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Azul Que Acalma

Prólogo

Felipe

É engraçado quando dizem que o último a saber era o traído. Na verdade, nunca pensei que seria esse traído. No entanto, ver minha namorada aos beijos com o cara que não gosta de mim dentro da lanchonete mais movimentada da cidade, com todos os nossos amigos ao redor, me fez perceber que esse ditado não era uma mentira; eu era o traído e o último a saber.

        Ninguém naquela mesa percebeu minha presença, e nem mesmo eu encarando eles, com os olhos cheios de lágrimas, principalmente com o coração partido pela traição, fazia perceber minha presença. Eu não sabia o que fazer: entrar e confrontar aqueles sujeitos ou simplesmente ir embora, lidar com isso em outro momento. Não conseguia me mover, mesmo que se quisesse conseguia fazer algo, era como se algo me prendesse e visse aquelas pessoas que um dia disseram que eram meus amigos.

        – Felipe? – Uma voz me chamou, tirando-me daquele transe. Olhei para o lado e encontrei os olhos de Pedro, meu melhor amigo, ou pelo menos eu achava que era meu melhor amigo. – O que está fazendo aqui?

        Pensei em responder, mas não consegui. As lágrimas apenas desceram e um soluço grave escapou dos meus lábios, fazendo todos olharem para mim, inclusive aqueles traidores. Sentia vergonha, na verdade, mais do que isso; sentia vontade de sair correndo, mas virei-me calmamente sem dizer nada e saí.

        – Espera, Felipe – Pedro gritou, mas continuei apressando os passos.

        – Felipe, deixa eu explicar – gritou uma voz que, há apenas duas horas, eu adorava ouvir, adorava ligar e, acima de tudo, amava mais do que qualquer outra coisa.

        Parei ali no meio do centro da cidade, algumas pessoas esbarraram em mim devido à parada brusca. No entanto, nem me importei, tampouco respondi aos pedidos de desculpas das pessoas. Virei-me para trás, encontrando todos os meus amigos me olhando. Não conseguia decifrar o que eles queriam dizer, na verdade, não conseguia decifrar nada além daqueles olhos castanhos claros de Carla. Transmitiam culpa, desespero e por um instante, achei que vi arrependimento. Não eram os mesmos olhos nos quais me apaixonei um dia, não eram os olhos que um dia visualizei um futuro.

        Permaneci parado, e nem aqueles que eu chamava de amigos se moveram. Todos permanecem incertos sobre o que fazer e como agir. Por um instante, considerei ir até eles, mas o traído era eu, não eles. Suspirei, enxugando as lágrimas das minhas bochechas de maneira um tanto infantil para a situação. No entanto, era assim que me sentia naquele momento, como um menino de 10 anos deixado de lado entre a escolha de jogar futebol ou ser o café com leite com a turma.

        – Vai explicar como? – Minha voz saiu mais rouca do que eu esperava. – Vai dizer que não é o que parece, que eu estou errado?

        – Eu... – Ela não sabia o que dizer, ninguém ali sabia. Apenas dei uma risada alta de frustração.

        – Você? – Voltei a rir. – Você me traiu, foi isso o que aconteceu. E não foi apenas você, mas também todos os meus amigos. Esses amigos que apresentei a você e que eu pensava que gostavam de mim – minha voz saiu mais alta do que eu imaginava. – Carla, até entendo em parte, mas o resto de vocês? Pedro, que decepção. Júlio, você é meu primo, cara. Não posso acreditar nisso.

        – Desculpa, cara. Não sabia como contar – Júlio falou, baixando a cabeça e segurando a mão da namorada.

        – Eu realmente sinto muito, Felipe. Nunca pensei em te magoar, mas infelizmente aconteceu. Não os culpe, eu os obriguei a não te contar – Carla finalmente falou.

        – Você os ameaçou? – Falei com a voz baixa.

        – O quê?

        – Você os ameaçou para eles esconderem isso? – Gritei, assustando a todos.

        – N-não.

        – Então você não os obrigou. Eles esconderam porque são como você, são traidores que nunca se importaram com os meus sentimentos, assim como você – minha voz elevada deixou todos em choque. – Você, Carla, é uma pessoa sem caráter, traiçoeira e a pior que existe neste mundo. Eu te odeio, odeio essas pessoas que um dia chamei de amigos, e me odeio principalmente por acreditar que um dia seríamos felizes. – Disparei palavras sem parar, sem nem respirar. – Não quero mais ver vocês. Não quero que falem comigo e nunca mais pensem em pedir ajuda para mim. Apenas imaginem que morri e que eu não existo mais.

        – Felipe, não fale isso, cara – Pedro veio na minha direção.

        – Pelo seu próprio bem, não chegue perto de mim. Para mim, a pior traição veio de você. Eu te considerava meu melhor amigo, meu irmão, e todos os meus segredos você conhece. Mas o que recebo? Uma traição – Vi as lágrimas escorrendo pela bochecha dele. – Eu amei você mais do que a Carla, por você eu pularia de um prédio. Eu te ajudei em momentos em que todos os outros não puderam estar ao seu lado. Pergunta a eles onde estavam quando você estava internado com pedra nos rins. Pergunta a eles onde estavam quando seus pais se separaram. Pergunte a eles onde estavam quando você chorou pelo seu primeiro término – disse, olhando em seus olhos. – Eu estava lá, não eles. Ainda assim, você escolheu eles, não a mim. Agora, por favor, me deixe ir e me esqueça.

        Pedro baixou a cabeça e começou a soluçar forte. Eu simplesmente me virei e saí dali. As pessoas na rua me olhavam com pena, mas eu não me importava com os olhares. Só queria chegar em casa rapidamente. Poderia ter pegado um táxi ou ônibus para ir para casa, mas optei por caminhar. Foram longas duas horas antes de finalmente chegar em casa.

Capítulo 1

Felipe

        Foram momentos difíceis para mim. Após aquele dia, não fui mais o mesmo. Exclui todas as minhas redes sociais e troquei de número, pois não queria mais usar celular. No entanto, meus pais queriam manter algum tipo de comunicação comigo, então acabei trocando de número para atender às necessidades deles. Eu me tornei como um robô, indo apenas da aula para casa. Meus amigos tentaram entrar em contato comigo diversas vezes ao longo dos meses, até começarem a desistir. O único que persistiu em buscar meu perdão foi o Pedro, que, assim como eu, enfrentou a depressão e se isolou do mundo.

        As coisas só começaram a melhorar para mim cerca de três meses depois, quando comecei a fazer terapia e, principalmente, a tomar antidepressivos. Posso dizer que meu pai estava certo quando afirmou que não deveria namorar na adolescência, pois os sentimentos muitas vezes são mais intensos do que na vida adulta.

        Carla ainda estava namorando aquele cara, e eu o conhecia melhor do que deveria, já que minha mãe era empregada da mãe dele. Isaac foi o único que não veio falar comigo, o que não me importou muito. Tive a sorte de não estar na mesma escola que ele, o que também evitou que eu visse aqueles traidores se envolvendo por aí. De certa forma, isso me ajudou bastante.

        Agora, sentado no intervalo da escola, faltando apenas 2 meses para o fim das aulas e 1 mês para eu prestar vestibular na capital, já que os cursos que a Universidade Federal oferecia na minha cidade não eram o que eu queria, estava lendo o livro recomendado para o vestibular com o Luan, um amigo que fiz durante os meses de tristeza e infelicidade. Nossa amizade começou de forma silenciosa, eu chorando em um canto e ele ao meu lado, me oferecendo um lenço para enxugar as lágrimas.

        Nenhuma palavra foi trocada entre nós durante duas semanas, até que finalmente perguntei por que ele sempre ficava ali comigo. A resposta que recebi foi simples: aquele era o lugar que ele gostava de sentar, e eu estava ocupando o seu lugar. Depois disso, ele vinha todos os dias para se sentar ao meu lado. No começo, não conversávamos muito, embora hoje sejamos os maiores conversadores que existem. Temos uma amizade sincera e, de certa forma, genuína.

        – Em qual capítulo você está? – Perguntei, desligando meu Kindle, que mostrava a capa de "Senhora" de José de Alencar.

        – Estou terminando a primeira parte do livro – ele disse, mantendo os olhos no livro. – E você?

        – Terminei essa parte agora – peguei a garrafa de água ao meu lado. – Vou esperar você terminar para discutirmos juntos.

        – Beleza.

        Peguei meu celular e vi uma mensagem da minha mãe perguntando se eu tinha tomado o remédio. Respondi dizendo que era o dia de não tomar, já que o psiquiatra queria reduzir a medicação. Em seguida, respondi ao grupo com os meus irmãos. Eles estavam enviando memes engraçados, mas metade deles eu não entendia, talvez porque fossem de um nicho mais heterossexual do que eu estava acostumado. Não que eu seja o maior entusiasta de memes gays do mundo, mas são os que eu mais gosto. Mandei uma figurinha de risada para eles, sabendo que eles não a veriam, provavelmente estavam jogando futebol na quadra de cima.

        – Terminei e já sei o que você vai dizer – Luan falou antes mesmo que eu pudesse abrir a boca. – É ridículo Aurélia ficar rica e ir atrás dele depois que Fernando a largou para ficar com uma mulher rica.

        – Eu não ia dizer isso – Luan levantou as sobrancelhas. – Está bem, eu sei que é uma vingança, mas Aurélia ainda o ama, e acho que Fernando não sente nada por ela.

        – Estamos apenas no começo do livro, mal sabemos sobre a história deles no passado – Eu sabia que Luan tinha razão. – Você está julgando ele, mas sabe que ele tem problemas financeiros e precisava do dinheiro.

        – Vocês, homens heterossexuais, sempre dão desculpas para outros homens.

        – Em minha defesa, não estou dando desculpas para ele. Só acho que é cedo demais para julgar os dois. Temos que entender que, naquela época, ter posição social e dinheiro era muito importante – Luan ajustou seus óculos mais perto dos olhos. – E agora, finalmente, vamos descobrir o que realmente acontece com ambos.

        – Mas pelo que percebemos no pouco que lemos, podemos ver que Aurélia ainda é inocente e ainda ama Fernando, então tudo o que ela vai fazer é dar tudo para ele – disse antes de ouvir o sinal tocar.

        Apesar de ambos estarmos no terceiro ano, não estávamos na mesma sala; Luan fazia espanhol e eu inglês. Continuamos discutindo sobre o livro enquanto caminhávamos até nossas respectivas salas de aula e concordamos em continuar a discussão no intervalo do dia seguinte. Quando cheguei à minha sala, percebi que ainda estava designado a sentar ao lado do Pedro, pois a disposição dos assentos não podia ser alterada.

        Pedro já estava lá, então fiz o que vinha fazendo nos últimos cinco meses: sentei-me ao seu lado como se sua presença não me afetasse. No entanto, hoje era diferente. A psicóloga havia me aconselhado a começar a perdoar aqueles que ainda desejavam o meu bem, e ele era uma dessas pessoas. Não íamos voltar a ser como éramos antes, mas, no máximo, seríamos bons colegas.

        A aula começou, era de história, sua matéria favorita e talvez o único momento em que ele parecia feliz. Segundo sua irmã, meu irmão contou que Pedro se trancava no quarto, saía poucas vezes e nem os medicamentos que ele tomava o ajudavam a encontrar ânimo para fazer qualquer coisa. Seu pai queria levá-lo embora, mas o garoto se recusava.

        A aula passou rápido, e estávamos nos preparando para sair da sala, mas antes de colocar minha mochila nas costas, tirei uma carta de dentro dela. Era uma carta que continha todo o meu perdão e também o meu número de telefone. Eu não sabia como começar a conversa, como abordar o assunto, mas quando quase todos já haviam saído da sala e Pedro se levantou para sair, a coragem veio.

        – Pedro – minha voz estava trêmula e ansiosa. Ele parou de andar e se virou para mim; seus olhos estavam úmidos, era a primeira vez que alguma expressão retornava a eles. – Quero entregar isso, por favor, leia com cuidado.

        Então, entreguei-lhe a carta. Pedro já estava chorando e talvez esperasse um abraço ou algo do tipo. No entanto, apenas entreguei a carta e caminhei em direção à saída, deixando-o ali, aparentemente atônito com tudo. Antes de sair da sala, me virei para o garoto que me encarava e dei um pequeno sorriso, dizendo:

        – Eu lhe perdoei. Leia a carta; nela está o meu coração. – E então, saí da sala.

Capítulo 2

Felipe

– Eu perdoei o Pedro – falei, ainda olhando para o meu Kindle. Não precisei olhar para o Luan para saber que ele estava me encarando.

        – Como foi? – Perguntou Luan.

        – Não sei, realmente não sei bem – disse, ainda sem tirar os olhos do meu livro, mesmo que não estivesse lendo nada, apenas a palavra "Perdão". – Entreguei a carta ontem. Quando cheguei em casa, fiquei ansioso e minha perna tremia. Demorou cerca de 2 horas para o Pedro me mandar uma mensagem.

        Olhei nos olhos castanhos escuros de Luan, seus óculos refletiam meu rosto, e sua pele branca contrastava com o muro sem reboco dos fundos da escola. A árvore que nos fornecia sombra balançava suas folhas com o vento da primavera. Araranguá, naquela época, não fazia frio; na verdade, outubro tinha mais vento do que chuva.

        Nunca fui bom em ler os olhos de alguém, mas os de Luan eram particularmente difíceis de decifrar. Ele parecia buscar cuidadosamente as palavras certas, talvez para me apoiar ou talvez para me dar um conselho.

        – O que ele mandou? – Luan perguntou, com as palavras saindo cuidadosas e preocupadas ao mesmo tempo.

        – Quer que eu leia para você? – Tirei o celular do bolso e vi sua confirmação com um movimento de cabeça.

        Desbloqueei o celular, abri as mensagens e fui até o nome do Pedro, o único número que eu nunca consegui apagar. O nome ainda estava salvo da forma como Pedro o havia registrado.

        Pedruca, o Irmão de Felipo.

Abri a conversa, rolei um pouco para cima após minha resposta e me concentrei no texto que ele me enviou. Era um texto simples, sem emojis, sem tentar ser engraçado, tão direto e sem filtro que eu podia quase ouvir a voz séria de Pedro enquanto lia aquelas palavras.

        – Oi Felipo, não sei como começar este texto sem antes pedir desculpas. Sei que você não tem culpa do que aconteceu, assim como eu – Luan ouvia em silêncio. – Não quero me vitimizar, na verdade, a única vítima foi você, e quero que saiba que descobri sobre a traição naquela manhã. Fui àquela lanchonete obrigando aqueles idiotas a contarem a verdade para você. Tenho uma prova de uma conversa com minha ex-namorada – suspirei. – Quando você chegou e viu aquilo, pensei que me escutaria, mas infelizmente sabia que estava machucado demais para me ouvir. Eu esperei pacientemente e tentei todos os dias desses 5 meses conversar com você, mas você não quis me ouvir – Senti uma lágrima quente escorrendo pelo meu rosto. – Estava quase desistindo de que um dia me perdoaria, na verdade, estava quase desistindo da minha própria vida, pois meu irmão não me respondia, nem mesmo tentava entender minha história. Eu nunca teria coragem de te trair, como você mesmo disse, você foi o único que estava do meu lado.

        Limpei as lágrimas do meu rosto, assim como do celular, não tinha coragem de olhar Luan, pois apesar de tudo sabia que eu estava errado de não escutar Pedro, que julguei antes de entender seu lado, assim como fiz com Aurélia. Olhar aquela mensagem, percebi que não fui o único a sofrer, o único que perdeu alguém, o único que saiu machucado.

        – Mesmo que me odiasse, sabia que, no fundo, um dia você ia me escutar, ia me dar a voz para contar que sofri tanto quanto você – funguei. – Eu te amo meu irmão, eu sempre vou te amar e nunca na minha vida poderia te trair, você é meu irmão gêmeo de mãe diferente. Sei que agora não seremos como antes, mas prometo que vou tentar o meu máximo para voltarmos pelo menos a ser um amigo presente e entender o seu novo eu e espero que você entenda o meu novo eu – me apoiei no muro para ter uma sustentação. – Durante esses meses desenvolvi uma depressão grave e também ataque pânico, me sentia a pior pessoa do mundo, mesmo tendo minha família do meu lado, não conseguia perdoar o que minha cabeça dizia. Somente voltei a estar estável com os remédios e as terapias que puderam dizer que eu não tinha culpa de nada. Agora vejo que posso consertar nossa relação e quero isso. Com carinho, seu melhor amigo e irmão Pedruca.

        – Nossa.

        Foi a única coisa que Luan falou e eu apenas sorri com isso e concordei com a cabeça, pois foi a primeira coisa que venho na minha cabeça de ler pela primeira vez esse texto. Mostrei as mensagens que mandei para Pedro e o convidamos para jogar nosso jogo preferido, foi assim que fiquei até à meia-noite acordo com ele em call.

        – Vou convidar Pedro para nosso grupo – olhei para Luan que deu um pequeno sorriso. – Posso?

        – Claro, assim temos mais um para ver você tentando adivinhar o livro em menos de acabar o final da primeira parte do livro.

        – Muito engraçado – ri sem humor.

        O sinal tocou e voltamos para a sala de aula, sentei-me ao lado de Pedro e apesar de não termos conversado muito hoje, lhe dei um sorriso sincero e perguntei se ele já estava estudando para o vestibular ou para o Enem. Convidei o Pedro para participar do intervalo com Luan e ele concordou.

        Aquele dia até fomos embora juntos, mesmo que poucas palavras foram trocadas, muitas dessas foi apenas sobre o jogo e o quanto Pedro estava ruim nele. Meus irmãos voltaram conosco e o tempo todo agiam de forma ameaçadora e falando que Pedro é possível inimigo disfarçado e que fosse me machucar ia se ver com aqueles gêmeos, demos risada disso.

        Limpei as lágrimas do meu rosto, assim como do celular. Não tinha coragem de olhar para o Luan, pois, apesar de tudo, sabia que estava errado por não escutar o Pedro, que julguei antes de entender o seu lado, assim como fiz com a Aurélia. Ao olhar para aquela mensagem, percebi que não fui o único a sofrer, o único que perdeu alguém, o único que saiu machucado.

        – Mesmo que me odiasse, sabia que, no fundo, um dia você me ouviria, me daria a chance de contar que sofri tanto quanto você – funguei. – Eu te amo, meu irmão, eu sempre vou te amar e nunca na minha vida poderia te trair; você é meu irmão gêmeo, de mãe diferente. Sei que agora não seremos como antes, mas prometo que vou tentar ao máximo voltarmos, pelo menos, a ser um amigo presente e entender o seu novo eu. Espero que você entenda o meu novo eu – me apoiei no muro para ter sustentação. – Durante esses meses, desenvolvi uma depressão grave e também tive ataques de pânico. Sentia-me a pior pessoa do mundo, mesmo tendo minha família ao meu lado. Não conseguia perdoar o que minha cabeça dizia. Somente voltei a estar estável com os remédios e as terapias, que me disseram que eu não tinha culpa de nada. Agora vejo que podemos consertar nossa relação, e quero isso. Com carinho, seu melhor amigo e irmão, Pedruca.

        – Nossa.

        Foi a única coisa que o Luan falou, e eu apenas sorri com isso e concordei com a cabeça, pois foi a primeira coisa que me veio à cabeça ao ler esse texto pela primeira vez. Mostrei as mensagens que mandei para o Pedro e o convidei para jogar nosso jogo preferido. Foi assim que fiquei até à meia-noite, acordado com ele em uma ligação.

        – Vou convidar o Pedro para o nosso grupo – olhei para o Luan, que deu um pequeno sorriso. – Posso?

        – Claro, assim teremos mais um para ver você tentando adivinhar o livro antes de terminar a primeira parte.

        – Muito engraçado – ri sem humor.

        O sinal tocou, e voltamos para a sala de aula. Sentei-me ao lado do Pedro e, apesar de não termos conversado muito hoje, dei a ele um sorriso sincero e perguntei se ele já estava estudando para o vestibular ou para o Enem. Convidei o Pedro para participar do intervalo com o Luan, e ele concordou.

        Aquele dia até fomos embora juntos. Mesmo que poucas palavras tenham sido trocadas, muitas delas foram apenas sobre o jogo e o quanto o Pedro estava ruim nele. Meus irmãos voltaram conosco, e o tempo todo agiram de forma ameaçadora, dizendo que o Pedro era um possível inimigo disfarçado e que, se fosse me machucar, teria que lidar com aqueles gêmeos. Todos nós rimos disso.

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