para aquele projeto de ser humano que um dia chamei de noivo, ouvi minha irmã falando com um tom mega carinhoso.
— Caio! Não foi esse o nosso combinado. Você prometeu que iria se casar com Alice, faria ela confiar em você para gerir os negócios dela e depois dariamos um fim merecido nela. Então poderíamos ficar juntos, mas só quando tivéssemos conseguido tudo que planejamos e merecemos. Não podemos parar pela metade depois de ir tão longe. Você ainda não conseguiu sequer fazer ela assinar os papéis para te passar as ações dela. Precisamos ser pacientes para roubar tudo dela. — Virgínia explicou ao meu noivo, me deixando completamente chocada. Eles estavam planejando juntos um golpe contra mim?
— Vadia! Uma vez vadia. Sempre vadia. Então o plano era me roubar desde do início? — Sussurrei ao me lembrar que Virgínia sempre foi esse tipo de pessoa, não seria agora que ela mudaria.
A minha vontade era quebrar a cara desses dois, mas não pude deixar de sentir raiva de mim mesma. Haviam sinais, sempre houveram, mas eu escolhi ignorar. Queria acreditar que alguém nesse mundo me aceitaria como sou, me amaria e estaria disposto a ficar do meu lado.
— Mas eu não aguento mais ficar ao lado dela. Sinto que morrerei de tédio, ainda tenho que fingir que me importo. É muito difícil. Ainda mais quando eu quero gastar cada minuto da minha vida ao seu lado. — Caio parecia uma pessoa totalmente diferente ao lado da minha irmã. Não conhecia aquela versão dele.
Sem condições. Então minha irmã comia o bolo e eu ficava com as migalhas que ela deixava de propósito? Pior que olhando agora, Caio nem é tudo isso, feio, pobre, sem educação, a família não é das melhores e nem sequer é divertido. Será que me apaixonei pelo que inventei dele? Talvez ele esteja na profissão errada. Daria um ótimo ator ou político. Mente com a cara mais lavada desse mundo. Eu deveria mostrar ao mundo esse seu talento, não é?
— Eu entendo que deve ser um castigo ficar ao lado daquela mulher feia e sem graça, mas você precisa aguentar um pouco mais. Também não me alegra ver o meu homem ao lado de outra mulher, ainda mais a maldita da Alice, mas temos que suportar para ter o que queremos. Não posso deixar que ela tenha nada que deve ser meu. Você precisa aguentar um pouco mais. Eu também estou me esforçando tendo que lidar com o noivado que meu pai me arrumou. Não está fácil para nenhum de nós. — Virgínia, insistiu enquanto se sentava no colo de Caio. — Enquanto isso, podemos nos divertir escondidos como fizemos até agora. Não se pode negar que escondido é mais gostoso.
Pensando bem, porque eu vou expor apenas Caio, Virgínia é tão culpada quando. Acho melhor gravar o que ele está dizendo e pensar em um bom plano para dar o troco nessa palhaçada que armaram para mim. Mexeram com a caixa de maribondo errado.
— Eu sei, mas eu não consigo ficar mais um minuto longe de você, sem te tocar. Estou tentando adiantar tudo para fazer esse casamento o mais rápido possível, para chegar logo o momento que me livrarei de vez da insuportável da Alice, mas ainda assim, está demorando mais do que eu esperava. Me sinto impaciente. Cada vez preciso ficar mais longe de você. E agora ainda tem o seu noivado com aquele herdeiro boa pinta. Eu sei que o plano é dar o golpe nele também, mas não estou gostando disso. — Caio dizia enquanto beijava o pescoço e acariciava o corpo da minha irmã.
— Você terá que ser um pouco mais paciente. Aliás, hoje é a prova do vestido, não é? A minha irmã já deve está a caminho da loja, você deveria ir acompanhar ela. Não deixe que aquela mulher suspeite de nada. Para nosso plano dar certo, preciso que tudo saia como planejamos. Alice precisa confiar em você, colocar você para administrar tudo que está em seu nome. Me empresta seu celular, vou mandar mensagem para ela — Virgínia levantou do colo de Caio, estendeu a mão, já na mesma hora ele respondeu entregando o celular nas mãos dela, mas tinha um semblante chateado — Não faça essa cara. À noite deixarei a porta do meu quarto aberta, você pode entrar pelos fundos. Prometo que não vou me arrepender. Vou deixar meu cheiro impregnado na sua roupa.
— Então eu irei fazer assim como você diz. À noite você terá que fazer tudo que eu pedi, sem reclamar. Vou te lembrar que você sempre foi toda minha e sempre será. E você me fará esquecer tudo que aguentei durante o dia ao lado de Alice. Combinado? — Caio perguntou beijando a boca de Virgínia.
— Não vai demorar muito para que possamos fazer essa mulher desaparecer totalmente das nossas vidas. Em alguns dias não vamos nem lembrar que ela existiu em nossas vidas, confie em mim. Tenho tudo planejado. Assim poderemos ficar para sempre juntinhos e com tudo dela. Alice vai acabar como uma moradora de rua, completamente abandonada por todos e esquecida. — Virgínia respondeu com um enorme sorriso digno de uma vilã de novela mexicana devolvendo o celular de Caio.
Senti meu celular vibrar. Era uma mensagem de Caio para mim. Na verdade, havia sido minha irmã que tinha escrito em seu lugar.
Caio ❤️: " Meu amor, estou chegando na loja de vestidos. Estou ansioso para te ver em seu vestido de noiva, tenho certeza que será inesquecível. Mal vejo a hora de te ver. Já estou com saudade da minha amada noiva."
Alice: "Farei que seja um dia que você jamais vai esquecer, querido"
— Se acham que vão fazer o que quiserem comigo, estão muito enganados. Vou fazer com que se arrependam de tudo que fizeram ou iriam fazer, nem que seja a última coisa que eu faça. Agora sou eu que irei tirar tudo de vocês. Acabarei com a vida de todos vocês. Esperem por esperar. — Sussurrei para mim mesma enquanto eu saia da casa sem ser vista por eles.
Não posso mentir, assistir toda aquela cena romântica daqueles dois tinha sido dolorosos. A mensagem enviada por Virgínia no lugar do meu noivo foi como a gota d'água. Não podia acreditar que alguém poderia ser tão dissimulado como aqueles dois.
Ao entrar no meu carro, não pude conter as lágrimas, eu amava aquele idiota, saber que o tempo inteiro fui uma peça de um golpe para ele me fazia sentir tristeza e também uma raiva intensa. Como se pela primeira vez, eu conseguisse ver quem era realmente aquele homem. A ilusão quebrou totalmente. Spoiler: Ele não era absolutamente nada parecido com o que eu pensava. Não havia nada de bom nele. Era um lixo. No fim, a dor é pela traição, não por perder ele. Foi livramento.
No fundo, a traição da minha irmã não foi uma grande surpresa. Não era a primeira vez que Virgínia havia destruído algo que eu amava, nunca tivemos uma boa relação e tinha prazer em me ver sofrer quebrado tudo que eu me importava, mas eu realmente pensei que Caio seria diferente e não cairia nos jogos dela. Mas eu estava enganada, ele foi igual a todos os outros que passaram em minha vida e no fim, sempre escolheram ela.
— Que seja. Ao menos agora eu sei exatamente como lidar com eles dois. — Pensei alto limpando minhas lágrimas, antes de ligar o carro. — Vou mostrar que assim como eles fizeram comigo, eu também posso destruir os planos deles e tomar tudo dela. Inclusive, o seu futuro.
Cansei de ser a menina boba que tenta se encaixar onde não lhe cabe. Se não tem lugar nessa família para mim, tudo bem. Só preciso destruir toda essa família. Correto?
Coloquei o GPS até a loja de vestidos de noiva que a minha madrasta, Márcia, havia sugerido. Só me dei conta agora que todo meu casamento estava sendo organizado por Virgínia e sua mãe. Deve ser um plano desde o início. Marta desde que chegou, fez de tudo para me empurrar para fora da família.
Aliás, preciso me apresentar, me chamo Alice Didier, tenho 21 anos e acabei de terminar minha graduação em administração. Meu pai é totalmente indiferente comigo, mal encontro com ele, parece está sempre viajando e nunca para em casa. Então, tenho que aguentar Márcia e Virgínia me excluindo da casa o tempo inteiro.
Entretanto, nem sempre foi assim. Tudo começou quando Márcia apareceu na nossa casa alguns anos atrás, alegando que Virgínia, que tinha a minha idade, era filha do meu pai, após alguns meses que minha mãe havia falecido. Foi nessa época que o comportamento do meu pai mudou completamente.
— Sempre me pergunto como teria sido, se a minha mãe adotiva não tivesse morrido subitamente. — Pensei alto enquanto estacionava o carro de frente a loja de noivas. Ouvi um barulho alto do pneu estourando. — Acho que sou mesmo muito azarada.
Meu azar começou quando ainda era um bebê, fui abandonada na frente de um orfanato em uma pequena caixa de sapato, sem qualquer informações sobre minhas origens. Quando completei três anos, fui adotada por uma família que não tinha filhos, mas logo fui devolvida para o orfanato, sem qualquer explicação.
Os anos se passaram, pensei que nunca seria adotada novamente, eu já estava com oito anos. Foi então que algo surpreendente aconteceu, conheci Edna Didier, ela mudou toda minha vida ao me adotar. Senti que finalmente a felicidade havia batido na minha porta, pela primeira vez na vida fui amada e querida. Entretanto, a alegria não durou muito. Pouco tempo depois de ter sido adotada, minha mãe adotiva Edna, morreu de forma inesperada.
Foi quando tudo mudou drasticamente dentro daquela casa que um dia foi tão amorosa. Após a morte da minha mãe, com o surgimento de Virgínia, a filha do meu pai com sua amante, Márcia, enquanto ele estava casado com minha mãe.
Toda atenção do meu pai, que antes era carinhoso comigo, foi para Virgínia em um piscar de olhos. Tentava reaver a atenção do meu pai de todas as formas, ao se esforçar para me destacar em tudo que eu fazia, mas era em vão. Ele já não tinha olhos para mim. Nem sequer conseguia atenção dele.
— Mesmo se eu contar ao meu pai o que aconteceu, ele dirá que eu estava novamente com ciúmes da minha irmã. Virgínia sempre roubava os meus namorados, amigos, roupas e brinquedos. Ainda inventava mentiras sobre mim o tempo todo. Como não fosse suficiente ter roubado o meu pai. Eu deveria ter chutado o balde a muito mais tempo. Não sei porque esperei até agora, mas está na hora de devolver a todos tudo que me deram todos esses anos. Vou destruir todos eles. — Pensei alto enquanto limpava as minhas lágrimas e retocava a minha maquiagem no carro, usando o retrovisor. Para começar uma guerra, precisamos estar belíssima. — Vamos começar, primeiro, darei um fim épico a esse noivado de bosta.
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