Júlio não vê a hora de ter sua liberdade. Desde que se entende por gente sempre esteve preso aos caprichos e desejos de outros. Agora, faltam poucas horas para ele poder trilhar seu caminho, fazer suas escolhas e viver sua vida.
Tudo planejado para a liberdade. Era agora a sua chance, o seu momento.
Porém, parece que seu pai tem outros planos para ele. Nada como uma festa, o olhar de um homem estranho e ambicioso, acostumado a ter tudo o que quer para acabar com os planos e sonhos de Júlio.
Aos 18 anos, a expectativa de alcançar a maioridade trazia consigo a promessa de liberdade, uma fuga ansiosa do pesadelo que era sua vida. A negligência dos pais era palpável; o aniversário do caçula passava despercebido enquanto toda atenção se concentrava no filho mais velho.
Enquanto seus pais celebravam em uma festa, na casa de um tio, o garoto se encontrava em um canto solitário, tentando ignorar não apenas o peso dos olhares fuzilantes do irmão, mas também a natureza sádica que parecia impregnar cada expressão. Cada olhar não era apenas desinteressado, mas carregava consigo um desejo sádico, criando um ambiente hostil que intensificava a contagem regressiva para a tão esperada autonomia.
Enquanto o irmão representava uma presença tóxica, o olhar do homem do outro lado da sala também o atormentava, tornando o ambiente quase insuportável. Sentindo a asfixia, o garoto buscou refúgio na varanda, onde confrontou a realidade trêmula de suas mãos e o frio que o envolvia.
Ao sentir uma mão sobre seu ombro, sem surpresa, já sabia ser seu irmão, Beto. Este, com uma aparente preocupação, ofereceu um copo d'água, iniciando um diálogo tenso. O garoto mentiu sobre seu estado, aceitando a água, enquanto Beto, em um tom sério, sugeriu que ficasse perto dele, insinuando uma suposta proteção.
A oferta de cuidado mascarava a real intenção de Beto, que, após mais de dois anos desde um evento traumático, ainda buscava afirmar o seu controle sobre o caçula, revelando que a sombra do passado continuava a pairar sobre as suas relações.
O garoto ansiava por solidão, anseio que contrastava com a insistência de Beto para que se juntasse a ele. Sem muita escolha e temendo as possíveis consequências de uma recusa, o caçula cedeu, esbarrando acidentalmente no homem misterioso. Beto, agarrando seu braço, o conduziu até um canto onde se encontravam alguns amigos.
Sentado em silêncio, o garoto percebia que, vez ou outra, seu olhar se cruzava com o do homem desconhecido, criando uma atmosfera carregada de tensão no canto onde Beto e seus amigos estavam reunidos. O desejo simples de viver em paz parecia cada vez mais distante diante das intricadas dinâmicas que moldavam seu ambiente.
Benjamin Mohamed, um homem de 49 anos, estava no Brasil a negócios e participava de uma confraternização. Enquanto observava o ambiente entediante, seus olhos se fixaram em um garoto descontente. Havia algo nele que despertou um interesse inexplicável em Mohamed. Decidido a descobrir mais sobre o rapaz, ele pediu a um segurança que investigasse sua identidade. Descobriu que o nome do garoto era Júlio, filho caçula de Gino Albuquerque. Essa informação trouxe satisfação a Mohamed, pois sabia que poderia usar a situação financeira difícil de Gino como uma oportunidade para conquistar Júlio. Embora percebesse que o irmão mais velho do rapaz representava um obstáculo, Mohamed confiava em sua influência e riqueza para superar qualquer resistência e alcançar seu objetivo.
Júlio, descontente e ansioso para ir embora, arrisca sair sem ser notado, desejando escapar do ambiente desconfortável da confraternização.
Júlio, sentado ao lado do carro, refletia sobre a sua vida, enfrentando traumas e uma perspectiva incerta de um futuro melhor. Apesar dos esforços para visualizar um amanhã positivo, estava imerso em pensamentos quando seus pais e seu irmão, Beto, chegaram. A expressão brava de Beto indicava desagrado pela saída de Julio do seu campo de visão, mas algo surpreendente estava presente: uma preocupação genuína e desprovida de segundas intenções.
A tensão no carro era palpável enquanto voltavam para casa, sugerindo que algo aconteceu após a saída de Júlio. Benjamin procurou Gino, oferecendo uma solução para o montante necessário, sem juros ou a expectativa de reembolso. Beto, percebendo o interesse do homem por Júlio, questionou as intenções por trás dessa generosidade. Benjamin, direto, revelou que gostaria de conhecer melhor Júlio, propondo levá-lo para morar com ele por alguns dias.
Beto, descontente com a proposta de Benjamin, compreendeu que a decisão não estava em suas mãos ao ouvir o seu pai convidar o homem para visitar a casa. Nesse momento, uma sensação de pena pelo irmão tomou conta de Beto, despertando nele a vontade de proteger Júlio diante das circunstâncias incertas que se desenhavam.
A chegada em casa ocorreu cedo, por volta das 21 horas. Julio, consciente do que possivelmente estava por vir, optou por tomar banho. Beto, antecipando-se a eventos desconfortáveis, decidiu voltar para os Estados Unidos naquela mesma noite. Júlio, percebendo a situação, pediu para acompanhá-lo, mas Beto explicou que não era possível naquele momento. Despediu-se rapidamente da família e partiu.
Mal Beto havia saído, um carro estacionou em frente à casa. Júlio, perplexo, reconheceu o homem que o encarava na festa, chegando à sua residência numa hora tão tardia. O homem ignorou Júlio e dirigiu-se ao escritório de Gino, deixando um clima de apreensão no ar.
Roberta, mãe de Júlio, demonstrava uma indecisão palpável ao testemunhar a possibilidade de seu marido assinar um contrato que impactaria o filho. Júlio, ansioso por respostas, foi instruído por sua mãe a ir dormir, deixando-o inquieto quanto ao desdobramento da situação. No quarto, um pressentimento o instigava a agir antes que as coisas piorassem.
Assim, Júlio, decidido, preparou uma mochila com roupas e o dinheiro que vinha guardando em segredo. Com a urgência pulsando, ele pulou pela janela, tomando a iniciativa de escapar, ciente de que agir rapidamente era crucial.
Ao se afastar da casa, Júlio avistou homens suspeitos rondando-a. Tentando passar despercebido, sentiu alguém agarrar seu braço.
— Vai para algum lugar? — indagou o homem, mantendo firme o aperto.
— Não é da tua conta. Agora, me solta. — esbravejou Julio, lutando para se libertar. Contudo, o aperto só aumentava. — Está me machucando.
Embora tenha conseguido se soltar, logo outros dois homens o agarraram, arrastando-o de volta para dentro da casa. O cenário tornava-se mais tenso, indicando que a fuga não seria tão simples quanto Júlio esperava.
A situação tornava-se cada vez mais complexa para Júlio. Ao ser confrontado pelos seguranças e seu pai, Benjamin toma a frente, afirmando que Júlio agora é seu problema.
— Olha o que encontramos lá fora. — disse um dos seguranças.
Gino adiantou-se para lidar com a situação, mas Benjamin interveio.
- Ele é problema meu agora. - disse o homem, observando a reação de Júlio.
— Tem razão. — concordou Gino.
Percebendo a confusão de Júlio, Benjamin propôs:
— Você vai embora comigo, garoto.
— Não. Eu não vou. — gritou Júlio.
- Você não tem escolha. - retrucou Benjamin.
— Tenho sim. Sou maior de idade.
— Isso não importa.
Desesperado, Júlio olhou para a mãe em busca de ajuda, mas percebeu que não adiantaria.
— Você não tem esse direito. — gritou para o pai.
Conseguindo se soltar novamente, avançou para atacar o pai, que reagiu com um soco, fazendo-o desmaiar.
Desacordado, foi colocado no BMW X7, e o carro partiu, deixando para trás uma situação complexa e cheia de incertezas.
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Ao recobrar a consciência, Júlio sentiu seu rosto queimar, roxo e inchado pelo soco.
— Que bom que acordou. — disse Benjamin. — Já estamos chegando.
O desespero aumentou quando Julio tentou se mover, percebendo que seus pulsos estavam algemados. A situação tornava-se ainda mais angustiante diante do desconhecido que se desenrolava, deixando Júlio em uma posição vulnerável e insegura.
Júlio sentia o impulso de gritar, mas duvidava que isso adiantaria. Aquilo só podia ser um pesadelo, uma situação surreal da qual ele precisava acordar.
— Me deixa ir, por favor. — suplicou o rapaz.
— Lamento, mas não posso fazer isso, querido. — o homem tirou um papel do bolso do paletó, mostrando para Júlio.
Ao ler o conteúdo do papel, o garoto ficou perplexo, sua voz falhou.
— Isso é um... - tentou dizer.
— Sim, é um contrato. E de acordo com ele, você me pertence. — o homem pronunciou a última parte enfatizando o fato de que Júlio agora pertencia a ele.
A revelação deixou Júlio aterrorizado. Seus pais, que já não eram os melhores do mundo, tinham ultrapassado todos os limites. Eles o tinham vendido.
Minutos depois, eles entravam pelos portões que davam acesso à imponente residência. O lugar era grandioso, com um pátio enorme circundando a mansão. Chegaram ao átrio de entrada, e o homem ordenou que um dos seguranças retirasse as algemas de Júlio. Aproveitando o momento, Júlio tentou fugir, mas foi detido por outro segurança. Benjamin aproximou-se dele.
- Você quer mesmo ir? Caso não tenha percebido, creio que não tem para onde voltar. Tuas opções são ficar aqui, ter tudo o que quiser em troca da tua companhia. É isso que te assusta, não é? Mas não se preocupe, não vou fazer nada que você não queira. Tuas outras opções são ficar na rua e voltar para a casa dos teus pais. Assim que chegasse lá, teu pai te entregaria pra mim na mesma hora.
- Prefiro me arriscar na rua.
- Tem certeza? Estamos a mais de 40 km, longe da cidade e mais de 20 kg longe de qualquer residência. A julgar pelo tempo, não vai demorar muito para chover. Como eu te disse, não vai acontecer nada sem que você queira.
Benjamin optou por uma abordagem mais sutil, percebendo que o autoritarismo poderia assustar ainda mais o já atordoado Júlio. Queria transmitir a ideia de que ficar ali era uma escolha do rapaz, esperando que ele aceitasse sem muita resistência.
— Você deve estar cansado. Tome um banho e descanse. Amanhã conversamos. Está bem?
Júlio estava exausto fisicamente e mentalmente. A ideia de apenas viver sua própria vida parecia cada vez mais distante. Finalmente, cedeu e entrou na mansão sem resistência. Benjamin o conduziu até um quarto.
- Preciso das minhas coisas. - disse ele.
— Não se preocupe com isso. Já pedi que arrumassem roupas limpas para você. Tome um banho e relaxe.
O quarto revelava-se uma suite, com a cama posicionada junto a uma janela, uma escrivaninha ao lado, um enorme guarda-roupa em um dos cantos e a porta que levava ao banheiro. Sobre a cama, encontrava-se uma toalha de banho e algumas roupas novas. Júlio pensou que, ao tomar banho e dormir, finalmente acordaria daquele pesadelo.
No entanto, ao se deparar com seu rosto machucado no espelho do guarda-roupa, percebeu que a realidade era cruel. Sentindo a água morna tocar sua pele, tudo o que conseguiu fazer foi chorar até perder a noção do tempo. Reuniu suas forças, vestiu as roupas e deitou-se. Achou que não conseguiria dormir, mas a exaustão e o pânico que tomavam conta de sua mente o fizeram fechar os olhos, e em meio aos soluços, adormeceu.
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