Luísa estava determinada a escapar daquela gaiola de responsabilidades que seus pais haviam construído em torno dela. Com seus 15 anos recém-completos, sentia a ânsia de liberdade como nunca antes. No silêncio da noite, enquanto todos dormiam, ela deslizou pela janela do seu quarto e desceu com cuidado, sem fazer barulho. O frio da madrugada a arrepiou enquanto ela seguia em direção à festa secreta que seus amigos haviam organizado.
A festa estava em pleno vapor quando Luísa chegou. Música alta, luzes piscando e risos preenchiam o ar. A adrenalina corria por suas veias, e ela se entregou à noite como se fosse a última. Dançou, riu, consumiu bebida alcoólica e finalmente sentiu-se viva.
Horas passaram rápido, e a festa terminou mais tarde do que Luísa imaginava. Ela estava exausta, mas seus amigos, todos mais velhos, insistiram em que a levariam para casa. Luísa, sem pensar nas consequências, aceitou a carona.
O amigo de Luísa, Marcos, com quem ela pegou carona, estava longe de estar sóbrio. Com um sorriso bêbado, ele ligou o carro e saiu acelerando pelas ruas escuras da cidade. As luzes da cidade pareciam manchas de tinta em seu campo de visão embaçado.
Mal tiveram tempo de perceber as luzes piscando da blitz policial que se erguia à frente. O coração de Luísa acelerou, e ela sabia que estava em apuros. A polícia os parou, e o cheiro de álcool no carro era inconfundível.
O policial pediu documentos e percebeu que Marcos não possuía habilitação. A situação ficou cada vez mais tensa enquanto a realidade se abatia sobre Luísa.
Enquanto isso, os pais de Luísa, Henrico e Isabel, estavam em casa, ansiosos, pois notaram sua ausência. O celular de Luísa estava desligado, o que só alimentava seus piores medos. Quando finalmente receberam a ligação da delegacia, a raiva e a preocupação se misturaram em uma tempestade de emoções.
Henrico e Isabel chegaram à delegacia com corações pesados e emoções à flor da pele. Isabel, a mãe de Luísa, estava com os olhos vermelhos de raiva e preocupação. Seu coração doía por sua filha, que parecia ter se transformado de uma doce menina em uma adolescente problemática.
Isabel não conseguia acreditar como Luísa havia mudado nos últimos meses. Lembrou-se das noites em que costumavam ler juntas antes de dormir, dos abraços apertados e dos segredos compartilhados. Agora, parecia que uma parede invisível havia surgido entre elas.
Enquanto eles entravam na delegacia, Henrico tentava acalmar Isabel, segurando sua mão com firmeza. Ele também estava furioso e preocupado, mas entendia que aquele não era o momento para confrontos. Eles precisavam ajudar Luísa e trazê-la de volta para casa.
Ao chegar à sala de interrogatório, viram Luísa sentada, com uma expressão abatida no rosto. Ela parecia pequena e vulnerável, longe da adolescente rebelde que havia desafiado todas as regras naquela noite.
Isabel olhou para sua filha e soltou um suspiro profundo. As palavras estavam entaladas em sua garganta, mas ela sabia que agora não era o momento de repreender Luísa. Primeiro, eles precisavam lidar com a situação.
Henrico se aproximou de Luísa e colocou a mão no ombro dela, oferecendo-lhe um olhar de apoio.
Henrico - Estamos aqui para ajudar você, Luísa. Vamos resolver isso juntos.
Luísa olhou nos olhos de seus pais e, por um momento, pareceu que uma faísca de arrependimento atravessou sua expressão. Ela não conseguia encarar a desaprovação em seus olhos, mas, ao mesmo tempo, ansiava pelo conforto e apoio que só seus pais poderiam oferecer.
Isabel sentou-se ao lado de Luísa, e, em silêncio, pegou a mão dela. Não precisava de palavras para expressar seu amor e preocupação. Aquele momento difícil seria o início de uma jornada para entender e reconstruir o relacionamento com sua filha rebelde.
Na delegacia, a família enfrentaria um desafio que os forçaria a encarar a verdade sobre o que estava acontecendo com Luísa e a encontrar uma maneira de curar as feridas que a adolescência havia aberto. Eles estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para trazê-la de volta ao lar, onde ela pertencia.
Eles saíram da delegacia sem muitos problemas. Luísa não estava ao volante, apesar de estar alcoolizada, aquilo não configurava nenhum crime que a fizesse passar a noite na delegacia. Mas aquilo não diminuía a raiva e vergonha que sua mãe estava sentindo.
Isabel - Eu não credito que você nos fez passar essa vergonha Luísa. Você sabe que é aquele policial que parou vocês?
Luísa não respondeu, além de bebada, estava quase dormindo no banco de trás do carro.
Henrico - Agora não é hora Isabel, não vai adiantar muita coisa conversarmos com ela agora.
Isabel - É por sua paciência e calma demais, que ela está desse jeito.
Luísa - Pai, para o carro por favor , eu vou vomitar …
Henrico encostou o carro e Luísa abriu a porta de trás, colocando tudo que havia no estômago para fora. Isabel saiu do carro pra segurar o cabelo da filha. Mesmo com raiva, ela jamais a deixaria sozinha naquele momento. Eles seguiram para casa em silêncio.
E assim, naquela noite, a vida de Luísa mudou drasticamente. Sua fuga de casa a levou a uma série de eventos inesperados que a forçaram a encarar as consequências de suas ações, enquanto seus pais corriam para resgatá-la do precipício de suas próprias escolhas imprudentes.
Luísa Mendes, adolescente de quinze anos, filha única vinda de uma família muito conhecida no Rio de Janeiro. Seus pais Henrico e Isabel Mendes, comandavam juntos os negócios herdados de suas famílias. Henrico era o irmão mais velho de quatro irmãs, o primogênito. Quando os pais se aposentaram, ele assumiu o comando de uma rede farmacêutica criada por sua família. Já Isabel, filha única, assumiu o comando da clínica médica fundada por seu pai. Os pais de Isabel acabaram falecendo muito jovens, e a filha precisou assumir o comando de tudo quando ainda era uma médica residente.
Aquela responsabilidade toda, acabou deixando Isabel um pouco endurecida. Ela era um mulher prática, e rígida.
Ela e e Henrico se conheceram em um congresso voltado para a área de saúde, onde se apaixonaram a primeira vista. Incrivelmente, as famílias já faziam negócios juntas, e aquilo facilitou para que o casamento fosse aprovado. Juntos, os dois fizeram um verdadeiro império. Acumulando uma fortuna ainda maior, do que sempre tiveram.
Eles moravam na antiga mansão dos pais de Isabel, no luxuoso bairro da Gávea. Assim que casaram, eles reformaram todo o lugar, deixando com um ar mais sofisticado, mas sem perder a essência.
Após três anos de casados, eles resolveram engravidar e tiveram Luísa, única filha do casal. Isabel teve uma gestação complicada, e quase morreu durante o parto. Por causa de uma hemorragia muito forte, ela precisou retirar o útero, o que a deixou por longos anos um pouco depressiva. Ela sonhava em ter uma casa cheia de crianças, diferente da casa onde ela cresceu.
Aquilo também influenciou sua ligação com Luísa. Por ter tido uma depressão pós parto, Luísa acabou ficando mais ligada ao pai, que cuidou da filha e da esposa com todo carinho e cuidado, pausando até o trabalho para dar total atenção as duas.
Mas, mesmo com todos os problemas, Luísa teve uma infância linda e doce. Isabel sempre se esforçava para criar momentos com a filha e o marido, e Luísa ia muito bem até completar quatorze anos e entra na fase difícil da adolescência.
Eles tentaram de tudo, terapia com psicólogos, consultas com psiquiatra, muita conversa e dedicação. Luísa tinha tudo em suas mãos, um cartão de crédito ilimitado. Fazia viagens de avião particular, comprava bolsas, calçados, roupas e celulares de última geração. Estudava no melhor e mais caro colégio do estado, e mesmo assim nada parecia ser suficiente para a garota.
O último ano tinha sido um desafio para seus pais, ela estava indo mal mal na escola e corria o risco de ser reprovada. E a última irresponsabilidade dela, tinha custado aos pais muito dinheiro, já que todos conheciam a garota Mendes. Ela havia sido fotografada sendo levada para a delegacia, e aquilo poderia custar muitos transtornos nos negócios da família. Os advogados precisaram fazer vários acordos e pagar caro pelas fotos nas mãos dos jornalistas. Isabel estava possessa.
Isabel - Precisamos dar um jeito nessa garota, Henrico!
Henrico - Calma amor, por favor!
Isabel - Calma? Ela poderia ter morrido! A Luísa está totalmente fora de controle, precisamos mostrar que tudo nessa vida, tem consequências.
Henrico - E o que você sugere? Uma surra?
Isabel - É claro que não, nós jamais batemos na Luísa, não vai ser agora que vamos começar. Mas eu já sei o que vamos fazer.
Isabel e Henrico conversam no escritório da mansão, enquanto Luísa acorda em seu quarto, sem saber bem onde estava. Ela abre os olhos e vê tudo girar.
Luísa - Que porra eu fui fazer ...
Ao seu lado, a governanta da casa, Zezé como era conhecida, trabalhava na casa desde que Isabel era criança. Ela havia cuidado de Luísa desde o seu nascimento.
Zezé - Beba isso minha menina, é bom para ressaca.
Luísa pega o copo e faz cara de nojo, a bebida era grossa e verde. Zezé percebe.
Zezé - Anda logo, bebe de uma vez. E da próxima vez vê se toma juízo. Que loucura foi essa de fugir de casa e ficar bêbada? Você podia ter morrido Lú!
Luísa - Você também Zezé?
Zezé - Qual o seu objetivo? Está querendo chamar atenção dos seus pais? Você nunca precisou disso, seus pais sempre foram muito presentes.
Luísa - Meus pais são uns chatos, isso sim. Não me deixam fazer nada, principalmente a minha mãe.
Naquele momento Henrico e Isabel entram no quarto. Eles acabam ouvindo parte do que Luísa falou, Isabel parece estar bem triste.
Isabel - Zezé você pode nos dar licença por favor?
Zezé sai do quarto, deixando os três a sós. Pela expressão nos rostos de seus pais, Luísa sabe que está muito encrencada.
Luísa - Mãe, eu ...
Isabel - Agora não Luísa, só escuta.
Luísa - Mas mãe, eu ...
Henrico - Luísa! Escute a sua mãe!
Luísa se assusta, Henrico não costumava alterar o tom de voz daquele jeito. Além de irritado, ele aparentava estar muito decepcionado com a filha.
Isabel - Sua brincadeirinha nos custou muito, e não estou falando só de dinheiro. Você não imagina a preocupação que eu e seu pai ficamos, quase enlouquecemos ao receber aquela ligação. Nós sempre te demos liberdade, você sempre teve tudo que quis, até o que não precisava. Talvez esse tenha sido o nosso maior erro.
Henrico - A partir de agora, você vai de casa para a escola. Todas as suas atividades extra curriculares estão suspensas. Você fará aulas de reforço em casa no turno da tarde, para recuperar suas notas e conseguir ser aprovada.
Isabel - O motorista estará te esperando na saída da escola, sem carona para as amigas, sem computador, sem celular.
Luísa - Sem celular? Impossível ...
Isabel - Impossível? Impossível esta conviver com você desse jeito minha filha. Acredite, estamos fazendo isso para o seu bem. Me corta o coração ter que chegar a isso, mas você não está colaborando conosco.
Luísa - Ate quando?
Henrico - Até você nos provar, que podemos confiar em você novamente.
Henrico e Isabel saem do quarto sem dizer mais nada. Eles estavam decepcionados e muito tristes em ter que lidar daquela maneira com Luísa.
Luísa passou o restante do dia em seu quarto. A ressaca física e moral, não permitiram que ela saísse dali durante aquele dia. No dia seguinte, uma segunda-feira, ela cortou com Zezé puxando o cobertor, ela precisava ir para a escola.
Zezé- Anda logo, seus pais já estão te esperandonoara o café da manhã.
Luisa levantou a contragosto, tomou banho, escovou os dentes e vestiu o fardamento da escola. Pegou a mochila e desceu de óculos escuros, como se estivesse indo para a praia. Antes que ela pudesse se sentar, sua mãe a olhou com reprovação. Henrico percebeu.
Henrico - Bom dia filha, tire os óculos por favor e sente- se.
Luísa notou a entonação da fala do pai, não retrucou, apensas fez o que ele havia pedido. O café da manhã desceu meio amargo para todos. Assim que terminou Isabel levantou sem dizer uma palavra, ela ainda estava muito chateado com as atitudes recentes de Luísa. Henrico se despediu da filha e eles saíram parado trabalho, cada um em seu carro. Luísa terminou de tomar o café e foi até a frente da casa, onde seu motorista a aguardava.
Eles seguiam para a escola quando no meio do caminho , Luísa decidiu mudar a rota.
Luísa - Muniz, vire na próxima esquerda por favor, preciso passar em um lugar antes.
O Marista não respondeu, e Luísa o viu seguir direto sem entrar onde ela queria.
Luísa - Muniz, está surdo? Você não me ouviu?
Muniz - Desculpe senhorita, mas seus pais mandaram que eu te levasse direto para escola.
Luísa sabia que não adiantava retrucar, Muniz não desobedeceria seus pais.
Ao chegar na escola, ela desceu do carro e entrou. Muniz seguiu com o carro, e ela o observou se afastar . Aproveitando que as catracas de acesso ainda não tinham sido travadas, ela foi em direção a saída. Colocou seu dedo indicador para liberar sua saída, e viu quando a luz ficou vermelha.
Luísa - Eu, essa catraca está quebrada?
O responsável pelo acesso dos alunos foi até ela.
Funcionário - Não senhorita, sua saída é que está bloqueada.
Luísa - Como assim?
A vice diretora que vinha chegando encontrou Luísa destratando o funcuonario, ela queria sair de qualquer jeito.
Vice- diretora - Luísa, tenha modos. É assim que você fala com nossos colaboradores?
Luísa - Eu preciso sair, tenho médico. Só vim deixar um trabalho na mão de uma colega.
Vice-diretora - Venha comigo Luísa, precisamos conversar.
Luísa acompanha a mulher até sua sala. Lá ela lhe explica que seus pais estiveram mais cedo na escola e bloquearam a saída dela sem autorização prévia. Sua saída só seria permitida após o final da aula, ou se um dos dois autorizasse por ligação.
Luísa ficou revoltada, seus pais a estavam tratando como uma prisioneira.
Vice-diretora - Agora vá para a sala, e preste atenção nas aulas. Estamos na última semana de aulas, na próxima já começam as provas e você tem muito que recuperar.
Ela saiu da sala soltando fogo pelos olhos. Aquilo não ia fuçar assim. Em sua cabeça seus pais estavam totalmente errados, eles não tinha aquele direito, e ela ia dar um jeito de se livrar daquel castigo .
No final da aula, depois de dormir praticamente durante toda a manhã, Luísa saiu da escola e se deparou com Muniz a esperando, de pé bem em frente as catracas de acesso.
Luísa - Além de motorista você virou meu cão de guarda agora, Muniz?
Ele não respondeu, apensas a conduziu ativo carro. Aquilo a revoltou ainda mais.
Já em casa, Luísa subiu direto para o quarto. Zezé levou seu almoço, que ela mal tocou. As 14:00h, ela ouviu a campainha da casa tocar, minutos depois Zezé foi até o seu encontro e pediu que ela fosse até a biblioteca da casa, onde sua tutora a esperava.
Luísa - Então essa palhaçada era verdade?
Zezé - Filha, vá e não reclame. Seus pais sonquetem o seu bem.
Luísa passou o restante da tarde com a tutora, que tentava lhe ensinar a matéria, mas sem sucesso.
Tutora - Nos vemos amanhã Luísa!
A garota se quer olhou para a professora que se esforçava para fazer seu trabalho bem feito.
Já em seu quarto, Luísa se jogou na cama e colocou os fones no ouvido. Tudo o que ela queria era que aquele dia acabasse. Mas, seu pesadelo parecia não ter fim.
Zezé - Luísa, seus pais estão te esperando para jantar.
Luísa - Não estou com fome …
Antes que aluída terminasse de falar, seu pai entrou porta a dentro.
Henrico - Vamos, desça e jante conosco.
Luísa - Até isso vocês querem me obrigar agora? É o que, uma prisão? Se eu soubesse tinha ficado na delegacia, lá eu seria melhor tratada.
Henrico respira fundo.
Henrico - Você deveria repensar as suas falas. Tem certeza que queria mesmo ficar lá? Naquele lugar imundo?
Luísa sente a tristeza na voz do pai. Ele nunca tinha falado com ela daquele jeito.
Henrico - Anda, venha jantar conosco.
Ele sai, e Luísa o acompanha. O clima dominaram, assim como no café da manhã estava péssimo.
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