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La Mendonça

A Gata Borralheira

Katherine

Acordei e mais uma vez cansada, até parece que eu não dormi nada noite passada. Mais sei o que é isso, hoje é meu aniversário. Todo o ano fico assim, ansiosa.

Olho para a cama de mamãe e reparo que ela não está deitada lá, e é muito cedo, ela nunca vai trabalhar sem mim…

Onde está você mamãe, é um dia tão importante para mim. Observo a porta do barracão abrir e mamãe entrar com um balde de água ela olha para mim e vê que já estou acordada e vem abraçar-me

- Minha filha, feliz mais um ano de vida meu amor. Cê sabe que eu gostaria muito de fazer um festão para você mais não temos condições.

- Mãe, não se preocupe tá tudo bem. Eu amo—te!

— Ó minha filha, eu trouxe água vá se banhar, agora que está uma moça feita tem que andar cheirosa. Quando terminar vamos à igreja pedir a benção do Padre Luiz.

- Tudo bem mãezinha

banho-me e visto um dos meus farrapos que chamo vestido. Mamãe espera-me do lado de fora. Termino de pentear o meu longo cabelo e vou-me encontrar com ela do lado de fora.

Mamãe e eu caminharmos até a igreja como fazemos todos os anos no meu aniversário. Logo chegamos a frente da igreja e adentramos a procura do Padre. A missa começa às nove ainda são sete.

Assim que entramos na igreja vemos o padre Luiz que também nos ver imediatamente e vem ao nosso encontro.

- Katherine - diz com entusiasmo -- Hoje é seu dia minha filha, que Deus te abençoe — diz o padre e me dá um abraço.

Bom dia padre, muito obrigada, eu vim me confessar.

O padre me olha por um momento então assente.

Passo alguns minutos me confessando logo depois o padre pede para que fiquemos para a missa.

Olho para mamãe que não parece muito bem mais se eu perguntar ela sempre vai dizer que "esta ótima graças ao bom Deus"

O padre olha em direção as portas da igreja e ver um senhor que parece aflito e vai até ele. Eu escuto a conversa deles por um momento.

- Senhor José -- diz o padre para o senhor que entrou na igreja

- Padre, eu estou tão triste, hoje minha filha desaparecida faz 16 anos e eu não a encontrei.

Fico assustada afinal essa é justamente a minha idade. Mais não faz sentido e logo descartei a ideia de ser filha desse homem, aliás mamãe disse que meu pai morreu pouco tempo depois que eu nasci. Olho para mamãe que está branca como um papel fico bastante preocupada.

- Mamãe, está pálida, o que está acontecendo?

- Não é nada filha vamos embora.

- Mais mamãe o padre pediu para ficarmos

- obedeça menina, não seja teimosa - diz mamãe muito nervosa

Quando estamos a ir passo pelo senhor que estava a falar com o padre e ele para e me olha. Mamãe puxa-me quando percebe.

Já do lado de fora, pergunto qual é o problema com mamãe, por que do nada ela ficou tão nervosa. Ela claro não me respondeu. Poucos passos depois Mamãe desmaia absolutamente do nada e eu entro em desespero.

- Mãe o que houve? - pergunto nervosa segurando sua cabeça em meu colo - Mãe acorda por favor - sinto lágrimas descendo e começo a gritar por socorro desesperada. Quando vejo o padre vindo em minha direção. Ele para ao meu lado e pega mamãe junto ao jardineiro da igreja levando-a para dentro.

Estou desesperada, o que é que mamãe tem? não posso perde-la...

Inesperado

José Augusto Mendonça

Entro na igreja com uma angústia terrível no peito. Todo ano é assim, no aniversário dela a minha filha. Hoje ela completa 16 anos. Faz exatamente 16 anos que estou a sua procura, 16 anos que Katherine foi abandonada pela própria mãe. Odeio-me por ter-me casado com essa inútil.

O padre estava a conversar com uma senhora e uma moça muito bonita e quando me ver vem na minha direção.

— José, quanto tempo. Está tudo bem? — pergunta o padre preocupado. Ele sabe tudo que passo todos os anos.

— Sabe que não padre, a minha filha continua desaparecida e hoje completa 16 anos. Mais um ano longe da sua família.

Vejo por um reflexo que a senhora está muito nervosa e obriga a sua filha a sair da igreja. Quando passam por mim, vejo por um instante a semelhança da menina. "Estou a ficar louco ou ela parece com a..." - não pode ser (penso).

Alguns minutos depois

....

Escutamos um grito desesperado pedindo por socorro o padre imediatamente corre para fora e eu fico a esperar. Pouco tempo depois o padre aparece com a senhora visivelmente desmaiada apoiada nos seus braços e no do jardineiro e a menina chorando.

Essa menina... Por que não saí da minha cabeça? Por que me sinto desse jeito?

Acordo dos meus devaneio e pergunto:

— Padre precisa de ajuda?

— Venha conosco e veremos senhor José.

Sigo o padre até uma salinha reservada, observando tudo. Enquanto ele coloca aquela senhora no sofá e ela parece tornar a si.

- Dona Irene o que houve? - pergunta o padre

- Mãe, você está bem? O que está sentido? - pergunta a menina que ainda não sei o nome

- Eu... - A senhora olha pra mim e entra em Pânico

— Tá tudo bem? você conhece-me? — pergunto

Ela parece pensar no que vai dizer e então diz:

— Preciso ficar a sós com esse senhor e a minha filha padre. O senhor permite? — ela pergunta e deixa-me intrigado

— Sim, mais você está se sentindo bem? — pergunta o padre e ela balança a cabeça em sinal positivo.

Não entendo, eu se quer conheço essa senhora.

O padre sai da sala e nos deixa a sos.

Ouço a respiração da senhora ficar mais calma e ela fala a olhar nos meus olhos.

— Vou ser direta com o senhor se me permitir claro — Dona Irene fala num tom calmo e eu balanço a cabeça induzindo-a a continuar.

— Mamãe o que está havendo? - quando ouço a sua voz fico arrepiado

— Calma querida, já vai saber seja paciente — diz — Senhor…

— José — digo

— Senhor José, ouvi o senhor dizer ao padre que a sua filha faz aniversário hoje e também que foi abandonada né isso?

— Sim, eu estou a procura dela a 16 anos. Foi a própria mãe que a abandonou

— Como ela se chamava? Digo a sua filha?

— Katherine - digo calmante com um nó na garganta

A menina ao ouvir esse nome arregala os olhos e eu fico com medo de eles pularem fora. A dona Irene calma diz:

— Senhor, essa menina que eu chamo de filha, foi abandonada quando ainda era um bebê no lixão onde eu trabalhava. Quando a achei ela tinha uma pulseira com um nome escrito.

Fico tonto não acredito, será que essa menina é a minha filha? Será que a encontrei?

- O que ? Mãe? Do que está falando eu sou sua filha - diz a garota que está confusa. Seus olhos cheios de lágrimas.

- Qual era o nome que estava nessa pulseira senhora?

- Katherine - ela diz cansada e muito triste

Assustado eu olho para a menina e pergunto:

- Quando é o seu aniversário?

- Hoje - Ela diz e eu sinto-me muito tonto. Finalmente encontrei

Minha vida toda foi uma mentira?

Katherine

Confesso que hoje foi o aniversário mais conturbado que eu já tive. A minha mãe desmaiou e depois parece que ficou louca. Dizendo para o velho ricaço que eu fui abandonada?

Não consigo acreditar nisso.

O velho parece parar no tempo, eu olho-o e ele está bastante pálido isso preocupa-me. Eu preciso tirar essa história a limpo, não é possível que ele seja meu pai e também não é possível que eu tenha sido abandonada.

— Mãe, por que está a dizer isso? Eu sou sua filha e o meu pai está morto não é? — pergunto com esperança de ela dizer que inventou tudo e que está a pregar uma peça em mim.

— Filha, eu não sei se você realmente é filha desse moço, por isso terá que fazer um exame de ‘DNA’ e só assim saberemos se você é ou não filha dele. — perdoe-me se menti durante toda a sua vida, só queria-te proteger você foi abandonada então eu criei-te.

Os meus olhos enchem de lágrimas mais não permito que caiam. Não tenho raiva de mamãe, mais ela se tornou uma desconhecida para mim. Por que mentir? Ela poderia ter-me falado a verdade.

— Por que não me contou isso mãe? Por que mentir. — pergunto e olho para o velho — e o senhor? Ainda é casado com a mulher que me abandonou? Se é que sou mesmo a sua filha.

Ele acorda-se dos devaneios e olha-me

— Não querida não sou, e eu lhe contarei tudo que quiser saber mais preciso que venha comigo, fazer esse exame. Não tenho dúvida que eis a minha filha mais quero garantir que tenho direito sobre você.

— O quê? Não sou um objeto e não vou abandonar a mulher que me criou, por mais que tenha mentido para mim.

— Não, não pense isso, não quero que abandone ela. Só quero ter certeza que é a minha filha para eu poder dar a você tudo o que perdeu todos esses anos.

Mudar de vida? Isso seria ótimo, mais não vou abandona-la.

Suspiro e aceito ir com ele fazer esse exame.

— Tudo bem eu vou, mais mamãe irá comigo.

— Justo, vamos para o meu carro.

Andamos até o carro do velho, era um carro lindo preto e tinha um homem que abriu a porta para nós e entramos no carro. O velho foi na frente com o rapaz de cabelos loiros e olhos azuis eu e mamãe fomos atrás.

Chegando ao hospital, enfiaram-me agulhas e coletaram muito sangue eu já estava até tonta. O velho olhou-me e disse:

- Vai ficar tudo bem, e logo saberemos o resultado.

Concordo com a cabeça e espero com ele. Estou com fome nem sequer tomei café, a minha barriga ronca e o velho percebe ele saiu sem dar satisfação. Pouco tempo depois ele volta com comida oferecendo a mim e a mamãe que come tudo sem reclamar.

Esperamos cerca de meia hora até o doutor aparecer com o resultado, eu comecei a ficar ansiosa.

Doutor

— Aqui está o resultado do exame, venham até a minha sala para ficarem mais confortável.

Andamos até a sala do doutor e ele saí a fechar a porta. Eu mamãe e o velho estamos tão ansiosos que ficamos um tempo decidindo quem deveria abrir o envelope.

— Cara eu vou abrir — digo por fim

— Você sabe ler? — o velho perguntar intrigado e eu fuzilo-o com o olhar — desculpe—me é que pelo que a sua mãe contou vocês são bem pobres né? Não sabia que estudava

- Ela não estuda, não tenho condições de pagar colégio para ela, mais antes de virar catadora eu era professora e ensinei tudo que aprendi a ela - diz mamãe e eu olho-a orgulhosa

Abro o envelope e só uma coisa de todas aquelas letras me chamam atenção.

O nome 'POSITIVO'. Fico muda, minha visão escurece...

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