LUCAS BELMONT,
Alguns dos conselheiros da máfia entraram no meu escritório como se fossem os donos, dando ordens incessantemente sobre o que eu deveria fazer.
— Uma esposa não pode abandonar o lar, se ela fugiu com outro, você terá que matar os dois. — disse um deles.
— Isso mesmo, você precisa enviar alguém imediatamente para buscá-la, ou o seu sobrenome e a máfia serão expostos ao ridículo. — Insistiu o outro.
Apesar das palavras deles, nada me convencia a ir buscar minha esposa de volta. Saí sem dizer uma palavra, com a intenção de encontrar algum sossego em meu quarto. No entanto, minha mãe me bloqueou antes que eu pudesse subir os degraus da escada.
— Lucas, pelo amor, você não sabe se ela foi sequestrada por seus inimigos. Você precisa ir atrás dela, não pode deixá-la sozinha...
— Já chega disso, tá bom, eu vou ir amanhã de manhã atrás dela, não vou sair agora pois está de madrugada, mas assim que amanhecer, eu vou atrás da bolotinha.
Viro as costas e subo para o meu quarto. Bolotinha, tá mais para bolotão. Se dar tempo amanhã vou buscar ela de volta, se não, eu vou adiando para depois. Assim que chego, olho para minha cama e penso: "Nada melhor do que ter todo o espaço da cama só para mim, sem uma mulher roncando o tempo todo no meu ouvido."
Deitei-me e minha mente voltou dois meses atrás, quando tudo começou, quando fui obrigado a me casar com ela. Juro que se soubesse como ela era, jamais teria aceitado esse casamento...
2 meses antes...
Olha só, depois de passar por mais confusões do que um gato em uma loja de cristais, acabei me enfiando em outra encrenca. Sabe, depois de aprender os truques do comando no morro do jacaré, decidi que queria dar um upgrade na carreira e comandar a máfia do meu pai. A oportunidade bateu à porta quando o Liam decidiu que o Brasil era o lugar ideal para uma lua de mel permanente com sua esposa.
Já na questão do casamento, isso nunca foi meu forte, mas, segundo meu pai, todo bom mafioso de respeito precisa de uma parceira ao seu lado. E quanto mais doida e surtada ela for, melhor. Vai entender...
Enfim, meu pai decidiu que era hora de tirar umas férias merecidas, mas com uma condição: eu precisava me casar com a filha de um de seus aliados. A garota ficou órfã durante um tiroteio, mãe sequestrada e morta, pai tentando um resgate estilo Rambo e também morrendo no processo.
O irmão mais velho dela a escondeu num orfanato como se fosse um tesouro nacional e disse que ela só sairia de lá com 18 anos, direto para o altar.
— Vou ter que aceitar esse casamento? Se sim, onde estão os papéis para assinar? Vou ter que casar no escuro? E se a minha noiva parecer com a Fiona?— Pergunto para o meu pai, já que eu não sei quem é a noiva. Minha mãe entra na conversa, jogando sua sabedoria:
— Lucas, meu filho, lembre-se de que valorizar alguém apenas pela aparência não é uma boa ideia. Alguém pode mudar de visual em um piscar de olhos, mas seu verdadeiro valor está no que é por dentro, no caráter e na personalidade.
— É verdade, filho. Precisamos olhar para as qualidades internas das pessoas, em vez de julgá-las pela casca. Se não, você só vai ter beleza na sua vida, mas nunca uma esposa de verdade.
Ficou estranho, mas se vou ser o chefão, como diz a Duda, esposa do meu irmão, tenho que engolir esse casamento. Aceito, e sei que meus pais não vão fazer nada fácil. Eles já escolheram o marido da Luna, que, pelo menos, é um homem de presença.
Chegamos à casa do irmão dela, os Biancchi, e enquanto me faço de detetive, olhando ao redor para ver se encontro alguma pista, fico pensando: "Será que eles têm retratos dela ou algo assim?" Mas nada, estou com uma pulga atrás das orelhas.
Estão escondendo essa garota mais do que o ouro no meio da multidão, e estou começando a achar que uma surpresa épica está sendo preparada para mim.
O irmão dela nos leva ao escritório, e lá estamos nós, todos sentados como numa grande reunião da máfia, então ele me pergunta:
— Então, você aceitou o casamento?
— Aceitei, afinal, se para ser o chefe da máfia londrina requer isso, estou dentro.
— Então, vamos oficializar isso com um contrato. Vocês só se casam na igreja quando ela sair do internato.
— Você não tem uma foto dela para eu dar uma olhada? — pergunto já ficando intrigado com essa coisa de esconder a noiva do noivo, e ele me responde que não, que dentro é como uma área proibida de fotos, e as que ela tinha antes do internato, pegou fogo na antiga casa deles.
Meu pai pega os papéis, lê como se fosse um contrato de venda de carro usado, e assina. Ele me entrega, e eu assino também, confiando cegamente no meu pai.
Com tudo pronto, o Biancchi avisa que o contrato é à prova de fuga:
— Se alguém desistir, o destino será uma guerra entre as máfias, e o seu pescoço vai rolar Lucas Belmont, e não vai ter segunda chance.
Concordamos, saímos dali e, ao chegar em casa, meu pai me entrega os documentos da máfia. Ele me parabeniza:
— Parabéns, você está um passo mais perto de se tornar o Dom. Agora, é só assinar esses documentos no dia do casamento com a Ivy.
Sem pestanejar, eu pego a caneta e já vou querendo assinar, mas ele me barra, e diz que só depois de casado. Tudo está perfeito, só falta esperar pelo grande dia. O dia em que serei o mafioso mais temido de todos.
Meu pai decide ir à casa do Liam para um churrasco, porque minha tia adora esse costume brasileiro, e eu o companho. Bem, evito o centro de treinamento da tia, pois a esposa do Liam, a Eduarda, me odeia desde o primeiro olhar. Ódio a primeira vista.
Vou para o hotel e, agora que serei o chefe da máfia, me sinto o rei do mundo. Pego meu celular para algumas pesquisas importantes, mas acabo indo parar na família Biancchi.
Começo a investigar a fundo, procurando uma foto da minha noiva, mas nada. Será que deveria me preocupar? Será que ela é como as mulheres da minha família, ou pior, mata só para ver o sujeito morrer? So espero não me decepcionar ao vê-la pessoalmente.
Tento tirar essa ideia da minha cabeça e decido fazer uma visitinha ao Morro do Jacaré. Afinal, deixei algumas damas ali que valem a pena. Tomo um banho, escolho um look e perfume incríveis e saio em busca das "minas da quebrada."
Assim que chego no morro, vejo uma das minhas garota sorrindo e digitando algo no telefone. Ela se aproxima e diz:
— Sumiu, Juan. Pensei que você tinha sido sequestrado.
— Eu vou, mas eu volto, ainda mais quando aqui tem uma joia rara como você. Londres não tem nada disso, sabia?
Ela sorri, meio sem jeito, e me convida para ir até a casa dela. Claro, tomo cuidado para não ser visto pelas outras que já "conheci" por aqui, porque seria uma confusão monumental se todas soubessem umas das outras.
Finalmente, chegamos à casa dela, e eu já começo a tirar minha camiseta. Ela me puxa para uma cadeira e senta no meu colo, com as pernas abertas. Começa a me beijar e rebolar no meu colo, me fazendo esquecer de todos os problemas, até que percebo que ela me amarrou.
— Que isso, princesa, vai me estuprar? — Pergunto sorrindo, pois adoro essas brincadeiras.
Ela ri e dá um assobio. E aí, as mulheres com quem eu transei aqui no Morro do Jacaré aparecem, e eu já tenho uma ideia de que isso não vai terminar bem.
Logo após, um homem alto e imponente entra na cena, apresentando-se como o novo dono do morro. Além disso, ele revela ser irmão de uma das mulheres presentes. Entretanto, a verdadeira liderança do morro foi decidida por Eduarda, e tenho convicção de que ele não detém a verdadeira titularidade.
— Agora, a situação é a seguinte: você terá que escolher uma delas para se casar, porque aqui não fornecemos apoio a vagabundos.
— Sou Lucas Belmont, idiota. Sou irmão do verdadeiro dono do Morro da Rocinha e cunhado de Eduarda. Você realmente acha que pode me pressionar a fazer algo?
Ele começa a rir, sem saber que, na verdade, me apresentei a todos como Juan, e não como Lucas.
— Se pensa que vou acreditar que você tem alguma relação com os chefes, está muito enganado. Ou se casa com uma delas, ou sofrerá consequências sérias.
— Eu já sou casado, e isso é crime no meu país. Posso ser preso, assim como uma delas. E se pensa que estou mentindo, ligue para o Liam. Pergunte a ele se não sou o seu irmão
Ele pega o celular e liga para o Liam, deixando no viva-voz, e me pede para falar, pois, se realmente sou o irmão dele, ele reconhecerá minha voz.
— Irmão, me ajuda, fiz uma grande besteira e eles querem me matar...
— Fale direito, não modifique a voz, por favor.
--- Alô?
— Duda, rsrs. Duda, sou eu, o Lucas. Estou no Morro do Jacaré, e estão tentando me matar. Preciso da sua ajuda.
— O que você fez Lucas? — Por que esse pessoal sempre culpa as vítimas? Estou falando que estou correndo perigo, e ela pergunta o que fiz?
— Duda, é sério. Esse cara alega ser o dono do morro. Ajude-me, ou não conseguirei assumir o controle da máfia, e você ficará presa aqui no Brasil, enquanto Liam terá que voltar para Londres.
Ela bufa no telefone e pede para falar com o responsável, deixando claro que está no viva-voz. Com sua atitude determinada, ela ordena que me soltem, ameaçando cortar o pescoço dele se não o fizerem. E avisa que descobrirá sua verdadeira identidade, já que ele não é dono de coisa alguma.
— Eu não sou o único que quer a sua cabeça, há mais irmãos e pais aqui que estão sedentos pelo seu sangue. Se fosse você, iria embora e não voltaria mais.
— Tudo bem, eu realmente não pretendia ficar. Só estava dando um oi para a rapaziada, sabia que já fui dono interino daqui? Pois é, mas agora minha posição mudou; agora sou o chefe da máfia de Londres. — Tiro a mão dele do meu pescoço e a coloco as minhas no dele, levando-o até a parede, apertando para que sinta dor de verdade. — Não me ameace, porque para ter o seu pescoço no chão fora do seu corpo, só preciso fazer um movimento. Posso ser um poço de carinho, mas sou implacável com quem me incomoda ou ameaça.
— Não estou te ameaçando, argh — ele geme com meu aperto mais forte. — Só estou te avisando que há mais homens aqui atrás de você.
Solto-o, e ele cai imediatamente no chão. Então, viro-me para as meninas, manda um beijo com uma piscada de olho, e Vou embora.
Agora, sim, não pretendo mais voltar aqui. Pego minhas coisas no hotel e retorno a Londres, onde me ocuparei com o que realmente importa. Gostaria de ter tido minha noite de solteiro com estilo, mas parece que não rolou. Agora, é só aguardar o casamento, que acontecerá depois de amanhã.
Após horas de voo, finalmente chego em Londres e vou diretamente para meu quarto. Tomo um banho para me livrar do cheiro daquele homem e, em seguida, deito-me para descansar, pois foi um dia agitado.
Na manhã seguinte, sou acordado por meu pai batendo na porta. Ele informa que o casamento foi adiado para hoje e que preciso acompanhá-lo para escolher as roupas.
Com muita preguiça, levanto-me e vou para o banho. Ao sair do banheiro, minha mãe já está separando minhas roupas.
— Vamos lá, meu filho. A noiva está prestes a chegar, e esse é o momento em que você finalmente a verá no altar, radiante e deslumbrante.
— Parece que estou prestes a receber uma encomenda do Paraguai, daquelas que compramos e só descobrimos o que é quando chega. Mãe, não tenho um bom pressentimento sobre isso.
— Quieto, rapaz, e vista-se logo. — Resmungo enquanto pego a roupa que ela separou e me visto como uma criança.
Saímos às pressas, com minha mãe me empurrando apressadamente. Entro no carro do meu pai, e rapidamente seguimos para a loja, com a curiosidade pulsando no ar, pois a minha mente não para de tentar projetar ela, mesmo não tento nenhuma dica como ela seja.
Tento mais uma vez, extrair alguma informação, mesmo que mínima, talvez a cor do cabelo, dos olhos ou alguma característica que possa me ajudar nessa projeção da minha mente.
— Pai, me diga a verdade, você já viu a Ivy?
— Vi quando era criança, Lucas, quando ela tinha 7 anos.
— Estou preocupado com o que está por vir. Ela está muito escondida, algo não parece certo. Tenho certeza disso.
— Não exagere, não há nada de errado. Ela simplesmente não tem experiência na máfia, pois foi criada em um internato. Mas você pode ensiná-la, assim como eu ensinei sua mãe e seu avô ensinou sua avó.
— Pai, aquela história de não poder voltar atrás é verdade, ou você vai fazer o que fez com o Liam, um contrato falso?
— Juro que tentei, mas com os Biancchi não deu certo. Você vai se casar de verdade, e não pode mais voltar atrás. Isso é muito sério, Lucas, agora você é o chefe da Máfia e precisa assumir as consequências de suas escolhas. A ideia de 'posso fazer o que quero' não existe mais.
— Eu sei, pai, mas... deixa para lá. Então, vou ter que ensiná-la a segurar uma arma e a lutar? — Ele balança a cabeça em concordância, e eu reviro os olhos.
Agora, vou ter que ser o mentor da minha esposa. Espero que valha a pena. A vida de mafioso não é para os fracos.
Enquanto trocamos de ternos, meu pai tenta me ensinar como ser um bom marido. O coitado sofre nas mãos da minha mãe. O que ele vai me ensinar? A ser submisso, como um cachorrinho esperando carinho da dona? Eu nunca serei assim. Nunca!
Após termos concluído o processo de nos arrumar, vestidos com ternos perfeitamente confeccionados sob medida, seguimos imediatamente para a igreja.
Ao chegarmos, caminhei até o meu lugar designado, cumprimentando de longe as pessoas que iam chegando, com um sorriso falso, já que essa ideia ainda não me agrada.
Meu pai fica atrás de mim, percebendo o quão nervoso estou, pois de vez em quando ele coloca suas mãos em meus ombros e me manda relaxar.
A igreja logo fica lotada, família e membros da máfia já estão todos presentes, só está faltando ela chegar. De repente, a marcha nupcial começa a tocar. Meus olhos não saem da porta de madeira, que ainda está fechada.
Mas aos poucos ela vai se abrindo, revelando minha noiva... minha graaaande noiva. Seu irmão a conduz até o altar, e meus olhos não conseguem se desviar do seu corpo.
Ela é... ela é ... Pensei que me casaria com uma mulher, mas parece que são três em uma. Assim que eles chegam, não posso esconder o quanto estou surpreso. Ela tem um sorriso doce e inocente, mas os olhos desaparecem diante das bochechas enormes que tem em seu rosto.
— Lembrem-se, não podemos desistir; o contrato já foi assinado. — diz o irmão dela enquanto me entrega a mão de sua irmã.
Com um sorriso sem graça, apenas balanço a cabeça concordando, e seguimos em direção ao altar. Ajoelhamo-nos e esperamos o início da cerimônia.
Cada palavra que o padre pronuncia parece uma punhalada nas minhas costas. Como poderei ser fiel a ela? Olho para ela na esperança de encontrar alguma atração, mas é impossível, não sinto nada por ela.
No momento do "sim", minha mente fica em branco, e uma crise de tosse nervosa quase me faz perder a resposta. Se não fosse pelo tapa que meu pai me deu, pensei que iria até afundar minhas costas, eu não teria retornado à realidade. Minha cruel realidade.
Chega a hora de trocar as alianças, pego a menor e tento colocar em seu dedo, mas não entrar, e eu fico tentando empurrar, até que ela fala que a dela é a outra. Por incrível que pareça, a aliança dela é maior que a minha
Saímos da igreja, e a ideia de eu a pegar no colo para levá-la até o carro se mostra impossível, seria mais fácil ela me carregar.
Ela se acomoda no banco de trás, e vejo o carro cedendo sob seu peso. Reviro os olhos e entro. Sento-me o mais longe possível dela, mas ela se aproxima, colocando a mão sobre a minha.
— Obrigada por aceitar se casar comigo. Pensei que ninguém nunca iria me querer.
— E por que pensou isso? — digo ironicamente, pois quem gostaria de estar no meu lugar, se não fosse por obrigação?
— Não sei, não me acho bonita. Estou fora dos padrões. (risos)
— Não ligue para isso, você é perfeita. — Oh, depressão, já percebo que vou ser o marido mais mentiroso de todos os tempos.
Chegamos à festa. Eu saio de um lado e ela do outro, mas percebo que ela está com dificuldades para sair sozinha. Pego em sua mão e a ajudo a sair, mas quase que ela me arrasta de volta para dentro do carro. Estou falando sério, isso não vai dar certo.
Enfim, com a ajuda de três homens como um tipo de guindaste humano, ela sai do carro, e seguimos para junto dos convidados.
— Assim que a festa terminar, vamos fazer a apresentação na máfia, certo?
— Acho que sim. É a primeira vez que estou me casando também. — Ela sorri com minha resposta, e percebo que esse é o único traço bonito nela.
— Estou faminta. O Nick não me deixou comer nada antes da festa.
— Acredito que há comida suficiente aqui para todos... "Claro, desde que você não acabe com tudo antes." — Sussurro a última parte, e ela me olha curiosa, pois não pretendia que ela ouvisse.
— O eu não entendi o que você falou?
— Eu quis dizer que a comida deve estar incrível. — Mais um sorriso, e estou começando a me acostumar com esse sorriso dela.
Pode ser que eu me acostume com a sua presença com o tempo, mas, sem algo que me atraia, não sei se vou desenvolver algum sentimento por ela, a não ser como uma conhecida. Não a vejo de forma romântica, não a desejo de nenhuma maneira.
Como vou levar esse casamento adiante para sempre, já que não existe a opção de divórcio na máfia, e o irmão dela já deixou claro que, se um de nós desistir, isso terá consequências graves? Estou em uma situação complicada.
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