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Destinado A Ela

CAPÍTULO 1 - O Fio do Destino.

...CAPÍTULO - 1...

...Que tal começarmos com uma pequena historinha?...

...AKAI ITO...

......(Fio vermelho do destino)......

Diz a lenda que, numa certa noite, um garoto caminhava pelo belo Jardim Yu, na China. Ele andava de um lado para o outro, tentando inventar uma boa desculpa para sua mãe, pois tinha fugido à noite para contemplar as belas estrelas que iluminavam o céu do local.

Na verdade, talvez fosse mais do que isso; talvez ele só não quisesse esperar seu pai chegar bêbado e fazer sua mãe chorar novamente. As estrelas pareciam uma boa desculpa, afinal.

"Boa noite, rapaz...", uma voz ecoou, e ele, assustado, olhou para os lados, avistando um velhinho sentado sob uma árvore.

Esse senhor possuía uma longa barba branca, assim como seus cabelos presos. Sua vestimenta era um Hanfu de coloração vermelha e azul. O garoto preferiu não dar muita atenção para ele, pensando que era apenas um bêbado.

O que ele não sabia era que esse velhinho era o Deus lunar que, mesmo sendo ignorado, voltou a falar:

"Menino, deveria começar a prepara-te para o teu destino, já não falta muito para te tornares um homem... e como todo homem precisa arrumar uma esposa."

"Eu dispenso, nunca vou me casar", respondeu rapidamente e o ancião deu uma risada sonora.

"Isso só o destino pode dizer... e o destino diz que se casará com a jovem que estiver do outro lado da corda que amarrei ao teu pulso", ele baixou os olhos, e realmente estava ali, uma corda vermelha amarrada ao seu pulso, estendida no chão formando um caminho cor de sangue.

"Tira isso de mim!", o menino tentou puxar a corda com toda força que possuía, mas a mesma não saiu e nem se partiu. Ele até esfregou a mesma contra uma pedra, porém nada foi capaz de partir a maldita corda.

O Ancião riu, se levantando.

"Onde o senhor pensa que vai?", o garoto parou na frente dele de braços cruzados.

"Você já viu uma fênix?", negou rapidamente com a cabeça. "Então olhe na direção que o meu dedo está apontando, e você verá uma tão grande quanto você", o senhor apontou para o céu, e o jovem empolgado estreitou os olhos tentando ver a fênix.

Após alguns segundos olhando para o céu sem ver absolutamente nada, voltou o seu olhar para o velho, que magicamente havia sumido.

"Você me enganou!", após olhar para todos os lados e não encontrar o ancião, o garoto decidiu que era hora de voltar para casa.

Durante todo o caminho, seus olhos permaneciam focados na corda que ia ficando mais brilhante e mais vermelha a cada passo que ele dava. Logo avistou uma jovem sentada na frente da sua casa, observando o céu. Mas não foi isso que chamou a atenção dele, e sim a corda vermelha, cuja a outra ponta estava amarrada no pulso dela.

A bela jovem ergueu o rosto e o viu parado a observando, ela se levantou e deu alguns passos na direção dele. O garoto assustado pegou uma pedra que estava próxima aos seus pés e a alertou:

"Não se aproxima não", ergueu a pedra, ela não se intimidou e deu mais alguns passos na direção dele, e o mesmo arremessou a pedra a atingindo. Logo ele começou a correr sem olhar para trás.

Ele correu incansavelmente passando por vários caminhos tortos e obstáculos, deixando o fio completamente esticado. Após algum tempo, ele já não conseguia mais ver o fio que havia se tornado invisível, e então ele achou que tinha conseguido se livrar da corda vermelha.

Após o passar dos anos, o jovem se transformou em um homem notavelmente atraente e objeto de desejo para muitas mulheres. Contudo, nenhuma delas despertava seu interesse; eram apenas encontros efêmeros. O vazio em sua vida crescia, tornando-o infeliz, pois não conseguia encontrar alguém a quem verdadeiramente amasse e sentia que o amor genuíno nunca lhe foi oferecido. O pensamento de descobrir a garota dos seus sonhos parecia cada vez mais distante.

Até que um certo dia ele estava caminhando sob o luar e viu a silhueta de uma bela mulher. Ele sentiu que era ela e se apaixonou à primeira vista. Logo descobriu que ela era uma das donzelas mais bonitas daquela vila, mas raramente saía de casa por ter vergonha de uma cicatriz em seu rosto.

Os pais arranjaram o casamento deles, e no dia em que finalmente se encontram face a face, ela estava com o rosto tampado por um véu. Após a cerimônia, os dois ficaram sozinhos, e ele perguntou por que ela tampava o rosto.

"Acredite, você não vai querer ver... é feio e está marcado por uma cicatriz horrível na sobrancelha, porque quando eu era apenas uma garotinha, um menino atirou uma pedra no meu rosto".

Aquelas palavras trouxeram ao rapaz as memórias daquela noite que ele já havia esquecido. Ele retirou o véu e se deparou com a mulher mais linda que ele já havia visto e percebeu que é impossível fugir do Destino do fio vermelho.

...É dessa lenda que surgiu o Amor à primeira vista....

CAPÍTULO 2 - Mujeriengo

...Charles Biancardi:...

...Sete meses atrás, na Espanha:...

...22:45 PM...

"Charles, não olha agora, mas tem uma ruiva te comendo com os olhos desde a hora que chegou," comentou Diego, prestes a levar o uísque à boca.

Peguei o copo dele e virei a bebida de uma vez.

"Se você ficar bêbado, eu não vou te carregar," repreendeu, pegando outro copo e o enchendo com o líquido amarelado.

Minha música começou a tocar, então coloquei o copo vazio em suas mãos e peguei o recém-servido, caminhando até a ruiva, tentando desviar das pessoas que dançavam animadamente ao som de "Mujeriengo".

"Niko!", chamou a espanhola da noite passada, me puxando pela mão.

Ela usava um belo vestido vermelho que realçava suas curvas.

"Baby, estoy ocupado ahora", voltei minha atenção para a ruiva, mas ela já havia sumido. "Que merda," murmurei ao perdê-la de vista.

"¿Vamos a revivir la noche de ayer? (Vamos reviver a noite de ontem?), insistiu a espanhola, passando as mãos no meu peito.

"Charles!", chamou Diego se aproximando.

"Charles?", a espanhola repetiu confusa. "¿Tu nombre no es Niko?" (Seu nome não é Niko?).

"Sí, mi nombre es Niko, pero mi apellido es Charles" (Sim, meu nome é Niko, mas meu sobrenome é Charles), respondi.

Enganá-la não foi difícil; a mulher sorriu e colocou os braços ao redor do meu pescoço.

"Me gustó más Charles" (Gostei mais de Charles), sussurrou próximo ao meu ouvido.

"¿Dónde está la pelirroja?" (Onde está a ruiva?), Diego perguntou curioso olhando para os lados.

Ele fez de propósito.

"Porque não falou em português seu desgraçado?", ralhei na frente dela.

A espanhola me lançou um olhar mortal.

É interessante destacar que continuo me referindo a ela assim porque esqueci o seu nome; tenho quase certeza que é Lucia, ainda assim pode ser Laura também.

"¿Quién es la pelirroja?" (Quem é a ruiva?), perguntou retirando os braços do meu pescoço.

"Filho da Mãe," murmurei para Diego que estava sorrindo.

Logo voltei a atenção para a mulher.

"La pelirroja es mi hermana" (A ruiva é minha irmã), menti de novo e Diego segurou a risada.

"¿Estás seguro?" (Você tem certeza?), perguntou desconfiada.

Isso me deixou inquieto.

Passamos uma noite juntos, e ela já quer lealdade e explicações? Sendo que nem mesmo dormi na casa dela.

Respirei fundo e decidi falar a verdade:

"No. En realidad, es una mujer con la que quiero pasar la noche hoy" (Não. Na verdade, é uma mulher com quem quero passar a noite hoje), a fúria brilhou em seus olhos, e ela ergueu a mão para me acertar um tapa, mas eu a segurei.

"Esa carita tiene un precio alto, querida" (Essa carinha tem um preço alto, querida), falei sarcástico; ela puxou a mão com força e passou por mim como um furacão. "Porque as espanholas são assim?" perguntei a Diego que deu de ombros.

"Todas as mulheres são assim, a diferença é que as espanholas são mais intensas," deu risada.

E eu voltei a olhar ao redor da multidão, meus olhos finalmente encontraram a cabeleireira ruiva.

Antes que eu me afastasse, Diego perguntou:

"Onde você está indo?"

"La caza" (A caça), ele riu novamente, e eu comecei a caminhar na direção dela, no caminho peguei duas taças de champanhe com um garçom que passou e parei ao lado da mulher como quem não queria nada.

"Você é tímido?", ela perguntou, me surpreendendo ao falar em português.

Não consegui evitar a risada pela pergunta e assenti.

"Sou um pouco tímido sim."

"Mentiroso", murmurou. "Se você fosse não teria vindo até aqui," ergueu uma sobrancelha.

"As vezes os tímidos tomam atitudes", comentei inclinando a taça na direção dela.

"Porque eu beberia algo que um estranho está me oferecendo em plena festa a noite na Espanha?", dei de ombros e tomei um gole da taça que ofereci a ela, provando que não havia nada.

Havia um brilho divertido em seus olhos, e logo ela pegou a taça da minha mão.

"Qual seu nome?", perguntei.

"Camila, e o seu?"

"Niko", ela baixou a cabeça e deu uma risadinha. "O que foi?"

"Nada, é só que Niko não combina com você..."

"E qual nome combina comigo?", me aproximei ainda mais dela, e o sorriso divertido voltou ao seu rosto quando deslizei minhas mãos pela sua cintura.

"No final da noite eu te digo", sussurrou próximo ao meu ouvido.

Suas mãos me puxaram para um beijo selvagem que eu rapidamente correspondi.

"¿Tu casa o la mía?" (Sua casa ou a minha?), perguntei buscando fôlego.

"La tuya" (A tua), antes de sair com ela, tomei mais duas taças de champanhe e pisquei para o meu amigo, que me olhou com um grande sorriso e simulou um brinde erguendo seu copo rapidamente.

...[...]...

Após uma noite um tanto quanto 'intensa', eu estava prestes a apagar quando percebi que a mulher ainda estava na minha cama.

"Ei," chamei, tentando permanecer acordado. "Pega dinheiro na minha carteira e paga outro quarto para você," murmurei, praticamente empurrando ela para fora da cama.

O álcool, sem dúvidas, não me ajudou a ser mais gentil.

"Como é?", perguntou.

Se ela quiser me matar agora, não há nada que a impeça, porque eu não consigo mover sequer um músculo.

Acho que eu realmente deveria parar de beber, como Gael sugeriu.

"Eu não gosto que as mulheres com quem transo durmam na minha cama... "

Foi a última coisa que consegui murmurar quando o sono me arrebatou.

CAPÍTULO 3 - Eu Sou Uma Cigana.

...Charles Biancardi:...

...Sete meses atrás, na Espanha:...

Minha cabeça estava latejando como nunca.

O calor do sol batendo no meu rosto como um tapa.

E tinha algo segurando minha mão... Espera, o quê?

Com o susto, abri os olhos rapidamente e vi que era apenas a ruiva que ainda estava na minha cama.

Provavelmente passou a noite aqui, mesmo depois de eu pedir que não fizesse isso.

E nesse exato momento, ela segurava minha mão e estava olhando para algo nela com atenção.

"Eu não sou casado", murmurei, esfregando o rosto imaginando que talvez ela esteja buscando por alguma aliança.

"Eu sei", disse ainda atenta à minha mão.

"O que você tá fazendo?",perguntei confuso.

"Apenas te conhecendo melhor...", respondeu com um sorriso travesso.

"Fetiche?",ela sorriu.

"Talvez. Eu costumo gostar de ler as mãos dos caras com quem eu transo."

"Está lendo a minha mão?",questionei e ela assentiu, traçando linhas com o indicador na minha palma. "Tá interessante aí?", perguntei vendo que ela continuava muito interessada na minha mão.

Será isso um tipo de flerte?

"Muito", fechou os olhos e seu corpo tremeu como se estivesse com espasmos.

"Por acaso você tá tendo um AVC na minha cama?", perguntei assustado de certa forma, tentando ter minha mão de volta.

Será que peguei pesado com ela na noite passada?

A mulher abriu os olhos; suas pupilas estavam dilatadas, e ela abriu um grande sorriso, colocando sua palma sobre a minha.

"Acho que finalmente te conheço bem, Charles."

"Viu meu nome na minha carteira?",sugeri e ela riu.

"Eu não preciso disso."

"Claro que foi assim, caso contrário como saberia meu nome?"

"Eu sei seu nome e sobre o seu destino através da sua mão."

"Ah, Jura?", fiz pouco caso.

Gael ainda me disse que eu ia encontrar uma maluca numa dessas.

É uma pena que eu nunca escuto os conselhos dele.

"Eu sou uma cigana", disse.

"Isso é uma profissão?",brinquei.

"Você tá zombando de mim?"

"Jamais...", a mulher estreitou os olhos, e eu dei meu melhor sorriso falso. "Será que você pode sair agora? Tenho que ir em outra festa daqui a pouco."

"Não quer saber o que eu vi na sua mão?",perguntou enrolando uma mecha do cabelo em seu dedo.

"Você tá doida pra me contar não é?", perguntei vendo a empolgação estampada na cara da mulher. "Desculpe, Carol, mas não tenho interesse".

Ela murchou.

"É Camila, a mensageira da divindade", havia frustração em seu rosto e não irritação. Isso me surpreendeu. Sempre quando quero mandar elas embora basta trocar o nome e a magia acontece. "Não quer mesmo saber sobre o seu futuro?"

"Meu pai vai morrer?", tive um súbito interesse.

"Não sei...", pareceu confusa.

"Então não quero", respondi simples, me levantando da cama ainda nu. "Olha, Camila, a noite foi boa, mas eu não costumo ter namoradas."

"Eu sei, você nunca teve uma... aliás, você não presta", falou com convicção e eu a olhei curioso. "O que foi? Isso não está na sua carteira?", deu um sorriso malicioso.

"Você é boa no chute", comentei, vestindo minha cueca.

"Não foi um chute."

"Eu não acredito nessas coisas de magia, dragões e bruxas", ela deu uma gargalhada que me fez perder o equilíbrio enquanto vestia a calça; por sorte, caí ao lado da cama.

"Se você não estivesse destinado a ela, eu certamente iria te querer para mim", franzi o cenho, confuso.

Em que buraco eu me meti?

"Charles, Charles... Você pode até não acreditar em mim." Ela me olhou como se pudesse enxergar a minha alma, e isso foi o suficiente para que eu sentisse um frio percorrer do meu dedo mindinho até a minha cabeça. "Mas quando acontecer o que estou prestes a dizer, você irá se lembrar das minhas palavras", engoli em seco, prestando atenção em suas palavras. "Existe uma mulher que vai te moldar, como se fosse um vaso de barro."

"É uma coisa um pouco difícil de acontecer, não acha?", brinquei.

"Não acredita em mim, certo?", perguntou como se eu a houvesse desafiado.

"Se você realmente viu o meu futuro, destino ou seja lá o que for, deveria saber que...", me interrompeu.

"Você não presta," repetiu, e eu assenti sem dar muita importância. "Mas existe uma mulher que vai mudar isso." Tentei segurar a risada. "Pode rir o quanto quiser, mas quando voltar ao seu país você vai conhecê-la e vai sentir que é ela", outra vez um frio percorreu a minha espinha; acho que estou com hipotermia. "Só para você saber que eu não minto, aqui vai uma dica: ela vai estar usando um vestido verde... lembre-se disso, é importante", ela se levantou da cama e veio na minha direção, me beijando. "E, quando você a conhecer... sua vidinha de canalha vai ruir," sussurrou próximo ao meu ouvido.

"Caso isso seja verdade... como eu poderia impedir?" Perguntei, tentando não demonstrar muito interesse.

"Não há como impedir... o que é seu chegará até você, e você, Charles, não vai poder fugir ou impedir o seu destino".

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