— Meu Deus, está tão tarde, mas como sou tola. Santi deve chegar logo, disse Genoveva, olhando para o relógio no pulso e terminando de se arrumar.

Hoje era o décimo aniversário deles, e ela estava feliz. Ela havia preparado um jantar delicioso e colocado os pequenos para dormir cedo. Hoje, ela planejava surpreender seu amado marido, que estava fora há dois meses e ela sentia muita falta dele. Durante todo esse tempo, eles mal se falaram ao telefone.

Genoveva havia tirado seu melhor vestido, embora agora, com seus quadris largos e busto ligeiramente caído, não lhe servisse mais como antes, mas seu marido a amava, e isso era o importante.

Ela terminou de pentear o cabelo, correu para a cozinha para desligar o fogão, pôr a mesa, arrumar tudo e voltou para o quarto. Calçou seus últimos saltos, que graças a Deus ainda serviam, e sentou-se para esperar. Ela havia dito a ele que estava no aeroporto há mais de meia hora. De acordo com seu tempo de viagem, ela deveria chegar em cerca de dez minutos.

Genoveva sentia-se muito insegura com sua aparência. Quando conheceu Santiago, ela era uma jovem modelo em 1970. Ela o viu em um desfile de moda e se apaixonou à primeira vista.

Depois daquele dia, eles começaram a se conhecer. Ele era um homem triste e quieto.

Santiago Santibáñez era um empresário de médio porte, mas havia herdado uma pequena fortuna e estava trabalhando para multiplicá-la. Ele era um homem muito inteligente e com tino comercial, porém frio e arrogante.

Com o passar dos dias, Santiago apreciava a companhia da bela mulher.

Genoveva o amava em silêncio, pouco a pouco foi penetrando essa dura armadura e entrou em seu coração. Um ano depois se casaram e, a pedido de seu esposo, Genoveva engravidou rapidamente, deixando de lado sua carreira.

Para surpresa do casal, era uma gravidez múltipla, três bebês se formavam em seu ventre.

Santiago estava mais que feliz com a notícia, ele queria uma família numerosa, falava de seis filhos e Genoveva, profundamente apaixonada, não se negava a agradá-lo.

Eles viviam em uma grande casa no centro da cidade, não tinha muitas áreas verdes, mas era muito confortável para eles.

Quando os trigêmeos completaram dois anos, novamente a cegonha bateu à sua porta e de novo a bênção se multiplicou por três.

Genoveva quase desmaiou quando o médico informou. Ela se sentia feliz, jamais renegaria seus pequenos, mas por Deus, seis crianças eram muita responsabilidade, mas felizmente seu esposo estava pulando de alegria, embora Genoveva não soubesse se era pelas crianças, ou pelo fato de que ela não poderia voltar a trabalhar.

Ela havia desistido de tentar, com os primeiros trigêmeos, ainda tirava algumas fotos ou fazia algumas passarelas, mas agora definitivamente isso sepultava sua carreira como modelo, com o parto anterior ela recuperou rapidamente sua forma, apesar das reclamações de seu esposo, que lhe dizia que gordinha ficava melhor e que não queria que emagrecesse, que só se ocupasse das crianças e de atendê-lo.

Ela o agradou de todas as maneiras ao lado de seu marido, não lhe faltava nada, ela queria trabalhar para se sentir útil, mas cada vez era mais difícil organizar seu tempo, os pequenos eram muito travessos e um dia, por escapar para uma sessão de fotos, o pequeno Sebastián, em um descuido da babá, caiu da cadeira e levou três pontos.

Felizmente, a mulher a encobriu e não disse ao seu patrão que ela não estava, mas de igual maneira Genoveva foi repreendida por seu marido. Ela devia estar atenta aos seus pequenos o dia todo.

Enfim, depois do parto dos outros meninos, Genoveva pediu ao médico que lhe receitasse pílulas anticoncepcionais às escondidas de seu marido, com seis crianças era mais que suficiente, tinham quatro meninos e duas meninas, mas Santiago insistia que queria mais duas princesas, mas Genoveva sutilmente se negou, pediu para esperar um tempo e com essa desculpa conseguiu ficar por quatro anos sem conceber.

Os pequenos, Máximo, Santiago Jr. e Sebastián, já tinham seis anos e Victoria, Camila e Esteban tinham quatro aninhos.

As festas de aniversário eram um evento muito bonito, vinha a família de seu marido, alguns amigos do trabalho e de parte de Genoveva não assistia ninguém, ela havia crescido em um orfanato e seu único amigo e empresário havia se irritado com ela por deixar que Santiago destruísse sua carreira e sua vida, segundo suas palavras textuais.

Por isso ela era uma mulher solitária, só tinha seu marido e seus pequenos.

Mas um novo acontecimento ocorreu em suas vidas quando estavam na festa de aniversário dos pequenos. Genoveva desmaiou e foi levada ao médico.

Quando Genoveva abriu os olhos, percebeu que estava em uma sala de clínica. Sorriu ao ver o marido dormindo em uma cadeira, com a cabeça apoiada na beira da cama.

"Amor", sussurrou Genoveva, e o marido se levantou, aproximou-se dela com um lindo sorriso que a comoveu e a beijou.

"Amor, você acabou de me fazer o homem mais feliz do mundo."

Essas belas palavras foram um remédio amargo para Genoveva. Ela não tinha certeza, mas suspeitava que ele não gostaria da resposta.

"Do que você está falando?", perguntou Genoveva, com a voz embargada. Enquanto rezava internamente a Deus para que não fosse o que ela suspeitava.

"Amor, estamos grávidos de novo."

O rosto de Genoveva empalideceu, isto tinha que ser uma brincadeira, Santiago olhou o desconcerto em seus olhos e se aproximou dela, pegou-a pelo queixo para obrigá-la a olhá-lo nos olhos e sussurrou

— Amor. Não se surpreenda, sei que planejava pelas minhas costas. Você é uma travessa, mas talvez, só talvez, um ratinho mais travesso trocou suas pílulas, por umas nutritivas vitaminas e aqui está o resultado. Dois preciosos bebês estão aqui dentro — disse Santi beijando sua barriga

Genoveva sentiu um buraco se abrir em seus pés, mas, no entanto, sorriu para seu marido, vê-lo feliz era para ela o mais importante, desse parto nasceu a pequena Alana e Ricardo

Quando os gêmeos completaram um ano.

Santiago expressou a necessidade de comprar uma casa maior. Ele decidiu comprar uma casa de campo muito grande e bonita que ficava nos arredores da cidade, estava um pouco isolada, mas a paz que se sentia era muito gratificante

Já seus pequenos tinham dois anos e com este evento, ela terminava o resumo que havia feito mentalmente de sua vida, enquanto seguia esperando seu amado marido, já havia passado mais de uma hora e ele não dava sinais de vida

Genoveva pegou seu telefone e ligou, no terceiro toque, Santiago atendeu

— Alô

— Oi amor, onde você está? Estou preocupada com você

— Estou jantando com um sócio, mas já que ainda está acordada. Espere por mim, vou para aí. Não durma. Preciso falar com você

— Claro amor, aqui te espero — Genoveva desligou e se levantou para guardar a comida. Já era comum para ela, que seu marido jantasse fora, como vinha fazendo nos três meses anteriores à sua viagem. Por isso ela planejou esta magnífica ideia, para reviver o fogo da paixão entre eles, mas ao que parece já sua velada estava destinada ao fracasso

Passaram-se mais vinte minutos e Genoveva serviu-se de uma taça de champanhe, era uma das poucas garrafas que havia para visitas sociais, embora desde que se mudaram ninguém mais os tivesse visitado, nem sequer nos aniversários das crianças.

Claro que Santiago os desculpava dizendo, que não queria compartilhar esses momentos tão especiais com ninguém e por este motivo ambíguo não os convidava, por isso sempre terminavam eles dez celebrando.

O ruído do portão anunciou a chegada de seu marido, ela se aproximou do espelho, retocou o batom, alisou o cabelo com os dedos e arrumou um pouco o vestido

Ela, ao ouvir a porta abrir, caminhou até ele, o abraçou e o beijou surpreendentemente, mas Santiago a empurrou e limpou a boca, enquanto a detalhava dos pés à cabeça com um olhar desdenhoso

— Ei, o que está acontecendo com você? Por acaso você está bêbada? O que está fazendo vestida assim? Parece uma rameira em decadência, com esse vestido todo velho e desbotado, além de que nem sequer é mais o seu tamanho. Que exemplo você dá aos meus filhos?

Genoveva estava em choque, mal havia recuperado o equilíbrio pelo empurrão que seu marido lhe deu, ela fazia muito tempo que não andava de salto alto. Mas o que estava ouvindo, era pior do que ter caído no chão

— O que está acontecendo com você, Santiago? Por que você está me tratando assim? Sei que você não gosta que eu use esse tipo de roupa, mas coloquei só para você. Não há mais ninguém aqui. É nosso aniversário amor. São dez anos de casamento — dizia ela, tentando conter seu choro, enquanto mentalmente o justificava. "Talvez o assustou com o abraço", ou "talvez ele venha cansado e não era o momento", ela entendia tudo isso

Então tentou se aproximar novamente, mas só estendendo sua mão para pegar a dele, mas Santiago deu um passo para trás e levantou suas mãos, para evitar que ela o tocasse, pelo contrário, se afastou dela e lhe deu um olhar frio enquanto falava

— Olha Genoveva. Não tenho tempo para seus melodramas, é verdade que hoje completamos dez anos de casados e acho que são muitos anos juntos. Mas já não é o mesmo. Eu não me sinto completo ao seu lado. Genoveva, as coisas entre nós se deterioraram muito. Por isso decidi que devemos dar um tempo.

Genoveva estava paralisada. Ela sentia que seu mundo desmoronava, ela sentia que havia um terremoto em seu interior que estava destruindo tudo ao seu passo. Ela juntou suas mãos e as colou em seus lábios e ficou em silêncio, suplicando a Deus que isto fosse uma brincadeira, uma péssima brincadeira de seu marido. Que em qualquer momento Santiago soltasse uma gargalhada e que ela o golpeasse levemente pelo susto.

Mas Santiago já havia começado a destruir seu casamento e não estava disposto a dar marcha atrás, mas ela pensava tudo ao contrário. Por isso, tomou uma grande lufada de ar e embora não quisesse falar, porque sabia que se quebraria. Ela queria lutar por seu casamento, ou pelo menos obter uma explicação lógica. Porque até agora, o que ele tentava explicar-lhe era que seu casamento era válido por dez anos e que havia vencido? Mas e ele até que a morte os separe, que disse o sacerdote?

— Santi, eu entendo que você vem cansado da viagem, talvez esteja esgotado. Melhor descansa e amanhã quando estiver mais calmo. Falamos, sim? — disse Genoveva, dando-lhe as costas para ir para seu quarto

— Quero que nos divorciemos — disse Santiago caminhando até a mesa e colocando sua pasta para tirar um documento, ao mesmo tempo em que tirava sua caneta do bolso da camisa

Genoveva continuava de costas para ele. Mas ela imaginava claramente o que seu marido estava fazendo, sentiu-o caminhar até a mesa, ouviu sua pasta se abrir, também o som de alguns documentos sendo colocados sobre a mesa e aquele som inconfundível do botão de sua caneta sendo pressionado para revelar a ponta.

Ela decidiu ignorá-lo e, sem se virar, caminhou rapidamente até o seu quarto e fechou a porta.

— MALDITA SEJA, GENOVEVA, VOLTE AQUI – gritou Santiago do andar de baixo, mas sem obter resposta, subiu rapidamente com os documentos em suas mãos.

Ele não quis bater na porta, porque o choro de oito crianças era a última coisa que precisava naquele momento. Por isso, pegou sua chave e abriu a porta.

Santiago se surpreendeu ao ver Genoveva desnudando-se. Ele não podia negar que amava aquelas curvas, então decidiu deixar os papéis na mesa e caminhar até ela.

Genoveva o estava ignorando. Mas ao sentir as mãos de seu marido acariciando suas costas, ela estremeceu e sua pele se arrepiou. Os cinco meses sem sexo pesaram contra ela, além disso, pensou que esta era uma chance de salvar seu casamento.

Santiago lhe deu um sorriso perverso e um olhar luxurioso, começou a se despir e se aproximou, beijou seus lábios, seu pescoço e continuou descendo até chegar aos seus seios caídos, mas grandes. Ele se deleitava com eles, os chupava, os mordia, os pressionava levemente com as mãos, enquanto entrava e saía dela de novo e de novo. Suas investidas eram fortes e precisas, arrancando gemidos dos lábios de sua esposa.

Genoveva tinha o coração despedaçado, ela estava ciente de que ele estava se despedindo dela e mostrava isso com sua atitude.

Santiago, embora a beijasse, fechava os olhos. Não a olhava no rosto, mas isso não importava para ela. Se o divórcio era um fato, ela passaria muito tempo sem sexo, então usar seu marido esta última vez, para acalmar seus desejos acumulados, não era tão ruim, embora a verdade a dilacerasse por dentro.

Eles fizeram sexo de muitas formas. Santiago nunca tinha sentido ela tão insaciável; ela estava completamente receptiva a tudo que ele quisesse experimentar.

Mas Genoveva cometeu um erro, enquanto Santiago grunhia e se soltava dentro dela, ela sussurrou em seu ouvido:

— Eu te amo, Santi — ela disse do fundo do coração, mas parecia que isso o ofendeu.

Ele se levantou, começou a se vestir e não hesitou em desiludi-la.

— Não se confunda, Genoveva, o fato de ter sido uma boa transa, não significa que isso mude minha decisão de me divorciar.

Genoveva apenas mostrou um sorriso amargo que não alcançou seus olhos.

— Uma transa que durou dez anos, Santiago, seja homem e apenas me diga a verdade, acho que mereço isso — disse ela, levantando-se da cama e colocando sua camisola.

— Está bem, eu não queria te machucar, mas você nunca entende nada facilmente, Camila voltou e eu quero estar com ela.

— Camila? Quem é Camila? Uma ex? Maldito, você fez com que eu desse à minha filha o nome da sua ex? — perguntou ela, levantando-se na frente dele.

— Ela também é minha filha, e Camila é o amor da minha vida. Ela voltou e quer que tentemos juntos novamente. Passamos esses dois meses juntos, e ao lado dela me sinto completo e feliz. Ela é uma mulher bonita, refinada e elegante.

Cada palavra de Santiago apunhalava o coração de Genoveva, ela sentia que começava a faltar o ar.

— Ela é, o que eu era antes de te conhecer. Mas, quer ter uma amante? Vá em frente, eu não vou me opor. Mas eu não vou me divorciar. Se quiser, vá ficar com ela.

— Não, entenda, Genoveva. Eu quero passar o resto da minha vida com ela. Camila está grávida, e meu filho não será um bastardo.

— Ah, e os meus serão? Lembro que temos oito filhos, oito pequenos que precisam do pai deles e que cada um deles foi fruto do seu grande desejo de ter uma família grande. Não é justo que agora meus pequenos cresçam sem você.

— Genoveva, meus filhos jamais serão bastardos, eles nasceram em um matrimônio, são meus filhos legítimos. É de você que quero me separar, não deles. Por Deus, tenha dignidade e assine o maldito papel — disse-lhe Santiago, com um olhar de desprezo, oferecendo-lhe a caneta.

Genoveva, naquele momento, entendeu que o tinha perdido e mordeu os lábios para evitar que as lágrimas caíssem. Ela estava destroçada por dentro, queria poder dizer na cara dele. Que ele a estava destruindo. Que ele estava acabando com ela, mas de que adiantaria? Ele amava outra pessoa, e ela tinha sido apenas uma substituta. A dona do coração dele voltou e Santiago a descartava como se fosse um móvel velho. Mas Genoveva lembrou de algo, oh meu Deus, mas que idiota ela era, como pôde esquecer?

Ela pegou a caneta e soltou uma gargalhada sonora do fundo do coração.

— Ha, ha, ha, ha, ha, ha. Por que eu não tenho dignidade? Por querer te manter ao meu lado? Mas você tem? Você que está abandonando seu lar por uma mulher que te abandonou no altar há onze anos. Ha, ha, ha, que tola sou. Como pude esquecer? Quando fui eu quem te salvou do abismo, fui eu quem te reconstruiu peça por peça, quando ela te abandonou. Mas agora, como a mulher se cansou de transar pelo mundo e voltou procurando pelo idiota de quem zombou há muitos anos, eu devo simplesmente me afastar. Ok.

— Não fale assim dela, você não sabe por tudo o que ela passou.

— Não e não me interessa saber — expressou Genoveva, contendo a tempestade que tinha dentro de si.

Santiago tinha seu olhar fixo nela, ao que parece suas palavras o feriram. Mas nada o deteria, mas o que mais o irritava era que a expressão de Genoveva tinha mudado, ela tinha um sorriso perverso no rosto e de vez em quando olhava para ele com pena, como se olha para um porco a caminho do abate.

— Espero que não se arrependa, Santiago. Porque no momento em que você cruzar aquela porta. Você estará morto para mim. — disse Genoveva enquanto assinava o divórcio, ela não leu nada, já nada mais lhe interessava.

— Virei visitar meus filhos. Não se preocupe, porque a eles não faltará nada — disse ele tentando olhá-la nos olhos. Mas ela lhe deu as costas.

Santiago já não tinha muito o que recolher. Ele tinha se preparado para este momento, antes da viagem, e tinha ido levando suas coisas aos poucos. Portanto, apenas abriu a porta, deu uma última olhada nas costas de sua esposa e foi embora.

Genoveva, quando ouviu a porta se fechar, sentou-se no sofá, levou as mãos ao rosto e soltou o choro que havia contido.

Por sua parte, Santiago chegou ao carro e o ligou, mas sentia-se estranho, sentia um vazio no coração, realmente havia se divorciado de Genoveva?