— Não me dê as costas. Olhe para mim. Acho que mereço no mínimo essa consideração, Dante.
Quando se virou para mim, emanava tensão. Ele não se aproximou, mas me encarava. Pela primeira vez, não fingiu que eu era invisível. Seus olhos azuis percorriam o meu corpo descoberto.
Meus mamilos endureceram por causa do ar gelado de seu escritório, mas não fechei o roupão de seda, apesar da urgência esmagadora de me cobrir devido ao frio olhar crítico de Dante. Seu olhar permaneceu um pouco mais de tempo no vértice das minhas coxas do que no resto do meu corpo, e fui preenchida por um pequeno rompante de esperança.
— Não sou sua esposa?
Suas sobrancelhas uniram-se.
— Claro que você é. — Havia algo em sua voz que não pude distinguir o que era.
— Então, tome o que é seu por direito, Dante. Faça-me sua!
Ele não se moveu, mas seus olhos deslizaram direto para meus mamilos eretos. Seu olhar era quase palpável, como se um fantasma tocasse minha pele nua.Faltava pouco para eu implorar. Sabia que ele estava quase cedendo. Eu queria transar esta noite.
— Também tenho necessidades. Ou você prefere que eu encontre um amante que te libere do fardo de me tocar? — Não estava certa se seria capaz de fazer isso. Não, eu sabia que não seria capaz de fazer isso, mas esse gesto de provocação era a minha última opção. Não sabia o que mais poderia fazer se Dante não reagisse a isso.
— Não — respondeu bruscamente, um misto de raiva e possessividade rompendo sua máscara de perfeição. Ele apertou os lábios, cerrou a mandíbula e caminhou em minha direção. Tremi de necessidade e expectativa quando ele parou na minha frente. Não me tocou, mas pensei ter detectado um vislumbre de desejo em seus olhos. Não era grande coisa, mas o suficiente para me encorajar.
Cobri a distância que ficara entre nós, agarrando seus ombros másculos e pressionei meu corpo nu ao dele. O tecido áspero de seu terno roçou deliciosamente contra meus mamilos sensíveis e deixei escapar um leve gemido. A pressão no meio das minhas pernas era quase insuportável. Os olhos de Dante brilharam quando ele baixou o olhar para mim. Ele me envolveu com um braço devagar e pousou a palma da mão na parte inferior das minhas costas.
A sensação de vitória me inundou. Não estava mais sendo ignorada.
Capítulo 1
Óbvio que eu sabia que isso aconteceria. Meu pai havia deixado bem clara sua opinião no momento em que Antonio, meu primeiro marido, foi sepultado. Eu era jovem demais para permanecer sem marido. Só não esperava que meu pai me encontrasse um novo tão rápido e, definitivamente, não esperava que este fosse Dante Cavallaro, O Chefe.
O funeral de Antonio tinha acontecido há nove meses, o que fez o meu novo compromisso beirar a inadequação. Geralmente, Mamma era uma das primeiras a criticar quando alguém assumia um falso compromisso social e, no entanto, ela não via nada de errado no fato de que hoje, menos de um ano após me despedir de Antonio, eu iria encontrar meu próximo marido. Nunca amei Antonio como uma mulher ama um homem, mesmo que eu tenha acreditado nisso em algum momento, e nosso casamento nunca foi de verdade, mas esperava ter mais tempo antes que fosse empurrada para outro noivado, principalmente porque eu nem tive escolha dessa vez.
— Você tem tanta sorte de Dante Cavallaro ter concordado em se casar. Foi uma surpresa para muitas pessoas que ele tenha decidido se juntar a uma mulher que já foi casada. Afinal, ele poderia ter escolhido alguém de uma fila de jovens ansiosas — disse minha mãe enquanto escovava meus cabelos castanho-escuros. Não era sua intenção me magoar, ela apenas constatava o óbvio. Sabia que era verdade. Qualquer um sabia.
Um homem na posição de Dante não tinha que se contentar com sobras de outro, de outro em posição inferior. Era o que provavelmente a maioria das pessoas pensava e, mesmo assim, eu deveria me casar com ele. Eu, que nem queria me casar com ninguém tão poderoso e ardiloso como Dante Cavallaro. Eu, que queria ficar sozinha, nem que fosse para proteger o segredo de Antonio. De que forma eu poderia manter a mentira? Dante era conhecido por sempre saber quando alguém está mentindo.
— Ele será o Chefe da Outfit dentro de dois meses, e quando se casar com ele, você será a mulher mais influente de Chicago e do Centro-Oeste. E se continuar sua boa amizade com Aria, também terá conexões em Nova York.
Como de costume, minha mãe estava um passo à frente, já planejava o domínio mundial, enquanto eu ainda tentava me acostumar com o fato de que deveria me casar com O Chefe. Era perigoso demais. Eu sabia mentir. Nos anos em que fui casada com Antonio, melhorei minhas habilidades continuamente, mas havia uma enorme diferença entre mentir para o mundo exterior e mentir para o seu marido. A raiva por Antonio reapareceu como se fosse há alguns meses. Ele me forçou a esta situação.
Mamma deu um passo atrás, admirando seu trabalho. Meus cabelos escuros caíam em cachos brilhantes sobre meus ombros e minhas costas. Levantei. Para a ocasião, escolhi uma saia lápis creme e uma blusa ameixa, presa na cintura, e um modesto sapato preto de salto baixo. Eu era uma das mulheres mais altas da Organização, com 1,73m e, logicamente, minha mãe estava preocupada com que Dante não gostasse se eu usasse saltos altos.
Não me importei em destacar que Dante era pelo menos treze centímetros mais alto que eu; eu não ficaria mais alta que ele mesmo com saltos altos. E, de qualquer forma, não seria a primeira vez que ele me veria. Nós nos encontramos algumas vezes em eventos da máfia e dançamos uma breve música juntos no casamento de Aria há três meses, em agosto. Porém, nunca trocamos mais do que gentilezas esperadas e, certamente, nunca tive a impressão de que Dante estivesse remotamente interessado em mim, mas ele era conhecido por ser reservado, então, quem poderia saber o que realmente se passava pela cabeça dele?
— Ele teve algum relacionamento desde que a esposa morreu? — Perguntei. Normalmente, esse tipo de fofoca se espalhava rápido em nosso meio, mas talvez eu tenha deixado passar. As mulheres mais velhas da família frequentemente ficavam sabendo primeiro sobre os podres dos outros. Para ser honesta, fofoca era a principal atividade da maioria delas.
Mamma sorriu de maneira triste. — Não oficialmente. Dizem por aí que ele não conseguiu se desapegar da esposa, só que já faz mais de três anos e agora que está prestes a se tornar O Chefe da Outfit, não pode se agarrar à memória de uma mulher morta. Ele precisa seguir em frente e gerar um herdeiro. — Ela pôs as mãos em meus ombros e deu um sorriso radiante. — E será você a dar um lindo filho a ele, querida.
Senti um nó no estômago. — Não hoje.Minha mãe riu balançando a cabeça. — Em breve. O casamento será em dois meses. — Se fosse pela vontade de Mamma e Papá, o casamento teria sido meses atrás. Eles deviam estar preocupados que Dante pudesse mudar de ideia sobre mim.
— Valentina! Livia! Dante acabou de estacionar o carro.
Mamma bateu palmas e piscou. — Vamos fazê-lo esquecer da esposa.
Tomara que ela não diga algo tão deselegante assim perto de Dante. Segui-a escada abaixo e tentei imprimir minha expressão mais sofisticada. Papá abriu a porta. Nem lembrava a última vez que ele tinha realmente atendido a porta. Geralmente era Mamma ou eu que fazíamos isso, ou nossa empregada, mas até eu notei que ele estava praticamente dando pulos de ansiedade. Ele precisava mesmo deixar tão evidente o desespero em me casar de novo? Isso me fez sentir como se fosse o último filhote da ninhada, do qual a loja de animais não podia mais esperar para se livrar.
Os cabelos loiros de Dante apontaram no vão da porta no momento em que minha mãe e eu paramos no meio do salão de entrada. Estava nevando lá fora e o véu suave de neve na cabeça de Dante fez seus cabelos parecerem quase dourados. Entendi por que algumas pessoas ficaram frustradas por Aria ter se casado com Luca. Dante e ela teriam sido o casal de ouro.
Papá abriu largamente a porta com um sorriso igualmente largo. Dante apertou a mão de meu pai e eles trocaram algumas poucas palavras. Mamma estava praticamente dando pulinhos ao meu lado. Ela exibiu seu sorriso super brilhante assim que Dante e Papá finalmente vieram em nossa direção. Eu mesma forcei um sorriso bem menos radiante.Como mandava a tradição, Dante cumprimentou minha mãe primeiro, com uma reverência e um beijo na mão, depois, virou para mim. Ele deu um sorriso breve que não alcançava seus olhos azuis, e beijou minha mão.
— Valentina — disse com sua voz macia e sem emoção.
De um ponto de vista exclusivamente físico, achei Dante mais do que um pouco atraente. Ele era alto e discretamente musculoso, impecavelmente vestido com um terno completo cinza escuro, camisa branca e gravata azul clara, e seus cabelos loiros volumosos estavam despretensiosamente penteados para trás. Todos o chamavam de insensível, e pelos nossos curtos encontros eu sabia que estavam certos.
— É ótimo te encontrar novamente — falei com um pequeno aceno de cabeça.
Dante largou minha mão. — É, sim. — Ele voltou seu olhar vazio para meu pai. — Gostaria de conversar a sós com Valentina.
— Como de costume, nenhuma gentileza foi usada.
— Claro — disse Papá ansiosamente, segurando o braço de minha mãe e abrindo caminho. Se eu não tivesse sido casada antes, eles nunca me deixariam sozinha com um homem, no entanto, era como se não achassem que precisavam mais proteger minha virtude. E eu não podia contar que Antonio e eu nunca havíamos consumado nosso casamento. Não poderia contar a ninguém, muito menos a Dante.
Quando Mamma e Papá desapareceram para dentro do escritório de meu pai, Dante virou-se para mim.
–Você não vê problema nisso, suponho.Ele parecia muito contido e controlado, como se suas emoções estivessem reprimidas bem no fundo, e nem mesmo ele fosse capaz de alcançá-las. Perguntei-me o quanto disso era resultado da morte de sua esposa e o quanto era seu temperamento natural.
— Não — respondi, esperando que ele não percebesse o quão nervosa eu estava. Fiz um gesto para a porta à nossa esquerda. — Você gostaria de sentar enquanto conversamos?
Dante assentiu e o levei para a sala de estar. Afundei no sofá e Dante ficou na poltrona à minha frente. Pensei que sentaria ao meu lado, mas ele parecia satisfeito em manter o máximo de espaço entre nós quanto fosse possível. Tirando o breve beijo na minha mão, ele se assegurou de não me tocar. Como não éramos casados, ele provavelmente achava isso inapropriado. Pelo menos era o que eu esperava.
— Suponho que seu pai tenha dito que nosso casamento está programado para o dia cinco de janeiro.
Procurei uma centelha de tristeza ou de melancolia em sua voz, mas não havia nada. Pousei as mãos no colo, entrelaçando os dedos. Assim era mais difícil Dante perceber que eu estava tremendo.
— Sim. Ele me disse há alguns dias.
— Percebi que será menos de um ano depois do funeral de seu marido, mas meu pai irá se aposentar no fim do ano e espera-se que eu esteja casado quando assumir seu lugar.
Baixei os olhos, meu peito apertado com sentimentos enterrados. Antonio não foi um bom marido, ele não foi nenhum tipo de marido, porém, foi meu amigo, e eu o conhecia a minha vida inteira, foi por esse motivo que concordei em casar com ele. Claro,fui inocente, não me dei conta do que realmente significava casar com um homem que não estava interessado em mim, ou em mulheres em geral. Eu quis ajudá-lo. Ser gay não era algo tolerado na máfia. Se alguém tivesse descoberto que Antonio gostava de homens, ele teria sido assassinado. Quando ele pediu minha ajuda, agarrei a chance, esperava secretamente que pudesse conquistá-lo.
Pensei que ele poderia resolver não ser mais gay, pensei que poderíamos ter um casamento de verdade em algum momento, mas essa esperança logo se desfez. Havia uma parte de mim vil e egoísta que ficou aliviada quando Antonio morreu. Pensei estar finalmente livre para encontrar um homem que me amasse ou, pelo menos, me desejasse. Felizmente, era apenas uma parte bem pequena, e me sentia culpada sempre que me lembrava disso. E, mesmo assim, talvez essa fosse minha chance. Talvez meu segundo casamento finalmente fosse me proporcionar um marido que me visse mais do que um mal necessário.
Dante pareceu não entender meu silêncio.
— Se for muito cedo para você, podemos cancelar nosso acordo.
Mamma me mataria e Papá provavelmente sofreria um derrame.
— Não — retruquei rapidamente. — Está tudo bem. Fiquei absorta em memórias por um instante. — Sorri para ele. Ele não retribuiu, apenas me encarou, analisando friamente.
— Muito bem — acabou por dizer. — Gostaria de discutir os preparativos com você, assim como o horário do evento. Dois meses passam rápido, mas, como esse casamento não será uma grande festa, ficaremos bem.Assenti. Parte de mim estava triste porque o casamento seria discreto, mas qualquer coisa mais suntuosa tão rápido depois da morte de Antonio teria sido ofensivo, e, já que era a segunda união tanto para Dante quanto para mim, ficaria ridículo se eu insistisse numa comemoração estonteante.
— Por que me escolheu? Tenho certeza de que havia muitas outras opções viáveis. — Estive me perguntando sobre isso desde que Papá me contou a respeito do acordo com Dante. Sabia que era algo que não deveria perguntar. Mamma teria um chilique se estivesse ali.
A expressão de Dante não mudou. — Claro. Meu pai sugeriu sua prima Gianna, mas eu não queria uma esposa que acabou de atingir a maioridade. Infelizmente, a maioria das mulheres de vinte e poucos anos já está casada, e a maior parte das viúvas é mais velha que eu ou tem filhos, situações inaceitáveis para um homem na minha posição, como você deve saber.
Assenti. Existem tantas regras de etiqueta no que diz respeito a encontrar a esposa correta, principalmente para um homem na posição de Dante, por isso, muitos se espantaram quando fui anunciada como sua futura esposa. Dante pisou em vários calos ao tomar essa decisão.
— Então, você era a opção mais lógica. É claro que você ainda é bem jovem, mas não podemos mudar isso.
Fiquei em silêncio, atordoada por um instante devido ao seu raciocínio insensível. Eu não era mais tão inocente quanto antes, mas esperava que pelo menos parte do motivo de Dante ter me escolhido fosse por sentir atração por mim, me achar bonita, ou, no mínimo, interessante em algum ponto; no entanto, a explicação fria destruiu essa pequena fagulha de esperança.
— Tenho vinte e três — repliquei com uma voz supreendentemente calma. Possivelmente a indiferença de Dante tenha me contagiado. Nesse caso, logo eu seria conhecida como a rainha do gelo. — Para nossos padrões de casamento, não sou muito nova.
— Doze anos mais nova que eu. É mais do que eu gostaria. — Sua esposa falecida era apenas dois anos mais nova que ele e eles ficaram casados por quase doze anos antes de o câncer matá-la.
Ainda assim, o jeito como ele disse fez soar como se tivesse sido obrigado a casar comigo. A maioria dos homens em nosso meio arruma uma amante jovem quando suas esposas ficam velhas e, mesmo assim, Dante estava insatisfeito com a minha idade.
— Talvez você deva procurar por outra esposa. Não pedi para se casar comigo. — No instante em que as palavras saíram, coloquei a mão na boca e meu olhar cruzou com o de Dante. Ele não parecia nervoso, ele não parecia nada. Seu rosto estava como sempre. Impassível e sem emoção. — Desculpe. Isso foi bastante indelicado. Não deveria ter falado isso.
Dante balançou a cabeça. Nenhum fio de cabelo se mexeu.
Não se via nem uma partícula de poeira em suas calças, apesar da neve de novembro. — Está tudo bem. Não quis te ofender.
Queria que ele não tivesse soado tão blasè, mas eu não podia fazer nada quanto a isso, pelo menos não até estarmos casados.
— Não ofendeu. Desculpe. Passei do limite.
— Vamos voltar ao que interessa. Ainda há algumas coisas que precisamos discutir e infelizmente tenho uma reunião agendada para esta noite e um voo amanhã cedo.
— Você está indo a Nova York para o noivado de Matteo e Gianna. — Minha família não foi convidada. Assim como para a festa de noivado de Aria, apenas os parentes mais próximos e os respectivos chefes da máfia de Nova York e Chicago foram convidados. Para falar a verdade, eu fiquei contente. Teria sido o primeiro evento social depois do noivado com Dante se tornar público. As fofocas e os olhares curiosos iriam me seguir por toda parte.
Seu olhar demonstrou uma leve surpresa, mas logo desapareceu. — Na verdade, estou. — Ele colocou a mão no bolso do paletó e estendeu uma caixinha de veludo. Peguei-a de sua mão e abri. Dentro, havia uma aliança de noivado de diamante. Eu havia tirado há apenas algumas semanas as alianças de casamento e de noivado que Antonio me deu. Elas nunca tiveram muito significado para mim de qualquer forma.
— Espero que o modelo seja do seu gosto.
— É, sim, obrigada. — Depois de um momento de hesitação, tirei a aliança da caixinha e coloquei no meu dedo. Dante não deu nenhum sinal de que queria fazer isso por mim. Fiquei com náuseas quando meu olhar parou sobre sua mão direita. Ele ainda usava sua aliança antiga. Outra pontada estranha de decepção me atingiu. Se ele ainda a usava depois desse tempo todo, ainda devia ser apaixonado pela esposa morta, ou será que era apenas uma questão de hábito?
Ele percebeu meu olhar e, pela primeira vez, sua máscara de indiferença caiu, no entanto, ela voltou tão rápido que não tinha mais certeza de que realmente vi aquilo. Ele não me deu nenhuma explicação, nem se desculpou, não que eu esperasse algo assim de um homem como ele.
— Seu pai pediu que fizéssemos um evento para anunciar nosso compromisso antes do casamento propriamente. Uma vez que todos concordamos que uma festa de noivado é desnecessária — Nunca me consultaram, mas não estava surpresa. —, sugeri que comparecêssemos juntos à festa anual de Natal da família Scuderi.
Desde que me entendo por gente, minha família vai à casa da família Scuderi no primeiro domingo do advento. — Parece sensato.
Dante deu um sorriso tranquilo. — Então, está combinado.
Falarei com seu pai sobre quando virei te buscar.
— Você pode dizer para mim. Tenho um celular e sei como usá-lo.
Dante me encarou. Seu rosto expressou algo como divertimento por um segundo. — Claro. Se você prefere assim. — Ele tirou o celular do bolso. — Qual é o seu número?
Precisei de um instante para suprimir uma risada nada feminina antes de falar.
Quando terminou de digitar, colocou o aparelho de volta no bolso e se levantou sem dizer mais nada. Levantei-me também e fiquei um tempo alisando amassados inexistentes na minha saia para esconder minha irritação por trás das gentilezas que me foram ensinadas.
— Agradeço o seu tempo — disse formalmente. Eu realmente tinha esperança de que ele relaxasse depois do nosso casamento.
Ele não era sempre tão retraído. Ouvi histórias sobre como estabeleceu sua posição de herdeiro do título de seu pai e como foi eficiente quando teve que lidar com traidores e inimigos. Havia algo de selvagem e sombrio por trás de sua conduta de príncipe de gelo.
— Sem problemas. — Fui em direção à porta, mas Dante chegou antes e a segurou para eu passar. Agradeci rapidamente antes de ir para o corredor. — Vou buscar meus pais para se despedirem.
— Na verdade, gostaria de falar com seu pai em particular antes de ir.
Tentei inutilmente conseguir alguma informação de sua expressão, mas nem me importei. Em vez disso, andei a passos largos até o fim do corredor e bati à porta do escritório de meu pai.
As vozes lá dentro cessaram e, logo depois, meu pai abriu a porta.
Mamma estava de pé logo atrás dele. Pela cara dela dava para notar que estava ansiosa para me encher de perguntas, mas Dante vinha bem atrás de mim.
— Dante gostaria de falar com o senhor — comuniquei e virei-me para falar com Dante. — Até a festa de Natal. — Pensei em dar um beijo de leve em sua bochecha, mas descartei a ideia imediatamente. Em vez disso, inclinei a cabeça num sorriso antes de seguir meu caminho. Os saltos de minha mãe estalavam atrás de mim, e logo ela já estava ao meu lado. Cruzou seu braço com o meu.
— Como foi? Dante não parecia muito contente. Você fez alguma coisa que o ofendeu?
Olhei para ela. — Claro que não. O rosto de Dante é congelado em uma única expressão.
— Shhh. — Mamma olhou para trás. — E se ele te ouvir?
Não achava que ele se importaria.Mamma analisou meu rosto. — Você deveria estar feliz, Valentina. Você ganhou na loteria dos maridos, e tenho certeza de que por baixo daquele exterior gélido existe um amante passional escondido.
— Mamma, por favor. — Por duas vezes na vida, até agora, já sofri com conversas sobre sexo com minha mãe: aquela na qual ela tentou me contar sobre a história da sementinha, e eu com quinze anos já estava bem ciente dos mecanismos do sexo. Mesmo em uma escola católica para meninas, essa informação vem à tona em algum momento. E a segunda, brevemente antes do meu casamento com Antonio. Não achei que sobreviveria a uma terceira.
Porém, esperava que ela estivesse certa. Graças ao desinteresse de Antonio por mulheres, nunca tive a chance de desfrutar de um amante apaixonado, ou amante de qualquer tipo, de fato. Estava mais do que pronta para finalmente me livrar da minha virgindade, mesmo que isso representasse o risco de Dante descobrir a verdade sobre meu primeiro casamento ser de fachada... só que eu já teria passado desse ponto quando isso acontecesse.
Dante me buscou faltando quinze minutos para as 18h, como prometido. Nem um minuto a mais nem a menos. Não esperava que fosse diferente. Meus pais já haviam saído alguns minutos antes.
Como futuro chefe da Outfit, Dante não podia chegar cedo demais à festa.
Ele vestia um terno completo azul marinho com risca de giz azul clara e uma gravata combinando. Congelei por um segundo quando o vi. Meu vestido também era azul marinho. As pessoas pensariam que tínhamos combinado de propósito, mas nada poderia ser feito quanto a isso agora. Eu fiz uma dieta detox rigorosa por três dias para caber no vestido justo de frente única; não iria trocar de roupa. Apesar de a saia longa alcançar minhas panturrilhas, a fenda que chegava às minhas coxas me permitia andar pelas escadas sem muita dificuldade.
O olhar de Dante me analisou rapidamente. — Você está linda, Valentina. — Ele estava sendo educado. Não havia absolutamente nenhum indício de que realmente me achasse atraente.
— Obrigada. — Sorri e dei um passo em direção a ele, que tocou a base das minhas costas, me conduzindo ao seu Porsche preto estacionado ao meio-fio, e se contraiu ao encostar a palma da mão na minha pele nua. Não tinha certeza, mas pensei ter ouvido um suspiro escapar dele e a ideia de que poderia ter sido provocado por mim, juntou com a sensação de seu toque e me deu um arrepio de prazer na espinha. Ele colocou levemente a mão nas minhas costas, e não deu nenhum outro indício de que se surpreendeu com minha nudez parcial enquanto me guiava à porta do passageiro e a abria para mim. Quase tonta por causa da vitória pelo fato de que conseguira uma reação do homem de gelo, entrei no carro. Quando estivermos casados, tentarei isso com mais frequência.
*** Os outros convidados já tinham chegado quando paramos em frente à mansão Scuderi. Poderíamos ter andado se não fosse pelos dez centímetros de neve, a preocupação com a segurança e meus saltos altos. Dante nem se incomodou em conversar sobre qualquer coisa durante o percurso. Ele parecia mesmo distante. Quando colocou a mão nas minhas costas nuas desta vez, não houve nenhuma reação visível.
Ludevica Scuderi abriu a porta para nós. Rocco, seu marido, o atual Consigliere do pai de Dante, pairava atrás dela com as mãos em seus ombros. Ambos sorriram largamente nos conduzindo para dentro, no hall de entrada agradavelmente aquecido. Uma árvore de Natal de dois metros e meio, decorada com bolas vermelhas e prateadas, dominava o espaço.
— Estamos muito contentes que puderam vir — disse Ludevica cordialmente.Rocco apertou a mão de Dante. — Preciso te parabenizar pelo excelente gosto. Sua futura esposa é admirável, Dante.
Era óbvio que eles estavam se esforçando para serem gentis.
Embora fosse desejável que o novo Capo mantivesse o Consigliere de seu antecessor, não era uma tradição, então, Dante poderia nomear um novo Consigliere quando substituísse o pai.
Dante inclinou a cabeça e voltou a colocar a mão em minhas costas.
— Ela é — respondeu simplesmente e só o que eu pude fazer foi sorrir.
Ludevica agarrou minhas mãos. — Ficamos felizes quando descobrimos que Dante te escolheu. Depois de tudo pelo que passaram, é justo que o destino os una.
Não tinha certeza do que dizer sobre isso. Talvez ela estivesse sendo sincera. Difícil dizer. Afinal, eles tentaram casar Gianna com Dante antes.
— Obrigada. É muito gentil da sua parte.
— Entrem. A festa não é aqui no hall — falou Rocco, gesticulando para que fôssemos para a sala de estar. Risos e vozes vinham lá de dentro.
— Aria está muito animada para vê-la novamente — anunciou Ludovica enquanto entrávamos na sala de estar. Não tive tempo de manifestar minha surpresa com a presença de Aria porque, assim que fomos avistados pelo grupo, as pessoas reuniram-se à nossa volta, nos parabenizando pelo noivado e pelo casamento iminente.
Entre apertos de mão, examinei o recinto. Aria estava parada no outro lado da enorme sala, perto de outra árvore de Natal gigante e de seu não menos gigante marido, Luca, que mantinha uma mão possessiva em sua cintura. Não avistei Gianna nem Matteo em lugar nenhum. Se a fofoca que minha mãe contou era verdadeira, os Scuderi estavam preocupados que a filha do meio pudesse provocar uma cena.
Dante mexeu o polegar nas minhas costas e me arrepiei. Meu olhar se voltou para ele, depois para o casal à nossa frente, que eu tinha ignorado completamente porque fiquei olhando para Aria e Luca. Coloquei meu sorriso mais luminoso no rosto e abracei Bibiana.
— Como você está? — Sussurrei. Ela me apertou brevemente, depois se afastou com um sorriso forçado. Essa era a única resposta que eu iria conseguir na presença de outras pessoas.
Tommaso, seu marido, que era trinta anos mais velho que ela, gordo e careca, beijou minha mão, o que teria sido aceitável se não fosse pelo seu olhar. Desconfiado era a melhor palavra para descrevê-lo. Os dedos de Dante nas minhas costas tensionaram e eu arrisquei olhar para ele, mas sua expressão era a mesma máscara impassível de sempre. Ele olhou fixamente para Tommaso e o homem saiu rapidamente com Bibiana.
Um garçom carregando uma bandeja de bebidas parou ao nosso lado, Dante pegou uma taça de champanhe para mim e um scotch para si. Agora que a enxurrada de votos de felicidade tinha finalmente diminuído, Luca e Aria cruzaram o salão em nossa direção. O comportamento de Dante mudou tão discretamente quanto o de um tigre sentindo a presença de outro predador em seu território. Ao invés de ficar tenso, ele relaxou, tentando mostrar que não estava preocupado, porém, seu olhar apresentava-se alerta e calculista.Luca e Dante cumprimentaram-se com um aperto de mãos, ambos exibindo um perturbador sorriso cheio de dentes. Ignorando-os, sorri para Aria, verdadeiramente feliz por vê-la novamente. Já fazia meses. Ela parecia bem mais tranquila do que no dia do seu casamento.
— Você está maravilhosa — elogiei enquanto a abraçava. Ela usava um vestido vermelho escuro que contrastava lindamente com seus cabelos loiros e sua pele clara. Não era por acaso que Luca não tirava os olhos dela.
— Você também — retribuiu dando um passo atrás. — Posso ver as costas?
Virei-me.
— Uau! Ela não está maravilhosa?
A pergunta não foi direcionada a Luca e gerou um hiato constrangedor fazendo a tensão disparar. Dante envolveu minha cintura com o braço, olhando friamente para Luca, que segurou a mão de Aria, beijou-a e disse em voz baixa:
— Só tenho olhos para você.
Aria sorriu um pouco envergonhada. — Preciso procurar Gianna, mas adoraria conversar com você mais tarde...
— Tudo bem — respondi, grata por ela e Luca se afastarem.
De todo modo, Aria e eu não conseguiríamos conversar com os homens por perto.
Virei-me para Dante. — Você não gosta dele.
— Não é questão de gostar. É questão de autopreservação e uma dose saudável de desconfiança.
— Esse é o espírito de Natal — falei sem tentar esconder meu sarcasmo.Mais uma vez uma pontada de divertimento fez os cantos da boca de Dante se curvarem, mas logo passou.
— Gostaria de algo para comer?
— Com certeza. — Depois de alguns dias de uma dieta torturante, eu estava faminta. Enquanto passávamos pelas pessoas, percebi que o atual chefe da Outfit não estava presente. — Onde está seu pai?
— Ele não queria roubar a nossa cena. Agora que está praticamente aposentado, ele prefere ficar longe dos olhos do público — disse Dante ironicamente.
— Compreensível. — Esses eventos sociais eram exaustivos.
Tinha que tomar cuidado com o que se diz e o que se faz, ainda mais sendo o chefe. Pelos olhares penetrantes que algumas mulheres me dirigiam, sabia que eu era o assunto favorito delas.
Sabia o que diziam por trás das mãos: “Por que Dante Cavallaro escolheu uma viúva em vez de uma noiva jovem e inocente?”.
Dei uma olhada em seu semblante sem emoções, os ângulos rijos das maçãs de seu rosto, o calculismo e a atenção em seus olhos, e me vi desejando mais uma vez que a resposta para essa pergunta fosse outra coisa que não pura lógica.
O Buffet estava repleto de iguarias italianas. Peguei uma fatia de panetone para mim, já que estava desesperada por algo doce.
Como sempre, o sabor era divino. Eu já fiz algumas vezes, mas nunca ficou tão bom quanto o de Ludevica Scuderi.
— Dante — disse uma agradável voz feminina por trás de nós.
Dante e eu nos viramos ao mesmo tempo. Ines, irmã dele, com quem troquei apenas poucas palavras durante todos os nove anos em que ficamos distanciadas, estava parada à nossa frente. Ela estava grávida, provavelmente no terceiro trimestre, se eu não estivesse enganada. Do outro lado do salão estavam seus gêmeos, um menino e uma menina, ocupados brincando com Fabiano Scuderi, que era da mesma idade que eles. Ines tinha os mesmos cabelos cheios de Dante e trazia a mesma indiferença, mas, assim que seus olhos pousaram em mim, tornaram-se não necessariamente acolhedores, mas amigáveis.
— E Valentina. Que bom te ver.
— Ines — falei sorrindo. — Você está radiante.
Ela tocou a barriga. — Obrigada. É um desafio encontrar um bom vestido que caiba com essa barriga. Quem sabe você não poderia me ajudar a achar um para o seu casamento?
— Eu adoraria. E se não se importar, ficaria encantada se você pudesse ir comigo quando eu for à procura do meu vestido de noiva.
Ela arregalou seus olhos azuis. — Você ainda não escolheu um?
Eu dei de ombros. Claro que eu ainda tinha o do casamento anterior, mas não tinha a intenção de usá-lo outra vez. Significaria má sorte.
— Ainda não, mas vou atrás de um na semana que vem, então, se você estiver livre...
— Pode contar comigo — aceitou ela. Seus olhos tornaram-se bem mais calorosos. Ela parecia ter bem menos que trinta e dois e, mesmo estando grávida, não tinha ganhado um grama de peso.
Imaginei como ela conseguia. Talvez fosse a genética.
Definitivamente eu não tinha tido essa bênção. Sem o detox esporádico de um dia ou uma semana, e os exercícios regulares, eu ganharia peso sem piscar.— Maravilha. — De canto de olho, vi Dante nos observando com um leve interesse. Esperava que estivesse feliz por sua irmã e eu estarmos nos dando bem. Sabia que sua falecida esposa e Ines eram amigas. Frequentemente as via rindo juntas em eventos sociais.
— Onde está seu marido? — Dante acabou perguntando.
— Ah, Pietro foi lá fora com Rocco Scuderi para fumar. Não queriam incomodar você nem sua futura esposa.
Um músculo no rosto de Dante se mexeu.
— Você pode ir encontrá-los, se tiver algo a tratar — falei rapidamente. — Ficarei bem sozinha. Devo falar com Aria. Quer ir comigo, Ines?
Ines balançou a cabeça com os olhos nos gêmeos, que discutiam acaloradamente.
— Preciso parar aquilo ou teremos lágrimas e narizes quebrados. — Ela sorriu brevemente, depois, se apressou em direção às crianças briguentas.
Dante ainda não tinha saído do meu lado. — Tem certeza?
— Tenho.
Ele assentiu. — Não vou demorar. — Observei-o ir em direção à porta do terraço e desaparecer do lado de fora. Agora que ele tinha saído, eu pude perceber várias mulheres voltando a atenção para mim mais explicitamente. Precisava achar rápido Aria ou Bibiana, antes que uma delas me envolvesse numa conversa constrangedora. Eu me movi por entre os outros convidados, dispensando apenas um breve sorriso. Acabei encontrando Aria e Bibiana num canto calmo do salão de entrada.
— Vocês estão aí — falei, sem tentar esconder meu alívio.— O que houve? — Perguntou Aria franzindo a testa.
— Parece que todos estão falando sobre mim e Dante. Diga que estou imaginando coisas.
Bibiana balançou a cabeça. — Não está. A maioria das viúvas não tem a mesma sorte que você.
— Eu sei, mas mesmo assim... Gostaria que não se comportassem tão chocados com meu noivado.
— Vai passar — afirmou Aria, depois fez uma careta. — Logo Gianna vai estar de volta ao primeiro lugar das fofocas do dia.
— Sinto muito. Soube que teve um escândalo na festa de noivado de Gianna.
Aria assentiu. — Pois é. Gianna não conseguiu esconder sua relutância em se casar.
— É por isso que Matteo Vitiello não está aqui? — Perguntou Bibiana. Eu também me perguntava a mesma coisa, mas não quis ser intrometida.
— Não. Desde a morte de Salvatore Vitiello, Matteo é o segundo no comando e tem que ficar em Nova York quando Luca não está. — Procurei pelo mesmo sinal de nervosismo em seu rosto que ouvi em sua voz, mas ela aprendeu a esconder suas emoções.
Será que Luca estava com problemas em Nova York? Ele era novo para ser Capo. Talvez alguns grupos em Nova York estivessem tentando um motim. Algum tempo atrás talvez Aria tivesse me contado, mas agora que eu era a noiva do futuro Chefe da Outfit de Chicago, ela precisava tomar cuidado com o que deixava escapar.
Talvez estivessem tentando trabalhar juntos, mas definitivamente Nova York e Chicago não eram amigas.— Faz sentido — falei. Bibiana me lançou um olhar. Ela também deve ter captado a tensão nas palavras de Aria.
Aria arregalou seus olhos azuis. — Você ainda não me mostrou seu anel de noivado!
Estendi a mão.
— É lindo! — Exclamou Aria.
— É mesmo. Dante escolheu para mim. — Meu segundo anel de noivado, e a segunda vez que não era um sinal de amor. — Por quanto tempo ficará em Chicago? Vai ter tempo para um café?
— Iremos embora amanhã de manhã. Luca quer voltar a Nova York. Mas viremos uns dias antes para o seu casamento, então, poderemos tomar um café, a menos que você esteja muito ocupada...
— Não, não será uma grande festa, então, terei tempo para te encontrar para um café. Ligue para mim quando tiver mais detalhes.
— Vou ligar.
— E você, Bibiana? Tem tempo para uma visita amanhã? Nós também não conversamos há um tempo.
Bibiana mordeu o lábio. — Acho que posso. Agora que você é praticamente a esposa do Chefe, Tommaso dificilmente será contra.
— Isso mesmo — concordei e virei-me novamente para Aria.
— Cadê Luca?
Aria olhou em volta. — Ele queria conversar com meus pais sobre o casamento de Matteo e Gianna. Está demorando mais que o esperado.
Será que iriam cancelar o noivado? Seria a fofoca do ano.
Independente do quão relutante Gianna estivesse, não conseguia imaginar que assumiriam esse risco.Dante apareceu no batente da porta da sala de estar com os olhos fixos em mim.
— Acho que preciso ir — anunciei. Abracei Aria e Bibiana antes de ir até Dante. Parei na frente dele. — Estamos indo?
Dante parecia bastante nervoso. — Sim. Mas se quiser ficar, pode voltar com seus pais.
Isso levaria a mais fofocas. Não dava para aparecer numa festa com seu noivo e ir embora sem ele.
— Acho que não seria sensato.
A expressão de Dante foi de compreensão.
— Claro.
*** Dentro do carro, perguntei:
— Está tudo bem? — Agora que tínhamos um compromisso, pensei que não havia problema em perguntar.
Seus dedos apertaram o volante.
— Os russos estão dando mais dor de cabeça que o normal, e o fato de Salvatore Vitiello morrer neste momento crítico e Nova York ter que lidar com um novo Capo certamente não ajuda.
Encarei-o, surpresa. Quando perguntei, não esperava uma resposta tão detalhada. A maioria dos homens não gosta de falar sobre negócios com suas esposas, e eu ainda nem era casada com Dante.
Dante olhou para mim.
— Você parece surpresa.
— Estou — admiti. — Obrigada por me responder honestamente.— Acho que honestidade é o segredo para que um casamento dê certo.
— Não nos casamentos que eu conheço — falei ironicamente.
Dante inclinou a cabeça. — Verdade.
— Quer dizer que você não considera Luca um bom Capo?
— Ele é um bom Capo, ou será quando eliminar seus adversários.
Disse de maneira analítica. Como se eliminar não significasse matar outras pessoas porque causam desconforto ou correspondem a um risco para o poder de alguém.
— É o que você irá fazer quando se tornar o Chefe da Outfit?
— Se for necessário, sim, mas venho provando meu direito à liderança pelos últimos anos. Sou consideravelmente mais velho que Luca.
E ainda assim o Chefe mais jovem na história da Organização.
As pessoas também o testariam.
Dante estacionou em frente à casa dos meus pais. Desligou o motor, desceu e deu a volta pela frente do carro antes de abrir a porta para mim. Segurei na mão dele e me levantei, deixando nossos corpos tão próximos por um instante que teria sido fácil beijá-lo. Então, ele deu um passo para trás, reestabelecendo a distância adequada entre nós dois antes de me levar até a porta.
Virei para olhá-lo.
— Nunca te vi com um guarda-costas. Não é perigoso sair sem nenhum?
Dante sorriu sombriamente. — Estou armado, e se alguém quiser me pegar de surpresa, que tente.
— Você é o melhor atirador da Outfit.— Um dos melhores.
— Que bom, acho que posso me sentir segura.
Era para ter sido uma piada, mas Dante pareceu profundamente sério.
— Você está salva.
Hesitei. Ele não ia tentar me beijar? Daqui a quatro semanas estaremos casados. Não era como se precisássemos ficar afastados um do outro pelo bem da decência. Quando ficou claro que Dante não daria o primeiro passo, cheguei mais perto dele e beijei sua bochecha. Nem me atrevi a olhar seu rosto, em vez disso, abri a porta, entrei e deixei que ela se fechasse atrás de mim.
Esperei uns segundos antes de espiar pela janela ao lado da porta.
O carro de Dante se afastou. Eu me perguntei por que ele não tinha tentado me beijar. Será que era por ainda não sermos casados?
Talvez ele pensasse que não era apropriado que ficássemos tão fisicamente próximos antes do casamento. Ou, quem sabe, ele ainda fosse apaixonado pela esposa? Eu nem olhei para a mão dele para ver se tinha tirado sua antiga aliança. Será que foi por isso que as pessoas ficaram falando de mim hoje?
Bibiana veio na tarde seguinte, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Levei-a depressa para a biblioteca e a fiz sentar no sofá de couro.
— O que aconteceu?
— Tommaso está furioso porque ainda não engravidei. Ele quer que eu vá a um médico para saber qual o problema.
Eles já estavam casados há quase quatro anos, mas Bibiana tomava anticoncepcional escondida.
— Talvez não seja tão ruim engravidar. Se você tiver um bebê, terá alguém para amar e que também te amará. — Abracei-a.
Passar os últimos anos vendo a depressão de Bibiana crescer cada vez mais por causa do casamento com Tommaso era de cortar o coração. Queria poder fazer algo por ela.
— Talvez tenha razão. E talvez Tommaso não me toque se eu estiver com uma barriga imensa. — Ela balançou a cabeça. — Não vamos falar sobre isso. Quero esquecer meus problemas por um tempinho. E você? Como estão os preparativos para o casamento?
Dei de ombros. — Minha mãe reservou o salão de um hotel.
Só o que preciso fazer é comprar um vestido de noiva.— Você vai escolher um vestido branco de novo?
— Acho que não. Minha mãe não acha apropriado. Talvez um creme. Vai ser melhor.
Bibiana suspirou. — Acho ridículo que não possa usar um vestido branco só porque já foi casada antes. Não é como se fosse um casamento de verdade.
— Shh — sinalizei, com o olhar fixo na porta fechada da biblioteca. Há algum tempo, tinha contado a Bibiana a realidade sobre meu casamento com Antonio. — Você sabe que ninguém pode saber.
— Não entendo por que você tenta protegê-lo. Ele está morto.
E te usou para alcançar um objetivo. Você deveria cuidar de si mesma agora.
— Estou cuidando de mim mesma. Ajudei Antonio a trair a Outfit. Ser gay é um crime, você sabe disso.
— Ridículo.
— Eu sei, entretanto, a máfia não mudará tão cedo, não importa o quanto a gente queira.
— Se não quer contar a Dante sobre isso, então, o que fará na sua noite de núpcias? Não está preocupada que ele vá perceber que seu casamento com Antonio nunca foi consumado?
— Pode ser que ele não perceba.
— Se for ao menos parecido com a minha primeira vez, ele vai perceber.
— Tommaso te tratou terrivelmente. Você não queria, é claro que sangrou. Toda vez que penso nisso, ainda sinto muita raiva.
Bibiana engoliu em seco. — O que está feito não tem volta. Eu queria mesmo era ter me casado com um homem gay. — Riu amargamente. Segurei sua mão.
— Talvez você tenha sorte e Tommaso sofra um infarto, ou seja fuzilado pelos russos. — Isso nem foi uma piada. Queria que Bibiana se livrasse daquele homem.
Bibiana sorriu. — É muito deprimente que eu realmente espere que isso aconteça?
— Claro que você quer que ele suma. Eu entendo. Qualquer um entenderia.
Ela analisou meu rosto. — E você? Quer dormir com Dante?
— Decididamente. Mal posso esperar. — Meu rosto ferveu, mas era a verdade e não via nada de errado em querer transar com meu futuro marido. Afinal, Dante era um homem atraente.
— Então, você tem que se preparar para garantir que Dante não perceba que seu primeiro casamento foi de fachada.
— O quê? Achar um cara para transar? Não quero trair Dante.
Para mim, sexo está ligado ao casamento. — Apesar de não ter intenção de tomar como regra tudo o que minha mãe me ensinou e nem querer deixar as palavras rigorosas das minhas professoras católicas se infiltrarem no meu cérebro, não conseguia imaginar ficar tão íntima de alguém com quem não estivesse comprometida.
Bibiana engasgou, dando uma risada. — Não foi o que eu quis dizer. — Ela baixou a voz e sua pele corou. — Achei que você poderia usar um vibrador.
Por um segundo, não soube o que dizer. Nunca havia considerado nada desse tipo.
— Onde eu conseguiria um vibrador? De jeito nenhum que eu posso pedir aos guarda-costas do meu pai que me levem a um sex shop. Minha mãe morreria de vergonha se descobrisse. — E eu provavelmente morreria de vergonha quando entrasse na tal loja.
— Queria poder te conseguir um, mas se Tommaso descobrir, ficará furioso. — Os hematomas no rosto de Bibiana por causa do último rompante de Tommaso ainda eram visíveis.
— Deve ser melhor assim. Não gosto da ideia de transar com um objeto inanimado mesmo. Vou dar um jeito.
— Dante provavelmente estará tão envolvido em suas próprias necessidades que nem vai notar. Os homens são assim.
Não era muito consolador. Espero que Dante se preocupe com as minhas necessidades também.
*** Quando chegou o dia cinco de janeiro, finalmente o dia do meu casamento, eu estava um pouquinho nervosa, não só por causa da noite de núpcias. Sabia que era a minha segunda oportunidade de um casamento feliz. A maioria das pessoas em nosso mundo não entendia isso. Viviam suas vidas em relacionamentos miseráveis até que a morte finalmente os separassem.
À medida que andava até o altar com meu vestido creme de lantejoulas, me senti esperançosa como há muito tempo não sentia.
Dante estava moderno com um terno preto e colete. Ele não tirou os olhos de mim, e quando meu pai me entregou a ele, tive certeza de ter visto uma pontinha de aprovação e admiração em seu rosto. Sua mão sobre a minha era acolhedora e o leve sorriso que ele me deu antes do padre começar o sermão, me fez querer ficar na ponta dos pés e beijá-lo.Minha mãe chorava copiosamente na primeira fileira. Ela parecia não poder estar mais feliz e meu pai estava praticamente reluzindo de orgulho. Só meu irmão, Orazio, que chegou de Cleveland, onde trabalhava para a Outfit, apenas duas horas antes, parecia estar com pressa de sair dali. Preferi a visão dos sorrisos encorajadores de Bibiana e Aria. Enquanto o padre falava, continuei olhando para Dante e o que vi em seu rosto partiu meu coração. De vez em quando ele ficava marcado pela tristeza. Ambos tínhamos perdido alguém, mas para Dante, se os rumores estavam certos, essa pessoa foi o amor de sua vida. Será que eu poderia competir com isso?
Na hora do beijo, Dante se inclinou sem pensar e pressionou seus lábios quentes nos meus. Ele definitivamente não era um homem de gelo. As palavras de Mamma pipocavam na minha cabeça e um arrepio de expectativa me atingiu. Talvez eu não pudesse fazer Dante esquecer a esposa, e eu nem queria, mas poderia ajudá-lo a seguir em frente.
*** Depois da igreja, fomos todos ao hotel para a festa. Era o primeiro momento de privacidade que Dante e eu tínhamos como marido e mulher. Ele não segurou minha mão enquanto dirigia, mas não devia fazer o tipo sentimental. O que mais me preocupava era a tensão em seu rosto e a seriedade em seu olhar.
— Acho que correu tudo bem, concorda? — Falei quando o silêncio se tornou sufocante demais.Dante desviou os olhos para mim. — Sim, o padre fez um bom trabalho.
— Queria que minha mãe não tivesse chorado tanto.
Normalmente ela consegue se controlar melhor.
Dante sorriu nervoso. — Ela está feliz por você.
— Eu sei. — Dei uma pausa. — Você está feliz? — Eu sabia que era uma pergunta arriscada.
Sua expressão ficou visivelmente retraída. — Claro que estou feliz com esta união.
Esperei por algo mais, só que fomos em silêncio pelo restante do caminho. Não queria começar nosso casamento com uma briga, então, deixei para lá.
Quando saímos do carro e caminhamos em direção à entrada, Dante colocou a mão em minhas costas.
— Você está linda, Valentina. — Olhei de relance para ele, mas seu olhar estava bem à frente. Talvez ele tenha se dado conta de como foi frio no carro e se sentiu mal.
O salão de festas do hotel estava lindamente decorado com rosas brancas e cor-de-rosa. Dante manteve a mão na minha lombar enquanto íamos para a nossa mesa sob as saudações de nossos convidados. A maioria deles chegou antes de nós e já estava sentada às suas mesas. Dividimos uma mesa com meus pais e meu irmão e os pais de Dante, sua irmã e o marido dela. Eu ainda não havia conversado com os pais de Dante, com exceção de algumas vezes assuntos aleatórios. Mesmo assim, eles tinham sido bem gentis. Orazio, meu irmão, fingia estar ocupado com algo no iPhone, mas eu sabia que ele apenas tentava evitar as perguntas de nosso pai.Aria e Luca, Matteo e Gianna, assim como a família Scuderi, ocupavam a mesa à nossa direita. Aria sorriu para mim antes de voltar a observar sua irmã e Matteo que pareciam prestes a discutir.
Esses dois teriam um casamento infernal. Matteo não parecia se importar com o olhar fuzilante que Gianna direcionava a ele.
— Vocês ficam lindos juntos — declarou Ines, trazendo minha atenção de volta à nossa mesa.
Dante me encarou com uma expressão indecifrável.
Os garçons escolheram este momento para entrar no salão com os pratos.
Depois do jantar de quatro pratos, chegou finalmente a hora da nossa dança. Dante me levou para a pista de dança e me puxou para perto de seu peito. Sorri para ele. Ele era quente e forte, e um bom dançarino, tinha o cheiro de uma perfeita brisa quente de verão junto com algo muito másculo. Mal podia esperar para dividir a cama com ele, para ver o que ele escondia por baixo do tecido de seu terno caro. Se estivéssemos sozinhos, eu repousaria meu rosto em seu ombro, mas todos nos olhavam, e eu acho que Dante não gostaria do show de intimidade em público.
É óbvio que nossos convidados não se importariam. Logo começaram a gritar:
— Bacio, bacio!
Dante olhou para mim com uma sobrancelha levantada.
— Vamos atender ao pedido deles ou ignorá-los?
— Acho que deveríamos atender ao pedido deles. — Eu queria muito mesmo atender ao pedido deles.
Dante me apertou mais forte e pressionou firmemente seus lábios nos meus. Seus olhos azuis estavam fixos em mim e por um instante eu tive a certeza de ter visto algo de prazer neles. E, então, os convidados invadiram a pista de dança e nosso beijo foi interrompido. Logo depois, Fiore Cavallaro me tirou para dançar e Dante teve que dançar com sua mãe. Sorri para meu sogro, incerta de como agir com ele, que tinha a mesma expressão indiferente de Dante.
— Minha esposa e eu esperávamos que Dante não escolhesse alguém que já tivesse sido casada.
Ficou difícil manter o sorriso em meu rosto, mas não quis que as pessoas percebessem que Fiore disse algo que me magoou.
— Compreendo — falei baixinho.
— Mas o argumento nos convenceu. Dante precisa de um herdeiro logo e alguém não tão jovem pode se revelar uma mãe melhor para nossos netos.
Assenti. Sua lógica fria era algo que eu odiava com todas as minhas forças. Não que eu fosse dizer isso para ele.
— Eu não quis soar tão cruel, mas este casamento é de conveniência, e tenho certeza de que sabe o que é esperado de você.
— Sei. E estou ansiosa para ter filhos com Dante. — Era verdade. Sempre quis filhos. Tinha até considerado fazer fertilização in-vitro quando ainda estava casada com Antonio, mas queria ter a chance de conhecer Dante melhor antes de tentar engravidar.
Evidentemente, tampouco poderia dizer isso ao pai de Dante. Como esperado, meu irmão substituiu Fiore.
— Estou contente que tenha vindo — falei olhando para ele.
Ele tinha os mesmos olhos verde-escuros que eu e quase os mesmos cabelos pretos, mas essas eram as únicas semelhanças entre nós. Nunca fomos próximos, mas não por falta de tentativa da minha parte. Não sabia ao certo se isso mudaria algum dia. Ele guardava mágoa do nosso pai por me mimar e, algumas vezes, achei que ele guardasse mágoa de mim porque era tudo mais fácil do que para ele.
— Não posso ficar muito tempo — disse simplesmente.
Assenti, não esperando nada de diferente. Orazio evitava nosso pai o máximo possível.
Fiquei contente quando Pietro, o marido de Ines, me chamou para dançar. Ele era um homem calmo e não pisou no meu pé, então, eu não me importaria de dançar com ele até o fim da noite para evitar conversas constrangedoras. Claro que isso teria sido mais do que inapropriado. Depois de Pietro, a hospitalidade me mandava dançar com todos os chefes de Nova York. Enquanto Aria parecia perfeitamente confortável perto de Luca agora, eu definitivamente não. Contudo, aceitei sua mão quando ele a estendeu para mim. Ele não estava sorrindo. Eu só via lampejos de um sorriso de verdade quando ele olhava para Aria. Dante era alto e musculoso, mas com Luca eu tinha ainda que inclinar a cabeça para trás para manter contato visual. Sabia que as pessoas nos observavam enquanto dançávamos. Sobretudo o olhar sério de Dante seguia cada movimento nosso, mesmo que ele estivesse dançando com Aria. Não que Luca parecesse muito feliz com o fato de Dante ter Aria em seus braços. Os homens do nosso meio eram possessivos. Homens como Dante e Luca eram algo totalmente diferente.
Quando terminou uma música e começou outra, quase não consegui esconder meu alívio. A expressão de Luca era de compreensão. As pessoas provavelmente se sentiam desconfortáveis na presença dele. Meu próximo parceiro de dança era Matteo. Eu não o conhecia muito bem, mas ouvi sobre seu temperamento e sua habilidade com a faca.
— Posso? — Perguntou ele com uma reverência exagerada.
Eu retribui com uma debochada. — Claro.
Ele ficou surpreso. Puxou-me para perto dele com um sorriso largo. Mais perto do que Luca arriscara. Mais perto do que qualquer homem são arriscaria.
— Acho que vi seu marido se contorcer um pouquinho agora — murmurou. — Suponho que este seja o equivalente a um rompante emocional para um bloco de gelo como ele.
Soltei um suspiro profundo, tentando reprimir uma risada.
— Você não gosta de enrolar, não é?
Seus olhos negros piscaram de alegria.
— Ah... Rodeios são o meu forte, não se preocupe.
Morri de rir. E não foi uma risada contida e feminina. Foi bem estridente.
— Estou quase certa de que foi inapropriado.
Pude sentir algumas cabeças virando em nossa direção, mas não consegui me conter.
— Você tem razão. Fui avisado para me comportar perto da esposa do Chefe para não causar uma desavença entre Nova York e Chicago — disse ele brincando.
— Não se preocupe. Não direi a ele.
Matteo piscou. — Receio que seja tarde demais.
— Acho que é minha vez de novo — disse Dante, surgindo ao nosso lado, encarando Matteo, que parecia plenamente inalterado.Matteo deu um passo atrás.
— Claro. Quem poderia ficar tanto tempo longe de uma beleza morena dessas? — Ele se inclinou e beijou minha mão. Virei pedra, não pelo beijo, mas por causa da expressão no olhar de Dante.
Coloquei rapidamente minha mão na dele e apertei; de repente, Aria estava ao nosso lado. — Você deveria dançar comigo agora, Matteo. — Ele concordou e Aria, de maneira esperta, afastou-se com ele de mim e Dante.
— Achei que quisesse dançar comigo? — Falei num tom casual forçado, dando uma olhada na expressão rígida de Dante.
Ele pousou os olhos azuis em mim, passou o braço à minha volta e começou a nos embalar no ritmo da música. Não tinha certeza do que o havia deixado com raiva: ciúme ou o desrespeito de Matteo.
— O que ele disse? — Dante acabou perguntando.
— Hã?
— Para você rir...
Talvez ciúme seja a força motora que mais se destaca, afinal de contas. Isso me deixou irracionalmente feliz.
— Ele fez uma piada sobre rodeios.
A expressão de Dante era de compreensão.
— Ele deveria ser mais cuidadoso. — A ameaça era clara.
Ainda bem que nem Matteo nem Luca ouviram.
— Acredito que ele esteja um pouco nervoso por causa dos problemas que anda tendo com Gianna.
— Pelo que ouvi, ele sempre foi instável, mesmo antes do seu noivado com a jovem Scuderi.— Nem todo mundo é tão controlado quanto você — respondi criticamente.
Ele ergueu as sobrancelhas, mas não disse mais nada.
*** Logo depois da meia-noite, Dante e eu nos retiramos. O hotel nos ofereceu a maior suíte para a noite, mas Dante preferiu voltar para casa e eu fiquei genuinamente feliz. Estava ansiosa para finalmente me mudar para a casa de Dante. Embora também estivesse preocupada, já que ele a tinha dividido com a falecida esposa. Devia estar cheia de lembranças. Bibiana cruzou os dedos enquanto eu passava por ela e não pude conter um sorriso.
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