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Minha Gotinha De Amor

Capítulo 1

"Chega um ponto em que tudo se torna demais. Quando ficamos cansados ​​demais para lutar mais. Então desistimos. É aí que o verdadeiro trabalho começa. Para encontrar esperança onde parece haver absolutamente nada."

- Grey's Anatomy

"Rosa"

- Rosa, Rosa - ouvi gritos estridentes e pancadas na porta que faziam as paredes do meu minúsculo quarto estremecer.

Quem me vê neste meu quarto onde só cabe uma cama de solteiro e eu muitas vezes tenho que estar curvada para não bater a cabeça, já que fica debaixo da escada, e eu tenho muita dificuldade para entrar e sair.

Vocês devem estar pensando que eu sou pobre ou vivo de favor neste lugar, mas a verdade é que tudo que está nesta casa é meu, e o lugar é muito grande, tem seis quartos, mas a minha avó não me deixa dormir no andar superior, na verdade ela nem gosta quando eu fico aqui.

Saí do meu cubículo com cuidado, não podia fazer barulho, e não queria bater minha cabeça novamente, e muito menos cair.

- Finalmente você acordou - minha avó falou já toda elegante.

- Desculpa, eu fui dormir um pouco mais tarde...

- Só espero que não tenha ido falar com um namoradinho, você sabe que nenhum homem vai te amar, afinal, quem vai querer namorar uma assassina e uma deficiente - ela falou e me empurrou e eu caí.

- Vovó - a Ramona gritou de cima da escada e veio correndo.

- O que foi, minha netinha linda? Você já deve estar com fome - minha avó falou esboçando um sorriso para ela. - Levante logo daí e vai logo fazer o café das suas irmãs. - Ela falou me chutando.

- Não faz isso com a minha irmã - a Ramona pediu.

- Ela merece muito mais, está assassina, miserável - minha avó falou me dando outro tapa. - Você matou a minha filha - ela falou como das outras vezes e saiu, eu tentei levantar, mas não conseguia, e isso sempre me fazia chorar.

- Vem, Rosa, deixa eu te ajudar - Ramona falou me ajudando a levantar com cuidado. - Você se machucou? - ela perguntou preocupada comigo, eu me sentei no sofá, tirando a prótese da minha perna com cuidado, está folgada desde que fui obrigada a voltar para o Brasil, eu perdi muito peso. - Rosa, não dê ouvidos para o que a vovó fala, você vai encontrar um amor um dia.

- Eu não ligo para isso, Romana, eu só quero ir embora o mais rápido possível daqui...

- É só ir, ninguém está te segurando, você está aqui por opção - Rosário falou descendo as escadas de pijama.

E ela, por um lado, está certa, eu posso ir a hora que eu quiser, mas eu estava cansada de nunca pertencer a um lugar e ficar jogada de um lado para o outro, e também não posso sumir sem dinheiro, mas estou resolvendo isso, eu preciso ter controle total do meu dinheiro, e mesmo eu só estando aqui no começo para poder conviver com minhas irmãs, eu não as vejo há um tempo.

- Não fala assim, Rosário, a Rosa está na casa dela, nós que moramos aqui de favor...

- Se você não está lembrada, esta casa era dos nossos pais, e não da Rosa, o papai que foi um besta em ter colocado tudo no nome da aleijada - ela falou e aquilo me deu vontade de chorar, então só coloquei a minha prótese para sair dali o mais rápido possível.

- Rosário, não fala assim da nossa irmã, você sabe muito bem por que ela perdeu a perna, e tudo é dela, a nossa mãe nunca trabalhou e todo o dinheiro que nossa família tem vem da Rosa, agora para de destilar seu veneno - Rosângela falou com um sorriso, vindo toda arrumada.

Ela sempre foi uma fofa comigo, bom, só a Rosário que desde o acidente ficou assim ácida e sempre me trata mal.

- E você quer ajuda para tomar banho? - Rosângela perguntou.

- Não precisa, Angela, eu consigo sozinha, mas deixa eu fazer o café de vocês, e você, Ramona, vai sair comigo? Hoje eu vou lá na universidade - falei me levantando.

Eu me viro muito bem sozinha, eu uso prótese há quase 15 anos, então eu tenho muita praticidade em me locomover e me virar sozinha, afinal, eu nunca tive ninguém para me ajudar.

Cheguei na cozinha, hoje a cozinheira precisou de um dia de folga, e como eu dei sem pedir à minha avó, ela está uma fera comigo, mas a verdade é que ela não gosta de mim, nunca gostou, para ela eu deveria ter morrido há muito tempo.

- Você vai embora quando? - minha avó perguntou - Se você quiser, eu converso com o padre Eduardo, ele pode arranjar um ótimo convento.

- Obrigada, mas eu não tenho vocação religiosa, e não se preocupe, eu só estou esperando a resposta da universidade...

- E claro, não vai procurar emprego?

- Mas quem contrataria ela, vovó? Quem quer uma aleijada cuidando de criança? Não sei para que ela gasta tanto o nosso dinheiro - Rosário falou e eu abaixei a minha cabeça, eu queria falar, mas estas palavras sempre me machucam.

- Para com isso, Rosário, e o dinheiro é da Rosa, ela faz o que ela quer - Rosângela falou vindo até mim e me ajudando a fazer as torradas.

- O dinheiro é nosso, ela matou os nossos pais, é o mínimo que ela tem que fazer - quando ouvi o que ela falou eu derrubei o prato que estava na minha mão no chão.

- Olha aí, é uma inútil mesmo...

Ela falou mais alguma coisa, mas eu não ouvi, eu saí da cozinha e fui para o banheiro e tirei a prótese, pegando as minhas muletas.

Fui para a frente do espelho e comecei a chorar.

Às vezes eu só queria ter morrido também, perder minha perna não foi o suficiente, olhei para o meu joelho que estava machucado por causa do empurrão.

- Se um Deus existe de verdade, por que me fez sofrer tanto assim? Por que eu não tenho um minuto de felicidade? Por que me tirou os meus pais? Eu preferia ter morrido com eles - falei chorando.

Eu sei que é verdade, ninguém nunca vai me amar de verdade, afinal, quem realmente amaria uma mulher assim? Eu sou horrível e não mereço ser amada.

Tomei o meu banho e vesti uma roupa como sempre, comprida. Eu não gosto que as pessoas vejam a minha prótese e venham com as perguntas chatas de como eu perdi a minha perna ou tenham aqueles olhares de pena. Vesti uma calça jeans e coloquei minha coturno preta, uma blusa lilás com uma das frases que eu mais amo.

"Antes de falar qualquer coisa, se coloca no lugar de quem vai escutar."

Eu só queria que mais pessoas realmente entendessem esta frase ou dessem atenção, mas eu já entendi há muito tempo que as pessoas são más e não tem nada que eu faça que possa mudar o mundo, a única coisa que tenho que fazer é a minha parte.

Arrumei minha bolsa, eu precisava falar com o meu advogado pessoalmente.

Saí de casa sem falar com ninguém, não quero que a minha avó descubra a verdade sobre o dinheiro.

Eu morro de medo de dirigir, e na verdade eu evito andar de carro, faço tudo a pé ou de metrô, como vou fazer agora. Eu preciso saber se consegui a vaga na minha pós e resolver a questão do meu dinheiro.

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Continua...

Capítulo 2

"Para conseguir o que quer, você deve olhar além do que você vê."

Filme (O Rei Leão 3)

Rosa

Fui diretamente falar com o meu advogado e tive uma ótima notícia: finalmente consegui mudar os laudos que minha avó tinha feito, dizendo que eu não tinha capacidade de cuidar do meu próprio dinheiro.

Finalmente saiu o resultado da minha pós-graduação. Eu queria estudar no México, onde morei há alguns anos e sou apaixonada, mas acho que chegou a hora de voltar para minhas raízes. Estou tentando voltar para Buenos Aires.

Eu nem acreditei quando vi que consegui a vaga.

- Parabéns, Rosa - meu professor Gabriel falou sorrindo para mim. - Você foi a única a conseguir essa vaga. A concorrência estava bem acirrada.

- Obrigada, professor. Nem acredito que vou voltar para a Argentina - falei sorrindo.

- Sei que você está bem empolgada, e é muito bom te ver sorrir. Eu sei que você só fez trabalhos como estagiária, e você precisa de vivência em sala de aula. Por isso, te indiquei para um colégio tradicional para meninas...

- Colégio de meninas? Essas coisas ainda existem? - perguntei, e ele sorriu.

- Sim, é um colégio bem tradicional, onde só estudam meninas de boa família...

- Quando você diz "boa família", você quer dizer famílias com muito dinheiro? - odeio esses termos, afinal, uma família humilde não é uma boa família. E, na verdade, eu vejo que essas "boas famílias" não são tão boas assim.

- Sim, então eu mandei o seu currículo e eles ficaram impressionados. Afinal, isso vai te ajudar a se manter lá sem precisar ficar se humilhando para sua avó.

- Mas você falou que eu... - fiquei toda sem jeito. Ele é o único professor que sabe das minhas limitações.

- Sim, eles sabem que você não tem uma das suas pernas, mas também sabem que você faz tudo e se locomove muito bem com a prótese, e nem parece.

- E o que eles falaram?

- Que você é uma das possíveis professoras e precisam que você esteja lá amanhã mesmo - ele falou receoso.

- Muito obrigada, vou comprar as passagens hoje mesmo. Muito obrigada pela oportunidade - falei, o abraçando.

- De nada, você merece muito - ele falou sorrindo.

Então fui correndo comprar minha passagem para não ter chance de desistir.

Cheguei em casa disposta a arrumar minhas malas e ir embora hoje mesmo. Sei que pode ser louco, mas estou cansada de todos os dias ser o saco de pancadas da minha avó. Porém, antes, veio a parte mais difícil: me despedir das minhas irmãs.

Chamei elas, aproveitando que minha avó tinha saído para fazer compras com suas amigas.

Minhas irmãs estavam todas na sala.

- O que aconteceu, Rosa? - a Rosângela perguntou sorrindo.

- Eu comentei com vocês que estava tentando uma vaga na universidade da Argentina - falei meio sem jeito. Odeio ter que me afastar delas novamente. Elas me olhavam com atenção. Ramona, minha irmã mais nova, já sabia da minha decisão, mas tinha que contar para as outras. - Bom, eu passei e vou fazer minha pós-graduação em Buenos Aires. Então, vou voltar amanhã mesmo.

- E o que você quer que a gente faça? Dar os parabéns? Então, eu dou. Parabéns - a Rosário falou seca.

- Sei que você está seguindo seu coração, Rosa, mas vamos sentir sua falta. E vai ser melhor assim. Ninguém merece ser tratada dessa forma como a vovó e a Rosário te tratam. Eu só espero que você seja feliz e pare de sentir tanta culpa. Você é maravilhosa, minha irmã - a Rosângela falou me abraçando, e logo a Ramona se juntou a esse abraço. - Eu queria ir junto.

- Então vamos?

- Eu não posso largar a faculdade, mas prometo que na primeira oportunidade eu vou te visitar.

- O que está acontecendo aqui? - minha avó perguntou, ríspida e grossa.

- A aleijadinha vai fazer a pós dela na Argentina. Acho que ela quer visitar as vítimas dela, né? Afinal, é lá que meus pais foram enterrados - a Rosário falou com ódio, e eu segurei as lágrimas.

- Eu não gasto mais um real com você, sua aleijada. Sabe, não sei nem para quê eu gasto dinheiro com essas coisas. Você nunca vai ser nada, nunca vai ter nem sequer uma família. Vai morrer sozinha pedindo esmola - ela falou, tentando me jogar no chão, mas Rosângela e Ramona me seguraram.

Eu queria gritar que ela não tinha nada e que todo dinheiro que ela esbanja por aí é unicamente meu. Que se eu quisesse, ela passaria fome. Mas, em vez disso, falei:

- Eu não pedi dinheiro, vovó. Eu vou dar um jeito...

- Vai vender o seu corpinho - ela falou com um sorriso. - Mas vai ter que dar um desconto na perna.

- Não, vovó. Eu vou trabalhar, e eu tenho o meu dinheiro. Você pode até controlar 25%, mas o restante é meu - quando falei, ela me deu um tapa na cara.

- Como você ousa me desrespeitar assim - ela falou com raiva.

- Eu não preciso que você tome conta do meu dinheiro, e eu vou estudar e vou voltar para a Argentina...

- Por mim, esse avião deveria cair. Afinal de contas, você não deveria estar viva - ela falou, e me retirei indo para o meu quarto.

Minhas irmãs até bateram na porta, mas aqui mal tem espaço para mim, então só pedi para elas irem embora.

Arrumei minha mala com cuidado, para não esquecer nada importante.

- Vamos voltar para casa, Sapolino - falei com o meu sapo de pelúcia. Eu tenho ele desde que me lembro por gente. Meu pai me deu quando eu era bebê, e por incrível que pareça, ele ainda tem o cheiro dele.

Eu não vou para a minha casa de infância, já que minha avó a vendeu há muito tempo. Mas temos um condomínio de 10 andares e já falei com os advogados. Tem um deles vago e, por sorte, já está todo mobiliado.

O apartamento fica muito bem localizado e não é muito longe dessa tal escola para meninas. Também não é muito longe da universidade, então fica perfeito. Se eu conseguir o trabalho, vai ser maravilhoso.

Depois de arrumar as malas e checar que está tudo ali, eu já estava pronta. Meu voo ia sair às 15 horas e já são 11:50, então não posso me atrasar. Como comprei as passagens em cima da hora, o voo tem duas escalas, mas também sei que logo estarei na Argentina e vai dar tudo certo.

O mais difícil foi a despedida. Não queria deixá-las de novo, mas tenho certeza de que foi o melhor a se fazer no momento. Claro que minha avó não gostou nada, mas também não falou nada. Na verdade, ela me ignorou depois da nossa última conversa. Ela sempre irá culpar meu pai pelo acidente. Para ela, é mais fácil achar um culpado para tudo o que acontece.

- Se cuida, viu? - a Ramona falou.

- Vocês também, e não se esqueçam de que eu amo muito vocês...

- Nós sabemos, e me escuta, Rosa: você é uma mulher maravilhosa e forte. Não deixe ninguém te diminuir. Coloque na sua cabecinha que tudo não passou de um acidente...

- Eu sei, mas é tão difícil ficar ouvindo o tempo todo que eu sou uma assassina...

- Então, eu sou o que? - a Rosângela perguntou.

- Não entendi...

- Eu também estava lá e você perdeu a perna por minha causa, para me proteger. Para elas é fácil falar, nenhuma delas estava lá na hora. Foi um acidente, só um acidente. Eu não me lembro direito por que eu estava dormindo na hora, mas lembre-se disso, Rosa. Foi uma tragédia - ela falou, me abraçando, e a Ramona me abraçou também.

- Eu amo vocês - falei, e as duas me abraçaram ainda mais apertado.

- Também te amamos - elas falaram.

Última chamada para o voo número 6978 com destino a Buenos Aires.

Abracei-as mais uma vez antes de ir. Meu coração estava acelerado só de imaginar que, em algumas horas, eu vou chegar em Buenos Aires. Em poucas horas, eu vou voltar para casa. Bom, não para minha casa, e sim para o apartamento.

Sorri, último voo para o início de um novo ciclo de vida que está para começar.

Três horas depois...

Finalmente cheguei em Buenos Aires. Estava nervosa demais. Eu não volto aqui desde o acidente, há 15 anos atrás. Por eu ter nacionalidade argentina, não preciso passar por todo aquele processo na alfândega. Estar naquele lugar me fez lembrar de quando eu tinha dez anos e estava em uma cadeira de rodas, ouvindo tantas coisas. Tudo parecia estar em câmera lenta.

E agora eu vejo, está tudo em câmera lenta. Tantas pessoas correndo de um lado para o outro. Quando finalmente saí do aeroporto, senti uma brisa de ar frio fazendo meu corpo arrepiar, e estava chovendo muito forte.

Vi todas as pessoas correndo para tentar pegar um táxi. E quando finalmente cheguei em um, um homem alto chegou nele ao mesmo tempo e colocamos nossas mãos na maçaneta.

E não sei, aquele pequeno toque me fez sentir um choque, e no mesmo instante olhei para ele.

Ele é um homem muito bonito, tem aproximadamente 1,70m, olhos claros, cabelos pretos. Ele ficou me olhando, e eu fiquei olhando para ele. E ele também olhava para mim.

- Estão juntos? - o taxista perguntou.

E, na mesma hora, tiramos nossas mãos rapidamente.

- Não, eu cheguei aqui primeiro. Acho que a senhora deveria pegar outro táxi - o homem alto falou, alterando a voz, e olhei incrédula para ele.

- Nada disso, eu cheguei primeiro que o senhor. E o senhor está vendo outro táxi? - perguntei, olhando para os lados, e ele fez o mesmo e viu que todos já tinham saído. Eu estava com frio, e minha perna estava doendo, já que eu tinha machucado quando minha avó me empurrou.

- Me desculpe se não tem outro, mas eu preciso muito deste táxi. Está chovendo... - fomos interrompidos por uma vozinha doce, meio angelical.

- Papito, estou com frio - uma menininha falou de dentro do casaco dele.

E aí já sabia que ia ficar esperando pelo próximo táxi. Não podia deixar a menina pegar chuva e ficar exposta ao frio. Mesmo estando com dor, não podia deixar esse serzinho passar frio.

- Só um minuto, filha - ele falou com a menina, que ainda não vi, já que estava dentro do casaco.

Eu resolvi, dessa vez, interrompê-lo.

- Pode ir - falei com um sorriso, tentando ser o mais agradável possível.

- Sério? - ele perguntou, surpreso. Eu ia me afastar, mas quando dei o primeiro passo, a dor aumentou e quase me desequilibrei.

E ele me ajudou no mesmo momento, e pudemos ver que o taxista estava chateado com nossa demora.

- Então, quem vai? - o taxista perguntou, já irritado.

- Podíamos dividir o táxi. Você vai para onde? - o homem alto à minha frente falou, desta vez com um sorriso gentil.

- Palermo Soho - falei, e ele começou a rir, abrindo a porta do táxi e colocando a filha dentro. Em seguida, me ajudou a sentar e foi ajudar o taxista a arrumar as malas.

Sentei ao lado da filha dele, que ficou me olhando. E não sei, senti uma energia tão boa vindo dela.

- Oi - falei, sorrindo para ela, mesmo querendo chorar com a dor que estava sentindo.

E, para minha surpresa, ela não falou nada. Apenas deitou a cabecinha no meu peito e me abraçou.

- Nem acredito que íamos brigar pelo táxi, sendo que vamos para o mesmo bairro - ele falou, entrando no táxi, e ficou chocado ao ver como a filha dele estava.

E aquele pequeno gesto me fez sentir completa pela primeira vez. E mesmo com muita dor, era como se nada fosse mais importante do que estar ali, recebendo todo aquele carinho.

A menina pegou minha mãozinha e a deu ao pai, apertando com força. Ver aquela cena fez com que meus olhos enchessem de lágrimas, ao lembrar do meu querido pai. Me virei para olhar esse dia chuvoso, que estava lavando meu corpo para uma nova jornada.

E olhei para a menininha linda, que logo adormeceu no meu peito.

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Continua...

Capítulo 3

"É preciso ter muita coragem para olhar ao seu redor e ver o mundo, não do jeito que ele é e sim do jeito que ele deveria ser."

- Glee.

Juan Carlos

Estava colocando minha filhinha para dormir.

- Não esqueça o bichinho - falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde a barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.

- Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã - ela choramingou.

- Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora - falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.

- Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor - ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.

- Filha, já está na hora de dormir - falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.

Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.

Saí do quarto, a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.

Terminei de arrumar umas coisas que estavam faltando, já que vamos viajar cedo amanhã.

- PAPITO! - Nina gritou, e fui até o quarto dela. Ela estava chorando.

- O que aconteceu? - perguntei, colocando ela no colo e ninando ela.

- A mamãe não apareceu no meu sonho. Eu a chamei e ela não veio - ela falou chorando.

Toda vez que a Nina fala da mãe, meu coração se parte. Mas não posso fazer nada. Não foi minha decisão ir para a Argentina. Mas a Nina está precisando de um novo ambiente. Espero que seja bom para ela. Aqui, ela não consegue fazer amigos na escola e sempre acaba se sentindo sozinha.

Ela sempre me fala que sonha com a mãe, coisa que eu não entendo. Ela não conheceu a mãe. Afinal, a Nicole nos abandonou quando ela tinha apenas três dias de vida. E me dói muito quando ela me pede para ver a mãe ou fala que a mãe falou algo no sonho. A Nicole nem quis registrar nossa menina e me deu todos os documentos para que ela não fosse mais considerada mãe dela.

- Ela deve estar arrumando as coisas dela, filha. Afinal, vamos viajar muito cedo amanhã - falei para amenizar a angústia dela.

- Posso dormir com o senhor hoje? - ela pediu.

- Pode sim, meu amorzinho - falei, indo para o meu quarto e colocando ela no colchão.

Arrumei a roupa que vamos usar amanhã e arrumei todos os documentos. Quando você está com aquela sensação boa de estar fazendo a coisa certa, é tão tranquilo. Eu já fui para vários lugares do mundo, mas quando me tornei pai, meu foco se voltou para esse serzinho e para o trabalho.

E essa oportunidade será muito boa para a minha filha.

Me deitei com ela, fazendo carinho. Ela é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Só não soube escolher a melhor mãe para ela. Minha menina merecia ter uma mãe que a amasse de verdade e desse todo o carinho que ela merece.

Demorei a pegar no sono vendo meu anjinho dormir. Quando finalmente adormeci, meu alarme tocou, então tive que me arrumar e arrumar a Nina.

- Papai, eu não quero ir - ela falou novamente chorando. E eu não entendo. Ela não tem nenhum amigo, não temos família, na verdade não temos nada neste lugar.

- Filhinha, o papai vai trabalhar na Argentina, e vai ser bem legal. Você vai para um colégio só de garotas, pertinho do hospital, e nosso apartamento fica perto de uma praça...

- E a minha mãe vai aparecer nos meus sonhos? - ela perguntou muito preocupada.

- Vai sim, filha. Vamos nos arrumar para ir - falei com ela, alisando o seu cabelo, e ela fez isso.

Fomos para o aeroporto. Nosso voo ia ser muito cansativo. De Cancún, vamos para a Cidade do México, depois para Manaus e de lá para São Paulo, onde vamos passar cinco horas, para só depois ir para Buenos Aires, na Argentina.

O voo durou mais de 12 horas. Com uma criança pequena, é muito cansativo. Depois tive que passar por toda a papelada por estar entrando em outro país. Quando saí, vi o quanto estava chovendo e coloquei a Nina dentro do meu casaco. Quando consegui chegar no táxi, uma moça chegou também. Nossas mãos se encontraram e não sei como explicar a sensação que tive. Algo que nunca senti antes. Olhei para ela e fiquei sem acreditar. Que mulher bonita! E não sei, ela me lembrava alguém.

- Estão juntos? - o taxista perguntou.

- Não, cheguei aqui primeiro. Acho que a senhora deveria pegar outro táxi - estou exausto e não vou ficar na chuva com a Nina, sendo que cheguei primeiro. Ela parece ser uma mulher saudável e não parece estar tão cansada.

- Nada disso. Cheguei primeiro que o senhor. E o senhor está vendo outro táxi? - olhei para os lados e não tem nada. Não podia deixá-la na chuva. E não sei por que estou preocupado. Nem a conheço, mas a Nina não pode ficar tanto tempo pegando chuva.

- Me desculpe, se não tem outro, mas está chovendo... - somos interrompidos.

- Papito, estou com frio... - a Nina me interrompeu, e notei a expressão da moça.

- Só um minuto, filha - falei, ajeitando ela no casaco.

- Podem ir - ela me dá um sorriso, e não sei por que isso mexe comigo. Sei que ela desistiu do táxi por conta da minha filha, e isso mostra que ela tem um bom coração.

- Sério? - perguntei. Afinal, estamos no fim do inverno e a temperatura tende a piorar. O taxista interrompe meus pensamentos e só sei de uma coisa: não posso deixá-la ali.

E não sei o que aconteceu. Ela fez uma careta e se desequilibrou. Notei que ela estava sentindo muita dor e tentei ajudá-la.

- Então, quem vai? - o taxista perguntou.

- Podíamos dividir o táxi. Você vai para onde? - disse por impulso.

- Palermo Soho - comecei a rir. Não pude acreditar que íamos para o mesmo lugar o tempo todo, e estávamos ali discutindo por um táxi. Coloquei minha princesa dentro e ajudei-a a sentar. Notei que ela estava com muita dificuldade em uma das perguntas. Fui ajudar com as malas e guardei as minhas e as dela.

- Nem acredito que íamos brigar pelo táxi, sendo que vamos para o mesmo bairro - falei entrando, mas parei quando vi uma cena inusitada.

Minha filha estava com a cabeça deitada no peito da moça, toda aconchegada nela.

Uma coisa que não é normal, a Nina mal fala com as pessoas e nunca se aproxima de ninguém, e está ali deitada no peito da moça, meio que abraçando. Não acredito naquilo.

- Eu sou o Juan Carlos, qual é o seu nome? - perguntei me apresentando e sorri para ela.

- O meu é Rosa, muito prazer - ela sorriu de volta e não sei explicar a sensação que tenho ao vê-la sorrindo. Saí do transe quando a Nina começa a se tremer, mas antes que eu faça alguma coisa, a Rosa pega uma manta pequena que estava em sua bolsa e a enrola.

- Obrigado - agradeço e ela faz carinho com cuidado na cabecinha da minha filha.

- Não foi nada - ela falou, e parecia emocionada - E qual é o nome desta princesa? - ela pergunta e antes de eu responder, a Nina levanta a cabeça, se cobrindo com a manta e abraçando um elefante de pelúcia.

- Nina, e obrigada - ela fala para Rosa.

- De nada, anjinho - ela falou olhando para minha filha com um carinho que me fez sorrir.

O táxi parou e vi que era o meu endereço. Para aumentar a coincidência, era o mesmo endereço dela. Fiz questão de pagar o táxi, mesmo com ela insistindo em pagar, nem que fosse a metade, mas no final ganhei. Peguei minhas malas e entramos. Ela pegou e, depois de falar com o porteiro, fomos juntos até o elevador, e a Nina foi andando. Assim que entramos, ela segurou na mão da Rosa.

- Rosa, você pode apertar o 8º andar para mim - pedi e ela riu, olhei para ela e já tinha apertado - Já pensou se alugamos o mesmo apartamento?

- Seria coincidência, se você tivesse alugado o meu apartamento - ela falou e o sorriso dela era muito amigável.

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Continua...

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