Caminhando pelas ruas, uma mulher não muito alta, de pele clara e cabelos ruivos, longos, com uma mecha branca na parte de trás do cabelo que vai da raiz até as pontas, avista uma cidadezinha e quando está prestes a ir até lá, escuta o som de água. Ela entra na floresta seguindo o som e chega a uma cachoeira, seus instintos são se despir totalmente e ficar próxima à queda d'água. Não muito longe dali, Draco, um homem com 1,85 de altura, forte, levemente moreno, cabelos lisos, curtos e meio arrepiados, se aproxima e para ao ver a sombra de uma mulher contra a luz da lua. A mulher coloca o corpo em baixo da água e quando coloca a cabeça para fora, seu rosto começa a mutar e um uivo pode ser ouvido, ela escuta um galho se quebrando e corre de lá antes de completar a transformação com suas coisas na mão.
Draco tenta encontrá-la, mas nem mesmo na forma de lobo a encontra. Como alfa de uma grande matilha, ele se sente inútil, quando os outros lobos se aproximam, ele afasta o pensamento e eles seguem correndo pela floresta.
Rosana, uma mulher muito respeitada na cidade Lostwood, decide ir à lanchonete beber um café e se distrair um pouco do trabalho. Aparentando ter uns 50 anos, vestindo roupas elegantes brancas, ela adentra o café e é recebida por Jones, dono da lanchonete:
— Bem-vinda Rosana, a garçonete já vai atendê-la.
— Obrigada Jones. — diz Rosana indo até à mesa.
Pouco tempo depois uma mulher ruiva com uma mecha branca, vai até à mesa e sorri dizendo:
— Bem-vinda senhorita, me chamo Saphira e hoje irei lhe atender.
— Obrigada, eu quero um café puro e uma torta.
— As tortas de hoje estão incríveis, sugiro que escolha a de chocolate para acompanhar o café, feita com massa de biscoitos assados aqui mesmo essa manhã, o sabor encaixa perfeitamente no paladar e não deixa um gosto amargo depois. — diz Saphira com seu melhor sorriso.
Rosana para o que está lendo e olha Saphira de cima a baixo dizendo:
— Quer saber, você conseguiu atiçar minha curiosidade, eu não costumo comer doces, mas hoje irei provar.
— Trarei seu pedido em um minuto, com licença. — diz Saphira se afastando.
Quando ela passa o pedido para Jones, ele encara a folha e diz:
— Tem certeza que anotou direito? Rosana sempre pede uma torta de frango para acompanhar.
— Tenho sim, ela disse que está muito curiosa. — diz Saphira sorrindo.
— Nesse caso, não podemos desapontar. — diz Jones separando um belo pedaço de torta.
Saphira leva o pedido a mesa e o arruma para ficar de frente para Rosana que ao perceber diz:
— Você tem habilidades interessantes.
— Eu? Imagina senhorita, nem mesmo terminei os estudos. — diz Saphira acenando em negativo com as mãos.
— E ainda sabe como harmonizar o sabor do café perfeitamente e como colocar a mesa. — diz Rosana.
— Colocar a mesa não é uma ciência, qualquer um pode fazer senhorita. — diz Saphira envergonhada.
— Sim, mas não é todo mundo que tem o trabalho de deixar na posição correta para o cliente, de onde veio? — pergunta Rosana intrigada.
— Sou nova na cidade, comecei hoje. — diz Saphira desconversando.
— Por que trabalha aqui? Não me leve a mal, é um trabalho honesto, mas estou curiosa com sua escolha. — diz Rosana.
— Como eu disse mais cedo, não terminei os estudos, então não são muitas as opções e eu preciso pagar por um teto, por isso aceitei o que veio primeiro. — diz Saphira.
— Eu poderia ajudá-la, sabe, minha família foi responsável por ajudar a cidade a se manter em pé, tenho influência, poderia ajudar com um emprego melhor e estudo. — diz Rosana empolgada.
— Não, não posso aceitar senhorita, fico muito grata, de coração, mas não desejo me aproveitar de ninguém, muito menos alguém importante como a senhorita. — diz Saphira surpresa com o interesse de Rosana.
— É uma pena, vejo muito potencial em você, mas respeitarei seu desejo com duas condições. — diz Rosana.
— Quais? — pergunta Saphira curiosa.
— Que possa me considerar uma amiga e que sempre me atenda quando eu vier. — diz Rosana sorrindo.
— É claro! Estarei sempre aqui. — diz Saphira com um grande sorriso.
Após Rosana conversar um pouco com Jones, ela vai embora. Saphira se aproxima com sua bandeja e ele diz:
— Você conseguiu impressionar a senhora Rosana.
— Eu não fiz nada demais, só recomendei a torta. — diz Saphira.
— Ela é dona de uma franquia de lojas e uma grande fábrica que mantiveram a cidade bem em uma época difícil, hoje ela é uma grande colaboradora, escola, faculdade e hospital… devemos muito a ela. — diz Jones.
— Não sei porque alguém como ela foi olhar justo para mim. — diz Saphira.
Ao fim do expediente, Saphira segue até uma parte escura da cidade, chão de terra e entra em um terreno, onde há um trailer, ao entrar ela tira a jaqueta e se senta na cama cansada.
Um mês se passa e novamente pela manhã, Rosana vai à lanchonete. Jones ao vê-la entrar grita:
— Saphira, sua cliente chegou.
Com um grande sorriso, Saphira a acompanha até a mesa dizendo:
— Pontual como sempre senhorita.
— Já te pedi para me chamar de Rosana. — diz Rosana se sentando.
— E o livro? O que achou? — pergunta Saphira.
— Eu simplesmente amei, você tem um ótimo gosto para literatura. — diz Rosana olhando o cardápio.
— Hoje temos rosquinhas recheadas, com massa de sonho, um experimento que na minha opinião ficou perfeito. — diz Saphira.
— Mesmo? Então vou querer uma. — diz Rosana.
— É para já. — diz Saphira se afastando.
Quando Saphira retorna com o pedido, Rosana fica olhando para seu braço e pede que ela se sente, Saphira preocupada obedece e Rosana diz:
— Querida, esse aqui é meu telefone, qualquer dia ou hora, se precisar de ajuda, conte comigo.
Saphira pega o cartão e diz:
— Estou bem.
— Eu sei, mas quero garantir que terá apoio se precisar. — diz Rosana.
No final de semana, Rosana convida Saphira para ir a sua casa, ela fica surpresa ao ver aquela grande mansão e diz:
— Acho que não estou vestida apropriadamente para visitar um lugar assim.
Rosana começa a rir e diz:
— Você é linda até vestindo um saco de estopa, fique tranquila.
Ao entrar Saphira gira lentamente olhando em volta e dá de cara com o peito de alguém, ela se desculpa envergonhada:
— Sinto muito, eu estava distraída.
— Tudo bem, eu que vim muito silenciosamente… acho que conheço você. — diz Draco a encarando.
— Acho que não. — diz Saphira olhando para o chão.
— É a garçonete de Jones, Saphira é uma amiga muito querida. — diz Rosana.
Rosana a leva até uma porta e quando abre, Saphira fica sem reação dizendo:
— E eu que não acreditava em paraíso, você tem um dentro da sua casa.
— Essa é minha biblioteca particular, é aqui que guardo meus livros favoritos. — diz Rosana orgulhosa.
— Será que posso olhar mais de perto? — pergunta Saphira com os olhos brilhando.
Enquanto Saphira anda pela sala, Draco chama a mãe no corredor e diz:
— Estou preocupado com essa sua proximidade com essa moça mãe.
— Com Saphira? Por quê? — pergunta Rosana surpresa.
— Ouço boatos por toda a cidade, dizem que é uma pessoa pobre que vive na parte escura, alguns até acham que ela está tentando se aproveitar de você. — diz Draco.
Saphira se aproxima e diz:
— É melhor eu ir, sinto muito pelo incômodo Rosana, até segunda.
— Não vá, querida, por favor fique. — pede Rosana preocupada com o que ela ouviu.
— Está tudo bem, eu sabia que seria assim, nos vemos segunda. — diz Saphira.
Antes de sair, Saphira se vira novamente e diz:
— Só porque você e seus amigos gostam de rir de mim por não ter família, não significa que eu seja uma aproveitadora, só aceitei vir por que Rosana insistiu muito e ela é a única amiga que tive em toda a minha vida, talvez devesse descer um pouco de seu pedestal senhor Draco e talvez assim, perceba que não são as pessoas, as aproveitadoras e você é que seja arrogante demais para ser tocado por meros mortais.
Saphira sai correndo pela porta enquanto enxuga as lágrimas, Rosana olha para o filho e diz:
— Saphira é uma moça doce e trabalhadora que mesmo não tendo terminado os estudos, se esforça para aprender uma coisa nova todo dia, talvez devesse aprender um pouco com ela. — Rosana para e o olha de cima a baixo — Estou decepcionada, não foi assim que o criei.
Draco sente uma tristeza ao ouvir o que sua mãe diz e a observa se afastando.
Na segunda, Draco vai à lanchonete e Saphira paralisa por um momento ao vê-lo, mas logo se recompõe e com seu melhor sorriso diz:
— Seja muito bem-vindo senhor, me chamo Saphira e hoje irei atendê-lo.
Ela segue na frente para guiá-lo até a mesa e Jones diz baixinho para que só ele ouça:
— Seja gentil com minha garçonete, ela é uma boa moça.
Draco assente com a cabeça e se senta na mesa dizendo:
— Será que posso conversar com você? Preciso esclarecer algo.
— Olha, vamos ser diretos, eu não estou me aproveitando de sua mãe e nem de ninguém, sinceramente eu até me afastei, mas ela é muito insistente e sinceramente? É uma mulher incrível, sinto que se eu tivesse mãe, gostaria que fosse como Rosana… Então não, não irei me afastar dela, mas prometo não ir mais na casa de vocês e nem aceitar as ofertas dela de me ajudar com os estudos. — diz Saphira com lágrimas ameaçando deixar seus olhos.
Draco olha fixamente para aqueles olhos âmbar com tons de verde pela heterocromia e ela diz enxugando o rosto:
— Desculpa, preciso de uma pausa.
Ela sai correndo para os fundos e Jones pergunta:
— O que aconteceu com ela?
— Um mal-entendido, posso falar com ela? — pergunta Draco.
— Claro, ela deve estar lá fora nos fundos. — diz Jones apontando a porta.
Ao sair, Draco vê Saphira encolhida em um canto com os braços cobrindo o rosto, ele se aproxima e com a mão em seu braço diz:
— Me deixe dizer alguma coisa.
Ela se assusta com o toque e Draco repara em seu braço machucado perguntando:
— Onde arrumou isso?
— Não é nada, o que quer me dizer? — pergunta Saphira se levantando rapidamente.
— Eu só queria me desculpar, olha, eu não sou assim, só tenho receio de pessoas se aproximando de minha mãe, ela é fácil de enganar, mesmo sendo forte. — diz Draco.
— Isso não é desculpa para me humilhar. — diz Saphira.
— Eu não pensei que ia ouvir, mas tem razão, isso não é motivo, não quero que se afaste de minha mãe, ela parece gostar muito de você. — diz Draco.
— Rosana é um amor. — diz Saphira sorrindo ao lembrar dela.
— Se é capaz de sorrir assim ao pensar nela, não acho que vá fazer mal. — diz Draco encantado.
— Peço desculpas também pelo que eu disse. — diz Saphira encolhendo os ombros.
— Não, eu mereci, você ser tão sincera me traz alivio. — diz Draco sorrindo.
Saphira observa o rosto dele iluminado pelo sol e diz:
— Para alguém que pode dizer coisas cruéis, tem um sorriso gentil. — diz Saphira.
Ao perceber o que disse, ela arregala os olhos e diz:
— Sinto muito.
Draco ri e diz:
— Acho que isso significa que estamos bem.
— Sim. — diz Saphira apertando a mão dele.
Mesmo tendo resolvido o problema, Saphira e Draco não parecem querer se aproximar.
O natal está chegando e Jones resolve decorar a lanchonete, ele pede que Saphira se vista de mamãe noel para receber as crianças na entrada e entregar presentes, pouco tempo depois Draco chega vestido de papai noel, ele se perde ao vê-la tão arrumada, o vestido de material parecido com látex realça as curvas de seu corpo, o leve decote marcando o contorno de seus seios generosos e equilibrado quando comparado a seu bumbum e quadris. Ela o vê se aproximando e diz:
— Que papai noel é esse que não tem barriga?
— Claro que tenho, olha. — diz ele levantando a parte de cima da fantasia e deixando a mostra um abdome malhado.
Saphira arregala os olhos e se vira dizendo:
— Cobre isso, as crianças não precisam ver.
Draco sorri ao vê-la corada e vai ajudá-la. Algum tempo depois Rosana chega e fica encantada ao vê-los fantasiados, ela pede que se aproximem e tira uma foto dos dois, em alguns momentos ele parecem estar discutindo, o que deixa as fotos engraçadas. Rosana se senta com Saphira para tomar um café depois que terminam de entregar os presentes, ao olhar o ombro dela, Rosana pergunta:
— Isso é maquiagem? Por que está roxo aqui?
— Não é nada, eu me machuquei e passei maquiagem para as crianças não verem, preciso ir me trocar. — diz Saphira se afastando sem nem tocar no café.
Ela acaba esbarrando em Draco quando entra na lanchonete e ele se aproxima da mãe perguntando:
— O que deu nela? Não vai me dizer que está com raiva de mim de novo?
— Draco, eu acho que alguém a machucou, não tenho certeza, mas estou preocupada. — diz Rosana encarando a xícara.
— Ela não parece alguém que apanharia em silêncio. — diz Draco se lembrando das respostas dela.
Ele olha para a porta da lanchonete e seus olhos ficam brilhantes, Rosana ao perceber diz:
— Se controle, não precisamos que os humanos descubram o que somos.
A semana passa rápido e o dia de natal chega, a lanchonete fecha cedo e Saphira aproveita para voltar ao trailer. Rosana está na sala com os netos, um casal de crianças e a filha, uma mulher loira não muito alta e delicada, Draco está no quarto tomando banho.
Saphira entra no trailer e quando está prestes a fechar a porta, o dono do trailer segura a porta dizendo:
— Agora nós vamos conversar.
— Eu já paguei o aluguel. — diz Saphira se afastando da porta.
— Mas eu quero mais, uma mulher como você é rara de se encontrar. — diz o dono se aproximando e a prensando contra o armário.
Ela fica assustada e o empurra, tentando alcançar o celular, ele a empurra na cama e o celular dela cai em baixo, subindo em cima dela, o dono diz:
— Agora você vai saber o que é ter um homem de verdade dentro de você.
Ele deixa uma marca de chupão na clavícula dela e enquanto ela se debate, sua pele clara fica com marcas. O dono do trailer tenta tirar a roupa dela, mas ela não para de se debater, então ele soca seu rosto, a jogando no chão, enquanto está de quatro ela levanta a cabeça e seus olhos estão brilhando, deixando mais evidente a heterocromia, Saphira tenta se acalmar para não transparecer e o empurra com um chute usando os dois pés, apoiando o corpo com as mãos no chão. Ele cai para trás e ela sai correndo para fora, no meio do ataque ela nem percebeu que uma chuva forte havia começado, está difícil andar na lama sem cair e quando ela menos espera, o homem grita a derrubando na lama:
— Volta aqui.
Os dois brigam na lama e ele por estar acima do peso acaba se cansando, o que dá uma brecha para que ela fuja. Sem o celular ela não pode pedir ajuda e o pensamento de não ter para quem ligar vem a sua mente, então ela se lembra de Rosana e corre até a mansão, o que leva 1 hora de corrida, ao chegar ela bate na porta e quem abre é Camila, filha de Rosana, ela vê Saphira toda cheia de lama e grita:
— Mãe!
Rosana corre até a porta e vê Saphira em lágrimas e coberta por lama, ela tenta a puxar para dentro e Saphira se recusa dizendo:
— Não posso, não quero sujar sua casa, tem uma mangueira aqui fora?
— Não seja boba, entra logo ou vai pegar um resfriado. — diz Camila a abraçando sem cerimônia ao lado da mãe e a levando para dentro.
Quando entram, Draco desce a escada dizendo:
— Ouvi gritos, o que aconteceu?
Quando vê Saphira ele fica surpreso e pergunta:
— Quem fez isso com você?
— Foi só um acidente, eu cai enquanto voltava para casa e perdi a chave, agora não consigo entrar, só preciso de um lugar para passar a noite se não tiver problema, sairei antes das 6 da manhã. — diz Saphira sem os olhar nos olhos.
— Vem comigo querida, você precisa de um banho. — diz Rosana a guiando ao banheiro.
— Vou pegar algumas roupas para ela. — diz Camila correndo ao quarto.
As crianças observam da sala em silêncio e Draco vai fazer companhia a eles. Saphira toma um banho e tira toda a lama do corpo. Camila entra no banheiro dizendo:
— Aqui tem algumas roupas minhas, espero que sirvam.
Ela fica surpresa ao olhar para o corpo cheio de hematomas de Saphira que estava de costas quando ela entrou, então ela a abraça e pede:
— Por favor me diz quem fez isso com você.
— Não conta para a Rosana, eu não quero trazer problemas. — diz Saphira com lágrimas deixando seus olhos.
— Problemas? Querida isso é crime, você é uma vítima e não um problema, me diz onde sua família está que eu aviso eles e…
— Eu não tenho família, estou sozinha. — diz Saphira a interrompendo.
Camila então percebe a situação, uma menina sozinha, sem estudos, vivendo em fuga. Ela sai do banheiro após dizer:
— Vistá-se, sinto muito, mas não posso fechar os olhos após ver seu corpo.
Saphira cai de joelhos em lágrimas e Camila chama a mãe no escritório, Draco a escuta e segue elas, entrando quando escuta:
— Acho que alguém tentou abusar dela.
— Como? — pergunta Draco.
— Eu fui deixar algumas roupas no banheiro e ela estava nua de costas para a porta, o que vi… o corpo dela… eu não consigo imaginar como ela consegue viver. — diz Camila chorando.
— Eu já estava desconfiada, mas não imaginava que fosse assim. — diz Rosana se sentindo mal.
Saphira se aproxima usando um vestido de alças de Camila e uma sapatilha, Rosana a abraça chorando ao ver as hematomas, seu rosto vermelho e levemente inchado e as marcas de mãos nos braços dela. Draco fica imóvel e Saphira diz:
— Por favor, não pensem que vim para me aproveitar ou algo assim, eu só não tinha para quem pedir ajuda, fiquei com medo de ir até a lanchonete e perder o emprego, sairei bem cedo.
Draco a segura contra a parede e ela se encolhe como reflexo de proteção, ele percebe e diz:
— Sua reação me diz que não é a primeira vez, me diz quem deixou esse chupão perto do seu pescoço.
— Não posso. — diz Saphira sem o olhar nos olhos.
— Olha para mim. — diz Draco com a voz grave.
— Draco por favor…
Antes que Camila termine, Rosana a segura pelo braço e ela entende que não deve interferir, Draco continua encurralando Saphira, mas sem tocá-la, então ele diz mais uma vez e mais alto, como em um grito:
— Olha para mim!
— Por que se importa?! Antes pensava que eu era apenas uma aproveitadora, por que quer saber?! — pergunta Saphira o encarando.
Ela vê seus olhos brilhando e eles parecem passar uma calma muito grande, o que a faz relaxar os músculos e Draco também parece se acalmar dizendo:
— Por favor, me diz quem foi.
— Se eu fizer isso perderei minha casa. — diz Saphira.
— Isso não é casa, em nossa casa não precisamos ter medo, não somos machucados, um lar é segurança. — diz Draco.
— Então eu nunca tive um lar. — diz Saphira.
Essa frase quebra completamente a família, eles percebem que o problema é muito mais profundo, então Draco diz:
— Minha mãe nunca permitiria que você ficasse sem uma casa e eu não vou permitir que volte para aquele lugar, então me diga onde é e eu buscarei suas coisas.
— Eu…
— Apenas diga querida. — diz Rosana a interrompendo com a mão no ombro dela.
Saphira sente medo deles por um momento, mas não é de se machucar fisicamente e sim de eles apresentarem sentimentos bons e ela os fazer sofrer. Ela se sente cansada e diz:
— Eu moro em um trailer na parte escura da cidade.
— Conheço o lugar e agora já imagino quem é o culpado. — diz Draco.
— Rafael. — diz Camila com nojo.
— Ele vai morrer! — diz Draco socando a parede e abrindo um buraco.
— Por favor não! Não faça nada. — pede Saphira o segurando pelo braço.
Draco a encara e percebe que ela já está cansada de violência e dor, então coloca as mãos em seus ombros e diz:
— Tudo bem, irei respeitar seu desejo.
Camila leva Saphira para prender os cabelos e diz:
— Não se assuste com meu irmão.
— Não estou assustada com isso, mas percebi pela forma que ele me olhou, que esse assunto é um tipo de gatilho para ele. — diz Saphira sentada enquanto Camila prende seu cabelo.
— Nossa mãe depois que nosso pai morreu, conheceu um homem, foram anos depois e ela sentiu que finalmente poderia amar de novo, mas não foi assim, ele fez muito mal a ela, a machucava sem parar e quando Draco descobriu ficou louco, ele a buscou e deu uma surra naquele agressor horrível. — diz Camila.
— Acho que agora começo a entender melhor o comportamento dele. — diz Saphira.
Elas saem para fora e Rosana pede que Saphira os espere na sala, pois eles precisam conversar, então ela desce as escadas e vê aquelas duas crianças loiras, a menina tem os olhos azuis e o menino tem olhos castanhos, os dois a olham e perguntam:
— Quem é você senhorita?
— Me chamo Saphira. — diz ela.
— Nesse reino eu sou o caçador e ela uma donzela em perigo, você também é uma donzela em perigo? — pergunta o menino.
— Eu sou um monstro. — diz Saphira o encarando.
— Aqui monstros morrem. — diz ele se aproximando com uma espada de brinquedo.
— Então veremos quem morrerá. — diz Saphira correndo até eles e fazendo cocegas.
As crianças começam a gritar e rir, então sobem em cima dela retribuindo o ataque de cocegas no chão, eles não param de rir e Camila diz:
— Acho que já conheceu Felipe e Bruna.
Os três se sentam e percebem que estão sendo observados por Draco, Rosana e Camila, então se levantam e arrumam as roupas, Draco diz:
— Estou surpreso, eles não costumam se aproximar assim de alguém.
— Como assim? — pergunta Saphira vendo as crianças voltarem a brincar.
— Desde que o pai deles morreu, eles não deixam ninguém mais entrar, vivem no mundinho deles. — diz Camila os olhando.
— Sinto muito. — diz Saphira com tristeza no olhar.
— Tudo bem, já faz dois anos. — diz Camila.
3 homens e duas mulheres chegam e vão até à sala de jantar, uma das mulheres alta, magra, pele negra e um lindo cabelo cacheado diz:
— Desculpe o atraso Rosana, a chuva atrapalhou um pouco.
— Tudo bem Clarisse. — diz Rosana a abraçando.
Todos olham para Saphira e Rosana diz:
— Essa é uma grande amiga minha, ela se chama Saphira.
— Saphira, o homem alto ali no meio de cabelo arrepiado é Jhoe, braço direito de meu irmão, o loiro da esquerda é Romeu e o mal humorado da direita é Maik. — diz Camila apontando.
— Essa é Clarisse e aquela de cabelos azuis é a Angel. — diz Saphira.
— Somos todos uma grande família. — diz Draco.
Todos a cumprimentam e se sentam a mesa para comer e conversar, em um momento na mesa Draco diz algo em uma língua usada pelos lobos, Saphira olha para ele como se tivesse entendido e todos param na mesa, ela para disfarçar diz:
— Meu colar! Não está comigo.
— Aquele que você está sempre usando? — pergunta Rosana.
— Sim, me deem licença vou olhar no banheiro, ele é importante para mim. — diz Saphira subindo as escadas.
— Draco, qual a possibilidade de essa moça ser uma de nós? — pergunta Angel.
— Não acho que ela seja um lobisomem, as hematomas dela nem se curam, sem contar que ouviram o motivo do pulo dela. — diz Rosana.
— Para falar a verdade, não tiro da cabeça que a conheci antes. — diz Draco se lembrando da cachoeira.
— Chega disso. — diz Camila ouvindo ela voltar.
— Eu o encontrei! — diz Saphira sorrindo e o segurando contra o peito.
— Que colar lindo, é uma acônito? — pergunta Jhoe ao ver o pingente.
— Acho que sim, não tenho certeza, minha mãe morreu antes que eu pudesse ter idade para perguntar. — diz Saphira.
Todos ficam em silêncio e Draco diz:
— Saphira, sabia que temos uma cachoeira linda? Ela fica na mata.
— Sério? Deve ser linda, eu amo cachoeiras. — diz Saphira com um grande sorriso.
Draco não se dá por vencido, ele não consegue tirar da mente que ela pode ser a mulher da cachoeira, então ele diz uma palavra perigosa que faz com que todos os lobos fiquem com os olhos brilhantes como quando estão prestes a se transformar, todos ficam surpresos e tentam disfarçar, quando Saphira olha para ele, ela está normal e pergunta:
— Está tudo bem? Ficaram quietos de repente.
— Está sim, querida. — diz Rosana tentando se acalmar.
O resto do jantar passa sem problemas, as crianças chamam Saphira para brincar e eles voltam para a sala, o resto se reúne na cozinha e Camila diz:
— Isso foi perigoso.
— Eu precisava descobrir. — diz Draco.
— Descobrir o quê? Viu as feridas dela, se ela fosse uma de nós a essas horas já estaria curada. — diz Rosana.
— Não tiro da cabeça que a mulher na cachoeira era ela. — diz Draco frustrado.
— Mulher na cachoeira? — pergunta Jhoe.
— No dia da corrida, eu fui na direção da cachoeira e tinha uma mulher nua se banhando, ela estava começando a se transformar… foi lindo… até que ela me viu e correu. — diz Draco.
— Isso significa que tem uma loba por perto. — diz Angel.
— Mas não significa que é ela. — diz Camila.
— Lobo milenar. — diz Saphira se aproximando.
— O quê?! — perguntam todos surpresos.
Saphira para surpresa com a reação deles e diz:
— As crianças estão me pedindo para contar a lenda dos lobos milenares, mas eu não sei que lenda é essa.
Todos respiram fundo e Camila rindo diz:
— É uma lenda que o pai deles contava sempre sobre uma família de lobisomens muito antiga, a lenda diz que eles podiam se passar por humanos sem riscos, pois podiam se transformar na hora que quisessem e mesmo sendo muito mais fortes que um lobisomem normal, conseguiam esconder essa força e inclusive a habilidade de cura rápida.
— Que lenda legal! Tem um final? — pergunta Saphira.
— Tem sim, diz a lenda que todos os clãs desejavam casar seus líderes com um membro da família milenar, uma criança vinda dessa família era considerada rara e poderosa, trazendo nome ao clã. Acontece que não era comum nascerem mulheres e o clã foi diminuído, até que uma nasceu, uma guerra se instalou para saber quem a teria e no fim, nunca a encontraram. — diz Camila.
— Posso adaptar um pouco? Achei triste o final. — diz Saphira.
— Pode sim, eles vão adorar. — diz Camila.
Saphira corre até a sala e percebe Draco pensativo dizendo:
— Desembucha, que minhocas está alimentando na cabeça agora?
— Quais seriam as chances de os lobos milenares terem sobrevivido? — pergunta Draco.
— Agora pronto, não vai me dizer que acha que aquela menina na sala é uma loba milenar. — diz Camila rindo.
Todos começam a rir e Rosana diz:
— Não importa quem ela é, vou cuidar dela da mesma forma.
Quando dá meia-noite todos brindam e a festa continua até as 2h da manhã. As crianças acabam dormindo com Saphira na cabana cheia de travesseiros que está na sala, Jhoe a observa e diz:
— Ela não tem cheiro de lobo.
— Eu sei, mas o cheiro dela é doce. — diz Draco.
Todos o encaram e ele diz:
— É só um comentário.
— Estou curiosa pelo passado dela, mas tenho medo de saber também, quando alguém fica mais a vontade com crianças do que adultos e tem tantos machucados, imagino apenas sombras, dor e sofrimento. — diz Maik.
— Sinto pena dela. — diz Romeu bebendo seu champanhe.
— Bom, melhor irmos dormir, está tarde e hoje temos reunião com alguns membros da alcatéia. — diz Draco.
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