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Ao Seu Lado

Capítulo 1

Apresentação dos personagens:

Bonnie Wilson:

Bonnie tem 26 anos, é formada em literatura, acabou de se mudar para Nova York, após um término difícil, em busca de novas oportunidades profissionais. Tentando lançar a sua carreira como escritora de romances, ela quer distância de novos amores.

Bradley Stevens

Bradley é um cirurgião pediátrico em ascensão, no auge de seus 33 anos, ele está 100% focado em sua carreira e sem tempo para assuntos do coração.

...****************...

Bonnie

Jogo-me no sofá deixando o meu corpo relaxar pela primeira vez durante toda essa semana. Um suspiro de alívio escapa por entre os meus lábios enquanto olho em volta. Finalmente, a minha vida parece estar indo para o lugar.

— Acho que é isso, acabamos. — Falo enquanto observo o nosso trabalho finalizado.

— Que bom! Acredito que agora tudo está no seu devido lugar. — Emma, minha irmã mais velha, toma as minhas mãos entre as suas e me olha profundamente com seus olhos cor de mel. — Como se sente tendo o seu próprio apartamento após tanto tempo? — Minha irmã me pergunta aquilo com um sorriso triste em seus lábios, só ela sabe tudo que passei para chegar até aqui.

Emma Wilson:

— É estranho saber que vou ficar aqui sozinha, é a primeira vez na vida que isso acontece, mas penso que será bom, tenho que aprender a conviver com essa minha nova versão. — Sorrio de volta escondendo as palavras não ditas. Emma me lança um olhar, e ambas sabemos que não será tão fácil recomeçar, recolocar as minhas emoções no lugar não era como empurrar um sofá ou varrer o chão, ia requerer tempo.

— Com certeza vai ser bom e depois que você se acostumar a ficar sozinha nunca mais vai se desacostumar. — Ela sorri gentilmente para mim.

— Vou tentar não levar isso para o lado pessoal, considerando o fato que morei com você nos últimos cinco meses. — Digo, estreitando os olhos para ela, na tentativa de deixar o clima mais leve e Emma gargalha, me puxando para que eu recoste a cabeça no seu ombro.

— Ah! Que é isso irmãzinha? Amo ter você de volta na minha vida e você sempre será bem-vinda na minha casa... — Ela faz uma breve pausa. — Mas, não me leve a mal, nada como a nossa liberdade. — Sorrimos e eu fico reflexiva. Eu nunca tive a experiência de ter o meu lugar, só meu. Eu era a filha da Alba, e logo depois, a esposa do Jack, nunca fui só a Bonnie.

— Você tem razão. Sei disso, eu me lembro bem como era morar com a mamãe e também sei como é estar casada. — Faço uma pausa logo depois da menção ao meu antigo relacionamento, já fazia algum tempo que não tocávamos no assunto, eu estava realmente disposta a deixar o meu passado para trás.

— Você tá bem? — Emma me olha preocupada, após ter me buscado no aeroporto aos prantos há alguns meses, ela me tratava como se eu fosse um vaso de cristal, prestes a se partir em um milhão de pedacinhos, mas não era isso que eu queria, então por mais que eu não me sentisse bem naquele momento, resolvi mentir.

— Acredito que pela primeira vez em anos, nunca estive tão bem. — Forço um sorriso, aquilo não era completamente uma mentira, só em estar fora do pesadelo que vivi nos últimos anos, já parecia o paraíso.

— Eu te amo, você é a minha irmãzinha, nunca vou deixar que nada de mau te aconteça. — Emma me lança um olhar de ternura, e deposita um beijo no topo da minha cabeça. — E então, o que você acha de uma noite quente na cidade de Nova York?

— Emma... — Suspiro deixando meus ombros caírem, minha irmã era a pessoa mais animada que eu conhecia, eu nunca tive uma experiência com a vida de baladas e festas.

— Ah, vai! Qual é? Você é mais nova do que eu, deveria ter mais energia, sair, conhecer novas pessoas, será legal.

— Irmã, vai ficar para uma próxima, estou exausta, e, além disso, amanhã, eu trabalho.

— Você parece uma idosa de 70 anos, Bonnie! Qual é? Precisamos comemorar, o novo apartamento, a vida nova! — Ela me lança um olhar de cachorrinho que caiu do carro da mudança, balançando o meu coração, mas não poderia ceder, já foi um milagre conseguir o emprego na editora sem nenhuma experiência depois de tantos anos de formada, eu não podia arriscar perder essa oportunidade por uma noitada.

— Não posso ir virada para o meu primeiro dia de trabalho, mas prometo que muito em breve, comemoramos.

— Você sabe que eu não esqueço promessas, não sabe?

— Eu bem sei disso, mas estou falando sério, prometo. — Eu não gostava da ideia de estar em um ambiente fechado, cercada de pessoas bêbadas, mas, estava disposta a fazer esse sacrifício por ela.

— Ótimo, eu vou cobrar hein? — Ela diz enquanto se levanta e se espreguiça, não sei como ela poderia ter energia para sair depois de toda essa mudança, mas essa era a Emma, não perdia uma boa festa.

— Pode cobrar, Em. — Caminhamos para fora do apartamento, me encosto na porta e Emma se vira para me olhar.

— Tem certeza de que vai ficar bem? Se precisar, eu cancelo tudo e fico aqui com você. — Ela parece realmente preocupada e completamente disposta a cancelar qualquer programa, se for para eu me sentir melhor, mas eu sabia que precisava daquele tempo sozinha, então recusei.

— Divirta-se por nós duas, Em, eu vou ficar bem, prometo. — Ela me abraça apertado e me dá um beijo no topo da cabeça.

— Eu te amo.

— Eu também te amo.

— Se precisar de mim, é só me ligar.

— Tá bom, Em. Agora vai.

...****************...

Entro na banheira repleta de água quente e deixo os meus músculos relaxarem por completo, fecho os meus olhos, tentando deixar o cansaço evaporar do meu corpo. As minhas mãos abraçam o meu corpo dentro do meu relaxamento, os meus dedos tocam a tatuagem de borboleta na minha costela.

Flashback on

Era o aniversário da cidade de Grenville, a minha charmosa, querida e minúscula cidade natal. Viver no interior, possuía os seus prós e contras. As festividades recheadas de aperitivos deliciosos e minhas amigas, eram os prós, definitivamente. Entre os contras, o fato de morar em uma cidade com menos de 11 mil habitantes, e qualquer coisa virar fofoca para a cidade inteira em questão de segundos.

Então é claro, que quando o prefeito decide fazer uma festividade, todos na cidade, estarão presentes. Nesse ano, a minha mãe e minha irmã, finalmente me convenceram a me candidatar a miss Grenville, o fato de pensar em subir em um palco, onde todos os fofoqueiros de plantão vão estar me olhando, embrulha o meu estômago, basta qualquer deslize e eu serei assunto na cidade por anos a fio.

Ouço a voz do locutor de rádio da nossa cidade, Fred, soar pelo microfone, ele quem iria nos chamar para o desfile, a minha frente, Ayla e Anya, as gêmeas Jhonson, aguardavam ansiosamente por seus nomes serem chamados. Quando finalmente, Fred o faz, meu estômago dá voltas e eu sinto que vou vomitar, preciso sair daqui quanto antes. Me viro para sair quando sinto o meu corpo se chocar contra alguém, levando consigo todo o meu equilíbrio. Sinto o cheiro masculino, forte e amadeirado invadir as minhas narinas, as mãos, grandes e firmes, seguram em minha cintura, me mantendo de pé. Meus olhos caminham por seus fortes braços, envoltos em blazer preto que tinha o caimento perfeito em seu corpo, ombros tão largos, que pareciam de um deus grego. No seu rosto, olhos negros como a noite, profundos com um ar de mistério. Ele não era dessa cidade, não tinha como ser, eu conhecia todas as pessoas aqui, ele não era um deles.

Jackson Philips:

Me puxando de volta para o meu corpo, meu nome ressoa nas caixas de som.

— Bonnie Wilson!

— Acho que é a sua vez. — Sua voz soa em um tom leve e controlado, mas grave e intenso, ele me deixa firme no chão e me dá um leve tapinha nas costas me conduzindo para dentro do palco. Eu estava tão abobalhada com a sensação de formigamento em minha pele em cada local em que fui tocada por ele, que nem me dei conta, quando entrei no palco e desfilei tranquilamente para todas aquelas pessoas.

Ao final do concurso, a faixa e a coroa eram minhas, eu caminhei para fora do palco, querendo encontrar minha mãe e irmã, mas me deparei com ele novamente, o homem dos olhos escuros profundos.

— Parabéns, foi muito merecido, Bonnie.

— Obrigada... — Respondi sentindo minhas bochechas corarem. — Como sabia o meu nome, antes?

— Você era a próxima na fila para entrar, quando ele chamou, presumi que era você.

— Ah, claro. Você não é daqui...

— Sou de uma das cidades das redondezas, Rosetown. Meu pai é prefeito lá, e conhece o prefeito Karl, ele nos convidou. Jackson Philips, mas pode me chamar de Jack. — Ele aperta suavemente a minha mão, enviando um arrepio pelo meu corpo.

Flashback off

A imagem do rosto de Jack vem a minha mente, um rosto bonito, um homem íntegro e correto, delegado de polícia respeitado na cidade, como eu poderia saber que no fim, isso tudo era uma mentira. Abro meus olhos tentando espantar o pensamento dele da minha cabeça, mas já era tarde, as lágrimas já estavam rolando pelo meu rosto. Me levanto e enxugo meu rosto e corpo rapidamente, não vou mais me permitir sofrer por nada disso, essa história finalmente ficou para trás, agora, é uma nova vida. Volto para o meu quarto visto um pijama leve e me deito, pegando no sono graças a exaustão.

Capítulo 2

Acordo sentindo a minha cabeça pesada, como se tivesse bebido todas as garrafas de vinho do mundo. Eu havia apagado rapidamente, mas as horas de sono estavam longe de serem reparadoras e era assim que estavam sendo nos últimos meses. Graças a Deus, eu vinha conseguindo evitar os remédios para dormir na última semana, devido à preocupação com a mudança e eu realmente esperava que agora com o novo apartamento, as coisas continuassem assim, o que eu menos precisava agora, é de uma dependência em remédios para completar a minha lástima.

Levanto-me num pulo, sem dar a oportunidade do sono me vencer. Tomo uma ducha quente e escolho uma saia lápis preta na altura dos joelhos com uma pequena fenda na parte de trás, um scarpin e uma blusa que seguiam a mesma paleta de cores.

Solto os meus longos cabelos castanhos claros que formaram ondas perfeitas emoldurando o meu rosto, uma maquiagem leve, disfarçava as minhas olheiras e cansaço. Me olho no espelho e fico orgulhosa, sentindo que realmente consigo passar uma boa impressão assim. Tifanny, a dona da editora, havia sido um anjo, só pelo fato de ter me contratado mesmo sem nenhuma experiência no currículo, então eu precisava mostrar que a oportunidade valeria a pena.

Apesar da boa aparência, nunca nos últimos dez anos, eu havia conseguido começar o dia sem uma boa xícara de café, Jack havia me habituado a isso, e para a minha infelicidade, não havia tido tempo para fazer compras. Faço uma nota mental para me lembrar de cuidar disso mais tarde. Saio de casa em busca de um bom lugar para tomar meu café da manhã.

No caminho até o metrô, vejo um pequeno espaço, com mesas e cadeiras em madeira, uma fachada vermelha, escrito “Le Petit café” parecia uma espécie de café francês, então decido entrar.

Logo quando abro a porta, um sininho pendurado acima dela ressoa pelo ambiente, fazendo com que uma loira alta e magra com os olhos verdes e simpáticos que está atrás do balcão, olhe na minha direção sorrindo para mim.

— Seja bem-vinda ao Le Petit café, é um prazer recebê-la aqui. — o seu sotaque não parece norte-americano, e pelo nome do local, presumi que ela fosse francesa. — Como posso ajudá-la?

— Bom dia! Um cappuccino por favor e... um desse aqui. — Aponto para um croissant dourado e apetitoso.

— Claro, querida, você vai levar ou vai comer aqui?

— Acho que vou comer aqui mesmo.

— Então pode se sentar em algum lugar que eu já vou até lá levar para você.

Sorrio agradecida, é bom finalmente ser bem tratada e acolhida em algum lugar nessa cidade. Me sento em uma mesinha no canto do lugar, olho em volta e é um café estranhamente aconchegante para um lugar como Nova York, as pessoas estão dispostas nas mesas intercaladas com alguns lugares vagos, mas parece ser um lugar bem popular por aqui.

Por alguns instantes a inspiração vem, eu tiro meu notebook da bolsa e começo a trabalhar um pouco no meu livro enquanto meu pedido vem. Alguns minutos depois e eu já estou imersa na minha história quando a doce atendente chega com meu café da manhã.

— Aqui está, um Cappuccino e um croissant de chocolate.

— Obrigada! — Digo afastando meu computador para o lado para dar-lhe espaço para servir.

— Você deve ser nova por aqui. — Ela sorri enquanto dispõe o prato e os talheres.

— Dou tão na cara que não sou Nova Yorkina? — Digo num tom de brincadeira, faz cinco meses que estou por aqui, mas ainda me sinto como uma estranha no ninho.

— Ah, não querida, não leve a mal. É que a maioria dos meus clientes são assíduos e eu costumo me lembrar de cada um deles. E cá entre nós, não ser de NY não é bem um insulto, visto que eu também não sou. — Ela me responde sorridente. — Sou Milicent, mas pode me chamar de Millie

— É um prazer Millie, eu sou a Bonnie.

— Seja bem-vinda a essa cidade, é um lugar louco, mas cheio de oportunidades, espero que encontre o que procura.

— Eu também espero, obrigada. — Ela dá uma olhadinha para trás e já tem duas pessoas aguardando no balcão.

— Tenho que voltar ao trabalho, bom apetite.

Ela volta a trabalhar habilmente no balcão, sempre com o mesmo sorriso simpático para cada pessoa que entra. Volto a minha atenção para o computador, enquanto como gradualmente, eu ainda tenho quase uma hora até o meu expediente começar, e o meu novo trabalho fica a cerca de quinze minutos daqui de metrô. Fico completamente focada pelos próximos dez minutos, o cappuccino era perfeito e estava na temperatura exata para aquecer a minha garganta, e o croissant de chocolate inspirou ainda mais o meu cérebro, digito freneticamente até que o sino da porta se abrindo toca, chamando a minha atenção.

Um homem alto passa pela porta, ele tem ombros largos e uma presença firme, seus cabelos escuros levemente despenteados dão a ele um charme a mais, ele usa óculos de armação flutuante que se encaixa perfeitamente nos traços marcantes de seu rosto. Definitivamente, um homem muito bonito, não à toa, o olhar de Millie se ilumina mais que o normal quando o vê.

— Brad! Bom te ver, você tem andado muito sumido. — Ela diz dando a volta no balcão e apertando a enorme mão tatuada do homem.

— Oi, Millie, tem sido dias corridos por lá, como vai você?

— Vou muito bem, obrigada! E hoje? Vai pedir o de sempre?

— Sim, o de sempre. — Ele se vira na minha direção em busca de uma mesa e automaticamente, me lança um olhar, seus olhos são verdes, com pequenos traços castanhos, com uma profundidade tão grande, que involuntariamente prendo o ar. Meu telefone toca me fazendo engolir o pedaço em minha boca que por pouco não fica preso em minha garganta. Olho no visor, o nome de Emma brilha.

📱Ligação On📱

— Oi, Em! — Digo tossindo um pouco, pela garganta recém-arranhada.

— Oi, passei na sua casa, onde você está?

— Ah, me desculpa, não sabia que passaria por aí, eu saí mais cedo para o trabalho, não fiz compras ainda, então vim até uma cafeteria, eu estava faminta, quer vir até aqui?

— Não, tudo bem, não tem problema, fico feliz que esteja se habituando a sua nova rotina. Vou para o trabalho, mas passo a noite para te ver, ok?

— Tá bom.

— Te amo.

— Eu também te amo, até mais tarde.

📱Ligação Off📱

Desligo o telefone e finalizo meu prato, quando olho no relógio faltam cerca de 30 minutos para o início do meu expediente, guardo o notebook na bolsa e caminho até o balcão.

— Isso estava absolutamente perfeito. Quanto eu te devo?

— Muito obrigada! Faço tudo com muito carinho. São 12 dólares.

Tiro uma nota de 20 da carteira e estendo para Millie. Ela cobra a minha conta e me passa o troco.

— Espero que volte mais vezes. — Ela diz sorrindo gentilmente.

— Sem dúvidas eu voltarei. — Sorrio e despeço-me de Millie, me direcionando à porta. No caminho para fora, meu olhar se cruza com o do estranho novamente, ele me encara por um instante e logo desvia a atenção para o celular. Caminho o mais rápido que posso para fora, com o coração estranhamente disparado.

Capítulo 3

Chego em frente a enorme porta de vidro chumbada nas paredes rosa queimado. Editora Reader, essa seria a minha nova chance de crescer na vida e eu iria agarrá-la com unhas dentes. Já havia perdido muito tempo da minha vida com o diploma guardado na gaveta, esse era o momento de fazer acontecer.

Caminho porta adentro e logo de cara me deparo com Tifanny Reader, minha nova chefe. Ela olha para o relógio e me olha de volta, parecendo feliz com o que vê.

— Pontual… Já tem o meu respeito.

Sorrio um pouco tímida, novas relações não são bem o meu forte. Mas como secretária pessoal dela, preciso pegar um pouco de intimidade.

— Eu disse na entrevista que era uma das minhas qualidades.

— Bom saber que é uma mulher de palavra. Bom, seja bem-vinda, acompanhe-me por favor. — Ela começa a seguir para dentro do escritório e eu caminho atrás. Tifanny era uma ruiva bonita, a pele alva como a neve e os olhos azuis piscina. O seu tom de cabelo se acentuava pela camisa verde-escura, que ela usava, juntamente com calças de alfaiataria branca e scarpin nude.

Ela era estilosa e naturalmente bonita, sem precisar se esforçar, além disso, era uma editora excepcional, junto ao seu marido nessa empresa. Seguimos por todo o escritório, o ambiente era bem extenso, surpreendentemente maior do que parecia ser por fora, ela me apresenta a alguns funcionários, a grande maioria é indiferente com a minha presença, eu tento parecer gentil, mesmo com a timidez falando um pouco alto demais. Continuamos com a tour pelo escritório até uma mesa onde ela para.

— Bem, esse será o seu novo ambiente de trabalho. — A mesa era comprida em formato de L com duas cadeiras, uma de frente para uma porta, a qual eu presumi ser do escritório de Tifanny, e a outra virada para o outro lado, neste canto, alguns figure actions e quadrinhos estavam metodicamente organizados. — Aqui em frente fica a minha sala, então será bom para nos comunicamos com mais facilidade, você será responsável pela minha agenda e compromissos. Além disso, a minha antiga secretária costumava fazer a última revisão ortográfica dos trabalhos a serem publicados por mim, tudo bem para você?

— Claro! Posso fazer isso com certeza.

— Ótimo, qualquer dúvida, estarei no escritório aqui na frente. — Tifanny puxa um manuscrito que estava em cima da mesa. — Bom, esse vai ser o seu primeiro trabalho, irei te enviar as suas instruções por e-mail, todos os meus compromissos a serem agendados costumam ser enviados via e-mail também.

— Certo, qual o prazo para a revisão?

— Até a próxima sexta, acha que consegue?

— Consigo, Tifanny! Pode deixar comigo.

Sento-me na minha cadeira e começo a ler o e-mail de instruções de Tifanny, organizo os compromissos e atendo os telefonemas dela. Levo quase uma hora completamente envolvida nisso, quando um rapaz alto, com os músculos suavemente torneados numa camisa branca de botões, cabelos loiros, óculos, entra pela porta do escritório, ele cumprimenta os outros funcionários e por fim olha na minha direção me encarando um pouco. Por um instante aquilo me deixa acanhada, então desvio o olhar e me concentro novamente na tela do computador, consigo perceber sua presença quando ele dá a volta na mesa e põe seus pertences ao meu lado.

Harry Reinalds:

— Bom dia. — Ele dá a volta na mesa se sentando na cadeira. Seus olhos me percorrem analisando por um instante o que me deixa um pouco sem graça, e então ele sorri, um sorriso leve, seus olhos se espremem suavemente formando pequenas rugas ao redor. — Ah, você deve ser a nova secretária da mulher-dragão, estou certo? — Ele diz estendendo a mão em minha direção.

— De quem? — Pergunto franzindo o cenho, completamente confusa.

— Harry Reinalds, sou o auxiliar do Joe. — Ele dá uma risadinha e estende a mão, eu faço o mesmo e nós apertamos nossas mãos.

— Sou a Bonnie Wilson, a nova secretária, da Sr.ª Reader. — Sorrio um pouco tímida, enquanto aperto sua mão firmemente tentando disfarçar meu nervosismo. Ele é um homem bonito, com olhos azuis gentis.

— Prazer em te conhecer, espero que você dê certo por aqui, você fala, o que já é ótimo em comparação com a antiga secretária. — Um risinho escapa dos meus lábios devido ao comentário. — Espero que você se sinta acolhida aqui no escritório, o pessoal aqui é bem legal, só tem uma que é meio babaca, mas de resto é tranquilo. Bom, estaremos aqui lado a lado, então posso auxiliar no que for necessário.

— Obrigada, inclusive será que você poderia me ajudar com essa agenda digital? Não estou conseguindo marcar os horários.

— Normal, esse software é um pouco ruim, mas em breve você se acostuma. — Ele dispõe de alguns minutos me ensinando como mexer e eu presto atenção em cada detalhe, ele era muito paciente.

— Acho que consegui entender. Qualquer dúvida eu te pergunto.

— Claro, pode ficar a vontade. — Ele faz uma pausa me analisando. — Você é de Nova York?

— Não, sou de uma cidade no sul, bem no interior, chamada Greenville.

— Ah, era óbvio, você tem a sutileza e doçura dos sulistas. — O elogio me pega um pouco desprevenida e tenho certeza que se não fosse pela base em meu rosto, minhas bochechas em chamas estariam gritantemente vermelhas.

— E você? É daqui? — Desconverso tentando disfarçar meu nevrosismo.

— Ah, não, sou de Miami. Abandonei a praia e a brisa fresca pela grande e gélida Nova York devido às oportunidades de emprego.

— Miami também é uma cidade grande, com certeza tem mais oportunidades do que a minha cidade com pouco mais de 11mil habitantes. — Ele engasga quando digo a população de Greenville.

— Puta merda! 11mil? Com certeza todos nessa cidade são primos.

— Quase isso. É o tipo de lugar que você não consegue ir escondido nem à esquina sem que todos saibam.

— Isso deve ser um saco, não me imagino viver assim, no meu caso não tinha nada disso, é só que fui indicado por um professor da faculdade para o Joe e desde então, não quis mais voltar, não tinha muitas coisas lá para mim. — O olhar dele se torna um pouco melancólico por um instante. — O que quero mesmo é conseguir uma única publicação de sucesso. O Joe já me deu algumas oportunidades, mas eu ainda não tive sorte, estou me aprimorando.

— Bem, já é um grande passo conseguir colocar no papel, eu nem isso.

— Você não escreve nada?

— Bom, eu tento, mas, não sei, não consigo a inspiração… Sabe?

— Sei bem.

— Inspiração é difícil, faz alguns meses que venho colocando algumas coisas no papel, mas, acho que ainda não saí do terceiro capítulo.

— É um começo, tenta não se cobrar tanto, costuma fluir melhor.

— Tenho dificuldades em não me cobrar. — Sorrio, pois só eu sei o quanto aquilo é verdade, e após perceber a sucessão de erros que foi a minha vida, aquilo havia se agravado.

— Todos cometemos erros, você não deve ter ultrapassado muito a quantidade normal.

— Você nem imagina o quanto. — Acho que deixo transparecer a minha tristeza em falar do assunto, pois ele muda o tom da conversa de repente.

— Sobre o que você escreve? Quando a inspiração vem.

— Gosto de romances.

— Parece combinar com você. — Ele sorri e me analisa, seu olhar fica profundo no meu, o que me deixa completamente sem graça, eu desvio os meus olhos de volta para a tela do PC.

— Bom, deixa eu voltar ao trabalho, não cheguei nem na metade da lista de coisas que a Tifanny me passou.

— Então corre, ela gosta dos checklists completos no fim do dia, se não entregar, ela tende a ficar furiosa.

— Ela não parece o tipo de mulher que fica furiosa, ela parece tão calma.

— Você não imagina o quanto, não queira vê-la nervosa.

Aceito o conselho e volto ao trabalho.

...****************...

No fim do expediente me jogo para trás na cadeira deixando o corpo relaxar um pouco. Olho para o computador e me sinto orgulhosa, todas as tarefas do dia haviam sido finalizadas.

— Nada mal para o primeiro dia. — Harry diz me observando enquanto meus olhos continuam fixos na tela com o checklist completo.

— É tão bom ter essa sensação de dever cumprido ao fim do dia. Parece que depois de tanto tempo, finalmente me sinto útil. — Assim que fecho minha boca, percebo que pensei alto e expressei os meus sentimentos demais. Sorrio um pouco tímida, e Harry inclina a cabeça, parecendo tentar me decifrar.

Me levanto rapidamente da cadeira, esticando a coluna, para evitar que ele me fizesse qualquer pergunta. Ele se levanta também e começa a organizar alguns papéis em sua maleta. Ponho a minha bolsa sobre o ombro e me preparo para me despedir.

— Bem, eu já vou, não posso perder o meu metrô, foi um prazer trabalhar com você, Harry, até amanhã.

— Ah, eu também já estou de saída, posso te acompanhar até o metrô se quiser.

— Não precisa, de verdade, estou bem.

— Tem certeza? Esse horário é um pouco perigoso.

— Tá tudo bem, fica bem perto.

— Então tá bom. — Harry joga as mãos para cima como um ato de rendição e sorri, docemente. — Vejo você amanhã.

— Até amanhã.

Sorrio e caminho para fora da empresa, enquanto ainda sinto seus olhos fixos em mim. Harry me parece ser alguém legal, e por alguns instantes ao longo do dia, tive a impressão de que ele flertava comigo. Balanço a cabeça tentando voltar a minha própria realidade, com certeza ele não estava flertando, estava só sendo gentil. Apresso o passo até o metrô, rapidamente entro na estação e embarco para o meu destino.

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