Eu sou um bruxo.
Dá pra acreditar?
Recebi a notícia há algumas horas e eu ainda estou desconfiado de que é uma brincadeira idiota do Cole.
Bom... Cole não teria criatividade e nem inteligência para escrever uma carta tão elaborada e magnífica.
Apenas eu posso dizer que ele é burro, então não ouse.
Mas, voltando ao assunto, recebi uma carta assinada por Professora McGonagall, dizendo que sou um bruxo e que devo esperar um cara chamado Rúbeo Hagrid. Ele vai me levar para comprar as vestes e os materiais escolares – dos quais achei muito estranhos:
Uniforme
Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas)
Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário
Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar)
Uma capa de inverno (preta com fechos prateados)
Equipamentos:
1 varinha mágica
1 caldeirão (estanho tamanho padrão 2)
1 conjunto de frascos
1 Telescópio;
1 Balança de latão;
E os alunos podem ainda levar uma coruja ou um gato ou um sapo.
Varinha mágica. VARINHA MÁGICA.
Elas são reais! Ou não. Tudo depende se for ou não uma trollagem do Cole.
— Aiden, guarde essa carta. Não vai aparecer algo novo escrito — minha mãe diz, pegando a carta da minha mão.
— O que você acha que eu devo levar? Um sapo ou uma coruja? Claro, se não for uma piada do Cole.
— Cole não tem criatividade para pegadinhas desse nível, sabe disso. E eu ainda não disse que você poderia ir.
— Você não pode dizer que eu não posso ir.
— Não? — minha mãe pergunta, levantando uma sobrancelha. — Pelo o que eu sei, eu ainda sou a sua mãe e mando em você.
— Mãe, é uma escola de bruxos. Você não pode dizer não.
— Como você sabe que isso é real? Pode não ter sido o seu irmão que fez a brincadeira, mas existem outras pessoas por aqui.
— Eu faço coisas, mamãe. Lembra de quando eu fiz o gato da sra. Quiin levitar até o telhado? Não era mentira. Realmente aconteceu!
Ela pensa por um segundo e depois balança a cabeça, então eu continuo:
— O cabelo verde do Cole, quando ele escondeu o meu tênis, lembra?
— Tá, eu já entendi. Você é um bruxo, bacana. Cuidado pra não ser queimado vivo numa fogueira, espertinho.
— Homens tinham o privilégio de não serem queimados vivos por bruxaria.
Ela encerra a conversa com uma revirada de olho.
Antes de voltar pra oficina, minha mãe joga a carta na mesa. Pego e leio de novo.
— Um bruxo? — pergunta Cole quando mostro a carta pra ele.
— Sim, você sabe o que é um bruxo? — questiono, sentando com as pernas cruzadas no sofá.
— Claro que eu sei!
Cole pensa por alguns segundos e então diz:
— Eu não sei o que é um bruxo.
Eu não exagerei quando disse que Cole é burro. Em defesa dele, eu também não sabia o que era um bruxo com sete anos.
— Eu tenho poderes, Cole! Poderes de verdade! Igual o Hulk.
— Você não parece o Hulk — ele retruca, sabiamente.
— A questão é que eu faço magia de verdade. Tipo quando o seu cabelo ficou verde.
— Que legal! Mas isso quer dizer que você vai ficar longe de mim e da mamãe?
— Na carta diz que eu vou poder voltar no natal e na páscoa. Depois voltarei nas férias de julho.
Cole assente e fica em silêncio, analisando o boneco do Homem-Aranha que ganhou do nosso pai no último natal.
Agora, só preciso esperar o tal do Rúbeo Hagrid e ir comprar os meus materiais bizarros. A minha varinha mágica.
...22/06...
Tá, esse cara chamado Hagrid não é o que eu esperava. Ele não é normal. Bom, eu tecnicamente também não sou. Mas ele... é diferente. É alto e gordo. Cabeludo e barbudo. Parece um gigante homem das cavernas vestindo um sobretudo que parece o lençol da cama da minha mãe. A única parte visível do seu rosto são os olhos, que parecem besouros negros.
—Vai me deixar entrar ou vai ficar encarando? — Hagrid pergunta, parecendo incomodado.
Saio da frente da porta. O gigante precisa se curvar para entrar.
—A propósito, feliz aniversário.
— Hum, obrigado.
Hagrid anda em direção à cozinha, com o corpo curvado pra frente, pra não bater nos lustres.
Ouço minha mãe gritando assim que ele entra.
— Caramba, Hagrid! Você me assustou!
— Minhas sinceras desculpas, senhora McKane. Não foi minha intenção. Posso sentar?
— Sim, é claro.
Hagrid caminha até o nosso velho sofá, que parece desmontar quando ele senta. Consigo ouvir as madeiras se partindo ao meio.
— Muito bem, Aiden, partiremos amanhã de manhã. Decore o que você vai precisar comprar.
— Hã... como vocês compram as coisas no mundo bruxo?
Hagrid levanta uma sobrancelha e olha pra minha mãe. Ele volta a me olhar depois de alguns segundos, e com uma voz de quem diz o óbvio ele responde:
— Com dinheiro, é claro.
— Bom saber que bruxos usam libra, isso é importante. — Assinto com a cabeça e finjo anotar a informação num caderno imaginário.
— Não usamos libra. Usamos galeões, sicles e nuques. Dezessete sicles fazem um galeão, e vinte e nove nuques fazem um sicle. — Hagrid tira moedas do bolso.
— Nós não temos essas moedas. Eu não sabia que bruxos existiam.
— Não? — Hagrid é cortado por uma tosse estranha da minha mãe. — Hã, bom, Gringotes troca dinheiro trouxa pela nossa moeda, garoto.
— O quê? Gringotes? Trouxas?
Hagrid solta um longo suspiro.
— Temos muito a conversar.
Explicando algumas coisas do mundo bruxo:
- As pessoas que não são bruxas são chamadas de trouxas.
- Gringotes é o banco dos bruxos. Hagrid disse que tem um dragão protegendo o lugar. Só existe um lugar mais seguro que Gringotes: Hogwarts.
- Hogwarts é o nome da escola onde vou estudar. Hagrid deixou escapar que há um cachorro de três cabeças protegendo algo. Eu tô ficando pirado.
- O esporte favorito dos bruxos é o quadribol, que consiste em VOAR EM VASSOURAS, bater em bolas e um cara tem o trabalho de voar atrás de uma bolinha de ouro muito rápida.
É muita informação pra minha cabecinha.
Hagrid e eu vamos para Londres comprar os meus materiais estranhos pela manhã. Aliás, o primeiro ano tem várias matérias legais!
Transfiguração;
Feitiços;
Poções;
História da Magia;
Defesa Contra as Artes das Trevas; Astronomia;
Herbologia.
Isso é maneiro demais! Espero que todos vocês também tenham a chance de receber suas cartas, vale a pena.
Assim que Cole gritou, percebi que ele havia conhecido o nosso amigo Hagrid.
Corri o mais rápido possível para ver a reação dele.
Quando entro na cozinha ouço Cole perguntar:
— Você é um gigante?
— Minha mãe era — Hagrid responde, paciente.
— Que irado!
O sofá range quando Hagrid levanta.
— Você está pronto, Aiden? — Pergunta ele. Aceno com a cabeça enquanto termino de dar um nó no cadarço — Ótimo, pegue um casaco e vamos.
— Aiden, você vai trazer um presente pra mim? — pergunta Cole, animado.
— Hmm... eu vou pensar. — Já pensei. É claro que vou trazer um presente, minha mãe me mataria.
Ela foi se despedir na porta de casa. Entregou um envelope para o Hagrid e disse baixinho que tem mil libras ali dentro. Finjo não escutar. Sei que esse dinheiro vai fazer falta.
— Você já decidiu se vai comprar uma coruja ou um sapo? — pergunta ela, passando os dedos pelo meu cabelo.
— Uma coruja. Elas são bem úteis. Podem trazer cartas para vocês. E os presentes. Com certeza vou mandar vários — respondo, tentando esquivar da mão dela.
Minha mãe sorri. E isso sempre melhora o meu dia 100%.
— Como vamos achar essas coisas estranhas em Londres? — penso em voz alta.
— Você só precisa ir ao lugar certo — respondeu Hagrid.
Nunca estive em Londres. Eu estaria completamente ferrado se Hagrid não estivesse aqui comigo. Ele parece saber o caminho de cor. Provavelmente por já ter feito esse trajeto milhares de vezes para levar garotos e garotas como eu.
Hagrid reclamou muito sobre "as coisas dos trouxas". O tamanho dos assentos do metrô foi a pior. Ele deixou escapar para um trouxa que não iria conseguir viver sem mágica.
Após subirmos uma escada rolante, chegamos em uma rua movimentada, com lojas por todos os lados.
Hagrid era enorme comparado às outras pessoas, então abria caminho pela multidão sem esforço. Passamos por várias livrarias e barracas de comida, mas nada que parecia vender livros de magia e luvas feita de couro de dragão. Isso me fez pensar se isso tudo não é uma brincadeira. Se eu não soubesse que Cole é burrinho e que a minha mãe me ama muito, suspeitaria.
— Chegamos. O Caldeirão Furado. Muitos bruxos frequentam.
Ao meu ponto de vista, parecia só um lugar que a minha mãe nunca me deixaria entrar. Os trouxas nem ao menos olhavam pra esse bar, como se nem conseguissem vê-lo. Talvez seja isso mesmo.
Nem pude perguntar, pois Hagrid abriu a porta e me empurrou pra dentro.
Esse lugar parece excursão de asilo. Muitos velhos. Algumas velhas estão sentadas juntas em um canto, bebendo de cálices (sério, qual a dificuldade de usar um copo normal?) e fumando cachimbos. Atrás do balcão um homem careca limpando um copo de vidro com um pano sujo conversa com um tio usando cartola.
Lugar agitado.
Todo o estandarte de conversa parou quando entramos. Todos parecem conhecer Hagrid; acenaram e sorriram pra ele.
— O de sempre, Hagrid? — pergunta o velho careca.
— Hoje não, Tom. Estou levando esse jovem para o Beco Diagonal.
Tom riu.
— Mas não te dão descanso, hein? Primeiro o Potter, agora... qual é o seu nome, rapaz?
— Aiden McKane, senhor — respondo, meio constrangido por causa dos olhares que viraram para nós ao mencionar o nome "Potter". Será uma celebridade aqui no mundo bruxo?
— McKane, é? — questiona Tom, me fitando com os olhos curiosos. — Não conheço esse sobrenome. Você é um nascido trouxa?
— Hã... acho que sim, senhor — respondo.
— Ótimo, mais um sangue ruim para poluir o nosso mundo — alguém exclama, no fundo do bar. Hagrid faz uma cara feia com esse comentário.
— Vamos seguindo, Aiden, não temos o dia todo — fala Hagrid, já me empurrando pelo bar.
Saímos num pequeno pátio, com absolutamente nada além de uma lata de lixo e algumas gramas nascendo.
— Quem é Potter? Algum ator ou coisa assim? — questiono.
— Harry Potter é a mais nova celebridade de Hogwarts. Ele salvou o nosso mundo quando tinha apenas um ano. Agora, onde está o meu guarda-chuva?
Hagrid puxou um guarda-chuva rosa de dentro do sobretudo.
Ele bateu com a ponta nos tijolos do muro.
— Três para cima... dois para o lado... — murmurou. — Tá legal, chegue para trás.
Ele bateu com o guarda-chuva três vezes na parede. O tijolo que ele tocou se mexeu. No meio dele apareceu um buraco pequeno, que foi aumentando cada vez mais. Em poucos segundos, havia uma passagem, que exibia uma rua de pedras na nossa frente.
— Esse é o Beco Diagonal — diz Hagrid.
Cole já teria me chutado se estivesse aqui. Fiquei um bom tempo parado na passagem, olhando o lugar. Tenho problemas, lugares confusos são como meu lar.
Passamos pelo arco. Quando olhei pra trás, ele estava encolhendo e voltou a virar uma parede de tijolos.
Olhei para a loja mais próxima. Loja de caldeirões. Um letreiro falando dos tamanhos e tipos estava à cima deles.
— Depois — disse Hagrid — Precisamos trocar o dinheiro.
Não sabia para onde olhar, então tentei olhar para todos os lugares ao mesmo tempo. Não façam isso, sério.
Ouvi um pio baixo vindo de uma loja escura com um letreiro onde se lia "Empório de Corujas", e outras coisas que não me importei em ler. Conversei com a minha mãe sobre o animal que eu levaria. Cheguei à conclusão de que não gostaria de um sapo. Gatos nem pensar, sou extremamente alérgico. Vou comprar uma coruja, elas são úteis para levar cartas e presentes.
Alguns garotos passavam em frente à uma lojinha e olhavam admirados para a vitrine, mas seguiam caminho. Um chegou a chorar, implorando para que o pai comprasse seja lá o que estivesse à mostra.
Quando passei pela frente, entendi. Parei para admirar também. Uma plaquinha dizia "Nimbus 2000". Uma vassoura. Mal dá pra acreditar que isso agora voa.
A que a minha mãe usa não voa. Por que essas voam?
— É uma pena — diz um garoto estranho que estranhamente apareceu ao meu lado.
Olho-o. É um garoto de boa aparência. Cabelos negros despenteados e pele extremamente branca. Admira-me que consiga sair no sol sem ficar com insolação. Tem um rosto rígido, claramente sofrido. O tipo de garoto que roubaria o dinheiro do meu lanche apenas por diversão. Está usando uma calça jeans preta novinha, uma blusa de alguma banda de rock nova e um casaco também novo. Com certeza não precisaria roubar o dinheiro do meu lanche.
— O quê? — pergunto.
— A vassoura. É uma pena que alunos do primeiro ano não possam levar suas próprias — responde o garoto, sem tirar os olhos da vitrine.
A voz dele me deixa arrepiado.
— Ah, é. Uma pena. — Ele me olha, sem expressão.
— Malignan — diz e estende a mão. — Mal, se preferir.
Aperto a mão dele. Demora alguns segundos para soltar, pois fica me encarando, curioso.
— Qual é a sua casa? — pergunta.
Fico em silêncio, tentando lembrar da minha casa.
— É azul.
— Você é da corvinal?
— Hã... não, eu moro em Brighton.
Malignan me olha, confuso. Ele abre a boca. Fecha. Abre de novo. Fecha.
— Você é um nascido trouxa?
— Talvez. Isso importa?
Ele sorri. E fica ainda mais bonito. Que ódio.
— Não pra mim. Mas o seu nome importa.
— Aiden McKane — respondo, sentindo meu rosto corar.
— Malignan Dinsmoore. É um prazer. — Ele sorri. — Sou seu primeiro amigo bruxo?
Amigo. Essa é uma palavra que eu só usei quando reclamei pra minha mãe que eu não tinha nenhum. As crianças não gostam de ter amigos "diferentes". Sempre fui um péssimo aluno e um excelente encrenqueiro.
Há uns dois anos, quando eu estava no terceiro ano, sem querer fiz a classe de um colega pegar fogo. Sabe como é. Desde aquele dia, as crianças pegam no meu pé, afinal, me viram com o isqueiro na mão. Eu deveria ter sido mais cuidadoso.
— Sim, o primeiro.
Mal não teve tempo de responder, pois uma mulher de aparência cruel surgiu ao seu lado e o segurou pelo braço.
— Esse garoto fede a sangue ruim, Malignan — diz, graciosamente – igual um cavalo. Mal volta a ficar com o rosto rígido, idêntico ao da mulher.
— Vejo você em Hogwarts, Aiden. — Um leve sorriso sofrido aparece em seu rosto antes da bruxa (não é ofensa) levá-lo para longe.
Olho para Hagrid, que manteve distância durante toda a conversa.
Ele suspira antes de dizer:
— Algumas famílias de sangue puro têm preconceito com os nascidos trouxas. Principalmente... — Ele hesita. — Vamos andando.
— Gringotes — anuncia Hagrid.
Chegamos num edifício branco, bem mais alto do que qualquer lojinha.
Fico encarando algo na entrada. Acho que estou ficando louco. Parece um...
— É um duende — diz Hagrid baixinho.
Subimos os degraus brancos até o duende (socorro, mãe), que estava parado diante de uma porta dourada. Ele é um pouco mais baixo do que eu (venci na vida), e muito mais feio, mas pelo menos parece ser inteligente, o contrário de mim. Suas mãos e seus pés parecem... sei lá, não consigo pensar numa comparação. São compridos. Muito. O carinha nos cumprimenta com uma reverência quando entramos. Nos deparamos com um segundo par de portas, dessa vez de prata, onde tinha algo gravado:
...Entrem, estranhos, mas prestem atenção...
...Ao que espera o pecado da ambição,...
...Porque os que tiram o que não ganharam...
...Terão é que pagar muito caro,...
...Assim, se procuram sob o nosso chão...
...Um tesouro que nunca enterraram,...
...Ladrão, você foi avisado, cuidado,...
...pois vai encontrar mais do que procurou....
Que medo. Ainda bem que a minha mãe sempre disse que iria me surrar até não conseguir sentar se eu roubasse alguma coisa (o que, todos sabemos, é muito mais assustador do que uma poesia numa porta de prata num mundo bruxo).
Dois duendes se curvam quando passamos pelas portas. Entramos num grande saguão de mármore. Há muitos duendes aqui. Escrevendo, pesando moedas, analisando pedras que com certeza Malignan tem várias em casa (desculpe, ainda estou pensando nele, não é todo dia que eu faço amizade com um bruxo).
Hagrid e eu caminhamos até o balcão.
— Bom dia — disse Hagrid a um duende. — Gostaríamos de trocar dinheiro.
Ótimo. Agora que eu tenho um saquinho de couro cheio de dinheiro posso ir às tão esperadas compras. Será que Malignan também está comprando as coisas?
Prometo que em algum momento eu paro de falar do meu novo amigo.
— Devemos comprar o seu uniforme primeiro — aconselhou Hagrid, apontando para a loja Madame Malkin – Roupas para Todas as Ocasiões. — Aiden, você se importa em ir sozinho? Vou cumprimentar alguns conhecidos. Não se preocupe, você se saíra muito bem. — Ele me dá um tapinha nas costas (que quase me faz afundar no chão) e segue em direção à uma família de cabelos ruivos.
Entro na loja Madame Malkin – não sei o quê, não sei o quê.
A Madame Malkin é uma bruxa da minha altura (baixa) gorda e vestida de azul.
— Hogwarts, querido? — Ela pergunta antes que eu abrisse a boca pra falar. — Estou ajustando a roupa de outro rapaz, também de Hogwarts. — Sorri e me leva para outro lugar.
Nos fundos da loja, encontro um garoto de rosto redondinho, pele morena e cabelos cuidadosamente feitos em cachos. Ele me olha, sorridente.
— E aí — cumprimenta o garoto. — Primeiro ano de Hogwarts?
— É — confirmo.
— Legal! Eu também! Você está ansioso? Porque eu estou muito! Você sabia que...
— Ulisses. Pare — diz uma garota próxima à janela. Uau. Muito bonita, com a pele clara e bochechas rosadas. Seus olhos verdes pousam em mim e ela sorri, igual uma princesa. — Desculpe, ele sempre fala mais do que os ouvidos alheios aguentam.
Subo num banquinho, indicado por Madame Malkin, ao lado de Ulisses. Ela enfia uma veste comprida pela minha cabeça e começa a fazer coisas no tecido.
— Estou acostumado com isso. Meu irmão é igual. — Sorrio ao lembrar de Cole falando sobre os quadrinhos de heróis.
— Tem algum palpite de qual é a sua casa? — pergunta Ulisses.
— Alguém pode me explicar o que é isso? — digo, já irritado com essa maldita pergunta.
— Quatro casas: Grifinória, os corajosos — a menina diz. — Sonserina, os astutos e ambiciosos; Lufa-Lufa, os leais e justos; E Corvinal, os inteligentes. — Ela apresenta a última casa com o queixo erguido e um tom de admiração.
— Eu não sei se me encaixo em alguma dessas...
— Tenho certeza de que se encaixa em uma — afirmou Ulisses, descendo do banquinho. Uma das mulheres que estava ajustando as vestes dele sai com as roupas na mão e volta alguns segundos depois com elas embaladas.
— A propósito, meu nome é Safira — conta. — Vemos você na estação? — sem esperar uma resposta, ela beija a minha bochecha corre para acompanhar Ulisses sem nem se preocupar com o que esse beijo me causou.
......Continua......
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