Marián dormia profundamente em sua casa quando recebeu uma ligação no celular, era mais uma daquelas ligações.
-Marián, Peter está te traindo, vou te enviar o endereço de onde ele está para você pegá-lo de surpresa - ouviu a mulher falar do outro lado da linha.
Desde que se casou com ele há três anos, era comum para ela receber essas ligações avisando das saídas do marido, às vezes ia ver se era verdade, mas nunca conseguiu encontrar nenhuma evidência contra ele.
Depois de uma hora pensando e repensando a situação, decidiu ir ver se era verdade, pegou sua bolsa e foi no carro.
Ao chegar ao hotel que lhe haviam indicado, dirigiu-se ao saguão, onde lhe entregaram uma chave e o número do quarto onde supostamente estava seu marido, o que lhe parecia incrível e a fazia se perguntar por que alguém quereria que ela visse seu marido sendo infiel.
Conseguiu o número do quarto e parou em frente a ele, respirou fundo e se deu forças para entrar ali, sentia que seu coração batia rapidamente e suas mãos suavam, tentou ouvir algum ruído dentro do quarto, mas não ouviu absolutamente nada.
Deslizou o cartão que lhe deram e abriu a porta notando que o quarto estava totalmente escuro, não viu Peter em lugar nenhum, o que a fez se sentir mais tranquila.
Quando já ia sair do quarto sentiu que alguém a pegou pela mão e a puxou para dentro, o que a assustou até que sentiu um aroma familiar.
Ele a pegou e encostou suas costas na parede, pondo seu corpo masculino muito perto, seus rostos estavam tão perto que podia sentir seu calor.
-Peter! - ela não acreditava no que via
Era ele, apesar de ser um homem extremamente bonito seu olhar era gelado e ela o conhecia bem, vestia um terno preto sob medida que realçava sua figura bem trabalhada.
Seus braços estavam dos lados dela evitando que ela saísse correndo, seus olhos estavam bastante vermelhos e sua respiração era pesada.
-Tenho que te dizer que esperava qualquer coisa de você, mas nunca pensei que você fosse capaz de me drogar - ela acabava de chegar, não podia ter feito isso
-Eu... não... não fui eu - as palavras não saíam
-Acha que vai transar comigo usando um truque tão baixo?, não me diga que agora vai tentar engravidar de mim para que eu te trate como uma esposa - o homem ria com amargura
Não o via há dois meses e só tinha ido ali por causa de uma ligação que havia recebido no meio da noite.
Ele pegou seu queixo e fez com que ela o olhasse diretamente nos olhos, seu sorriso lhe dava medo e tristeza ao mesmo tempo.
Sem poder se defender, ele a pegou e a jogou na cama, seu rosto não mostrava nenhuma emoção e começou a se despir, enquanto ela tentava sair dali, mas ele sempre a pegava e a jogava de volta na cama.
De repente pegou a roupa dela e começou a rasgá-la, deixando-a completamente nua, a beijava com força e violência, enquanto ela o empurrava tentando se soltar de seu aperto, mas não conseguiu, então no final deixou de lutar.
O sexo foi rápido e doloroso, era sua primeira vez e havia sido o momento mais terrível e humilhante de sua vida, sempre pensou que esse momento seria especial e romântico, mas foi tudo o contrário e isso a doía física e emocionalmente.
-Era o que você queria?, espero que tenha sido tudo o que você sempre quis - sua voz não tinha nenhuma emoção
Levantou-se, vestiu-se e antes de ir embora pegou uns comprimidos para jogá-los na cama.
-Tome-os - nem sequer a olhou
-Tanto me odeia? - perguntou ela entre lágrimas
-Você não tem o que é preciso para ser a mãe dos meus filhos - depois de dizer isso saiu do quarto deixando-a ali com o coração partido
Tinha sido sua sogra quem a tinha chamado para que fosse buscar Peter e tinha sido ela quem tinha planejado tudo isso.
Depois de três anos de casamento tinham tido relações pela primeira vez e ele lhe tinha dado um par de pílulas do dia seguinte, durante dez anos ela o tinha amado e tinha feito o impossível para que ele a quisesse, mas não tinha conseguido senão tudo o contrário.
Ele pensava o pior dela e apesar de tudo nunca tinha conseguido um pensamento positivo em relação a ela, sempre pensou que conseguiria, que conseguiria que ele a quisesse nem que fosse um pouco e nesse momento tinha-se dado conta de que nunca o conseguiria.
Ela tomou as pílulas sem pensar duas vezes, ficou no quarto vendo a porta por onde ele tinha saído pensando em como seu casamento tinha acabado nesse preciso momento.
Na casa dos Martin, Barbara Martin está sentada elegantemente com uma xícara de café nas mãos, reunida com sua nora.
— Sábado é o aniversário de Peter, já tem o presente dele? — perguntou Barbara a Marián.
— Já preparei algo e tenho certeza de que ele vai gostar — a expressão de Marián não revelava nada dos sentimentos que tinha naquele momento.
— Recomendo que aproveite esta oportunidade, talvez consiga engravidar finalmente depois da festa de aniversário — Barbara deu um sorriso suave e tomou um pouco de café.
— É possível — sua voz soava tranquila, embora tivesse um monte de dúvidas em sua mente.
O dia da celebração do aniversário de Peter chegou e a tão esperada senhora Martin não compareceu à festa na casa da família, então os convidados começaram a falar em voz baixa, todos se perguntavam se o recente casamento estaria chegando ao fim.
A noite toda a expressão de Peter foi terrível, esteve sério o tempo todo e assim que os convidados foram embora voltou para casa diretamente, ao chegar foi recebido pelo mordomo da casa.
— Onde está Marián? — foi a única coisa que ele respondeu.
— A senhora está com dor de cabeça e está em seu quarto descansando — o homem estava tão sério quanto seu chefe.
Enquanto subia as escadas para o segundo andar, ia tirando a gravata, se perguntava com que novo engano essa terrível mulher viria, então quando chegou ao quarto dela quase se chocaram, Marián estava saindo e parou abruptamente.
— Pode saber o que você esteve fazendo? Por que não foi à celebração na casa dos meus pais? — o homem estava bastante irritado, detestava tê-la perto.
— Feliz aniversário, Peter — pegou sua aliança de casamento que estava em uma caixa preta e entregou a ele.
Ela tinha um sorriso suave, como se realmente estivesse contente em vê-lo, deixando-o totalmente desconcertado, ele pegou a pequena caixa e sabia o que continha.
— Estava te esperando para te entregar seu presente de aniversário, aqui estão os papéis do nosso divórcio, já os assinei, só falta você assiná-los e entregá-los ao advogado, você é totalmente livre — essas palavras deixaram Peter em total silêncio.
Não entendia nada, era suposto que ela tivesse se casado com ele por seu dinheiro e agora lhe dava o divórcio sem sequer lutar, algo devia ter em mãos.
— Não vou te dar um único centavo do dinheiro da minha família — ela virou para vê-lo pela primeira vez em toda a noite.
— Esse assunto já foi falado com seu pai, não quero nada da sua família, nem mesmo você — ela soltou uma risada suave.
Agora menos entendia o que estava acontecendo, para ele ela tinha envolvido seu pai para que o obrigasse a se casar com ela, se não o fizesse toda a riqueza familiar seria doada a obras de caridade, então era impossível que uma mulher tão egoísta desistisse e renunciasse ao seu casamento de forma voluntária.
— Você está falando sério? — continuava sem acreditar em suas palavras.
Ela não o olhou, ao ouvir sua voz um monte de imagens passaram por sua mente e entre essas estava o momento em que ele jogou as pílulas na cama, sua atitude a havia levado a tomar essa decisão.
Três anos de decepções haviam passado e havia perdido toda esperança de que ele a olhasse com carinho, enquanto ela o havia amado desde o momento em que o havia visto pela primeira vez, mas ele nunca sentiu o mesmo por ela.
Sentia que seu amor havia sido só de sua parte e que talvez tivesse tomado a decisão errada, em algum lugar estava o homem que a ia querer tanto que esqueceria todos esses anos de tristeza e desesperação.
Marián seguiu seu caminho sem olhar para trás, buscaria sua felicidade sem importar nada, sentia que havia perdido dez anos de sua vida atrás de um amor não correspondido e era o momento de recomeçar.
*******
Quatro anos se passaram, o avião sobrevoa a cidade enquanto Marián observa pela janela a paisagem, pode notar que houve mudanças, agora se veem alguns arranha-céus, mas para ela é só o lugar que a viu nascer e crescer.
Quando o avião aterrissou a tirou de seu devaneio e virou para ver a pequena ao seu lado, era uma menina linda com um cabelo preto azeviche e suaves cachos nas pontas, seus olhos eram azuis e grandes, os quais mostravam curiosidade pelo mundo.
— Estamos em casa, Abi, quando chegarmos à casa da tia Alexa comeremos algo — estava desabotoando o cinto de segurança.
Ao sair do aeroporto pegaram um táxi até a casa de sua melhor amiga, quando chegaram Alexa as estava esperando na porta do edifício onde vivia, ao vê-las pegou a pequena Abigail e a abraçou para dar um monte de beijos em suas bochechas.
— Até que conheço pessoalmente esta pequena!, você é mais linda pessoalmente do que nos vídeos e se parece muito com você — Abigail era uma pequena versão de Marián.
Ela sentia que ter tido Abigail era a melhor decisão que havia tomado na vida, ao subir ao apartamento a comida já estava pronta e comeram as três juntas, esse reencontro enchia de felicidade as duas mulheres.
A pequena estava um pouco cansada por causa do voo, então adormeceu no sofá enquanto Marián e Alexa conversavam.
— Abigail tem mesmo três anos?, parece mais pequena — Alexa a via com preocupação.
Era verdade, Abigail sempre tinha sido menor do que as outras crianças, o que tinha sido a maior preocupação de Marián desde que a menina nasceu, a gravidez tinha sido difícil e nasceu antes da data prevista, ao mesmo tempo que falava pouco e não se relacionava bem com outras crianças.
— Talvez não seja tão mau, assim quando a virem pensarão que tem menos idade — parecia pensativa.
Dois dias se passaram e Marián encontrou um jardim de infância para a pequena Abigail e começou a trabalhar em um escritório de advogados, enquanto tinha estado fora do país tinha terminado sua licenciatura em direito e poderia trabalhar para dar à sua filha tudo o que precisasse.
Enquanto tinha estado fora tinha se dedicado aos seus estudos ao mesmo tempo que tinha realizado quantos cursos tinha podido, então seu currículo era excelente.
Marián foi até à empresa e, como o caso não era muito difícil, conseguiu resolvê-lo rapidamente após uma conversa no departamento de recursos humanos. Ao terminar, guardou todas as suas coisas e foi para o elevador.
Ao sair do elevador, viu um monte de gente rodeando um homem. Ficou um pouco curiosa para ver quem era essa pessoa que contava com um comitê de recepção tão grande. Ao se aproximar, viu um homem alto, elegante e com um aspecto bastante orgulhoso. Era nada mais nada menos que Peter Martin.
Fisicamente estava igual ao homem que tinha deixado há quatro anos, alto, cabelos castanhos claros, olhos azuis e uma tez bastante clara. Parecia tão orgulhoso e arrogante como da última vez que o viu e sentiu um arrepio que lhe percorreu toda a espinha.
Pôde ver um dos homens que o acompanhava explicando alguns detalhes sobre diversas remodelações realizadas na estrutura da entrada e explicando os benefícios de investir em sua empresa.
Justamente por onde ela ia passando estava a multidão de pessoas. A expressão de Peter era fria quando a viu. Pensou em seguir caminhando, mas sem saber por que seus pés simplesmente pararam e seus olhares se cruzaram.
Nos últimos anos, havia fantasiado com voltar a ver Peter um milhão de vezes, mas não era o mesmo que tê-lo ali frente a frente. Sentiu que seu coração parou por um segundo, teve que lembrar que devia respirar. Aquele dia esperava que lhe acontecesse qualquer coisa menos voltar a ver aquele homem.
Quatro anos era muito tempo, mas não havia apagado em nada as lembranças que ela tinha dele.
– Marián? – disse ele depois de se aproximar dela e olhá-la de cima a baixo. Sentia que essa mulher frente a ele era outra pessoa totalmente diferente.
– Tanto tempo sem te ver, Peter – disse ela com um sorriso cortês.
O homem não respondeu, seu rosto ficou sério de imediato.
– Como estão seus pais? – perguntou ela tentando dirigir a atenção a outra coisa.
– Estão bem – a voz de Peter soava fria.
– Que bom, diga a eles que um dia desses os visitarei, foi um prazer te ver – deu-lhe um sorriso leve e se foi.
Ela sentia que as mãos lhe tremiam e suavam horrivelmente, mas tentou parecer segura e confiante diante dele caminhando tranquilamente, enquanto ele ficou vendo-a ir embora daquele lugar da mesma maneira que havia feito três anos atrás.
– Senhor Martin? – falou o dono da empresa.
Peter seguiu com a visita que estava fazendo, embora em seus pensamentos só estivesse Marián e seu abandono há três anos.
Naquele dia ao sair do trabalho Marián foi buscar sua pequena filha no jardim de infância, era a última no lugar e quando a menina viu sua mãe um grande sorriso apareceu em seu rosto, ao mesmo tempo que saiu correndo para abraçá-la.
A professora estava muito contente com o comportamento de Abigail, a menina se comportava muito bem e era muito obediente.
Um par de dias depois já Marián se sentia mais segura em seu trabalho e gostava do que fazia. À tarde chegou a chamada que tanto estava esperando, era Oscar Spencer.
Era primo de Peter e um bom amigo dela e de Alexa, estudaram juntos por muitos anos e sempre tiveram uma relação próxima.
– Já está pronto o assunto da minha casa nova? – perguntou assim que atendeu o telefone.
– Não consegui, há algo que você deve saber e espero que não se irrite – ela aceitou, pensava que não havia conseguido a casa que ela havia escolhido.
– Não é recomendável que você compre uma casa já que ainda não se divorciou – a voz de Oscar era cuidadosa.
– Quê?!, deve haver um erro!, isso é impossível – não podia acreditar.
Faziam quatro anos que havia deixado ao advogado de Peter os papéis de divórcio assinados, sempre pensou que ele iria correndo para introduzi-los para ser livre e não ter nada a ver com ela. Do outro lado da linha se escutou um suspiro de Oscar, sabia que a notícia não agradaria nada a Marián.
Estava tão irritada que pediu a tarde e foi ao cartório de registro civil onde lhe confirmaram que ainda estava casada com Peter, não entendia nada, esse homem a odiava e todo o tempo lhe dizia que queria se afastar dela, então por que não aceitou a liberdade que ela lhe estava entregando sem nenhum problema.
Pensou melhor as coisas e pegou todos os documentos para se dirigir ao edifício Galaxy. Ao chegar, a recepcionista não a deixou entrar já que devia ter uma consulta para poder passar, assim que pegou seu telefone e apesar de não ter o número gravado no telefone, sabia de cor.
Esse número era daquelas coisas que apesar de que o tempo passe sempre se recorda, é como se o tivesse tatuado na memória e era daquelas coisas que ela não admitiria nunca, de fato recordava cada coisa que a relacionasse com Peter.
Escutou o telefone repicar uma, duas, três vezes e por fim foi atendido.
– Peter, sou eu Marián – escutou um silêncio do outro lado da linha.
Nesse momento olhou para a entrada e viu Ethan Wright entrar no edifício, ele a viu e sua cara de espanto era evidente, pelo que ela desligou a chamada e se aproximou para cumprimentá-lo.
– Quando você voltou? – perguntou ao vê-la.
– Há alguns dias – respondeu ela com tranquilidade.
– Está procurando Peter? – ela assentiu e ele a fez entrar.
Ao chegar ao escritório puderam ver que estava ocupado revisando uns documentos, ele olhou para Ethan e não se deu conta de que atrás vinha entrando Marián.
– Peter, aqui está Marián e precisa falar com você – despediu-se dela e saiu do escritório.
– Você foi quem me ligou há um tempo? – perguntou com fastio.
– Por que não estamos divorciados?, supunha-se que devíamos estar divorciados neste momento – ela lhe entregou os documentos que lhe haviam entregado no cartório de registro civil.
– Não quero que volte a me ligar – foi sua resposta enquanto via os documentos que ela lhe mostrava.
– Me dê os documentos e eu os apresentarei no cartório de registro civil – ela estava furiosa com seu comportamento.
– Acho que sempre quer que se faça o que você quer – respondeu ele.
Ela fez todo o possível para que se casassem e anos depois o deixou indo embora sem dizer para onde, de verdade ela acreditava que as coisas se fariam a sua maneira?
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