IMOGUIRI GONÇALVES
Roberto sempre tinha a mesma desculpa, brigava em casa para cair na gandaia
"O seu Fonseca não apareceu, mas no finalzinho do dia apareceu uma senhora granfina na loja, olha o nome, Imoguiri Gonçalves"
"Que nome diferente João, era bonita?"
"Sim, uma senhora Roberto, respeita, pra falar a verdade acho até que vi ela aqui, uma senhora de óculos, vestido marrom"
"Olha João acho que vi sim, essa senhora bem ali na escadaria"
"Estranho"
"Estranho nada, todo mundo gosta de cair na gandaia João"
Lembro que fiz o mesmo roteiro sempre que Roberto bebia, e aconteceu novamente naquela sexta-feira, levá-lo bêbado até em casa, e de lambuja escutar um sermão da Maria, ela sempre colocava a culpa nos outros, nunca no marido dela, eu lá no meu canto e ainda tive que escutar lorota
Tinha combinado de passar na casa da senhora Imoguiri Gonçalves na segunda de manhã, mas a gasolina estava o olho da cara, e eu fazia a retirada dos móveis com minha própria caminhonete caindo aos pedaços, e o seu Fonseca era um sovina, para me dar o dinheiro da gasolina, como tive que resolver assuntos perto do endereço da tal mulher resolvi adiantar o serviço
Cheguei na rua Alfredo nepomuceno Maia por volta das 10:30, olhei o número 45 e estranhei, era um prédio de três andares, simples, na verdade bem surrado, com gramas tampando a calçada, o lugar não ornava com a tal mulher, estacionei e entrei no prédio
Eu era um sem eira nem beira, morava numa pequenina casa sem quintal, sim
tinha muito orgulho, era minha casa, não tinha mulher e não tinha como até hoje não tenho filhos, mas não tinha como não reparar a decadência do lugar, não só, a falta de higiene, senti repulsa logo na entrada, ver um rato revirando uma sacola de frutas podres não foi uma boa visão
No térreo dois apartamentos com portas fechadas, lacradas com madeira, a escadaria com paredes mofadas e com infiltrações gigantescas, vi alguns moradores mal encarados, que não respondiam o meu bom dia
Rapidamente cheguei na porta 32, sim, era diferente das demais, uma porta limpa, flores na entrada, uma verde e grande samambaia no alto, toquei a campainha
"Pois não senhor"
"Bom dia! Meu nome é João, vim retirar a poltrona"
A mulher me olhou com cara de poucos amigos, deu um passo para trás chamando seu marido, Moisés o nome do dito cujo
"O que foi homem o que quer aqui?"
A mulher saiu da minha presença de forma estranha, fiquei sem jeito, o tal Moisés chegou de forma agressiva, me perguntava o que tinha feito de errado
"Olha senhor, parece que a um mal entendido aqui, acho que errei de endereço, não quis assustar sua mulher, mas uma senhora me procurou ontem e pediu para retirar uma poltrona aqui na segunda-feira, tentei adiantar o serviço"
"Que mulher que te procurou?"
"O nome dela é Imoguiri Gonçalves, uma senhora..."
O homem deu um soco na parede, mostrou raiva e medo ao mesmo tempo, uma cena pra lá de estranha, temendo alguma agressão, dei dois passos para trás, mas o homem fez perguntas com a voz embargada
"Onde tu mora? trabalha na tapeçaria? A tapeçaria 2 irmãos? porque está acontecendo isso outra vez?"
O homem ficou transtornado, a mulher soluçava de dentro do apartamento, eu tentei melhorar a situação, mas não deu
"Amigo, nem vou perguntar como sabia onde eu trabalho, fazemos assim, eu vou embora agora e faço de conta que nunca vim aqui, não me conte nada, não quero importunar ninguém"
"Você não entende homem, você já está envolvido, está acontecendo mais uma vez, o seu Patrão não falou nada para você? olha minha mulher já está desesperada, vou levar ela pra casa da irmã e hoje ainda te procuro, onde posso falar contigo?"
"Amigo, não estou gostando de nada disso, eu vou embora"
O homem me pegou pelo braço implorando
"Isso já aconteceu a 10 anos atrás, minha filha se suicidou e seu patrão também teve problemas, Você atendeu essa maldita, está envolvido, está correndo risco, então por Deus, onde posso conversar com você ainda hoje?"
"Na gafieira Chão vermelhão, sabe onde fica?"
"Sim, mais tarde te encontro lá"
O homem bateu a porta apressado, me deixando aquela bucha na mão
Entrei no carro tremendo, o que estava acontecendo com aquele casal, eles mostraram um pavor surreal, como aquela mulher de idade avançada poderia me fazer mal, mostrou-se frágil, aquilo não fazia sentido nenhum e ao mesmo tempo muito sentido, um homem não ficaria tão desesperado, e o suicídio da filha, era muita loucura ao mesmo tempo
Pensei em largar tudo de mão, esquecer que atendi a tal mulher, mas não era mais possível, disse onde trabalhava, onde frequentava, não tinha escapatória, tinha que me encontrar com o tal homem no Chão vermelhão, e fui
Anoiteceu, passei na casa do Roberto e claro que escutei da Maria, com razão dessa vez, ia tirar o marido dela num sábado a noite, mas até ela viu que eu estava nervoso
"Boa João, me salvou cara, tava louco pra sair"
"Toma vergonha cara, não tô te levando pra gandaia, é coisa séria"
"Tá bom, no chão vermelhão?"
Expliquei toda situação para o Roberto que sim, me confirmou que logo quando entrou na tapeçaria tinha ouvido falar de uma história que um homem chamado Gilmar, irmão do senhor Fonseca, tinha se suicidado por causa de uma mulher, mas não sabia a história em detalhes, na verdade ele alertou que o velho não gostava que tocasse nesse assunto, temeu por seu emprego
"O velho não fala sobre isso João, vai dar problema, mas o que isso tem haver contigo? você não trabalhava lá na época"
"Eu sei Roberto, eu entrei bem depois de você, mas parece que de alguma forma a mulher que te falei, a tal Imoguiri Gonçalves, é a mesma mulher do passado"
"Isso é impossível, Você está louco João"
"Logo vamos saber, uma pessoa vai nos encontrar e vai falar o que realmente aconteceu"
Subimos as escadas do chão vermelhão apavorados, Eu estava nervoso pois estava colocando meu amigo Roberto em uma história que não era a dele, tive o mal caratismo de tirar um pai de família da sua casa pra uma roubada
"Roberto, não devia ter te chamado, você não tem nada com isso"
"Para de bobeira, eu tava doido pra vir pra cá"
Quando chegamos no salão já avistamos o tal Moisés acenando com a mão de forma pra lá de agitada, Roberto chamou sua atenção
"Pare de gesticular homem, pare com isso"
"Quem é esse?"
"Esse é meu amigo Roberto"
O homem fez uma negativa com a cabeça desaprovando minha atitude de trazer um terceiro
"Sentem-se, agora os dois estão envolvidos"
A trama mudou de patamar, temi pela vida do meu amigo, o homem estava convicto do que estava falando, ele estava com uma espécie de caderneta
"Então, tudo começou"
"Calma aí..."
"O que foi Roberto?"
"Deixa eu pegar o cigarro no carro João, dá a chave"
"Tá bom, vai rápido, isso é sério"
"Seu amigo é um idiota"
"Eu sei, mas vamos esperar ele voltar, como disse, ele também tá envolvido"
De repente um barulho, todos no salão correram para janela, muitos descendo a escada, me levantei lentamente já sabendo o que poderia ter acontecido, e juro, gostaria muito de estar errado, mas não, não estava
Era Roberto no chão, morto, com sua cabeça completamente esmagada, nunca vi tanto sangue na minha vida, me desesperei, a culpa era minha, toda minha, coloquei meu melhor amigo em perigo, os gritos do motorista do caminhão eram como facas entrando no meu peito
"Ele se jogou na frente do caminhão, eu juro, não tive culpa"
Antes que eu pudesse me mover, outra gritaria, essa vindo de dentro do chão vermelhão, e sim já tinha certeza do que tinha acontecido, subi rapidamente as escadas e estava lá, Moisés também tinha se matado, quebrou uma garrafa e cortou a própria garganta, sem ninguém ver peguei a tal caderneta
Naquela mesma noite, fui avisado que o senhor Fonseca tivera o mesmo fim, isso foi a 15 anos atrás, nesse tempo abri a minha própria tapeçaria, mas com medo a todo minuto, tinha entendido a caderneta
A senhora Imoguiri Gonçalves, participava de rituais na casa de uma senhora que tinha se mudado de Nova Orleans, naquela época uma entidade tinha tomado seu corpo e matado sua carne, mas em seus últimos dias passava horas na tal poltrona, Depois de seu enterro Moisés vendeu a poltrona para tapeçaria 2 Irmãos, O senhor Gilmar e o senhor Fonseca
O senhor Fonseca revendeu a poltrona, mas por algum motivo a entidade não se vingou diretamente com as pessoas que tivera ligações, muito pelo contrário, não atrapalhou a vida de Moisés, tirou a vida de sua filha, algo mais doloroso, assim como o senhor Fonseca que revendeu, tirou a vida de seu irmão, mas naquele dia a entidade fechou o ciclo matando Moisés e o senhor Fonseca
Abriu outro ciclo matando meu amigo e agora penso que chegou o meu dia, minha funcionária acabou de me dizer que tem uma mulher no balcão querendo falar comigo, o nome dela é Imoguiri Gonçalves, Que Deus me ajude
Fim
Texto de: João Damaceno Filho
CARTA DE MIGUEL RELVAS
Uma cidade abandonada, edifícios destruídos com o mato tomando conta, as ruas estavam quase cobertas de grama, carros abandonados em completo ferrugem, um tempo frio com um nevoeiro medonho
Outrora pensava que nada mais me daria medo, estava redondamente enganado, sete além era o lugar mais terrível do mundo paralelo
Olhei para trás e assim como antes, a porta sumiu, não tinha jeito eu tinha que prosseguir, seguir, tinha que estar preparado, com certeza alguém ou algo já tinha notado a minha presença
Mas como aquilo foi aparecer assim, e um caderno novo, a cidade estava em ruínas, como o caderno poderia estar assim em perfeitas condições, ao abrir o caderno tudo ficou mais horripilante, a frase foi surreal
"Escreva tudo o que aconteceu comigo, tudo, preste atenção ao escrever, não deixe passar nenhum detalhe"
Como assim? Eu já tinha em mente de escrever tudo, e quem poderia querer isso também? Peguei o caderno e andei pela cidade, certamente já estava-me acostumando com tudo aquilo, o pavor tinha a obrigação de me acompanhar naquele momento
A cada passo que dava, podia sentir que algo ou alguém ia-me assustar, era uma cena já visualizada na minha mente, não demorou muito e aconteceu do jeito que idealizei, um homem parado na esquina, que ao notar a minha presença afastou-se rapidamente, e claro! Corri atrás dele
Virei a esquina e o tal homem estava também sentado num banco que ficava em uma calçada que um dia foi visível seu piso, hoje coberto por grama, fui-me aproximando do homem, ele estava de costas para mim
Algo me era bem familiar naquele homem, era estranho, mas eu podia sentir, quando cheguei perto e olhei no seu rosto não pude acreditar, era eu! Eu estava no banco
"Como é possível, quem é você?"
"Que pergunta idiota, eu sou você, você não se conhece mais?"
Era claro que estava a ver eu mesmo sentado no banco, mas não poderia ser eu, eu tinha acabado de chegar, então era impossível estar ali
"Sim! Eu estou vendo que se parece comigo"
"Miguel! Eu não me pareço com você, eu sou você! Eu deixei o caderno no banco, faça do jeitinho que eu falei, só assim a ordem natural das coisas não terá interferência"
Me sentei ao lado do meu outro eu, ele me contou que universos paralelos existem aos montes
E que diariamente humanos atravessam a barreira, mas isso tinha um preço, causava desordem no universo
Eu disse que não estava mais suportando tudo aquilo, queria ter a minha vida de volta, pedi ajuda, mas o meu outro eu disse-me que ainda não era a hora de voltar, eu teria que passar por mais um estágio, tinha sido escolhido, e não poderia falhar
Enquanto falava comigo, um carro passou em alta velocidade, bem na nossa frente, eram jovens bebendo e ouvindo um som alto, pareceu-me bem real, mas como?
"Esse carro que acabou de passar bem na nossa frente, parecia ser real"
"É real, se liga cara, preste atenção"
Comecei a andar pela cidade abandonada, e ficava cada vez mais impressionado como os diretores de cinema, os escritores, como poderiam fazer aqueles filmes de zumbis, de terror em geral, era exatamente como sete além, perguntava-me se não passaram também pela mesma experiência que estava passando
Sentia gradativamente um cheiro forte de enxofre, como sempre, a minha curiosidade me fez seguir o horrível odor, um sentimento estranho tomou conta de mim, era o sentimento de não mais ter medo, aquilo parecia ser bom, mas não era, no fundo do meu coração sabia que não era, o medo era essencial pra minha sobrevivência
E nesse rompante de pensar que o medo teria se afastado de mim, cheguei próximo de onde vinha o cheiro de enxofre, era um edifício abandonado, de dentro dele era possível se ouvir gritos, gemidos e muito choro, logo veio-me à mente os jovens que passaram por mim, estão aí, sabia que se entrasse estaria descumprindo uma regra
Voltei ao mesmo banco o qual eu mesmo, ou melhor, o outro eu deixara o caderno e comecei a escrever, comecei a escrever tudo, desde o açougue, tudo nos mínimos detalhes
Fiquei horas escrevendo, ou até dias, era tudo tão louco em sete além que já não sabia ao certo, aquele sentimento de coragem cada vez mais me tocava, um sono tomou conta de mim, um sono profundo foi se aproximando, se aproximando
Acordei e olhei pro caderno que incrivelmente já tinha o dobro de páginas já escritas, mas quem? Quem escreveu de onde eu parei?
Fiquei sem saber o que fazer, eu não tinha vivenciado os novos acontecimentos do caderno, não era a minha história, deixei o caderno ali mesmo no banco, de relance tinha visto a frase
"Eu senti muita dor naquele momento"
Essa frase desencorajou-me de seguir o que estava escrito no caderno, eu tinha passado por muitas coisas, mas dor eu não senti até então, abandonei o caderno e caminhei, tinha uma ideia que poderia dar certo, pensei que se fosse sagaz poderia driblar sete além, taured e todo aquele mundo maluco
Voltei rapidamente pro mesmo lugar onde estava a porta misteriosa que tinha-me trazido a sete além, eu subi para taured e descido a sete além, se achasse a tal porta voltaria ao patamar médio onde estava o maldito galpão, a maldita cidade e assim voltar pra a minha cama quentinha, lugar de onde não deveria ter saído
E foi justamente o que aconteceu, virei a esquina e lá estava ela, a porta, no meio do nada, o meu peito encheu-se de alegria, ia dar certo, tinha enfim enganado sete além
Puxei a maçaneta e nada, ela não abriu, mas uma voz veio do lado de dentro da porta
"Miguel relvas, você já cumpriu a sua missão?"
Confirmei que sim, logo em seguida a porta abriu-se, senti alívio, venci a terrível cidade paralela de sete além, subi as escadas correndo, não sei de onde puxei tanto fôlego, mas subi, a vontade de sair dali era tão grande que me superei a cada instante
Cheguei no patamar médio, onde estava o galpão, era exatamente igual, estava do jeitinho que me lembrava, até papelão que me escondi estava lá, logo que me aproximei a mulher que zombou de mim quando me cobri com o papelão se aproximou
Estava tão horrível quanto antes, mas para quem já tinha subido a taured e descido a sete além, ela mais parecia Alice, a mesma do país das maravilhas, ela chegou perguntando
"Você cumpriu a sua missão Miguel Relvas?"
Como antes, confirmei que sim! Já tinha ludibriado sete além, fiz o mesmo com ela, mas ela foi insistente
"Você tem certeza Miguel? Você não alterou a ordem natural das coisas? Se fez tudo certo pode ir, o seu destino irá se cumprir"
Perguntei o que o destino reservava-me e ela respondeu
"Sua vida será tranquila, morreu aos 89 anos no dia 13 de setembro de 2032 às 14:00 atropelado, em um dia ensolarado, e voltará então para cá, diante de mim, eu lhe direi se você subirá a taured e ver como realmente é, ou descerá a sete além e ter o desprazer de ver o que você não viu"
As palavras eram amedrontadoras, fiquei arrepiado em saber que fui ao céu e ao inferno, mesmo que não mostrado da forma real
Corri para porta de saída, queria a minha vida de volta, antes de sair perguntei o nome da tal mulher e ela respondeu
"Meu nome é consciência"
"Até daqui a 70 anos dona consciência, vai demorar"
"Não vai não Miguel relvas, passa rápido"
Saí do galpão e tive a maior alegria da minha vida, começava a ver pessoas, ouvia o canto dos pássaros, até o cheiro de combustível que saía dos carros dava-me uma sensação de leveza, mas tinha algo de errado com os edifícios e com a paisagem que conhecia
Fui até a banca de jornal, que era linda, era bem moderna por sinal, perguntei ao proprietário
"Amigo! Tudo bem? Gostaria de fazer uma pergunta"
"Pois não senhor!"
"Este é o bairro do bixiga?"
"Há sim! O bairro se chamava assim, mas hoje não mais, a anos não chamamos o bairro com esse nome"
Algo não estava correto, morrendo de medo da resposta perguntei
"Que dia e que ano nós estamos meu amigo?"
"Hoje é 13 de setembro de 2032 13:59 meu senhor, ei! Senhor calma...... Calma...... Olha o carroooooo..............."
Abri meus olhos e lá estava ela, a consciência, que ironicamente falou
"Eu não disse que passava rápido"
Fim
Texto de: João Damaceno Filho
VIZINHOS BARULHENTOS
Época da faculdade , eu com meus 17/18 anos , como o Campus era longe de casa , meus pais permitiram( com muito custo), que eu morasse num apartamento alugado, com mais umas 4 colegas que estudavam tb na mesma instituição.
Dividíamos além do espaço, a alimentação , as contas...
Era um horror!
Gostava das colegas, porém , a privacidade era zero!
Algumas não respeitavam nosso sono, mexiam em nossas coisas, comiam nossas guloseimas , não colaboravam nas divisões de tarefas do lar, eram desleixadas e desorganizadas...
Enfim...cada qual com seu jeito.
Eu sempre fui muito organizada.
Estava me aborrecendo muito e não conseguia me concentrar nos estudos.
Falei com meu pai sobre o que ocorria e ele então alugou um apartamento só para mim.
Por sorte era mobiliado e o que faltava fomos providenciando aos poucos...
Era um prédio bem antigo , nem elevador havia.
Um espaço só para mim , decorado do meu jeito , eu " me sentia".
Morando sozinha e " independente"...
Ia para a faculdade pela manhã bem cedo, estudava até às 13h e após , ia para uma livraria famosa, onde arrumei um emprego de balconista e atendente.
Foi uma época muito feliz da minha vida, me sentia "adulta e independente", apesar de meus pais estarem por trás de meu sustento.
Eu ganhava pouco, apenas o suficiente para meus luxos e pequenas necessidades.
Foi numa noite em que havia chegado muito cansada que tudo começou...
Naquele dia, após as aulas, trabalhei na livraria e o dia foi especialmente agitado .
Fiquei encarregada de organizar sessões de livros por títulos e gêneros , chegando em casa mais tarde com muita dor de cabeça.
Tomei banho , comi alguma coisa e fui ler um artigo para uma possível prova oral a qual a minha turma havia sido "ameaçada" pelo professor a ter no dia seguinte.
Já passava de 01:00h da manhã e comecei a escutar barulhos vindo do apto de cima. Passos pesados e móveis sendo arrastados.
E depois um barulho mais forte de algo pesado caindo.
Pensei comigo : " Q HORA PRA SE FAZER FAXINA!" .
Fui deitar .
Pela manhã a mesma rotina se deu.
A noite, estudando e fazendo trabalhos novamente ouvi aqueles móveis sendo arrastados e depois o barulhão de algo pesado caindo.
Barulho alto e incômodo.
Dias se seguiram e aquela barulheira não tinha jeito.
Final de semana e/ou feriados durante o dia , quando não ia a casa de meus pais, eu permanecia em casa e nenhum barulho se ouvia vindo do apto de cima.
Fora isso , toda madrugada era a mesma perturbação.
Passos , móveis pesados sendo arrastados e o barulhão de algo caindo pesadamente ao chão.
Cheguei em casa aquela noite cansada e apaguei.
Acordei com os passos e depois aquela sequência de barulhos.
P...da vida , peguei uma vassoura e dei com o cabo, umas batidas fortes no teto e gritei : " ÔOOO OLHA A HORA!!"
Fiquei com tanta raiva que nem dormi direito depois.
No dia seguinte , me dirigi ao zelador do prédio, pois não havia porteiro .
E reclamei do barulho que vinha de cima do meu apartamento.
Ele olhou estranhamente para mim e falou: " ATÉ QUE DEMOROU PARA ACONTECER COM VC MENINA!
NÃO MORA NINGUÉM NO APTO DE CIMA HÁ TEMPOS!"
Eu estranhei e rebati a informação, repetindo e afirmando o que eu toda noite escutava.
E ele continuou dizendo com ar estranho :
" A moradora daquele apartamento suicidou-se , foi encontrada pendurada por uma corda no lustre. Enforcada !
Subiu numa cadeira e pendurou-se.
Foi encontrada dias depois do ocorrido.
O cheiro era terrível...
Aqui neste prédio, sempre ficam dois apartamentos vazios ...
O dela e o seu, pois ninguém aguenta os barulhos..."
Fiquei estarrecida, boquiaberta!!!
Nem fui a faculdade naquele dia.
Liguei para meu pai , contei o ocorrido e disse que queria voltar pra casa e que não queria mais ficar ali.
Enfim...
Voltei para casa de meus pais, para meu quarto e apesar de ser longe e cansativo o trajeto, fui para a faculdade de busão por um tempo até meus pais me presentearem com um carro.
Até hoje , tenho medo de ficar sozinha.
Ouço claramente aqueles barulhos em minha mente...
( Por Sílvia Restani)
Para mais, baixe o APP de MangaToon!