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Meu Amor De Verão

01. O hotel onde moro

O amanhecer sempre trazia a sensação de que algo novo estava a caminho e era um dos momentos favoritos do dia em que Pérola observava o céu sentada sobre a areia branca e fina da praia que era praticamente o quintal da sua casa. Todos os dias a moça de longos cabelos escuros com partes claras queimadas de Sol, levantava na madrugada para aproveitar as ondas da manhã, assim treinava para os campeonatos de surfe.

Havia poucos dias que havia retornado para casa, após o longo período em que esteve estudando a sua graduação. Agora que estava formada e tinha o conhecimento necessário, poderia ajudar o pai e o tio na administração do hotel que era da família. Falando em família, era apenas ela e o pai. Sua mãe havia lhe abandonado desde que ela havia nascido e desde então desapareceu no mundo, deixando toda a responsabilidade nas costas de seu pai e tio.

Ao longo da sua vida, ela viu seu pai se dedicar bastante a sua criação e educação. Sempre sendo presente e amoroso. Mesmo sendo um homem muito bonito, Netuno nunca quis se casar novamente, essa decisão se deu após ele descobrir que sua esposa estava maltratando Pérola. E mesmo que ela tivesse escondido esse fato do pai, o mesmo foi bem sério sobre sua decisão, se mantendo apenas para filha.

Todos na cidade conheciam o hotel que ficava a beira do mar e seus donos peculiares com nome de deuses e havia ela, Pérola, no meio dessa estranha história. A jovem de cabelos longos e ondulados, se levantou e pegou a sua prancha, em seguida, caminhou na direção das ondas para poder fazer o que mais gostava. Estar em cima de uma prancha e dominando uma onda, era quase como se pudesse dominar o mundo e era a sensação que ela mais amava em toda sua vida.

Com o Sol já visível, Pérola passou no chuveirão, onde tirou um pouco de sal do corpo e lavou a prancha, que já dava sinal de precisar de manutenção. Mais tarde, quando a oficina abrisse, ela iria até lá. No momento, era melhor correr e se arrumar para tomar o desjejum com o pai, que naquela hora já deveria ter voltado da academia. Além dos nomes estranhos, seu pai e seu tio eram campeões de fisiculturismo, por esse motivo sempre chamavam a atenção por onde passavam, o que causava um pouco de desconforto em Pérola. Que mesmo no auge de seus vinte e três anos, ainda não havia namorado ninguém por que assim que os pretendentes descobriam de quem ela era filha, todos fugiam sem exceção, restando apenas os seus amigos de bairro, com quem havia crescido junto.

Pérola correu para construção que ficava ao lado do hotel e pode ver o carro do pai já estacionado na garagem, fazendo ela xingar mentalmente. A jovem andou pela lateral da casa, até alcançar a janela do quarto, onde deixou a prancha do lado de fora e entrou pela janela para tomar um banho rápido. Como sempre se organizava, sua roupa para o dia já estava separada para adiantar seus afazeres.

Ela entrou no banheiro anexo ao seu quarto e tomou um banho rápido, aproveitando para lavar o cabelo. Como não tinha o costume de se maquiar ou se arrumar ao extremo como as demais garotas da sua idade, ela tinha agilidade em estar pronta para iniciar o dia. No tempo certo, a jovem de pele bronzeada ouviu batidas na porta e a mesma se abriu, revelando o rosto anguloso do seu pai:

— Bom dia filha, já esta pronta? - Netuno perguntou com um sorriso.

— Bom dia, pai, sim, já estou pronta. - Pérola deu uma voltinha mostrando o que usava fazendo o pai torcer o nariz.

— Filha, não está na hora de começar a usar algumas roupas mais femininas? Como um vestido? Se quiser, podemos sair a tarde para comprar.

— Ih, pai, de novo com essa história? - Pérola falou de mau-humor. - Estou bem assim do jeito que estou.

— Fiquei sabendo que o Marcus voltou de viagem, vai mesmo encontrá - lo dessa maneira? - Netuno falou sugestivo e viu a filha vacilar por alguns instantes.

— Sim, se ele me ver vai ser assim. Não preciso me vestir melhor para impressionar alguém que me conhece desde pequena. Agora vamos tomar café da manhã e o senhor me passa o que tenho que fazer hoje.

— Claro. - Netuno deixou a filha passar pela porta e fechou em seguida. - Antes que eu esqueça, amanhã irá chegar um hóspede estrangeiro no hotel, ao que parece, vai ficar por bastante tempo.

— Sério? - Pérola encarou o pai surpresa. - Isso é tão raro, eles preferem aqueles hotéis de rede e não os tradicionais como o nosso.

— Também me surpreendeu, mas não podemos dizer não a clientes. Mas o que me chamou a atenção mesmo é que ele é dois anos mais velho que você. Não sei muito da cultura de outros países, mas geralmente, jovens da idade de vocês sempre estão acompanhados. Então peço a sua ajuda para lidar com ele.

— Claro, pode deixar que ficarei de olho. Mas quero mais tempo para andar de Skate.

— Pelo amor de Deus, Pérola, você não é mais adolescente. Não é possível que não tenha amadurecido nos últimos quatro anos fora. - O homem mais velho passou as mãos nos cabelos longos e dourados em sinal de impaciência.

— Esses últimos quatro anos foram um inferno. O tempo todo eu tinha que fingir que não gostava das coisas e sempre era confundida com uma lésbica, praticamente fiquei sozinha durante esses anos.

— Não foi falta de mim e o Stephan de te falar.

— Eu sei, mas não me sinto confortável com essas roupas apertadas e reveladoras que essas mulheres costumam usar.

— Chega disso, vamos comer.

Pai e filha saíram da casa e caminharam por um corredor, onde havia um portão que separava a casa deles do hotel da família. O terreno foi dividido em três partes, sendo uma parte para Poseidon, o irmão mais novo de Netuno, onde o mesmo construiu uma casa para vir ocasionalmente; Outra parte, onde ficava a casa de Netuno e Pérola e a maior parte do terreno foi construído o hotel.

O hotel era uma construção larga de cinco andares, onde a entrada principal ficava de frente para uma avenida e a parte de trás dava para praia privada. Mesmo não sendo um hotel de luxo, contava com bar e restaurante, piscina e sauna. Também tinha um bom espaço que era alugado para eventos, onde geralmente ocorriam a maioria das festas da cidade.

Aquela era a amada casa de Pérola.

02. Missão de reconhecimento

As paredes frias e iluminação branca refletiam o brilho das armas que estavam dispostas cuidadosamente sobre a cama dele. Os olhos castanhos claros observavam cada objeto com cuidado, afinal, ele só poderia levar uma, as demais seriam entregues após um tempo de investigação e caso ele necessitasse, o que raramente ocorria.

Já havia quase um mês que havia recebido aquela missão: encontrar uma carga de armas e suprimentos que havia sidos desviados da base. Ele, como investigador, foi escolhido por ser o mais discreto, o problema era o local e a sua descendência. Mesmo ele pontuando diversas vezes ao seu superior, o mesmo deixou bem claro, que não iria mudar de ideia.

Kai já estava naquela organização desde seus dezessete anos, havia entrado para ser apenas um soldado, mas acabou sendo promovido a área de segurança e inteligência. Ao menos o salário era maior, assim ele poderia dar uma vida sossegada aos pais. Mesmo sendo inteligente, sempre teve preguiça de estudar, a vida atrás de uma mesa nunca foi bem vistar por ele, que optou por algo que trazia mais aventura e adrenalina para o seu dia a dia.

Depois de muito observar, ele escolheu uma pistola automática, onde a separou das demais armas que passou a guardar, até que ouviu batidas na sua porta. O jovem de olhos estreitos e cabelos longos e negros, caminhou até a porta e abriu, encontrando sua parceira de equipe:

— O que quer?

— Já esta se arrumando para viajar? - A jovem de cabelos curtos e loiros perguntou com expectativa.

— Sim. - Kai respondeu sem emoção com vontade de mandar aquele problema sumir da sua frente.

— Antes de ir, venha para nossa sala, os rapazes querem se despedir de você.

— Espero que não estejam pensando em fazer uma festa, eu só vou ficar fora até recolher as pistas necessárias.

— Nós sabemos disso, mesmo assim é sempre um motivo para tomarmos uma cerveja juntos. - A moça sorriu.

— Você e aqueles outros dois me estressam. - Kai voltou para dentro do seu quarto e fechou a porta.

Mesmo que não gostasse de admitir, ele gostava dos seus colegas de trabalho e sentiria falta deles enquanto estivesse longe. Já tinha anos que eles eram um quarteto e o fato deles estarem vivos e unidos era algo para se comemorar, por isso, tudo era motivo de festa para eles.

Geralmente as missões sempre eram em duplas, só que dessa vez o alvo estava muito cuidadoso, por esse motivo, ele estava sendo enviado sozinho para uma área de praia, em uma cidade pequena. Segundo investigações, parte do grupo responsável pelo roubo estaria escondido ali, negociando a venda das armas e suprimentos roubados.

Kai terminou de arrumar a sua mala e checou os documentos que usaria no local onde iria ficar. A sua identidade como um recém - formado contador, que estava viajando a trabalho para uma empresa de software, estava perfeitamente trabalhada. Representar um novo papel, não era problema algum, ao contrário, era um tanto divertido.

Ele pegou o celular e checou novamente as imagens do hotel onde ficaria. Era um local bonito e discreto, fora de temporada era bem vazio e quase não tinha construções ao redor, o que tornava o local perfeito para fazer negócios longe de curiosos. Um local onde qualquer pessoa de bom senso iria escolher para terminar seus dias. O Jovem sorriu com o pensamento, desde quando ele pensava em aposentadoria?

Com tudo certo para viagem, o homem com traços orientais saiu do alojamento e caminhou até a sala da sua equipe, onde encontrou seus colegas terminando seus afazeres para encerrar o dia:

— Nossa, a cara de vocês faz parecer que vão a um velório. - Kai caminhou até a sua mesa.

— É porque vamos passar um tempo longe do seu mau-humor. - Um jovem com os cabelos pintados de vermelho vivo brincou, fazendo Kai ri.

— Então deveriam estar comemorando.

— Eu não, agora terei trabalho dobrado sendo babá desses dois. - Um homem de cabeça raspada reclamou.

— Ei, eu que deveria reclamar por quer que fazer as minhas missões sozinha. - A loira reclamou.

— Fique tranquila, esses dois vão te ajudar com as missões. - Kai falou com um leve sorriso e recebeu um olhar de protesto dos dois colegas. - Vocês dois são mais velhos, tem que cuidar da Rachel.

— É só o que me faltava, agora vou ter que ser babá. - O ruivo reclamou.

— Além disso, Átila, você também vai cuidar da parte burocrática, já que é o segundo em comando.

— Ah não! Não vou aceitar isso!

— Reclame com a nossa superior, caso não goste. E Heron, você deve ficar responsável pelo nosso inventário. Acho que com isso posso me ausentar com a cabeça tranquila.

— Por acaso está saindo de férias e está escondendo de nós? - Heron perguntou curioso.

— Bem, o local onde eu vou ficar é muito bonito, então vai ser agradável estar lá enquanto investigo. - Kai respondeu.

— Onde é? - Rachel perguntou curiosa.

Kai pesquisou o local no computador e chamou seus colegas para mostrar a imagem da bela praia que ficava atrás do hotel:

— É férias mesmo, seu safado! - Átila gritou e deu um leve tapa no ombro de Kai, que riu.

— Infelizmente não vão ser, mas já temos um novo destino para ir quando estivermos de folga. Prometo procurar alguns lugares legais para irmos. - O oriental sorriu.

— Só estou esperando por isso.

— Nossa, quem é essa? - Heron apontou para uma imagem de uma jovem surfista que estava na praia do hotel.

— Deve ser alguma modelo. - Kai fechou a página. - Vamos para o bar de sempre?

03. Nosso primeiro encontro

Pérola voltou para casa mais cedo naquele sábado. Era costume dela sair com sua amiga Marin e o namorado dela, Ramon. Eles eram um trio inseparável e não havia um fim de semana que eles não saíssem para curtir juntos desde que ela havia voltado para cidade natal.

A jovem de longos cabelos escuros ainda ouvia os risos e a voz de Marcus debochando dela, deixando claro que ela parecia mais um homem do que uma mulher, e que para ele, ela seria apenas uma colega da equipe de surfe. E para piorar a situação, a morena viu seu interesse amoroso beijando outra mulher durante a festa, coisa que nunca tinha visto em anos de convivência com loiro.

Ela saiu do local sem nem se despedir dos amigos e agradeceu aos céus pelo pai não estar em casa para interrogá - la sobre o retorno cedo. Seu coração estava partido. Em todos aqueles anos, ela sempre nutriu uma paixão por Marcus e chegou até a pensar que era reciproco, mas depois do que tinha ouvido tudo havia ficado claro: ele a considerava apenas como um companheiro de trabalho.

Os primeiros raios de Sol surgiram no horizonte e logo ela checou as condições de vento e ondas para em seguida se arrumar para sair para seu treino. Mesmo que não tivesse nenhum campeonato nos próximos meses, era melhor se manter em forma e também, estar no mar poderia aliviar a sua mente.

O avião chegou ao aeroporto de madrugada. Pelo que ele havia pesquisado, a recepção do hotel era 24 horas, então não teria problema de realizar o check-in para descansar um pouco antes de iniciar suas atividades. O homem com traços orientais e cabelos longos desembarcou e fretou um táxi para o local onde passaria os próximos meses.

No horizonte, os primeiros raios de Sol já surgiam tímidos. Não demorou muito para ele chegar ao destino e ele se surpreendeu com a bela fachada e o som das ondas do mar quebrando nas areias finas e brancas da praia. Atraído pela brisa marítima, o homem alto, vestido com roupas sociais escuras, caminhou pelo caminho indicado que apontava para praia, ainda segurando a única mala que havia trazido.

Em poucos passos, Kai encontrou o mar e deslizando sobre as ondas estava uma linda mulher sobre uma prancha. Ela tinha tanta habilidade, que parecia comandar o mar. Era uma cena tão linda que ele não conseguia parar de olhar. Ele pode ver ela voltando para praia segurando a prancha embaixo do braço. Se existiam sereias, aquela mulher era uma. Os cabelos longos e molhados estavam jogados para trás, o corpo perfeito e escultural, estava coberto apenas por um biquíni preto, a pele bronzeada era um convite ao toque. Se aquela mulher estava por ali, ele a tomaria para si e ele não se importaria com os métodos.

O oriental a viu se aproximar e se perdeu nos olhos verdes da mesma cor da água-marinha que estava atrás dela. Mesmo não acreditando em lendas, aquela mulher só poderia ser sobrenatural de tão bela que era. Ele observou ela se aproximar a passos lentos e o cumprimentá - lo rapidamente ao passar por ele para seguir por um caminho paralelo ao caminho que ele havia feito antes.

A mulher nem havia dado chance para ele responder e já havia desaparecido do seu campo de visão. O investigador observou ao redor e imaginou que provavelmente a jovem seguiu para uma das casas, foi então que ele se lembrou da foto das fotos do hotel, onde tinha imagens daquela mesma mulher. Isso seria um bom sinal, assim, ele poderia se aproximar dela para descobrir algumas coisas da área, e talvez, com sorte, poderia se divertir um pouco com ela. Já que estava longe de Rachel, agora teria liberdade de se divertir como homem.

Kai fez o caminho de volta para a entrada do hotel com as lembranças da bela jovem de olhos verdes. Nunca ele havia visto uma mulher tão linda como aquela. Mesmo frequentando festas da alta sociedade devido o trabalho e conhecendo diversos países e locais, aquela jovem era a mais bela que ele havia encontrado em sua vida. O jovem respirou fundo para que seu coração voltasse ao normal, já havia anos que não se sentia tão atraído daquela forma por uma pessoa.

Ele entrou na recepção do hotel e encontrou um jovem atendente, que sorriu ao vê - lo:

— Bom dia, senhor, em que posso ajudar? - O jovem de cabelos castanhos falou simpático.

— Bom dia, eu tenho uma reserva: Kai Wang.

— Ah, sim, seu quarto já está preparado. - O jovem falou solicito ao pegar a chave e passou a digitar no teclado. - Senhor Kai, precisa de auxílio com a bagagem?

— Não, estou apenas com uma mala.

— Nosso café da manhã é servido das sete até as 9:30 e esta incluído no pacote do hotel. Também temos serviço de restaurante e lavanderia, caso precise. No seu quarto terá uma lista com os ramais do hotel. Alguma dúvida?

— Não. - Kai sorriu. - Qualquer coisa, entrarei em contato.

— Aqui esta. - O Jovem entregou o cartão para Kai.

— Obrigado. - Kai pegou o cartão. - Aliás, qual o seu nome?

— Gael. - O jovem sorriu encantado, afinal, o homem a sua frente era muito bonito e diferente do que se via por ali.

— Gael. - Kai repetiu simpático. - Não vou me esquecer.

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