°Isabella Rangel° 20 Anos.
...°°°°°°°°°°...
...Rio grande do Sul Brasil ....
_ Ande logo, sua imprestável!
Gritou Fernanda.
Hff! Mais um dia como qualquer outro... Na minha vida... Nunca muda!
Ainda sonho com o dia em que deixarei essa casa, poderei viajar, e conhecer lugares, ver paisagens, os pássaros... As flores... Até às flores. Hmmmf! Não somente sentir o perfume delas, mas poder enxergar a sua beleza...
Fernanda: Anda logo garota! Pega essa porcaria de cesto e vai vender essas malditas flores. Ou já sabe nada de jantar pra você!
Gritou a minha madrasta, enquanto apertava forte o meu braço, me fazendo levantar da cadeira.
_ Me dá só mais uns minutinhos, ainda não tomei o meu café... Estou com fome.
Digo, ao ter sido puxada, e posta em pé abruptamente.
Fernanda: Problema seu! Quem mandou ficar aí sonhando acordada...
Roberto: Deixe ela comer. Não fará diferença alguma se ela chegar alguns minutos atrasada.
Disse o meu pai, ao entrar na cozinha.
Fernanda: É por isso que ela age assim comigo. Você a mima.
Disse ela, num tom de voz em reprovação.
Eu sou mimada? Logo eu... Hff! Penso e suspiro baixo ao ouvi-la dizer.
Kevin: Tudo bem mãe, quando ela terminar, eu a levo de moto, para o restaurante.
Disse ele, meu... Irmão? O filho mais velho de Fernanda. Que estranho, parece que hoje todos resolveram agir diferente do que nos últimos oito anos. Penso.
_ Não precisa, eu gosto de ir caminhando... Ouvindo o canto dos pássaros, sentindo a brisa no meu rosto, além disso, o Zeca deve está me esperando...
Falo, pegando o cesto de flores de cima da mesa.
Fernanda: Pensei que estava com fome? E, falando nesse muleque, não traga aqui novamente. Minha casa não é um abrigo para muleques de rua!
Disse ela, em um tom de voz irritada.
_ Tudo bem, não vou trazê-lo....
Digo, e tento sair o mais rápido dessa casa. Tudo que não quero é ser levada por Kevin. Só em ouvir a voz dele, já me causa um arrepio estranho na pele.
Fernanda: Que seja! Se não vender essas malditas flores, já sabe!
Disse ela, rudemente.
_ Eu vou vende-las...
Falo, e saio da cozinha apressadamente.
É claro que eu sei o que me espera, se não vender essas flores. Como ela mesma faz questão toda vez de me lembrar. Me deixará sem o que comer. Nem mesmo poderei dormir, ela molha o meu colchão, sou obrigada a passar a noite toda com frio e fome e trancada no sótão, onde é o meu quarto. Hunff! Como gostaria de não voltar mais para esse maldito inferno!
Saio pela porta, ou melhor dizer do inferno! Que é essa casa. Queria tanto que estivesse viva, mãe! Ainda me lembro do seu rosto, com.o era linda e tão carinhosa comigo. Eu te amo mãe, e sinto muito a sua falta!
Penso, enquanto as lágrimas molham a minha face. E, me recordo daquele acidente, o maldito dia em que tudo mudou na minha vida.
Dias depois que minha mãe morreu fui entregue aos cuidados do meu pai. E, o cuidado dele? É o que nunca tive.
.............
...Há 8 Anos....
Após a morte da minha mãe, vim morar com o meu pai e com a minha madrasta, eles já tinham o meu meio-irmão mais novo Rafael que na época estava com 1 ano e meio, já o filho mais velho de Fernanda, Kevin estava com 14 anos.
A princípio ela foi carinhosa comigo até que...
Meu pai é caminhoneiro, e sempre fica muitos dias fora de casa, já havia uma semana que ele não retornava.
_ Eu quero a minha mãe! Eu quero a minha mãe...
Gritei chorando, após ter tido um pesadelo.
Fernanda: Cala boca garota! A sua querida mamãe, morreu! Morreu já tem dois meses...
Gritou a mulher do meu pai, enquanto me arrastava escada acima, me levando em direção ao sótão..
Que inferno! Maldita hora que ela foi morrer... Acabou deixando esse fardo pra mim!
Gritou ela, e me empurrou para dentro desse cômodo pequeno e escuro. Em seguida trancou a porta.
_ Eu não quero ficar aqui! Me deixa sair!
Gritei enquanto batia com desespero na porta. Logo ela a destrancou. Respirei aliviada ao vê-la aberta novamente, pensei que me deixaria sair. Mas tudo que fez, foi me dá um tapa, que acertou bem no meu rosto.
Fernanda: Já disse para calar a merda da boca! Sua criança insuportável! Vai acabar acordando o meu filho... E, se fizer isso, não vou só te dar um tapa, vou costurar sua maldita boca!
Falou enquanto me encarava com ódio e raiva. Me senti confusa e com medo. Eu era só menina de doze anos, que havia acabado de perder a mãe, porque ela estava fazendo aquilo comigo?
Em seguida ela saiu e trancou a porta.
Fui em direção a um colchão velho, que estava jogado, ao chão sujo do sótão, olhei em volta e só vi apenas uma pequena janela, que estava coberta de teias de aranha, podia jurar que vi algo se mexer rapidamente indo de encontro, a algumas tralhas velhas. Fecho os meus olhos, abraço os meus joelhos, e chorei durante toda a noite... E, naquele momento desejei ter morrido com a minha mãe.
..........
Vamos lá Isabella! O quê adianta chorar?! Já são oito anos... Oito malditos longos anos! Hunff...
Respiro fundo, e sigo caminhando rumo ao restaurante. Poucos minutos, ouço uma voz, que aquece o meu coração.
Zeca: Nossa demorou hoje... Pensei que já tinha me esquecido, ou se cansou de mim...
Disse ele, e logo pega o cesto de flores da minha mão.
_ Até parece! Como eu me cansaria de ter a sua companhia? Hum!… Olhe dentro cesto, eu trouxe uma coisa...
Zeca: Um sanduíche... É pra mim?
Pergunta ele, parecendo ter ficado animado.
_ O quê você acha? É claro que é para você... Seu bobinho.
Falo, e dou uma leve risada.
Zeca: Obrigado! Isa...
Disse ele, e abraçou as minhas pernas.
E logo voltamos a caminhar rumo ao restaurante.
Zeca é um menino em situação de rua, não se recorda nem mesmo quantos anos tem, mas pelo seu tamanho diria que uns sete a oito. Ele, sempre vem ao meu encontro, e me acompanha até o restaurante Felipo todos os dias. E, eu sempre escondo o que iria comer para trazer para ele.
...Um tempo depois......
Já em frente a porta de entrada do restaurante.
Zeca: Chegamos Isa...
Disse ele, e me entrega o cesto de flores, a pego de sua mão.
_ Obrigado Zeca... E, vê lá o que vai aprontar por aí.
Zeca: Eu não apronto...
Disse ele.
_ Aham! Vou fingir que acredito.
Digo e sorrio.
Zeca: Pode acreditar... Tchau Isa...
Disse ele se despedindo.
_ Tchau!.. Zequinha.
Me despeço dele, e tomo fôlego antes de entrar pela porta.
E novamente me sinto triste, pois soube que há alguns dias, o dono do restaurante faleceu, e ele era tão simpático. Me deu permissão para vender as flores lá dentro ao invés de ficar na porta. Que coisa! não... Há a minha volta são sempre as boas pessoas que morrem. Hmmmf
Kevin: Porquê não queria que eu te trouxesse hein?
Ouço a sua voz alterada. Enquanto sinto a sua mão agarrar o meu braço.
_ Não gosto de incomodar.
Eu preciso entrar agora... Ouviu bem o que a sua mãe falou. Se eu não vender as flores...
Falo tentando soltar o meu braço da sua mão.
Kevin: Porquê é tão marrentinha comigo? Não vê que posso facilitar a sua vida em casa?
Disse ele, e sinto encostar seu corpo ao meu.
_ Eu não faço nada! Me solta, eu tenho que entrar Kevin…
Digo, e puxo o meu braço com força, ele me solta abruptamente, me fazendo perder o equilíbrio, e logo sinto o meu corpo se chocar ao de outra pessoa. O cesto cai ao chão...
- Não olha por onde anda! Tá cega!
Ouço uma voz áspera falar rudemente próximo ao meu ouvido.
Tá cega? Foi o que ele disse... ?
...É, ele não está errado... Eu sou mesmo cega!...
Saimon Alencar 28 Anos.
Já tem uma semana que estou de volta ao Brasil. E, jamais pensei em retornar a esse país depois do que aconteceu. Mas, infelizmente o meu pai se foi, e, não poderia deixar de vir-me despedir, ele era um grande homem. Só não consigo entender, porquê de ser logo nessa casa, essa leitura do testamento... Hunff!
...Casa nas montanhas....
...Rio Grande Do Sul Brasil....
...11h Da Manhã....
Imaginem...
Não está sendo nada fácil, ter que estar no lugar em que há dois anos eu a perdi.
Cresci, vindo a essa casa, tive uma boa parte da minha infância aqui. Hoje estar nesse lugar só me causa dor e más recordações.
Penso, enquanto pela janela do meu antigo quarto, encaro o lago. E, de imediato lembranças daquele dia, tomam conta dos meus pensamentos. O momento em que vi o seu corpo já sem vida, flutuando sobre as águas do lago.
Esse maldito lago! Tirou a vida da minha mulher e do nosso bebê, que ela ainda gerava em seu ventre.
_ Porquê Keila? Porquê me deixou sozinho... Desistiu de tudo! De nós dois, da nossa família... Tínhamos tantos planos, sonhos, prometemos nos amarmos por toda vida... E, você me deixou. Ahh! ....
Exclamo alto, ao sentir as lágrimas caindo em gotas molhando a minha face, fecho a cortina, e saio do quarto, limpo as lágrimas do meu rosto. Desço a escada e sigo para o escritório, onde já me aguardam para a tal leitura do testamento do meu pai.
Ao adentrar, todos os olhares se voltam para mim.
Além dos advogados, também está presente minha mãe, sentada ao sofá, e o grande amigo, e parceiro de negócios do meu pai, Luciano Castelo, sentando em uma poltrona ao lado do sofá .
Núbia: Até que enfim! Meu filho, precisamos acabar com isso de uma vez!. Eu não aguento mais...
Disse ela, enquanto seca as lágrimas dos seus olhos com um lenço.
_ Já estou aqui. Podem começar...
Falo, enquanto me sento ao lado da minha mãe.
Logo ouvimos todas as cláusulas legais...
A casa principal, em gramado ele da a minha mãe. Assim como uma certa quantia em dinheiro. Bem considerável, que a manterá por um tempo.
Já a mim, me deu essa maldita casa, para fazer o que achar melhor. O que mais gostaria, era de secar aquele maldito lago...
E, também confiou a mim a nossa rede de restaurantes de culinária italiana, Felipo.
Mas logo ouvi um grande absurdo.
Que para mim poder assumir os negócios, terei que me casar dentro de um "Mês", do contrário tudo passará para as mãos de Luciano e será ele que administrará os negócios da nossa família.
_ Que Absurdo! Isso não pode estar certo! Meu pai jamais me pediria isso...
Exclamo alto, me sentindo irritado…
Núbia: Acredito, que eu tenha influenciado o seu pai.
Disse minha mãe, de uma forma tranquila. Como pode ter feito isso comigo? Ela sabia que depois de Keila, jurei não me casar novamente.
_ Você? Porquê? Sabe bem, ainda a tenho dentro de mim... Não consigo esquecer a Keila... Eu ainda a amo!
Digo, e franzo meu cenho, sentindo um forte aperto em meu peito, e as lágrimas se formando em meus olhos.
Núbia: Por isso mesmo! Saimon. Já não suporto mais te ver sofrendo por ela... A Keila se foi há dois anos. E, você não a deixou partir... Vive enterrado nas lembranças, em toda essa dor, isso só está-te matando... Está na hora de deixar a Keila ir de uma vez filho...
Disse ela, colocando as suas mãos no meu rosto.
_ Então, querem que eu me case? E, com quem seria... Já que preciso me casar em um mês. Devem ter arrumado a noiva.
Falo, retirando as mãos dela de mim. Me levanto, meus olhos vão de encontro a ele.
_ Luciano, não me diga que vai me ceder a mão de sua filha...
Pergunto com ironia.
Luciano: Bem acho aceitável... O seu pai, já havia mencionado sobre querer unir as nossas famílias. Para que o Felipo permaneça sempre sendo da família Alencar e Castelo...
Disse ele, enquanto se levanta e vem até a mim.
Núbia: Sabe que sempre foi dá minha vontade e a do seu pai, que se casasse com a Denise, ela é uma boa moça, culta, e muito inteligente, será uma boa esposa filho.
Disse ela vindo na minha direção.
Como pensava! Até mesmo a noiva já foi arranjada.
_ Eu não vou-me casar! Nem com ela e nem com nenhuma outra!
Digo, convicto..Os encaro friamente.
Núbia: Saimon! Pôr favor...
_ Já disse que Não!
Núbia: Quero falar a sós com o meu filho...
Luciano: É, claro... Vamos.
Disse ele, e acompanha os advogados para fora do escritório.
_ Não há nada que disser, que vai-me fazer mudar de ideia, e me casar com Denise Castelo.
Núbia: Saimon, eu sei exatamente o porque o seu pai, colocou essa condição no testamento. Foi para que você permanecesse no Brasil.
_ Não adiantou muito! Eu vou voltar para Itália na próxima semana.
Núbia: Filho... Não queria ter que dizer assim. Mas, eu estou doente. Então por favor! Que seja por mim...
Disse ela apressadamente, com os seus olhos fechados. Em seguida respira fundo.
_ Está doente?
Pergunto a encaro com surpresa a sua revelação.
Núbia: Os médicos ainda não sabem o que é... Hff! Estão pedindo exames e mais exames... Eu não vou aguentar passar por isso sozinha. Já perdi o seu pai, e agora não tenho você ao meu lado... Eu Não sei o que fazer, meu filho... Não sei!
Disse ela, em lágrimas com desespero. Jamais a vi nesse estado.
Levo as minhas mãos a cabeça, me sinto atordoado, faz apenas alguns dias que enterramos o meu pai e agora, minha mãe está doente? Vou perde-la também... Todos que eu amo. Morrem…
Núbia: Pôr favor! Filho... Não pode-me deixar nesse momento. Se não se casar, perderei tudo, além da minha saúde, que já nem a tenho mais...
Disse ela, em prantos.
_ Eu preciso de um tempo, pra pensar...
Falo, encarando os seus olhos tristes e molhados.
E, saio da sala, ando apressadamente, passando pelos advogados e Luciano, ignoro os seus chamados e vou em direção a porta da sala.
Tenho que sair desse lugar!
Penso já adentrando o meu carro, passando o cinto de segurança o travo, e dirijo sem rumo algum... Na minha cabeça, as imagens de Keila, da sua doce risada, se misturam com as súplicas da mãe. Me dizendo que está doente, e os seus pedidos para que me case, e permaneça nesse país. Sem me dar conta estaciono frente ao restaurante... E, imagens de quando eu vinha até aqui ainda criança com o meu pai! Dos seus dizer...
..."Sabe filho, não há nada melhor do que ter uma família reunida em volta de uma mesa farta, compartilhando momentos e alegrias....
...É por isso que o Felipo existe"...
...Hunfff!...
Desço do carro e dou passos curtos em direção a entrada do restaurante.
E, de repente uma moça esbarra em mim, deixando um cesto com rosas cair ao chão.
_ Não olha por onde anda! Tá cega!
Digo, encarando com meu cenho fechado.
M: Eu...?
Disse ela, olhando por cima do meu ombro.
_ Além de cega é surda...
Digo com desdém.
M: Me desculpa! Eu sinto muito senhor...
Disse ela, e tenta se desvencilhar de mim.
_ Espera aí!
Digo, a segurando pelo braço, enquanto encaro o seu olhar. Os seus lindos olhos, verdes, tão profundos, porém sem brilho.
M: Não me toque... Me solta pôr favor!
Disse ela, parecendo estar assustada.
H: Solta Ela!
Gritou um homem, vindo na minha direção e sem eu esperar. Me agride com um soco. O que me faz pender para trás, e soltar o braço da moça, com isso ela cai de joelhos ao chão.
M: Aí! ... Kevin! Me ajuda.. Kevin.
Resmunga ela, e chama pelo homem, enquanto vejo a apalpar o chão em sua volta.
_ Está bem? Se machucou..
Pergunto me sentindo culpado, e tento-me aproximar. Mas ele se coloca na minha frente, me impedindo.
H: Deixa ela em paz! Não tá vendo que ela é cega?!
Disse ele, indo de encontro a moça, e a ajuda se levantar.
É só aí, que cai a minha ficha. Recolho o cesto e as flores do chão.
_ Aqui... Pegue, eu sinto muito...
Digo estendendo em direção a ela o cesto. E, novamente o rapaz se coloca na frente e puxa o cesto da minha mão, me encarando com um olhar desafiador.
H: Guarde suas desculpas. Seu babaca!
Fala, e a conduz até uma motocicleta, vejo irem embora.
_ Que imbecil que eu fui! Hunff... A Moça é mesmo, cega...
Falo, para mim mesmo, e respiro fundo, me sentindo um idiota.
Por que parecia tão assustada... Penso, ao me lembrar da expressão em seu rosto, que transmitia muito medo.
...Quem será essa moça?...
🌺° Isabella °🌺
Na garupa da moto de Kevin.
Com a minha mão direita seguro o cesto com as flores, e com a esquerda abraço forte a cintura dele, enquanto ouço os sons das buzinas dos carros. Detesto andar nessa coisa! Penso.
Sinto, o vento tocar com agressividade o meu rosto, causando uma leve ardência na minha face.
Logo me distraio ao ter em meus pensamentos a voz imponente daquele homem, que rudemente falou no meu ouvido.
..."Não olha por onde anda! Tá cega!"...
Eu nem sempre fui cega...
Com a morte da minha mãe, além da dor da perda, me trouxe outros infortúnios ...
...🍃🍃🍃...
Já tinha uns três meses que morava com o meu pai e Fernanda. Todas as vezes em que o meu pai viajava a trabalho, pela tarde ela me trancava no sótão, e só me deixava sair pela manhã, para fazer as tarefas domésticas. E, lembrando, eu só poderia comer após terminar de limpar toda a casa.
E, foi aí que aconteceu...
Numa noite de terça-feira.
Estava com muita sede, e na minha garrafa de água, não havia mais nenhuma gota. Me levantei, e fui em direção a porta. Pensei, quem sabe ela não trancou dessa vez...
Para minha sorte, ou meu azar, Fernanda não trancou porta do sótão. Me senti animada, e desci nas pontinhas dos meus pés até chegar no corredor dos quartos, estava tudo escuro, mas consegui descer a segunda escada que dava acesso à sala e a cozinha. Enchi com pressa a minha garrafa com água, e aproveitei para tomar um copo de leite, comi uma maçã, já que ela não me deixava comer.
Novamente segui para cima, e dessa vez ouvi uns sons muito estranhos vindo do quarto de casal, e lá a luz estava acesa...
Em seguida ouvi a voz de um homem falar o nome de Fernanda. Pensei ser o meu pai, mas logo percebi que aquela voz era diferente da dele.
Pôr curiosidade não sei, dei mais alguns passos até a porta, que estava entre aberta. Quando olhei para dentro vi uma das cenas muito estranha para uma menina de doze anos entender.
Aquele homem não era o meu pai, e estava sem roupas, assim como Fernanda, que estava como um cachorro que anda em quatro patas, e ele estava por de trás dela, enquanto faziam muito barulho. Eu não entendi muito bem o que estava acontecendo e tentei sair sem ser percebida, porém a droga da garrafa de água caiu dá as minhas mãos e fez barulho.
Peguei com pressa a garrafa e corri subindo a escada do sótão, fechei a porta e me joguei no colchão. Torcendo para que eles não tivessem me visto.
Respirei ofegante, ainda me sentindo confusa e assustada, e não demorou muito, para mim ouvir a porta se abrir.
Passos se aproximaram do colchão, e logo senti uma mão me agarrar pelo cabelo e me puxar abruptamente, e começou a me arrastar pelo chão do sótão...
Fernanda: Sua putinha... Vou te ensinar a não bisbilhotar onde não foi chamada.
Disse ela, em voz alterada e em seguida senti algo golpeando o meu corpo, com muita agressividade, me causando muita dor.
_ Não pôr favor... Não foi por querer... Me desculpa!
Comecei a chorar e a implorar para que parasse de me bater. Mas, de nada adiantou, ela bateu-me cada vez mais, com algo que poderia jurar ser um pedaço de madeira.
Fernanda: Então você viu não é... Sua putinha! Me Fala O Quê Viu?!
Disse ela, e puxando o meu cabelo.
_ Não vi nada! Pôr favor Fernanda...
Digo, em meio ao choro.
Fernanda: Eu deveria arrancar os seus malditos olhos...
Gritou ela, pressionando a minha cabeça ao chão..
Ao ouvir aquilo, me desesperei, se ela me batia daquela forma realmente seria capaz de fazer o que havia falado. Não sei como consegui-me livrar das suas mãos a empurrei.
Fernanda: Ah! Mas agora você vai-me pagar!
Disse ela com raiva.
Me arrastei pelo chão em direção a porta, mesmo não a enxergando pela falta de luz, levantei com dificuldade e corri para fora.
Foi aí que aconteceu o meu castigo, como Fernanda gosta de dizer... Eu caí da escada, e bati a minha cabeça pelos degraus conforme rolava por eles.
...▪️▪️▪️...
Acordei dias depois no hospital...
Ouvi a voz ao longe do meu pai falando com o médico
Tentei abrir os meus olhos... Mas, não consegui, ergo minha mão direita e trago em meu rosto, sinto que tem ataduras da minha cabeça, até aos meus olhos .
Me senti assustada, ao lembrar do que ela tinha feito, e comecei a chorar.
Fernanda: Ah! Querida não chore... Vai ficar tudo bem!.
Disse ela, e senti sua mão passando pelo meu braço esquerdo.
Você caiu da escada, eu chamei a ambulância, ainda bem que agi rápida ou você poderia ter morrido...
E, só uma coisa, espero que pense muito bem, no que vai dizer como as coisas aconteceram!
Fala, próxima ao meu ouvido, enquanto belisca a pele do meu braço. Ouço um barulho de porta e ela afasta-se.
Fernanda: Ela acordou...
Roberto: Minha filha... Finalmente acordou...
Disse ele, parecendo ter ficado aliviado?
Logo ouço outra voz falando comigo.
Dr: Isabella, eu sou o doutor Gabriel, fico muito contente que tenha acordado. Chegou aqui, com muitos hematomas muito ferida, precisou de um cirurgia de emergência.
Se lembra como caiu?
Fernanda: Conta pra ele Isabella, você é sonâmbula e saiu do quarto, e caiu da escada, não foi?!
_ Eu… Não me lembro direito, só acordei quando já estava caindo da escada.
Dr: O importante agora é, que vai se recuperar e ficar bem de novo... Vou remover o curativo dos seus olhos, tudo bem?
_ Sim...
Falo, e sinto a cama se erguer, me deixando sentada, sinto as suas mãos removendo as ataduras...
Dr: Prontinho... Pode abrir os olhos agora.
Disse ele. E, assim o faço.
_ Pode acender a luz? Não estou conseguindo ver vocês...
Dr: Estou bem aqui... Não consegue-me ver?
Disse ele num tom de voz com preocupação.
_ Não, não consigo-te ver... Acende a luz, pôr favor!
Falo me sentindo ansiosa e com medo.
Fernanda: Ah! Querida, a luz já está acesa...
_ Não consigo ver!
Falo e sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Dr: Se acalme... Me diga o quê ver?
_ Nada... Está tudo escuro.. Não consigo ver nada!
Dr: Senhor Roberto, venha...
Ouço ele dizer, em seguida o barulho de porta me faz pensar que saíram.
Fernanda: Veja só... Rsrsrs.. Ah! Me desculpa! Hum... Está cega, e isso foi castigo, assim nunca mais bisbilhota nada!
Disse ela, e sorri com satisfação.
.........
As vezes me pergunto o que eu fiz, para ela me odiar tanto... Penso, e logo sinto o cesto com as flores escorregar da minha mão.
_ Não! Não... Para Kevin!
Digo, com desespero ao cesto ter caído.
Kevin: Mas, que droga! Aquelas flores já eram!
_ Não, eu preciso pegar... Para pôr favor!
Falo, pois sei o que vai acontecer se além de não ter vendido as flores, e chegar em casa sem elas e sem o dinheiro.
Kevin: Merda!
Exclama alto, enquanto diminui a velocidade. Ao parar desço.
_ Aonde caiu? Me fala!
Kevin: Fica aqui, eu pego..
Disse ele, e ouço os seus passos apressados.
Se não fosse por causa daquele homem, Bruto e ignorante, isso não teria acontecido. Penso.
Kevin: Não, não, não! Merda! Filho de uma...
Exclama alto parece ter ficado bravo.
_ O quê aconteceu? Cadê as flores...
Kevin: Elas já eram! Um mané, passou com o carro por cima delas... Só consegui pegar o cesto
_ E, agora? Fernanda vai ficar muito brava... Eu não posso voltar sem as flores ou o dinheiro...
Digo, me sentindo apavorada, ao recordar o que me aguarda.
Kevin: Toma! Pegue... De isso a minha mãe. Ela vai te deixar em paz por hoje.
Disse ele, colocando algo nas minhas mãos.
Apalpo, entre os meus dedos, ao que parece ser duas notas de 50 reais, seria o exato valor da venda das flores.
_ Obrigada! Hmf...
Digo, e respiro aliviada. Ao menos não terei que dormir com fome e nem molhada hoje.
Mas, de onde ele tirou esse dinheiro? Kevin não trabalha... Penso, mas decido apenas ficar feliz por não ser castigada hoje.
Novamente subimos na moto dele, e seguimos para casa.
Ao chegarmos entrego o dinheiro a Fernanda.
Fernanda: Não demorou nada, hoje... Não é nem 12h.
_ É, o restaurante estava bem movimentado, tinha muitos casais, então posso subir?
Fernanda: Hum?! Vai... E, não demore, vou ir buscar o Rafael no colégio, desça logo para fazer as tarefas.
Disse ela num tom de voz desconfiada, mas nem importei.
_ Tá bom, eu já volto...
Falo, colocando o cesto no lugar em que ele sempre fica, e subi para tomar um banho...
...No Banheiro....
Retiro, as minha blusa preta, e o sutiã, após abro o fecho da calça, e quando a desço pelo meu corpo sinto uma leve ardência nos meus joelhos.
Devo ter machucado quando cai...
Quem será aquele homem, apesar de a princípio ter sido rude, senti que a sua voz carregava, ressentimento, dor e tristeza.
Penso, enquanto termino de me despir, após passo minhas mãos pela as paredes até chegar a parte do box, entro abro o chuveiro, lavo os meus cabelos, em seguida, despejo o sabonete líquido em minha mão, e passo ao meu corpo me ensaboando. Sinto uma sensação estranha...
Termino o banho, pego a toalha, envolto ao meu corpo e saio do box do chuveiro.
Quando vou abrir a maçaneta, sinto uma respiração quente, por de trás de mim, tocar o meu pescoço.
Me apavoro e tento abrir rapidamente a porta, mas algo, a empurra a fechando de volta.
Kevin: É tão linda. Isabella...
Disse ele, encostando o seu corpo ao meu.
_ Kevin... Me deixa sair...
Digo o seu nome tomada em desespero, ao que ele pretende.
Kevin: Me perdoe! Mas, não consigo mais resistir! Isabella...
..._ Não... Pôr favor! Não......
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