Meu nome é Hellen. Tenho 20 anos e sou uma lutadora de karatê com habilidades letais.
Não me lembro muito do meu passado — só da dor de terem tirado minhas irmãs de mim. Pelo pouco que consigo lembrar, minha vida nunca foi simples.
Nunca me importei com o que os outros pensam. Me chamam de arrogante, fria... Talvez seja verdade. Quebrei o braço de um garoto no fundamental por mexer comigo — desde então, virei a garota sem sentimentos.
Nunca fui de abraços ou palavras doces. Sempre vivi assim. Comecei a lutar aos seis anos e, antes mesmo de entender o que era disciplina, já colecionava troféus nas artes marciais.
Não tive muitos amigos. Hoje, moro com minha tia — pelo menos até o dia em que ela não precisar mais de mim. Quando puder me sustentar, pretendo sair e morar sozinha. Perdi meus pais quando tinha dois anos. Fui parar num orfanato, separada das minhas irmãs. Um tempo depois, minha tia me acolheu.
Agora, ela está doente. E eu preciso de um emprego.
É a minha terceira tentativa essa semana. Saio de casa com o coração apertado, mas com a mente focada.
Hellen (pensando): Foco, Hellen. Você precisa desse trabalho.
Chego à entrevista com passos firmes e olhar decidido. Respondo às perguntas com clareza, destacando o que sei fazer de melhor: lutar, resistir e não desistir. Ao final, forço um sorriso. Ao sair, deixo escapar uma risada seca — uma mistura de ironia e decepção.
Entrevistador: “Sem experiência, não posso contratar. E, sinceramente, seu histórico... não ajuda. Sinto muito, mas não posso aceitar alguém como você.”
Hellen: “Certo, então.”
Volto pra casa engolindo a frustração. Assim que entro, vou direto pro saco de pancadas. Meus punhos disparam com força, cada golpe descarregando a raiva, cada chute atingindo a imagem daquele entrevistador na minha cabeça.
Respiro fundo. Minha voz falha, mas ainda assim respondo à minha tia:
Tia: “E aí, como foi?”
Hellen: “Não consegui.”
Tia: “Você tem outra entrevista na semana que vem. Vai dar certo.”
Hellen: “Semana que vem, eu vou me sair melhor. Obrigada, tia.”
Tia: “Mas olha... você precisa parar de querer brigar com todo mundo. Assim não vai conseguir manter um emprego.”
Olho pra ela com firmeza.
Hellen: “Eu não procuro briga. Só defendo meus princípios. Vou encontrar um lugar onde valorizem quem eu sou. Se as pessoas não sabem lidar com isso, problema delas.”
Suspiro, pensando nos empregos que perdi.
Hellen: “É... meu histórico realmente não é dos melhores. Tentei, mas as pessoas são insuportáveis. Mesmo assim... eu vou me esforçar. Por você. Por mim.”
Não vejo sentido em implorar por uma vaga. O fim de semana passa e, segunda-feira, acordo determinada. Me visto, pego meu currículo e saio. O céu fecha de repente. Começa a chover.
Hellen (pensando): Sério isso? Chegar encharcada? É piada do destino?
Molhada e irritada, chego à empresa. A recepcionista me recebe com um sorriso mecânico.
Recepcionista: “Bem-vinda. A chefe está lá em cima. Pode subir pelo elevador.”
Respiro fundo. Entro na sala com o máximo de confiança que consigo reunir. Cumprimento a mulher à minha frente com um leve sorriso e um aperto de mão firme.
Chefe: “Sente-se. Então, Hellen... Qual seu interesse em trabalhar aqui? Seu currículo mostra que você foi demitida três vezes só este ano.”
Ajeito minha postura, segura, mas com um leve frio na barriga.
Hellen: “Senhora, é verdade. Enfrentei situações difíceis. Mas aprendi com todas elas. Estou determinada a mostrar meu comprometimento, dedicação e, acima de tudo, que posso evoluir.”
Pauso. Olho nos olhos dela.
Hellen: “Sendo honesta... eu errei. Não fui a profissional que deveria ser. Mas estou aqui porque quero mudar isso. Quero mostrar que posso ser diferente. Responsável. Dedicada.”
Ela me observa em silêncio por alguns segundos.
Chefe: “Entendo. Vou considerar o que disse. Dou uma resposta em dois dias.”
Agradeço e saio da sala com uma mistura de esperança e ansiedade. Agora, é esperar. E torcer para que, dessa vez, o mundo finalmente reconheça que eu mereço uma chance.
O céu cinzento cobria a pequena cidade encravada entre as montanhas, como se já pressentir os acontecimentos daquele dia. Hellen caminhava pelas ruas estreitas após uma trilha leve fora do roteiro turístico. Estava distraída com os sons das folhas e o cheiro de terra úmida quando tudo mudou.
Uma mulher surgiu, desesperada, tropeçando em direção a ela.
— Moça, por favor, ajude-me! Tem um homem me seguindo. Eu não o conheço... estou com muito medo — suplicou, ofegante.
O olhar de Hellen percorreu os arredores com rapidez. Um homem de expressão tensa se aproximava, olhando fixamente para as duas.
— Fique calma — disse ela, firme, tomando o controle da situação. — Vamos nos afastar. Rápido!
Apontou para uma loja adiante e puxou a mulher pela mão. Assim que entraram, se encolheram entre os corredores.
— Se ficarmos aqui por um tempo, ele deve ir embora. Mas precisamos ser discretas — sussurrou Hellen.
Alguns minutos depois, a mulher pediu que Hellen a acompanhasse até sua casa, ali perto. Relutante, ela concordou. Olhou discretamente por cima do ombro — não havia sinal do perseguidor.
— Acho que ele desistiu… Mas se ele continuar te seguindo, chame a polícia. Você precisa denunciar isso — aconselhou.
Contudo, mal haviam deixado a loja quando o homem ressurgiu, desta vez andando com passos largos e decididos.
— Ele não desiste! — murmurou Hellen, puxando a mulher. — Vamos por aquele beco!
Atravessaram uma viela estreita, mas era tarde. Alguém agarrou Hellen por trás, com força. O instinto falou mais alto: ela girou o corpo e desferiu um chute preciso na perna do agressor.
— Você não vai me pegar tão fácil! — rosnou.
— Calma… não vou machucar você, só faça o que mandamos — disse o homem, com um sorriso sombrio.
Quando ele avançou, Hellen o atingiu nas partes íntimas, fazendo-o cambalear. Um segundo homem surgiu, a agarrando pelo pescoço. Mas ela se desvencilhou com agilidade, derrubando-o no chão e fraturando-lhe o braço com a queda.
Sem perder tempo, fugiu, escondendo-se em um canto escuro. Quando os dois homens passaram por perto, distraídos, ela aproveitou. Silenciosa, como uma sombra, atacou um deles com um golpe letal no pescoço. O corpo caiu sem ruído.
Mas a aparente vitória teve fim abrupto.
Uma nova presença surgiu da escuridão — uma mulher coberta inteiramente de preto, com movimentos felinos e frios como gelo. Sem aviso, ela atacou. A luta foi brutal. Hellen resistiu, mas não por muito tempo. Um golpe preciso na cabeça a derrubou.
O mundo mergulhou em trevas.
Quando recobrou os sentidos, estava sendo carregada nos braços de um homem desconhecido. A visão ainda embaçada, a cabeça latejando.
— O que aconteceu...? E aquelas pessoas...? — murmurou.
— Fugiram — disse ele, colocando-a no chão. — Você está segura agora.
Antes que ela pudesse questionar mais, o homem desapareceu tão misteriosamente quanto havia aparecido.
Confusa e exausta, Hellen reuniu forças para voltar para casa. Sua tia a esperava, inconsciente do que acabara de acontecer.
No caminho, um pensamento insistente a assombrava:
— Espero que aquela mulher que ajudei esteja bem…
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Na manhã seguinte, Hellen tentava se recompor. Precisava se concentrar — tinha uma entrevista de emprego. Vestiu-se com cuidado, lutando contra o peso do medo e do cansaço.
Mas a entrevista, que deveria ser um recomeço, transformou-se em outra provação. A entrevistadora levantou acusações inesperadas, trazendo à tona segredos do passado que Hellen lutava para esquecer.
Mesmo com uma promessa de reconsideração, ela saiu de lá ainda mais pesada do que quando entrou.
E enquanto caminhava pelas ruas, silenciosa e inquieta, uma certeza crescia em seu peito:
Nada mais seria como antes
Antes de chegar em casa, Hellen percebe que está sendo observada. Ela continua andando, olhando discretamente ao redor, e sente uma presença misteriosa vigiando.
Hellen (pensando): Vou me misturar à multidão... preciso despistar. Não posso ser descoberta.
Ela tenta afastar o pensamento.
“Que estranho... eu realmente senti que alguém me observava. Deve ser coisa da minha cabeça. Preciso chegar em casa logo.”
Ao entrar, é recebida pela tia.
Tia: — Querida, onde você estava? Fiquei preocupada. Nem me avisou para onde ia!
Hellen: — Desculpa, tia. Eu estava ajudando uma pessoa, por isso demorei.
Ela segue para o quarto.
Hellen (pensando): Preciso de um banho... Hoje foi um dia estressante. Ainda não consegui um emprego, e semana que vem tenho uma entrevista. Que saco! Não vejo sentido nenhum em implorar para alguém me contratar.
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O fim de semana passa, e Hellen se arruma para a entrevista. A caminho da empresa, começa a chover.
Hellen: — Que droga, vou ficar encharcada... Começar a chover agora? Só pode ser piada.
Ao chegar à recepção, é recebida por uma funcionária simpática.
Recepcionista: — Seja bem-vinda! A chefe está no andar de cima. É só pegar o elevador.
Hellen entra na sala com confiança. Cumprimentar a chefe com um leve sorriso e um aperto de mão firme, demonstrando entusiasmo.
Chefe: — Sente-se. Qual o seu interesse em trabalhar aqui? Pelo que vi no seu currículo, você foi demitida três vezes só este ano.
Hellen ajeita a postura e responde com calma.
Hellen: — Senhora, é verdade que passei por momentos difíceis. Mas aprendi muito com cada experiência. Estou determinada a mostrar meu comprometimento, minha dedicação e as habilidades que adquiri.
Ela pausa, respira fundo e decide ser sincera.
Hellen: — Para ser franca, eu não me comportei como uma profissional adequada antes. Mas agora quero aprender, assumir minhas responsabilidades e evoluir. Tenho experiências que acredito que podem ser úteis para sua empresa.
Chefe: — Eu posso acreditar em você. Darei uma resposta dentro de dois dias.
Hellen agradece pela oportunidade e deixa a sala com esperança no coração.
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Depois da entrevista, ela segue direto para casa. Mas, ao chegar, vê um carro de polícia parado em frente à casa da tia.
Hellen (assustada): — O quê? O que está acontecendo? Melhor não entrar...
Ela se afasta rapidamente, mas um dos policiais percebe e começa a segui-la. Hellen corre pelas ruas, desviando de obstáculos.
Hellen (ofegante): — Vou ter que me esconder no lixo... que nojo, mas não tenho opção. Será por causa daqueles caras de ontem? Fiquei tão discreta...
Ela se esconde em uma lixeira num beco estreito, tampando o nariz com a manga do casaco. O cheiro é forte, mas ela permanece em silêncio até ter certeza de que os policiais se foram.
Quando se sente segura, sai com cuidado. Mas, ao tentar fugir novamente, alguém a segura pelo braço.
Ela luta para se soltar, até que reconhece o rosto do homem que a segurou.
Desconhecido: — Por aqui. Este lugar está abandonado, você pode entrar.
Hellen: — Espera... é você! O cara que me carregou nos braços naquele dia! Por que está me segurando assim?
Desconhecido: — Desculpa.
Ela o encara, desconfiada, mas decide segui-lo.
Desconhecido: — Não vou te machucar. Sei que você sabe se defender. Eu vi você batendo naqueles caras.
Hellen: — Então você estava me seguindo?
Desconhecido: — Não. Só passei por ali. Eles estavam te agredindo.
Hellen: — Suspeito... Vou ficar de olho em você. Agora me diga: o que está fazendo aqui?
Desconhecido (sussurrando): — Silêncio... alguém está vindo.
Eles se calam e sobem uma escada silenciosamente. Um casal entra no prédio abandonado, rindo e trocando carícias.
Hellen (olhando com desdém): — Sério isso?
Um feixe de luz atravessa a janela quebrada e ilumina o rosto do desconhecido. Hellen o observa por um instante, surpresa com sua beleza e estilo. Mas logo se afasta, desconfiada de seus próprios pensamentos.
Hellen (pensando): Estranho... nem o conheço.
Ela dá alguns passos para trás, desconcertada.
Desconhecido: — Desculpa por isso.
Os dois ficam alguns segundos em silêncio, levemente constrangidos. Hellen tenta quebrar o clima.
Hellen: — Desculpa pelo susto.
Desconhecido: — Tudo bem. Mas... a polícia está atrás de você? Por quê?
Ela o encara nos olhos e hesita por um segundo.
Hellen: — Isso não importa agora. Temos que sair daqui.
Desconhecido: — Não podemos sair assim. Você precisa de um disfarce. Tome meu chapéu e este moletom. Se quiser segurança, venha comigo.
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