Gritos, berros, uivos e mais gritos reverberam pelos céus nesse dia, todos os habitantes desse reino estão juntos na praça da cidade esperando ansiosamente o que acontece no seu meio.
Lá, em cima de um grande edifício de madeira está colocada duas guilhotinas, uma do lado da outra, os dois indivíduos ali são o alvo de todo o barulho ao seu redor.
Na guilhotina da direita está um homem velho que fitava ferozmente o que está a sua esquerda, está amarrado os seus braços, pernas e asas juntos não dando o mínimo de possibilidade de qualquer fuga vinda dele, e a sua voz soa rouca e afiada soltava as piores palavras para o outro homem que está a sua esquerda.
Enquanto os gritos se juntavam na cabeça do homem a esquerda o mesmo não dava atenção para isso, os barulhos entravam em uma das suas orelhas e saia pela outra, tudo ao seu redor não importava mais e apenas esperavao momento em que a afiada guilhotina caísse e cortasse a sua garganta.
— Dominique Nyousvier e Allexander Nyousvier, vocês são condenados por traição, homicídio e tentativa de usurpação da casa Bartier!
Os gritos aumentaram e engoliram o resto da sentença, a multidão espera ansiosamente pelo fim do falatório para que os acusados finalmente sofram as consequências dos seus atos e tudo possa começar a se reestruturar.
Allexander apenas esperava a queda da guilhotina, mas uma coisa chama-lhe a atenção, não os berros do povo ou os xingamentos contínuos do seu pai, foi apenas um homem no meio da multidão que o encara tão profundamente que parece estar roubando o que resta dos seus momentos finais de vida, fazendo todo o seu corpo tremer e as suas asas amarados estremecerem até não conseguir mais.
Sem nem ao menos perceber, a guilhotina caiu levanto a sua cabeça e tendo a última visão, olhos de cores diferentes que se tornar a sua última visão de vida.
... ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
O sol bate na janela fazendo os seus raios caírem diretamente numa cama luxuosa, ali no meio dela está um garoto que não passa dos seus 13 anos, de repente ele abre os olhos que se arregalam e começam a se encher de lágrimas, e num pensamento fugaz pergunta-se : "Por que estou chorando?"
Allexander acorda assustado por algum motivo, seu peito sobe e desce em completo desespero e sua garganta aperta como se tivesse segurado um grito por tempo demais, ele não sabe de onde esse sentimento surgiu, nem sequer sabe o que fazer com ele por nunca tê-lo sentido em toda sua vida.
Então só pode se abraçar, se encolhendo entre os lençóis enquanto o vapor quente de sua respiração chicoteava por seu rosto o tornando mais avermelhada que antes, suas asas se tornaram duas bolas cheias, as penas brancas e marrons nao seguiam mais seu padrão organizado, sendo usadas para esconder o corpo angustiado e dar uma leve sensação de segurança.
Alguém bate na porta, mas ninguém responde, novamente a batida retorna um pouco mais alta, mas ainda sim, ninguém responde, quem estava do outro lado decidiu deixar o decoro e finalmente entrar. Da porta entra uma garota, vestindo roupas comuns de empregadas, o genérico preto e branco, assim chamando uma maior atenção para seus longos cabelos ruivos decorados com uma trança, que está as suas duas asas que começam com raízes vermelhas e terminam numa intensa cor preta. Ela empurra consigo um carrinho com uma bacia de mármore cheia de água, junto da toalha e na parte de baixo vários produtos de cores variadas usadas em higiene pessoal.
-Com licença? - Falou ela com a voz ainda um pouco hesitante. - Jovem mestre, está tudo bem?
Aquele sendo dirigida a pergunta começa a sair de dentro dos lençóis, ele passa as mãos pelo rosto afastando o que restava do seu sono.
— Hmm... estou bem Feliy, já falei que não precisa-me chamar de jovem mestre quando estamos sozinhos.
— Eu sei, eu sei. — Felicity ri um pouco, enquanto empurra o carrinho para o lado da cama. — Foi apenas um lapso na língua, mas você esta bem mesmo Alex? Normalmente quando eu venho aqui você já está acordado.
-Estou ótimo, eu devo ter dormido demais ontem e isso aconteceu, se preocupa não.
Felicity levanta uma das sobrancelhas, mas decidiu não dizer mais nada, se Allexander não quer dizer algo nem seus pais conseguem obriga-lo a falar tudo, e enquanto ele molhava e enxugava o rosto ela foi preparando a banheira para o banho que ele logo tomaria.
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Enquanto anda pelos corredores cheios de quatros e outras que ele nunca saberia quanto tempo eles já tinham, na verdade poderia saber, mas ler todos aqueles livros fazia sua cabeça doer e girar sem parar.
Mas mesmo aquele sentimento estranho que ele havia acordado com ainda estava agarrado em algum local de sua mente, deixando todo seu corpo arrepiado e suas asas que antes estavam totalmente cheias se assentaram o suficiente para apenas receber uma bronca de sua mãe por não se cuidar direito. A curiosidade de saber o motivo de ter acordado assim está mais entrelaçado em si do que a sensação de desamparo que cutuca seu subconsciente com vara curta.
Ele para na frente de uma das grandes janelas do corredor, a mais próxima as escadas e a mais longe da biblioteca, balançando sua cabeça para dissipar os pensamentos de toda a planta dessa mansão percebe que a visão a sua frente da em cheio ao portão dourado de sua família, os emblemas de coruja de cada lado dos muros observam cada um que entre e sai, sem nunca parar ou desviar o olhar, uma picada apreensiva surge em seu coração, como se seu pior pesadelo atravessaria aqueles portões e transformaria sua vida em um completo pesadelo.
Que e uma completa mentira, como alguém de uma família tão nobre quanto a dele o medo de ser destruído nunca deveria passar por sua cabeça, é um medo completamente irracional e sem qualquer tipo de chance de realmente acontecer.
Uma mão grande aparece no seu ombro e pulando de susto Allexander vira de costas, se deparando com o seu pai, que como sempre tem o mesmo olhar frio que nunca retirou do rosto.
— Você deveria estar lá em baixo agora. — Dominique, seu pai, fala voltando o olhar para o mesmo local que seu filho.
-Parei aqui para ver está ótima vista, não e linda?
A vista realmente é bela, com o portão dourado que brilha como ouro quando as luzes do sol batem nela, dando entrada a arbustos cheios de flores brancas que ordenadamente formam uma linha reta, que logo se distorcem em um círculo que no seu meio a um chafariz, com uma estátua de uma mulher com longas asas de garça derramando água de dentro da sua jarra.
— Você esta bem? — Perguntou Dominique fazendo Allexander soltar um bufo irritado.
—Já e a segunda vez que me perguntam isso, e a resposta é que eu estou totalmente bem, sem nenhum problema ou qualquer coisa do tipo, vamos tomar café da manhã, estou morrendo de fome.
Dominique acaricia a cabeça do seu filho, fazendo a expressão emburrada se dissolver um pouco e passando seu dedo pelas linhas marrons claros que vão de sua bochechas ate chegar aos seus olhos, onde ele dá um leve limpada.
— Se precisar de algo e só me encontrar no meu escritório, olhar preocupado para a janela não resolvera o problema que você esta pensando tão profundamente.
— Não estou com problema nenhum, e como eu disse, estava apenas vendo a bela vista, vocês estão a fazer tempestade em copo d’agua.
— Claro.
Os dois caminham juntos em silencio pelo resto do caminho, a atmosfera para quem esta do lado de fora pensa que as duas pessoas estão brigadas uma com a outra e que apenas querem sair dali o mais rápido possível, mesmo que na verdade eles estejam bem confortáveis com o silencio entre os dois.
Chegando na sala de jantar a primeira pessoa que encontram e uma mulher já sentada na mesa, apenas esperando os dois chegarem, ela tem longos cabelos castanhos contratando fortemente com o cabelo completamente negro do seu marido, quando vira o seu rosto para os recém-chegadas diferente do seu filho e esposo, ela não tem as marquinhas castanhos claros, mas seu rosto e salpicado de pequenas sardas que se tornam presentes quando os raios de sol batem na sua pele.
— Vocês chegaram, demoraram um pouco. — Falou Raquel, segurando a sua vontade de dizer “finalmente”, e dando apenas um olhar de desaprovação, ela apenas não começou a comer primeiro por pura educação.
—Paramos no meio do caminho para conversar, acabamos não percebendo muito bem o tempo passar. — Disse Dominique, tentando apaziguar um pouco sua esposa.
—Poderiam conversar aqui, eu adoraria me incluir na conversa. —Acabou não dando muito certo.
Enquanto os seus pais conversavam, Allexander via sua interação e um baque de sentimento bateu tão forte no seu coração que ele teve que respirar fundo para não cair no chão, a sensação de saudade extrema e tristeza avassaladora fez os seus olhos começarem a lacrimejar quase as lágrimas, e ele teve que comer rapidamente um pedaço de pão com geleia de morango junto de suco de laranja, mas ele acabou engasgando.
—Allexander! — Fala sua mãe, vendo ele tossindo quase seus pulmões para fora. —Quantas vezes já te falei para comer mais devagar? Da próxima vez não vá tão desesperado assim, ela não vai sair andando.
Sua mãe não se levanta, mas acena para um dos empregados em volta e ele coloca um copo d’agua em sua frente para ele beber.
—E beba aos poucos, se você for desesperado de novo só vai se engasgar.
Escutando os avisos de sua mãe ele finalmente parou com a tosse e voltou a respirar normalmente. O sentimento ainda estava lá, tanto uma forte sensação de asfixia, mas não poderia contar para os seus pais, eles pediriam uma explicação, que ele mesmo nem sequer conseguia compreender, isso simplesmente aconteceu e ainda está acontecendo sem nenhum motivo lógico.
Ele voltou a tomar seu café normalmente para não chamar mais a atenção que já tinha feito antes, arregalando os olhos ele se lembrou de algo.
—Mãe, e hoje que ele ira vir para cá? — Os traços de empolgação em sua voz não estão escondidos.
Com uma olhada dela que dizia sem palavras: “Não interrompa quando os adultos estejam conversando.”, mesmo que os dois estivessem apenas falando sobre como algumas das flores dela estão cheias de bolinhas pretas e teve que coloca-las para fora, aind1a e uma conversa de adultos que não pode ser interrompida.
—Ele chegará aqui amanha, nem pense em fazer nenhuma das suas brincadeiras enquanto eles estiverem aqui.
—Mas, se for uma bem pequenininha pode, né? — Ele fala com um sorrisinho largo nos lábios, fazendo sua mãe apoiar uma de suas mãos na têmpora e com a outra tomar um pouco mais de seu café, extremamente amargo se perguntarem para ele.
A empolgação com o recém-chegado e um assunto que ele descobriu por acaso, se você pensar que o por acaso foi ele escutando as conversas deles com a ajuda de um copo de vidro e uma parede oca, depois disso deve que esperar ansiosamente para que eles contassem para ele, e demorou muito mais que havia esperado, foi apenas contado dois dias atrás, quando já estava logo ai, e foi apenas isso, sem saber o motivo daquele outro vir pra cá ou o que ira fazer, mas pelo menos falaram que eles tem a mesma idade sendo o suficiente por engando. Mais isso não estagnou sua empolgação que só a fez crescer mais ainda.
—Esta na hora da sua aula, vá antes que se atrase. — falou seu pai, que diferente de sua mãe tomava um suco fresco de abacaxi.
Se levantando da cadeira Allexander se despede de ambos os pais e segue seu caminho, até que em um certo momento ele se de encontro com Felicity novamente.
—Vejo que melhorou, você estava tão pálido quando acordou. — Comentou ela caminhando ao seu lado enquanto carrega alguns livros finos.
—Eu falei que estava bem, eu só precisava comer um pouquinho e agora estou como novo. — ele ate flexiona um pouco o braço para demonstrar sua força, fazendo sua amiga rir um pouco.
—Que bom então, hoje o dia promete ser bem cheio, você ainda vai ficar umas boas horas na biblioteca.
—Biblioteca? Mas eu já fiquei uma eternidade ontem, não quero ficar outra. — Dramaticamente ele cruza suas mãos na cabeça e faz suas asas se juntarem formando um fofo cobertor de penas em volta de si.
—Então não e melhor ir logo? Dessa forma a eternidade pode se tornar apenas alguns dias. — Responde ela colocando os livros que estavam na sua mão na dele. — E é melhor sair do seu cobertor de penas, lembra que o professor Vincent odeia ver você entrando assim.
Allexander suspira, que sai mais como uma canção de desespero, ele odeia tanto a biblioteca, sentir aquele cheiro de poeira e tinta junto do silencio ensurdecedor dali o faz sentir vontade de gritar deixando seu eco fazer mais barulho ainda. Mas da ultima vez que ele fez isso ele tomou uma livrada tão forte que ele ficou a ver navios por mais de horas, e quando falou o que aconteceu para sua mãe tomou outro tapa na cabeça e um sermão sobre respeitar o silencio da biblioteca, diferente dele sua mãe realmente gostava de ler.
Se despedindo de Felicity e entrando na biblioteca, ao abrir a porta ele da de cara com seu professor, o homem velho com certeza o olha com o mesmo olhar severo, sem saber se esse olhar vem do fato dele ser velho demais, serio o cara foi o professor de seu pai, ou por conta de parecer nunca ter dado um único sorriso em toda sua vida. Ele escuta o farfalhar de asas que demonstra o quão irritado ele está as asas em vários tons marrons de águia nunca deixam de faze-lo se sentir pequeno quando as vê de perto.
—Você esta a dois minutos atrasado garoto. — Fala Vincent com sua voz grosso como se quase nunca falasse, mesmo que ele passe mais de horas e horas falando de casas, guerras, historias e principalmente politica que faz sua cabeça girar até doer.
—Dessa vez foi apenas dois minutos, da ultima vez foram dez minutos, eu melhorei muito já. — Responde Allexander, com um sorriso confiante no rosto.
—Chegar dez ou dois minutos atrasados ainda e muito para alguém de seu nome, como um nobre Nyousvier e teu dever sempre ser pontual para dar boas impressões e demonstrar com...
Enquanto Vincent falava as suas obrigações de nobres que ele já tinha escutado ate perder as contas, decidiu se sentar na cadeira de uma vez, ele queria tanto ter logo quinze anos para entrar na academia e finalmente ter aulas menos maçantes iguais a essa, e entender também porque os seus pais sempre dão um sorrisinho para ele quando reclama, mas ele ainda tinha treze anos e deve esperar chegar a sua carta da academia. Como ele odeia esperar.
“BAM”
Pulando de sua cadeira e com o coração quase saindo por sua boca, ele olha para o seu professor com espanto.
—Preste atenção quando eu estou falando, se não irei faze-lo escrever uma redação da historia de cada família nobre da nossa região. — Repreende Vincent virando as costas e fazendo sua longa túnica verde escuro levantar um pouco de poeira pelo chão.
E é assim que as milhares de horas passam, não milhares apenas três, mas quem esta escutando sobre os impostos e as reformas ordenadas pelo rei na semana passada tudo entra na sua cabeça e a torna o maior sonífero do mundo.
“Blem-Blem”
Um pequeno sino e escutado atrás da porta, e Allexander quase sente seus olhos lacrimejarem por pura alegria de finalmente sair daquela sala sufocante.
—Pode ir garoto. — Fala seu professor, e quando ele finalmente colocou sua mão na maçaneta. – Mas não esqueça de voltar, teremos aulas de estratégias de batalha e línguas estrangeiras.
—Tá bom. — Responde Allexander pensando se talvez, demorar uns dez minutos não seria uma má ideia.
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A hora do almoço foi apenas ele e sua mãe, como ela tinha falado pra ele, seu pai estava muito ocupado com algumas cartas que vieram de outros ducados e não poderia vir hoje comer com eles, como isso era algo comum de acontecer deixou quieto por ai mesmo.
—Como foi sua aula de hoje? — Perguntou sua mãe, da mesma forma que ela sempre fazia todos os dias.
—Normal, igual sempre foi. – Responde Allexander, cutucando uma ervilha no seu prato com seu garfo. – Mas eu ainda quero muito ir logo pra academia, falta tanto tempo ainda.
—Quando você for pra lá ira desejar estar aqui. O professor que você reclama tanta vai ser considerado uma benção quando chegar lá, experiência própria, querido. É coma seus vegetais, estou vendo você os colocando do lado do seu prato, isso não faz sua porção parecer menor.
Enquanto tira os vegetais do canto do prato ele apenas suspira cansado, ele só quer que o amanhã chegue logo, para acabar de uma vez com essa antecipação fazendo seu coração bater desengonçado.
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Allexander acorda de manhã cedo dessa vez, sem os sentimentos estranhos arranhando o seu âmago e nem as suas asas transformaram-se em duas bolinhas felpudas novamente. Tudo hoje parecia estar certo, como se o ontem nunca tivesse acontecido.
As batidas na porta aconteceram de novo, mas dessa vez ele já estava acordado para receber Felicity, que como ontem empurrava o seu carrinho com a bacia de mármore polido. O vendo tão disposto assim a fez abrir um sorriso.
— Vejo que acordou mais disposto hoje, e empolgado também. É por conta do novo visitante não é? — Fala ela colocando o carrinho ao seu lado.
Allexander balança a cabeça, afirmando, enquanto passa a toalha por seu rosto.
— Eu escutei algo dos outros empregados. — Ela colocou a mão do lado da boca, pronta para falar mais uma das suas fofocas, que ele claro escuta atentamente. — Parece que quem está vindo aí e alguém da família dos Pasmour, sabe aqueles que tiveram a sua nobreza retirada meses atrás.
— Claro que eu me lembro, mas nunca imaginei que eles jogariam um dos seus aqui, um pardal no meio de corujas? Esse recém-chegado não irá ter um tempo ótimo por aqui.
A família Pasmour a tempos fazia parte da nobreza, mas de uns meses para cá vários escândalos vindo do herdeiro começaram a circular, desde ser várias vezes flagrado embriagado, a várias provas de desvio de dinheiro e incitação a rebelião, muitos pensaram que um movimento contra a eles estava sendo feito, mas ninguém saberia dizer qual nobre estaria fazendo isso, e também nenhuma prova contra foi encontrada. No final da história eles perderam a sua honra perante o rei e foram depostos do seu lugar no conselho, e gradualmente as notícias sobre eles desapareceram aos poucos por já não ser mais uma novidade.
Até agora, se está fofoca for verdadeira, não impressionaria escutar os nomes deles voltando para a boca dos nobres em mais alguns bailes pela frente.
— Eles querem tanto voltar ao poder assim? — Indagou ele. — Então tem uma certa chance de vir o herdeiro deles para cá?
— Duvido muito, o herdeiro já está na casa dos 21 anos, ele só seria útil se visse para cá para ficar como guarda, e talvez nem sequer aceitariam ele assim. — Responde Felicity, ela coloca a mão no queixo, esfregando pensativa. — É se eles tiverem mais de um filho, um escondido apenas se por acaso acontecer algo com o herdeiro, faziam muito isso não?
— Mas não fazemos mais, pararam de fazer isso depois da guerra, e bem, quem mais fazia era os reis que tinham um filho favorito e não queriam que o outro fosse o herdeiro, então faziam algo para perder o indesejado. — Allexander se levantou da cama e começou a se esticar das pontas dos dedos até espichar totalmente as suas asas. — É saiu de moda também, todo o mundo queria um filho escondido especial para colocar na história da família, mas se virou contra eles quando um dos primogénitos enlouqueceu, e digamos que ele fez um longo caminho em vermelho até a liderança.
— Nossa, não pensei que seria tudo isso, eu pensava que era só por conta das intrigas políticas, tomadas de trono e tudo o mais, não para fazer bonito na história da família. É me pergunto o quanto sofrimento aquele primogénito sofreu para acabar dessa forma. — Indagou Felicity, enquanto arrumava a roupa de Allexander e as apoiava no gancho da penteadeira.
— Aprendi nas aulas do professor Vincent, e essa é a primeira vez que uso qualquer uma delas. — Suspira Allexander se virando para amiga. — Hoje não tenho aulas com ele não, né?
— Só a primeira dessa manhã. — Um som de choro vem da direção de onde Allexander está, e a faz rir um pouco. — Apenas a de manhã, você terá aulas com o professor Andrew depois, e irá ser bem na hora que ele chegará.
— Apenas uma? — Ele olha para o sol do outro lado da janela, se fosse para chutar seria aproximadamente as 7 da manhã e como as aulas com ele começava as 08:30, e terminavam na hora do almoço. — Você está certa, irei mostrar para esse pardal como uma coruja luta de verdade e ele irá se impressionar.
Ele estufa um pouco o peito junto das asas, se for no horário certo conseguiria mostrar as suas proezas na espada e impressionar o pequeno pardal, e se não conseguir dará um jeito, ótimas primeiras impressões e algo que ele sempre consegue fazer sem nenhum problema.
— Alex, o banho está pronto. — Falou Felicity cutucando o seu ombro e o tirando daquele devaneio.
Após tomar o seu banho, e terminar de se vestir ele foi em direção a sala de jantar junto de Felicity.
— Você vai me acompanhar hoje? — Perguntou Allexander, ela normalmente iria para outro local terminar o seu trabalho, mas as vezes a única coisa que ela precisa fazer no dia e segui-lo de lá pra cá.
— Sim, minha agenda de tarefas hoje apenas incluem de seguir pra cima e pra baixo e pegar algumas coisas aqui e ali. — Respondeu ela feliz. — Eu sei que adora quando fico do seu lado.
— Eu adoro porque você pode carregar todas as minhas coisas e posso apenas andar tranquilamente. — Respondeu ele, se alguém escutasse isso dirigido a si, ficaria nervoso com o garoto mimado, mas Felicity viu as duas orelhas vermelhas que são visíveis atrás do seu cabelo castanho-claro e abriu um largo sorriso.
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Os dois chegaram ao salão com a mesa já posta e os pais de Allexander já sentados conversando sobre qualquer coisa e nada ao mesmo tempo. Ele se senta, enquanto Felicity vai para perto de alguns dos outros empregados entrando na conversa deles e entrando facilmente.
Enquanto passava geleia de morango em seu pão, sua mãe chama-lhe atenção.
— Allexander, como você já sabe e está bem empolgado, se comporte quando ele chegar aqui e de uma boa primeira impressão.
— Claro mãe, eu nunca faria algo para ir contra ele, e se o garoto chegar na hora certa mostrarei pra ele toda a minha força. — Responde ele flexionando um dos braços com um sorriso no rosto.
— Já que está falando com tanta confiança eu acredito em você, mas não vai conseguir demonstrar tanta força sujo desse jeito. — Fala Raquel, apontando para a sua própria bochecha, e quando ele passa a mão e olha para ela, e vê que estava sujo com geleia de morango.
— Não vai com geleia que eu estarei todo sujo, e sim com o suor da batalha.
Uma leve som de risada veio ao fundo, e olhando na direção deram de cara com Dominique que tomava o seu café da manhã silenciosamente enquanto a sua família conversa.
— Já está na hora de você ir, ou chegará lá dez minutos atrasados, de novo. — Fala Dominique, enquanto comia um pedaço de bolo de morango.
— Olha eu ainda estou comendo, nem terminei de comer o meu pão, vai ser rapidinho. — Responde Allexander colocando mais geleia no pão e sendo repreendido por sua mãe para não colocar demais se não ia ficar com dor de barriga, o seu pai apenas dá um zumbido em resposta.
E no final, Allexander chegou nove minutos atrasado, mesmo tendo aulas na sua própria casa e impressionante que ele ainda consegue essa proeza.
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O tempo com o professor Vincent foi lento, mais lento que o normal, os ponteiros do relógio tiquetaqueiam enchendo sua cabeça com cada "Tick" com depois de horas vindo o "Tack". Se virando um pouco, vê Felicity, feliz no canto dela, enquanto lê um livro aleatório da estante. Ele queria ter o mesmo entusiasmo dela com os livros, talvez assim algo entre na sua cabeça de verdade.
"PÁ!"
— Preste atenção na aula garoto. — Fala o professor, Allexander ainda está com a mão no peito e com as asas arrepiadas com o grande susto, respirando fundo até se acalmar.
Olhando pro relógio uma última vez, ele só pode suspirar tendo que esperar por mais uma hora.
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Depois de muito tempo que parecia uma eternidade, e ter o seu merecido almoço, finalmente chegou a hora de treinar. O local e atrás da mansão e um pouco afastado do jardim da sua mãe, onde os soldados treinam por um tempo, sendo escolhidos para serem promovidos ou ficar por ali mesmo.
Ele ficou tão empolgado que não foi apenas correndo, mas sim voando até lá, com Felicity o seguindo calmante pelo chão. Na hora de voar foi estranho para ele, suas asas pareciam estar desacostumadas a voar, que e muito estranho, sendo que ele passou apenas um dia sem alçar voou. Mas as esticando por mais algum tempo, finalmente voltaram e ser como estavam antes, bem no momento em que chegou no campo de treinamento.
Chegando lá, alguns soldados estavam treinando, alguns batalhando com espadas e outros tentando acertar com o arco e flecha, mas o seu treinamento favorito são aqueles no ar, que dois soldados estão praticando agora, um deles sendo gavião-real e o outro um falcão.
A luta poderia ser mortal se eles não tivessem levando tudo como treino, mas facilmente poderia ser uma de vida ou morte com quão pesados os golpes de espada do gavião-real desfere sobre a armadura leve do falcão.
O falcão voa para cima, usando a sua velocidade de queda para desferir algum golpe no seu oponente, mas o gavião prevendo o seu movimento joga uma das suas adagas no oponente o fazendo perder o seu curso e aproveitando a abertura consegue usar um pouco do seu impulso para chutar as costelas dele e fazê-lo cair em disparada para o chão.
Com a queda do falcão, o gavião-real consegue pegá-lo pelo pé antes que caia em cheio no chão de terra batida. O fim da briga foi acompanhado com o bater de palmas de Allexander e Felicity, ele mais animado e ela mais contida.
— Isso foi tão legal. — Falou Alex, correndo para o lado do gavião-real que tirava seu capacete. — Eu aposto que agora eu consigo fazer isso.
O gavião- real com seu capacete de fora mostrou que por baixo tinha um homem, com o cabelo curto preto que aos poucos se transforma em cinza , no seu rosto alguns fiapos de cicatrizes se cruzavam aqui e ali, e diferente de Vincent as rugas em seu rosto são aquelas que demonstravam mais sorrisos do que carrancas. Como agora.
— Tenho certeza que sim pirralho, mas vamos ver se você já consegue voar em ventos mais fortes, em. — Fala Andrew, o professor de combate de Allexander e uma de suas aulas favoritas.
— Vamos tentar, tenho certeza que eu melhorei depois de todo esse tempo. — Respondeu Allexander com o peito estufado e as asas prontas para voar.
Em resposta Andrew ri, a sua voz não faz muito jus ao seu tamanho, mas a risada fina junto de uma rouquidão de fundo faz os tímpanos doerem um pouco.
— Mas não hoje, ainda precisamos melhorar o seu físico antes de você se quebrar todo no chão. — Fala Andrew, que foi até Allexander e bagunçou um pouco seu cabelo.
Um suspiro profundo veio na direção de onde Felicity estava, e ali estava ela junto do falcão, conversando um com o outro cheios de sorrisos, fazendo o ambiente em volta deles se tornarem um pouco rosada e com cheiro de rosas.
— Vocês deveriam se casar logo. — Interrompe Allexander, vendo a bolha rosada estourar e os dois olharem para ele.
— Eu gostaria mas...
— Wally! — Interrompe Felicity, colocando a mão na armadura do falcão e seu rosto ficando mais vermelho que seus cabelos. — Não deveríamos estar discutido sobre casamentos, está na hora da sua aula vá lá.
— Ela está certa piralho, vamos deixar os dois pombinhos ai enquanto eu te ensino mais algumas coisas. — Fala Andrew enquanto puxa Alex para uma área mais afastada dos dois pombinhos.
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Eles treinam por algumas horas, e Allexander finalmente está fazendo algo que gosta, em baixo do céu claro e não enfurnado dentro de uma sala cheia de livros com cheiro de mofo e tinta.
— Um pouco mais para cima. — Orienta Andrew, colocando de forma certa as mãos da coruja no arco.
Ele já tinha esquecido um pouco que o pardal estava vindo, mas quando viu a sua mãe caminhando para lá olhando para baixo, ele se lembrou e vendo que estava numa ótima oportunidade de se mostrar um pouco decidiu acertar o alvo em cheio e impressiona-lo.
— Meu filho está por aqui, seria ótimo se vocês se conhecerem e tornarem amigos. — A voz suave de sua mãe já estava em uma boa distância.
Com mais um passo e soltando a respiração, ele solta flecha que com alguns balançarem comuns acertar não no alvo, mas muito próximo dele, e com um sorriso grande no rosto se vira para ver a cara impressionada do pardal.
Que tinha asas de corvo? O pequeno garoto do lado de sua mãe não era o pardalzinho com cara fofa que ele imaginava, mas sim um corvinho de cara fechada e muito magro. O garoto atrás das saias do vestido verde-claro da sua mãe, olhando para ele com dois olhos pretos que aparentam estar mais mortos do que vivos.
— Allexander, eu lhe apresento Caius Derferry vindo da casa dos Pasmour. — Raquel dá uns empurrõezinhos na criança para ir em direção a ele. — Vá lá, talvez vocês dois tenham muita coisa em comum.
Caius o novo garoto se aproxima dele, mas enquanto ele caminha em sua direção aquele sentimento estranho volta, igual mais diferente do que teve antes, começando a fazer seu coração bater mais e mais forte, até o ponto de doer e sua respiração começar a ficar pesada demais para entrar nos seus pulmões.
— Olá? — O garoto corvo está na sua frente, com a cabeça cheia de cabelos negros como as suas asas virada com um grande ponto de interrogação em cima dela. — Você está bem?
— S-sim, fo- estou ótimo, é o-oi pra v-você ta-m..bem — Ele gagueja, ele nunca tinha guaguejando antes!! Como isso é possível, tudo estava tão certo na sua cabeça e agora está indo por água abaixo. — O-o que acho-u do-do meu tiro com o arco!
— Bom.
É ficou o silêncio constrangedor entre os dois, a coruja em pânico e o corvo apenas esperando o próximo movimento na sua frente.
Que foi para espanto de todos, Allexander virar as costas e sair correndo, quase voando de volta para a mansão.
— Allexander!! — Ele escuta sua mãe o chamando ao longe, mas apenas segue em frente sem olhar para trás, ou mais importante o mais longe possível do corvo que não tira os olhos dele.
Ele corre até chegar em um dos pilares que fica próximo ao jardim, escorregando e caindo no chão, seu coração parecesse dançar dentro do seu peito, cada batida ele parece estar em algum local diferente, o seu corpo todo em si treme e se arrepia, e tudo o que ele pode pensar agora é.
— Que grande primeira impressão tivemos.
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