Pov's Natalie Ferraz.

Washington D.C. 

Presídio de segurança máxima. 

Alguns meses depois...

A minha vida deu uma reviravolta total. Eu não me arrependo das decisões que tomei, se fosse necessário eu faria tudo de novo. 

Eu me sacrifique muito, hoje estou aqui vivendo num presídio de segurança máxima, sendo acusada de assassinato. 

A verdade veio à tona e resolvi abrir o jogo, contar absolutamente tudo nos mínimos detalhes do quanto me senti violentada como mulher. Eu revelei na sede do FBI que havia matado o presidente da República em legítima defesa. Mas não foi essa a versão que a polícia acreditou.

Eles procuraram o meu histórico e induziu a mídia a me colocar como um monstro. A comoção foi tanta que destruíram completamente  a minha imagem. Foram tantos absurdos, que o promotor não pensou nem duas vezes em pedir prisão perpétua. 

Como eu havia confessado o crime e por ser réu primária, fui sentenciada pelo júri a 40 anos de prisão, sem direito a condicional. 

Todo santo dia eu acordo com a esperança de que vou sair daqui um dia. Meu consolo é Deus, eu não perdi a minha fé.  Eu continuo acreditando que o senhor têm planos na minha vida, se eu não morri até aqui, é porque ainda há uma chance de recomeço.

O meu foco é sem dúvidas, é sair daqui e poder recuperar a guarda dos meus filhos que estão vivendo no orfanato. 

Tanto eu, como Ryan fomos presos, mas ele pegou uma pena menor por falsa identidade.  

Perdi todo o contato com o meu marido, não podemos sequer se ver.

A saudade bate muito. Eu penso todos os dias nele, nas crianças e em toda luta que tivemos que enfrentar.  Foi difícil, foi doloroso. Mas hoje....

O que me mantém sobrevivendo, é saber que um dia sairei pelo portão do presídio e irei rever a minha família. 

— Você foi inocentada. 

— O quê?

Dou o sobressalto do assento, ao ouvir notícia do meu advogado. O brilho em meus olhos surgem de repente, e o sorriso nasce em meu rosto.

— Como assim, doutor? 

—  A sentença foi anulada. A ex primeira-dama admitiu o crime antes de cometer suicídio. 

— Oh meu Deus!— fico em choque.

— Ela inclusive contou na carta que deixou dizendo onde estava o corpo.— o advogado prossegue. — Somente o assassino poderia saber onde estava o corpo, e como você nunca admitiu nada, isso te faz inocente. 

Mordo meu lábio inferior, suspensa. Quem diria, aquela mulher morreu e ainda quis salvar a minha pele. Por quê? Por qual motivo?

— Doutor, quando é que vou poder sair daqui? E vê os meus filhos?— pergunto ansiosa.

— Em breve.

— Meu marido também vai sair da cadeia?

— O seu marido não está na cadeia. 

— Como assim?— a palidez percorre em minha face, ao ficar preocupada.— Aconteceu alguma coisa de grave com ele?

— O seu marido nunca teve preso, senhora. Tive que mentir por ordens da pessoa que me contratou para defendê-la. 

— Então Ryan está onde?— meus olhos se enchem de lágrimas. — Já que nunca veio me visitar. 

Pov's Natalie Ferraz.

Washington D.C. 

Presídio de segurança máxima. 

Uma semana depois.....

Testamento? Leio os papéis, com os meus olhos focando em cada palavra. Não posso crer que o homem no qual eu matei, tenha deixado uma herança para mim.

— Nossa.... quanto número!— falo baita surpresa. — Oh meu Deus!

Um sorriso de espanto e ao mesmo tempo de alegria, surge em meus lábios. Nunca vi tanto dinheiro na vida.... Estou passada! 

— Tudo isso é meu?— pergunto pro advogado, que se encontra em minha frente. — Tem certeza?

— A senhora está bilionária. — dá a noticia, sorrindo, quando enxerga a reação que eu tenho de pular da cadeira comemorando.

Fico tão em êxtase, que a felicidade toma conta em meu rosto. Quando eu penso que a vida que eu tinha era de mísera, agora eu vou poder  dar uma vida de melhor aos meus filhos. Eu nem acredito!

— Muito obrigada! Obrigada mesmo! — agradeço ao senhorzinho, chorando emocionada.— Já até imagino comprando uma casinha.

— Casinha?— se surpreende com a minha falta de ambição.– O dinheiro que a senhora possui dá para comprar várias mansões. 

Suspiro, pensando em Ryan. Eu e ele sempre passamos fome, perrengues, vivíamos no fundo do poço. Éramos tão humilhados pelas pessoas, nos sentíamos tão diminuídos. E finalmente.... as coisas vão mudar.

Convenço ao advogado a me informar o paradeiro do meu marido.

 Assim que eu sair deste presídio, será a primeira coisa que farei, será ir atrás dele.

(...)

A tarde saio pelo grande portão da frente, carrego em minha mão uma sacola com roupa. 

Finalmente estou respirando o ar livre.

Sorrio ao sentir o meu bebezinho chutando em minha barriga, é como se ele sentisse o quão feliz me encontro. 

Prossigo com os meus passos, observando as ruas. Pareço até mesmo uma criança admirada com tudo.

Resolvo pegar um ônibus e  seguir até o endereço que foi fornecido. 

Tudo que mais quero é contar a novidade para Ryan, irei dizer ele que não precisamos mais nos esconder e nem fugir.

Deus é maravilhoso!

Quando vou caminhando, estranho e até olho pro papel se o endereço indicado, está mesmo correto. Não pode ser que ele esteja morando em um lugar como este....

Mudo o meu semblante, já começo a ficar desconfiada logo de cara, pressentindo que tem alguma coisa errada.

Conforme vou andando, os olhares  me cercam e me sinto intimidada com esses seguranças mal-encarados que estão armados na entrada da mansão de luxo.  Passo ao redor do carro estacionado, acabo observando uma logotipo bem estranha de uma imagem de caveira.

Ignoro aquilo e aperto a campainha, tensa.

Meu coração dispara de ansiedade. 

Será que eu confundi os endereços?

Viro para trás, agoniada. É daí que a porta se abre inesperadamente.... Nossos olhos se conectam e a química que temos não desapareceu com o tempo. Nossos olhos ainda conseguem brilhar um pelo outro.

— Ryan!— pulo em seus braços, euforicamente. — Achei que eu nunca mais ia te ver de novo, meu amor! Mais que bom que tudo acabou bem.—encho o seu rosto de beijos, numa alegria sem tamanho.

Mais uma coisa me incomoda, ao notar a sua frieza no abraço.  A indiferença que eu consigo sentir em seu semblante. Não consigo entender a sua reação, pois não está vibrando com a minha presença, pelo contrário, parece incomodado.

Me afasto… e lhe fito tão confusa ao vê-lo usando terno, com a aparência tão mudada. 

O Ryan que eu  conhecia, vivia de bermuda e uma camiseta rasgada, não tinha essa pose de bad boy. 

Estou chocada pela quantidade de tatuagens espalhadas pelo seus braços.

— Por acaso, virou bandido?— lhe questiono alarmada e seus olhos distantes me encaram. — Não posso crer!

— Segue o teu rumo, Natalie. E esqueça que eu existo.— as palavras me atingem.

Quando vai dá as costas para mim, e fechar a porta na minha cara, tomo a iniciativa de segurar em seu braço.  O toque lhe faz parar.

Uma coisa que me chama atenção, é aliança em seu dedo esquerdo. Meus olhos na mesma hora se entristecem. 

— Você está casado, Ryan?

— Não te interessa. — responde bem seco.

— Como não me interessa? Eu sofri o pão que o diabo amassou naquele presídio e quando eu retorno, encontro isso…. — aponto incrédula.— Você quer que eu ache o quê? 

— O que você acha e deixa de achar, Natalie, já não é problema meu. 

A forma de como fala, é com ignorância. É como se não se importasse.  Cadê todo aquele amor que dizia sentir por mim?

Eu não consigo aguentar ser tão  maltratada e acabo chorando em sua frente. Não  queria dar esse gostinho a ele, mas a decepção é tanta, que é impossível segurar às lágrimas.

— Como pode agir assim comigo? Já me sacrifiquei tanto por ti, Ryan. 

— Vai jogar na minha cara?

— Não, eu não preciso. Deus mesmo vai te mostrar isso.

—Tá bom, continue acreditando em seu Deus. — debocha da minha fé.

O homem íntegro que confiava no Senhor, se tornou tão incrédulo.

— Essa é a nova empregada, love?

A ficha cai na hora quando a mulher o abraça, a mesma contém a mesma aliança que está em seu dedo. Concluo que seja a sua nova esposa.

 É muito bonita, tem cabelo preto e olhos verdes. Possui o sorriso de modelo.

Me sinto tão pequena neste momento, ao vê-lo ao lado de outra pessoa. Está me machucando essa cena.

— Não.— seu tom rouco ecoa nitidamente desconfortável  — É apenas uma mendiga pedindo esmola, mas ela já está indo embora.

Fico tão sentida com as palavras. Como pode me tratar com insignificância? Depois de tudo que passamos juntos.

— Por que você não dar algum dinheiro para ela?— a sua esposa sugere.— Der!— a voz fina insiste.

E não tendo outra escolha, Ryan saca da carteira uma cédula de cinco dólares e estende para mim, como se eu fosse uma pobre coitada.

É tão humilhante o que está fazendo comigo.

Pov's Natalie Ferraz.

 Me retiro tão humilhada, é como se a minha alma não tivesse em meu corpo. Eu nunca pensei que um dia Ryan fosse substituir o nosso amor tão facilmente. 

O jeito de como olhou para aquela mulher, doeu... doeu muito. 

Não consegui formular uma frase, simplesmente fugi dali. Só queria chorar longe da vista do casal. 

Foi horrível o que ele fez comigo. Mas eu não vou ficar parada choramingando pelos cantos, lamentando o que deu errado. Eu vou recuperar a guarda dos meus filhos.

Descubro absolutamente tudo que se passou com Ryan, no período que estive presa.

O advogado que me tirou da cadeia, foi contratado por ele. 

O advogado revela tantas coisas e uma dessas revelações me choca. Fico tão incrédula ao descobrir que Ryan virou um criminoso. 

Ele nunca havia se metido com negócios ilegais e agora trabalha para uma Máfia. 

O que me deixa muito indignada é saber que não existe Orfanato porra nenhuma, mas sim, que aquele filho da puta teve coragem de enfiar os nossos filhos num colégio internato. É somente isso que advogado sabe a respeito das minhas crianças, mas isso não vai ficar assim.

 Se ele acha que sou aquela Natalie boba do passado, está muito enganado. Da mesma forma que mudou, eu também mudei.

O que eu puder fazer, para atingi-lo, eu não vou pensar nem duas vezes.

 Assino os papéis, repassando 50 milhões dólares. Esse será o preço que terei que pagar.

(..............)

Duas semanas depois....

Mudo completamente o visual. 

Eu aprendo nas aulas de etiqueta, a como me comportar numa mesa. Inclusive aprendo a andar de salto alto sem tropeçar. 

Eu dou uma respingnada total no meu visual.

Aquela Natalie humilde e simples, já não existe mais.

Passo o batom vermelho em meus lábios, olhando para a minha aparência de frente ao espelho. Os fios do cabelo estão mais bonitos e hidratados. O vestido de tonalidade vermelha, caiu bem em meu corpo. 

Me sinto confiante, hoje será um grande dia.

Na hora que desço de frente ao prédio, o meu motorista abre a porta do carro para eu descer. 

O barulho do meu salto se choca no chão na medida que me direciono. Confesso que me sinto nervosa, posso até sentir um frio na barriga. Mas eu preciso  encarar tudo de frente.

Dou três batidas na porta, antes de adentrar ao escritório da enorme empresa.

— Estamos esperando a nova sócia. — a mulher comenta pros demais, no exato segundo que entro.

Os olhares se voltam inteiros para mim, especialmente daquele que está sentado na cadeira da presidência da empresa.

Ryan arregala os olhos, e por alguns instantes observo a sua querida esposa cochichar baixinho em seu ouvido:

— Aquela não é a mendiga que foi um dia desses em nossa casa?

Os interrompo:

— Bom, aonde é que eu me sento?— indago, com o ar de arrogância.

— Aqui.— a esposa do próprio se levanta de onde se encontra.— Seja bem-vinda! Me chamo Melissa Ferraz, muito prazer!— estende a mão para me cumprimentar.

Ela carrega o sobrenome dele, assim como eu estou carregando. 

Qual dos dois casamentos é real? Porque eu me lembro que na prisão  assinei um papel de casamento, casando oficialmente com Ryan.  Ou no caso... será que ele já sabia da herança e fez tudo aquilo arquitetado para me roubar?

— Prazer é todo meu, me chamo Natalie.... Forbes.— uso o meu sobrenome de solteira, entreolhando para o rosto do cínico, que fica tão tenso que nem disfarça o medo que sente de ser desmascarado. — Será um prazer trabalhar com vocês na Máfia.