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Cinco Motivos Para Te Deixar.

Capítulo 1

Natália

Todas as manhãs minha função era acordar cedo e vender balas na rodoviária, minha mãe vendia salgados na entrada da rodoviária, eu tinha apenas dezessete anos e não podia estudar, nossa vida miserável me obrigava a trabalhar todos os dias.

Eu até cheguei a frequentar a escola, mas isso foi antes de meu irmão ser preso, ele era aviãozinho, acabou "rodando", desde então eu e minha mãe fazemos de tudo para pelo menos ter o que comer e vestir.

Em uma determinada manhã acordei ainda mais cedo, tinha tido uma noite muito ruim, pois não dormimos em nossa barraca, fomos expulsas e tivemos que nos abrigar perto de um parque com mais alguns sem teto, o medo de sermos atacadas era maior que tudo.

Peguei a mercadoria com o senhor Carlos ainda as quatro da manhã, as balas e as gomas estavam mais caras, porém era isso ou nada, reprimi a vontade de chorar e coloquei o melhor sorriso que podia em meu rosto, e lá estava eu oferecendo balas a qualquer um que passasse pela escada rolante.

Foi quando eu os vi desembarcando, eram dois homens e uma mulher, muito bem vestidos e o perfume deles chegava a causar um certo devaneio a quem estivesse muito próximo.

Apenas fiquei observando-os de longe, quando uma correria se deu início na escada rolante da esquerda, era um assalto, eu conhecia o grupo de assaltantes, eram eles os culpados por meu irmão estar na cadeia, fiquei com medo de imediato e olhei para os lados procurando um lugar seguro para me esconder, quando vi o trio de pessoas elegantes completamente perdidos.

Sem pensar muito, fui na direção deles e os levei para o elevador, por sorte ninguém mais tinha tido aquela ideia e pude mantê-los em segurança até a confusão toda passar.

— Merci mademoiselle. — O homem de cabelos castanhos claros e olhos incrivelmente verdes falou quando abri a porta do elevador.

Obviamente eu não entendi nenhuma palavra do que ele tinha me dito, quando a garota ao lado dele pegou um dicionário e depois de alguns minutos falou.

— Ele quis dizer Obrigado senhorita, não estamos habituados a língua portuguesa ainda, somos novos no país. — Seu sotaque era no mínimo engraçado, mas ela falou com perfeição as palavras, o que me deu sim vontade de rir, porem me contive.

Sem querer parecer mais estranha do que já estava parecendo sai da presença deles e continuei a vender minhas balas, bom, continuei oferecendo, afinal ninguém estava afim de pagar mais de um real pelo pacotinho.

Não demorou muito para perde-los de vista, eram as pessoas mais belas que já tinham visto na minha vida e eram franceses pelo que percebi, claro, eu nunca mais os veria.

Fui então ao encontro de minha mãe, queria saber se ela estava bem, sempre que aconteciam esses assaltos ela ficava apavorada e muitas vezes saia correndo sem rumo, teve uma vez que ela foi atropelada por causa disso.

— Mãe? — Chamei como se questionasse, ela estava olhando fixamente pro céu. — Você está bem? Não se machucou no assalto? — Fiz algumas perguntas me aproximando cada vez mais dela até segurar sua mão e traze-la para a realidade.

— Claro, estou ótima! — Esbravejou com irritação em sua voz e com um sorriso falso nos lábios.

Eu já estava acostumada com as grosserias da minha progenitora, eu a amava e entendia os motivos do seu mal humor diário, quem não ficaria desta forma depois de perder o marido, a casa e ver seu filho indo pra cadeia?

— Só me preocupei, me lembrei do acidente de um ano atrás. — Joguei o fato de forma ríspida, ela não tinha o direito de ser grosseira por nada. — Me dê dois salgados, já estou com fome e tenho que ir para o outro lado da rodoviária, os ônibus chegam em meia hora preciso tentar vender por lá. — Falei estendendo a mão.

Ao invés de me dar os salgados ela me deu um tapa na mão.

— Não! — Quase gritou as palavras. — Vai ter que pagar por eles, não posso ficar te dando comida, se vira vagabunda!

Senti meus olhos arderem de imediato, aquela mulher não podia ser chamada de mãe, não na minha percepção, por mais que eu a amasse sabia que sua vida dura tinha mudado sua personalidade a deixando daquela forma.

Sai de perto dela e caminhei até o outro local aonde tentaria vender alguma coisa, não demorou muito para ver Cristiano, ele trabalhava como interprete na rodoviária, ela lindo, olhos castanhos, pele negra e tinha aquele sorriso malandro nos lábios, eu me derretia por ele.

Abri um largo sorriso ao vê-lo e logo notei que ao seu lado estava um dos homens que eu tinha ajudado momentos antes.

— Hei, Natt, venha aqui. — Ele me chamou e que voz maldosa era aquela que me levava a ter muitos pensamentos impróprios. — Esse homem diz se chamar Máxime e ele quer te dar uma recompensa.

— Diga que não precisa Cris, sabe que aqui dentro ajudamos uns aos outros. — Falei ainda sorrindo como uma idiota, eu sempre ficava assim ao ver aquele pedaço de mal caminho.

— Natt, aceite, eu sei que não comeu nada desde que chegou e sei que sua mãe está tendo um daqueles dias, engula o orgulho só por hoje. — Ele realmente me conhecia.

— Tudo bem eu aceito... — Eu não muito mais o que fazer a não ser aceitar seja lá o que fosse, Cristiano se afastou um pouco e homem se aproximou com um envelope nas mãos.

— Não mostre a ninguém. — Sussurrou olhando para o dicionário, entendi que ele não confiava no meu amigo.

Peguei o envelope e lá estavam várias notas de cem, pisquei algumas vezes olhando assustada pra ele que apenas sorriu de forma gentil.

— Merci... — Murmurou e logo voltou sua atenção ao dicionário. — Obrigado.

Corei violentamente com aquele sorriso malandro dele, havia algo que não podia explicar que certamente não era normal, não demorou muito para o outro que os acompanhava aparecer do lado dele, me senti como se fosse um animal raro em um zoológico pela forma que me olhavam.

— Ne fais pas peur à la fille, elle est aussi pauvre que moi, elle doit être nerveuse — Palavras que na época eu não entendia, mas era algo como não assuste a garota, ela é pobre como eu era, deve estar nervosa, certamente aquele homem acertou.

— C'est bon — Murmurou de forma sexy para o outro.

Prendi minha atenção para os dreads no cabelo daquele homem, depois para suas joias bem a mostra e logo olhei para meu amigo Cristiano.

— Fale pra eles que nesta cidade não é bom andar com tantas joias assim a mostra, mesmo que sejam falsas eles acabam virando chamariz de ladrão. — Cris, revirou os olhos ao escutar minha fala, mas tratou de reproduzir minhas palavras, pela forma como agiu parecia estar com ciúmes ou algo parecido.

Me senti um pouco desconfortável com aquela atitude, mas sinceramente queria ficar uns minutos sozinha e ver quanto tinha no envelope, os dois homens também pareceram se sentir incomodados com a atitude de Cris, o que os fez se despedirem e logo rumaram para o outro lado, aonde estavam os taxis.

Me afastei para o banheiro e lá pude abrir o envelope e contar as notas, tinha um total de cinco mil reais, meus olhos não acreditavam naquilo, assim como eu também não imaginava que alguém pudesse ser tão rico a ponto de dar dinheiro a uma pessoa que nem conhece.

Capítulo 2

Natália

Ainda dentro do envelope tinha uma bilhete, desta vez eu precisaria de um dicionário ou ir a uma lan house como era chamada na época para traduzir as palavras.

"Bonjour, nous avons été ravis de votre attitude, nous avons appris par l'interprète que vous traversez de nombreuses difficultés et que vous n'avez nulle part où habiter, si vous voulez de l'aide sans rien en retour, cherchez nous avant le 20, car nous partirons le Ce jour là. Máxime Ravel."

Mais tarde naquele mesmo dia, eu fui até a lan house, mas tive cuidado de usar minhas moedas e não as notas, do jeito que o povo era iam me acusar de ter roubado o dinheiro.

"Olá, ficamos encantados com a sua atitude, soubemos pelo interprete que passa por muitas dificuldades e que não tem aonde morar, se quiser uma ajuda sem nada em troca, procure pela gente antes do dia vinte, pois partiremos neste dia. Máxime Ravel."

Tive que ler e reler o bilhete algumas vezes, para ter certeza do que estava escrito e se tinha traduzido corretamente, no verso estava o endereço aonde estariam hospedados.

Claro que eu não tinha a mínima intenção de ir procurá-los, queria apenas seguir com minha vida.

Eu tinha em minhas mãos cerca de vinte caixinhas de balas, elas davam em torno de quarenta reais, continuei trabalhando até vender tudo e isso sem comer nada, não queria que todos soubessem que eu estava com dinheiro e por isso mantive sigilo, até mesmo Cristiano veio me procurar pra saber quanto eu tinha ganhado, dei um sorriso a ele e falei que devolvi o dinheiro.

Ele pareceu ficar ainda mais nervoso e ficou murmurando alguns insultos, o que eu achei estranho logo de início, mas acredito que ele pensava que eu iria dividir a grana com ele, jamais, eu dividiria com minha mãe, quem sabe assim ela melhorasse um pouco de humor.

Quando foi a noite eu e minha mãe estávamos indo para o parque aonde dormiríamos no relento, notei que no caminho ela não falou comigo, mesmo eu lhe perguntando algumas coisas.

— Você é quem deveria estar na cadeia, seu irmão nunca deixou de ajudar, ele me dava tudo o que conseguia para que tivéssemos uma vida decente, egoísta. — Ela falou quando chegamos ao parque, sua voz estava áspera e cheia de ódio.

Claro que Cristiano foi falar pra ela que eu tinha devolvido o dinheiro, o que era bem uma mentira, queria dividir com ela, quando fui colocar a mão no bolso para tirar as notas e entregar a minha mãe, ela começou a me bater.

Tentei me defender colocando as mãos diante de seu corpo, mas ela era muito maior do que eu, mais forte e estava com um ódio sem tamanho, só não desmaiei por conta dos golpes pelo simples fato de ter conseguido me levantar e sair correndo.

deixei tudo pra trás naquela noite, roupas e objetos pessoais, que apesar de não terem valor em dinheiro tinham valor sentimental, como a caneta que meu pai me deu aos meus doze anos, ou como uma caixinha de joias decorada feita em biscuit, nunca tive joias para colocar dentro dela, mas o objeto era valioso demais na minha percepção.

Peguei um taxi e rumei para o centro da cidade, meu destino era uma pensão que tinha visto em um anuncio, até falei para minha mãe sobre, mas ela me deu um tapa no rosto e me pediu pra parar de sonhar, aquele tapa doeu, mais do que a surra que tinha acabado de levar.

O taxista parecia ser um homem gentil, me cobrou bem menos do que a viagem custava, disse que em tempos difíceis as pessoas deveriam se ajudar, durante o percurso desabafei minha história com ele.

— Sabe mocinha, a sorte não cai duas vezes na nossa cara, deveria ir procurar essas pessoas, eu entendo que sua mãe seja importante pra você, mas veja bem, você acabou de fugir de casa por assim dizer, deveria tentar recomeçar. — falou com um largo sorriso, não, ele não era como Cristiano ou minha mãe que queriam me usar para lucrar.

— Mas eu nem falo a língua deles moço. — Rebati achando graça em seu conselho.

— Eles vão saber se comunicar, ofereceram ajuda, então eles vão te ajudar. — Aquele conselho ficou pairando na minha cabeça, o trio podia ser perigoso, podiam até ser mafiosos, mas ainda assim era melhor do que levar uma surra sem que pudesse explicar o que de fato aconteceu.

Quando cheguei na pensão, por sorte ainda estava aberta, na recepção eu fiquei bastante sem graça, por estar machucada e por não trazer nenhuma mala comigo.

— Boa noite, como funciona as coisas aqui? — Fui a mais educada que pude ao falar com uma senhora na recepção.

— Boa noite, eu me chamo Cleonice, sou a dona, aqui oferecemos um quarto, café da manhã e jantar, visitas só são permitidas aos finais de semana, animais domésticos e crianças também não são permitidos. — Seu sorriso meio torno traçava o contorno de sua boca enquanto ela pronunciava as palavras, até parecia estar com nojo da minha presença.

— Bom, eu sou moradora de rua, já deve ter notado isso, me chamo Natalia, mas tenho como pagar a estadia, é por mês ou diária? — Senti meu coração acelerar ao falar, fiquei com medo de ela me colocar pra fora.

— É por mês, um singelo valor de trezentos e noventa reais, se quiser almoçar aqui daí o valor sobre para quinhentos. — Ela me olhava incrédula, como se soubesse que eu não tinha dinheiro, o que era verdade, naquele dia eu tinha, mas isso não seria pra sempre.

— Então eu quero um lugar, já lhe disse que tenho como pagar a estadia. — Tirei mil reais do bolso e entreguei a ela, vi seus olhos se arregalarem, certamente ela imaginou que eu tivesse roubado. — Eu vendo balas senhora, mas é difícil passar o dia com fome e ainda ter que dormir na rua, por isso queria um quarto na pensão.

Ela me analisou da cabeça aos pés, sorriu pegando o dinheiro e conferindo as notas para ter certeza de que não eram falsas.

— Estou pagando por dois meses. — Murmurei imaginando que ela não tivesse entendido.

— Aqui, essa é a chave, me acompanhe. — Ela saiu de trás do balcão e me levou a um corredor bem estreito, portas de ambos os lados, pude contar cerca de vinte quartos. — O banheiro das mulheres é o da direita e dos homens a esquerda, seu quarto é o quinze.

Antes de entrar no quarto ela me deu um recibo pelos dois meses pagos, com a data de entrada e saída se eu não continuasse o pagamento, senti um alivio enorme por ela ignorar meus documentos, mas não demorou muito para ela explicar seus motivos como se lesse o que se passava em minha mente.

— Sei que é menor de idade Natália, mas acredito que todos mereçam um lugar pra poder dormir, por isso cobro pouco, a maioria das pensões na cidade cobra mil reais ou mais, então espero que estar aqui te ajude a tentar voltar a escola, assim como também tem um brecho, com roupas a partir de cinco reais na esquina. — Ela sorriu um pouco convidativa, me incentivando a confiar nela. — Já vivi nas ruas, sei pelo que está passando.

Ela me deixou na solidão do meu novo quarto, o lugar tinha aspecto de velho, mas era bem arrumadinho, um lençol amarelo na cama, um cobertor dobrado, ao lado da cama uma mesinha e um armário.

Era a primeira vez que eu dormiria em um quarto depois dos meus quinze anos que foi quando passamos a morar na rua.

A vida não tinha sido fácil em nenhum momento comigo, senti minha barriga roncar, mas tudo o que eu queria era poder tomar um banho e dormir, me esquecer do que tinha me acontecido nas últimas horas.

Passados trinta minutos, a dona da pensão retornava com uma muda de roupas, produtos de higiene, uma tigela com sopa e um prato de torradinhas.

— Menina, enquanto a sopa esfria, vai tomar um banho, está segura aqui dentro, eu não pago aquele "armário" na portaria pra ficar de enfeite não, em todos os anos que vivo aqui te garanto que nunca fomos assaltados. — Ela tinha mudado sua forma de agir, estava mais seca e fria na recepção, mas eu não ia reclamar, era a segunda ajuda que eu recebia naquele dia.

Capítulo 3

Natália

Depois do banho, penteei meus cabelos longos e ondulados, não eram bonitos, mal cuidados e meio sem vida, olhei meu reflexo no espelho após colocar as roupas que a mulher tinha me dado, e podia ver meus olhos ficando roxos e a pele ao redor do lábio bastante fissurada.

Meus braços estavam doloridos por causa da tentativa falha de defesa, mas ao me abraçar, senti que estava protegida de fato.

No quarto a sopa me esperava, com as torradinhas, seria a primeira vez em tempos que iria comer antes de dormir, e sinceramente dormir de barriga cheia é maravilhoso, eu não tinha que acordar muito cedo, estava me sentindo confortável demais.

Perto das sete horas da manhã começou o movimento das pessoas que moravam na pensão, sai um pouco sem graça do quarto e logo uma jovem veio falar comigo.

— Bom dia, me chamo Aline e você. — Muito animada e sorridente ela falou me estendendo a mão. — Prazer, me chamo Natalia. — Retribui seu aperto de mão, parecia ser algo meio estranho já que aonde eu vivia ninguém tinha o costume de se cumprimentar.

Ela me acompanhou e me mostrou aonde tomávamos café, almoço e janta, fiquei sem graça, mas logo notei que as pessoas naquela pensão eram bastante simpáticas e amáveis.

Um cenário bem diferente ao qual eu estava acostumada, brigas o tempo todo, drogas por todo lado, assaltos, sujeira, palavrões e mais uma infinidade de coisas que nem consigo descrever, eu vivia no extremo do limite de qualquer pessoa.

Decidi ir até o brecho para comprar algumas trocas de roupas, afinal eu não podia continuar dependendo exclusivamente da bondade da dona Cleonice, comprei o básico do básico, não precisava de muito, mas um vestido branco de florzinha amarelas me chamou atenção, ele era rodado da cintura pra baixo, de alcinhas, era uma peça nova, olhei na esteira a direita e lá estava uma pilha de sapatos, um santo cor creme me chamou atenção e combinava com o vestido, me senti no direito de comprar ambos, eu não tinha aonde usar ou ocasião, mas queria ter tais peças.

Claro, eu precisava trabalhar, depois de guardar as roupas em meu quarto e esconder meu dinheiro dentro do colchão, fui até o galpão onde o senhor Carlos nos vendia as balas para revenda, ao me aproximar do local, vi minha mãe, Cristiano estava do lado dela e todo o encanto que eu sentia por ele parecia ter desaparecido por causa de suas atitudes do dia anterior.

Me aproximei pelo outro lado para escutar a conversa deles, se fosse seguro eu me mostraria, caso contrário eu voltaria pra pensão.

— Quando ela aparecer eu mato aquela menina. — Minha mãe esbravejou cruzando os braços na frente do corpo.

— Ela não sabe se virar na rua, vai voltar, mas chega de perder tempo, vou cobrar o dinheiro que lhe emprestei pra comprar a carrocinha de salgados, me prometeu a virgindade dela, então hoje eu nem trabalho, vou esperar a fulaninha aqui com você, perdi a paciência.

Com uma calma que eu nunca tive, fui me afastando até o outro lado da rua aonde entrei em um dos taxis, olhei eles de longe e senti um bolo se formar em minha garganta, me lembro que minha mãe disse ter ganhado a carrocinha do meu irmão, segundo ela, ele tinha feito alguns trabalhos na cadeia e tinha mandado o valor pra ela.

Bom, em uma das cartas meu irmão confirmava isso também, me senti desolada e sem chão, pois minha mãe não era esse tipo de pessoa quando meu pai era vivo, ela era doce, amável, simpática, talvez seja verdade o que dizem, que o sofrimento muda as pessoas.

No caso da minha mãe, mudou pra pior, quem oferece a virgindade de uma filha por uma porcaria de carrocinha de salgados? Aquilo era tão surreal que nesse ponto eu já estava acreditando ter escutado errado, que não era isso, não podia ser real.

Cheguei na pensão tendo uma crise de choro, foi nesse momento que Aline e Cleonice começaram a conversar comigo, tentavam me acalmar, elas nem me conheciam, mas mesmo assim queriam ajudar, o que era uma prova de que a bondade ainda existia dentro do ser humano.

Chorei bastante naquele dia, e contei a elas como tudo tinha começado e sobre a conversa da minha mãe com Cristiano.

— Menina, ainda bem que não viram você, imagina o que poderia ter lhe acontecido? — Aline comentou ao meu lado com verdadeiro espanto, levando a mão ao peito.

— Mas agora, me veio à mente outra questão, os estrangeiros, não vai procurar por eles? — Cleonice sorriu malandra e vendo que eu negava com a cabeça segurou meu braço e me encarou, parecia um pouco mais séria do que na noite anterior. — Menina, se eles ficaram preocupados com a sua situação, podem voltar lá pra te procurar, vão falar com esse cara e esse cara pode se aproveitar deles.

Pisquei algumas vezes, sim, aquela mulher tinha razão, eu deveria ir falar com eles e lhes dizer que estava bem e que não era para se aproximarem de Cristiano ou minha mãe, pois, certamente seriam roubados.

Fiquei aflita de imediato e logo me lembrei que Cristiano e minha mãe ainda estavam me esperando no galpão dos doces, tive uma ideia um pouco inusitada.

— Vou escrever uma carta e traduzir na lan house, assim não terei de passar vergonha por não entender uma única palavra que eles falarem. — Soltei as palavras olhando um pouco ansiosa para as duas.

Ambas concordaram comigo e até me ajudaram a escrever, já que eu não conhecia palavras bonitas para colocar na carta.

"Maxime Ravel

Me chamo Natalia, sim sou moradora de rua, mas ontem minha mãe e meu amigo Cristiano ficaram muito empolgados com sua ajuda, quando menti pra eles falando que tinha lhes devolvido o valor, minha mãe me bateu e ele falou algo sobre me levar pra cama contra minha vontade.

Claro isso não lhe interessa, mas o fato é que, fiquei com medo de vocês voltarem lá e eles tentarem roubar vocês, sabe, a vida deles não é nada fácil e acabam fazendo muitas coisas para poder sobreviver, não os julgo, mas de qualquer forma, não quero que sejam enganados.

Quanto a mim, eu estou bem, consegui um quarto na pensão e a dona do lugar vai me ajudar com um emprego longe daquela rodoviária.

Obrigada senhor Maxime.

Atenciosamente: Natália Aparecida."

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