O mapa de todos os Reinos existentes em "Mythrasil". Dimensão na qual a protagonista vai viver.
ꨄ︎ NOTA DO AUTOR ꨄ︎
Esse livro é conturbado, não recomendado para pessoas sensíveis, pode ter violência, abusos, agressão, personagens com caráter duvidoso. Pode se abordar temas desconfortáveis para outras pessoas, todos os personagens são fictícios, criados pela minha mente conturbada.
Leia por sua conta e risco,
você foi avisado.
Aurora
P.O.V
Meu corpo choca-se contra o armário de madeira; solto um grunhido com o impacto. Uma frigideira voa pelo ar e acerta minha cabeça. Levo a mão ao local, não sai sangue, mas dói.
— Você é inútil, não sabe fazer nada direito. — A voz áspera do homem ecoa pela cozinha, arrastando um fio de crueldade em cada palavra. Ele veste uma blusa xadrez que revela a sua idade avançada com seus cabelos negros salpicados de branco.
Apesar de sua estatura mediana, o peso de sua presença se faz sentir com um peso esmagador. Com as mãos tremendo, apoio-me no chão frio de madeira e me levanto, engolindo o nó na garganta e o fogo nos olhos que se recusa a transbordar em lágrimas. Não darei a ele essa satisfação. Com a última reserva de força, me ergo, tonta e cambaleante, observando o homem sair da cozinha, murmurando ameaças sob sua respiração pesada.
Não era para ele estar em casa a esta hora. Com dificuldade, inicio a subida dos degraus da escada, meus dedos brancos de tanto apertar o corrimão. Ao alcançar a velha porta de madeira, empurro-a e sou invadida pelo cheiro de mofo, um aroma que me faz torcer o nariz em desgosto.
Pego meu uniforme escolar do chão e me dirijo ao banheiro. Fecho a porta atrás de mim e me apoio na superfície da pia velha, marcada por manchas amarelas de sujeira. Desvio o olhar para o pequeno espelho quadrado embutido na parede de azulejos brancos.
Meus grandes olhos castanhos, desprovidos de brilho, refletem o desânimo. Meu cabelo castanho e ondulado está seco e sem vida, meus lábios, descascados, e o rosto marcado por hematomas e pequenos cortes. Meu corpo, magro e frágil, parece um esqueleto sob a pele. Solto uma risada seca, pego minha escova azul da prateleira e começo a escovar os dentes, um ritual sem prazer.
Visto meu uniforme preto — saia curta, meias brancas, blusa social de manga longa branca e casaco preto com o símbolo da escola CherryPree bordado — e saio do banheiro com extremo cuidado para não fazer barulho.
Ao abrir a porta, avisto o vulto do homem no corredor e corro para o quarto. Fecho a porta atrás de mim e giro a chave de prata, trancando-me dentro. Solto um suspiro, me dirijo à janela que dá para a floresta e a abro, a brisa fria entrando com um sussurro.
Pego uma cadeira e a coloco na maçaneta da porta, um truque antigo para garantir que ninguém entre. Enrolo meu suéter branco desgastado ao redor do pescoço e jogo minha bolsa pela janela antes de me atirar para fora, o som da queda abafado pelo tapete de folhas secas no chão.
Levanto-me e pego minha mochila, seguindo a trilha habitual pela floresta em direção à escola. Cada passo me leva para longe da dor e do medo, enquanto meus olhos observam os detalhes da floresta. Um som entre os arbustos me faz me virar bruscamente, e um suspiro de alívio escapa ao ver que é apenas um coelho.
Muitas histórias circulam sobre lobos gigantes nesta floresta, mas eu as considero apenas uma desculpa para explicar os desaparecimentos misteriosos de pessoas que se aventuram aqui e acabam desaparecendo, encontradas mais tarde com partes de seus corpos faltando.
Mais um dia começa, e eu me sento em minha cadeira, observando os alunos ao meu redor que falam animadamente sobre um novo aluno. Para mim, pouco importa, mas a raridade de novos rostos aqui me faz questionar se ele será alguém interessante. Me pergunto se minha amiga vai chegar logo quando sinto um toque leve nas minhas costas. Me viro e vejo Mia.
Miandra é uma garota de cabelos castanhos e bochechas rosadas, usando óculos e um uniforme preto com o símbolo da nossa privilegiada escola. Ela é pequena e parece sempre animada, mesmo nas situações mais sem graça.
— Você já ouviu falar do garoto novo? Dizem que ele é muito bonito. — Mia fala com a boca cheia de salgadinhos.
Apenas a olho. — Isso não muda nada, Mia. Provavelmente é apenas mais um rico esnobe. — Reviro os olhos, enquanto ela dá de ombros e continua a encher a boca com salgadinhos. Me viro para frente quando o professor entra na sala, e o barulho e os sussurros cessam instantaneamente. Se minha memória não falha, o nome dele é Marco.
— Bom dia, alunos. Espero que tenham aproveitado as férias. Vamos direto ao assunto: temos um novo aluno. — O professor coloca suas coisas sobre a mesa.
O professor de Artes exibe um sorriso forçado, enquanto a porta se abre para revelar um garoto alto, com cabelos negros e olhos azuis penetrantes. O uniforme preto se ajusta perfeitamente ao seu corpo, acentuando os músculos de um jovem que parece bem mais velho do que um típico estudante do terceiro ano. Quando nossos olhares se encontram, sinto um calafrio percorrer minha espinha e o ar parece se espremer dos meus pulmões. Suores frios se formam nas minhas palmas e minha boca seca como areia.
— Este é Adam Neville. — O professor diz com um tom alegre que parece forçado.
Adam oferece um sorriso enigmático, uma reverência discreta com uma mão sobre o peito, e imediatamente as garotas ao redor soltam suspiros e murmuram sobre sua aparência. Então, ele fixa seus olhos azuis em mim.
— É um prazer estar aqui. — Ele diz, e seu olhar parece atravessar as barreiras da sala, diretamente para mim.
Adam
P.O.V.
A garota de cabelos castanhos está ali, sentada, alheia ao furor que causa em mim. Seus olhos cor de chocolate são um mistério cruel, e eu me pergunto que pensamentos ela esconde por trás desse olhar curioso. Maldita seja a minha impotência, por não ter ativado meu dom ainda. Em poucos dias, completarei dezoito anos e, finalmente, serei o Alfa. A luta é inevitável; o ciclo de cem anos exige que eu destrone meu pai em um duelo até a morte. E honestamente? Mal posso esperar para vê-lo desaparecer de uma vez por todas.
O homem pequeno ao meu lado, quase calvo, se dirige a todos com um tom altivo e forçado, e eu me permito um sorriso frio, carregado de desprezo.
— Pode sentar ao lado da Aurora. Aurora, levante a mão para que Adam possa te ver.
A garota levanta a mão, e eu me movo em sua direção. Risinhos e murmúrios de admiração ecoam ao meu redor, mas eu não dou a mínima. Mal sabe elas que eu só tenho olhos para minha companheira ou companheiro, eu não faço questão do seu gênero, portanto que esse ser seja meu, de corpo e alma.
Aproximo-me e sinto o perfume dela —uma mistura doce e viciante de chocolate e morango, uma fragrância que parece me consumir. Não posso evitar o pequeno tremor que a sua presença provoca em mim. Sento-me ao seu lado, tentando sufocar o desejo esmagador que se forma em meu peito.
Ela me olha com uma expressão de surpresa, e o vento, entrado pela janela, intensifica o aroma dela, inundando a sala com seu perfume hipnótico. Não posso desviar o olhar. Cada detalhe do rosto dela me fascina, suas sardas são como constelações em sua pele pálida, e os hematomas e cortes em seu rosto despertam uma fúria primitiva dentro de mim.
Quem teve a audácia de feri-la?
A raiva e o desejo se misturam em mim, e eu nem percebo que estou apertando minha mão em um punho até sentir um toque leve em minha pele.
— Você está bem? Algum problema? — Sua voz é uma melodia doce e perturbadora que eu mal consigo suportar.
Sinto a mão dela apertar a minha com uma suavidade áspera, uma mistura de ternura e dor. Suas mãos deveriam ser suaves e intactas, como as de qualquer outra garota, e não o que eu vejo agora. Eu retiro minha mão bruscamente, e o olhar de espanto dela me atravessa, mas eu permaneço em silêncio, lutando para manter a distância que nem eu mesmo desejo. Como seu colega de classe, minha proximidade com ela será um tormento constante.
O tempo se arrasta como uma eternidade, cada minuto é uma eternidade de tortura. Olho para o relógio acima do quadro, marcando exatamente 8:50. Suspiro e deixo minha cabeça cair sobre a mesa, tentando me concentrar nas palavras entediantes do professor.
— Para este trabalho, vocês farão duplas. Escolham um colega ao lado, e nada de reclamações. Esse é o último trabalho desse ano. Depois disso estão livre para seguir suas vidas.
O desagrado dos alunos é uma sinfonia de frustração, mas o professor ignora os protestos e distribui os papéis com as instruções. A menina ao meu lado pega um dos papéis que o professor lhe entrega.
— Bom, em minha casa é que não vamos fazer esse trabalho. — Ela suspira, desviando o olhar.
Não digo nada. Levanto a cabeça e tomo o papel das mãos dela, lendo o que está escrito: uma pintura inspirada em algo que você ama. Interessante. Leio o nome dela: Aurora Lee. Então é assim que ela se chama.
— Tem como você parar de ser rude e pelo menos responder? — Ela revirou os olhos, e essa atitude apenas a torna ainda mais irresistível.
Ela se aproxima e o perfume dela atinge meu olfato com uma força ainda maior. Coloco a mão no nariz, tentando me afastar, mas sem sucesso. Finalmente, o sinal toca e eu me levanto sem uma palavra, pegando minha mochila e saindo da sala.
Aurora
P.O.V.
Olho para Adam, que sair da sala sem uma palavra, um desprezo palpável me invade. Respiro fundo, reunindo meus pertences e os guardando na mochila, que lanço sobre o ombros. Caminho em direção à porta, detenho-me ao ouvir meu nome ser chamado.
"Vamos almoçar juntas? Milena não vem hoje, talvez podemos ficar juntas", Miandra oferece.
Encaro-a e, evitando ser descortês, concordo. Caminho pelos corredores com Mia ao meu lado; ela não é muito falante, mas já me acostumei com isso. Desde o sétimo ano, sempre tentei afastá-la, mas ela insiste em voltar. É peculiar.
Uma vez, no nono ano, ela pegou um gerador de energia tão facilmente que me assustei. Ela não deveria ter essa força. Eu precisei da ajuda de cinco pessoas para arrastar o gerador, enquanto ela o ergueu sem esforço. Pelo menos ganhamos o primeiro lugar em ciências.
Paro no meu armário, digito a senha do cadeado e guardo minha bolsa. Pego minha roupa de educação física na segunda prateleira. Mia faz o mesmo. Olho para o pedaço de pano que chamam de short saia.
Odeio roupas curtas; minhas pernas são magras demais. Isso só faz as outras garotas zombarem ou comentarem coisas como "Você precisa comer mais" ou "Você precisa engordar".
Estou tentando comer mais, mas está sendo difícil. Suspiro e sigo em direção ao refeitório, acompanhada por Mia em silêncio.
Nesta escola, muitas vezes me sinto invisível. Quando notam minha presença, é frequentemente para zombar. Isso contribui para que eu tenha poucos amigos. Na verdade, não me importo muito com isso. Mia e Milena são as únicas que fazem questão de conversar comigo.
Miandra e eu não somos tão próximas; temos nossos altos e baixos, mas sempre mantemos uma linha entre nós. A única coisa que nos une é Milena, minha melhor amiga.
No refeitório, pego uma bandeja e coloco um prato branco sobre ela. Escolho um pouco de salada e frango para o almoço. Ao me aproximar das bebidas, alguém me empurra, fazendo com que toda a comida caia no chão e eu bata a testa no duro piso.
Levanto a cabeça e vejo os saltos brilhantes de Ava. Ela é a pessoa mais mesquinha e mimada que já conheci; preferiria furar meus olhos do que olhar para ela.
"Olhe por onde anda, esquilo", ela zomba.
Sinto meu rosto queimar não de vergonha, mas de raiva. Como se eu estivesse no caminho dela, quando na verdade é ela quem parece cega.
Ava passa por mim e se dirige a uma das mesas, balançando o quadril enquanto caminha. Olho para a mesa para onde ela vai e vejo Adam rindo de mim. Minhas bochechas ficam mais vermelhas e meu coração bate mais rápido quando nossos olhares se encontram.
Eu suspiro, olhando aqueles olhos azuis hipnotizantes, eu poderia perdê-me no vasto oceano de seus olhos por horas, mas ao perceber o motivo de sua felicidade, uma leve pontada me atinge. Mia me ajuda a levantar, levando-me para uma mesa distante e vazia, enquanto eu mantenho a cabeça baixa.
"Eu peguei suas roupas, estão um pouco sujas, mas servem. Pode ficar com meu lanche", ela diz, empurrando uma bandeja com comida peculiar.
Ela ajusta os óculos e me entrega as roupas. Apenas então percebo que as tinha deixado cair, ao olhar para baixo do meu braço.
Fico em silêncio, observando a madeira da mesa, desejando que o chão se abra e me engula, para nunca mais precisar ver ninguém deste lugar maldito.
Levo as mãos ao rosto e, pelos dedos entreabertos, vejo Adam na mesa à frente. Como ele consegue se integrar tão rapidamente?
Ele chegou há tão pouco tempo. Não faz sentido. Ele entrou no final do ano e já estamos no finalizando o bimestre, não faz sentido ele querer ainda vir para a escola. Talvez esteja aqui apenas para obter o diploma da CherryPree. O diploma pode abrir muitas portas e dar muitas oportunidades.
Mas é difícil consegui-lo. Requer notas muito altas. Uma façanha que não alcanço. Sorte minha tirar a média em quase todas as provas. Os exames são tão difíceis que às vezes parece que estou tentando decifrar uma língua nova sem enlouquecer.
Meus olhos se desviam para Ava, agarrada ao braço de Adam. Eles parecem tão à vontade juntos. Rindo e conversando como se se conhecessem há anos. Ava está tão próxima dele que parece prestes a se fundir à sua pele. Poderia ser eu, mas será que ele gostaria de mim? Eu sou tão... estranha.
Talvez ele prefira mulheres como Ava. Seus cabelos lisos e pretos caem como uma cortina de seda, e seus olhos são tão escuros que parecem um abismos sem fundo. Ela é alta, magra, o tipo ideal de qualquer homem. E eu? Bem, sou apenas eu.
"Não tô com fome. Perdi o apetite", suspiro, esfregando as mãos no rosto.
Mia me lança um olhar rápido. "Você que está perdendo, isso está delicioso, huuum..." Ela faz barulhos exagerados enquanto enche a boca de comida.
Abaixo as mãos, ainda olhando para ele. Só percebo que estou o encarando quando seus olhos encontram os meus. Ele franze a testa e me lança um olhar de flerte.
Viro o rosto, mordendo o lábio inferior. Um garoto do time de futebol se aproxima da mesa. Alto e loiro, seus olhos castanhos são muito expressivos. Ele olha na minha direção ao perceber que Adam está olhando para mim. Viro o rosto para Mia, que está distraída com a comida.
"Podemos ir para a quadra? Não quero ficar aqui...", falo num tom hesitante, abraçando meu corpo. Não que esteja frio; todas as janelas estão fechadas, mas o olhar daqueles dois me dá um frio na barriga.
"Espera, só vou terminar aqui", Mia diz, dando uma última garfada em sua comida.
"Vamos, mas antes vamos passar no banheiro das garotas da ala 02. Não quero que você vá para a quadra assim, sua roupa está toda suja." Levantamo-nos e seguimos para o banheiro.
Mia me empresta outra roupa de educação física: sua antiga saia e uma blusa com uma pequena mancha. Ela disse que não usa porque já tem outras.
Sabendo que não gosto de mostrar minhas pernas, ela me dá uma meia branca que vai até as coxas. Depois de me trocar, vamos até a quadra. As meninas foram separadas em duas equipes.
Ava e suas amigas estão de um lado da quadra; eu e Mia, do outro. O professor decidiu que vamos jogar queimada. Até agora estamos indo bem; temos um total de doze jogadores de cada lado. Com o passar do tempo, fomos perdendo mais pessoas. Agora, só restam eu, Mia e outra garota cujo nome não sei. Ava sorri maliciosamente e tenta me acertar, mas Mia pega a bola e acerta uma garota ruiva do lado de Ava.
Ava parece ainda mais irritada. Ela pega a bola e se aproxima da linha da quadra.
"Não se preocupe, eu vou te proteger, princesa", Mia diz, se posicionando mais perto de mim.
Franzo a testa e olho para Mia. Ela inclina a cabeça. "Como assim, princesa?", pergunto, inclinando a cabeça para o lado.
Um som escapa de sua garganta, e antes que eu perceba, a bola vem voando na minha direção. Mia levanta a mão e a pega antes que chegue perto do meu rosto.
Como ela pegou a bola sem nem olhar para ela?
Ela apenas me lança um olhar estranho. "Nada", responde, afastando-se sem mais nenhuma palavra. O que ela quis dizer com princesa?
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