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O Inverso

Babaca!

Estávamos voltando da rua, quando paro para conversar com uma vizinha minha. Meu filho resolve ir brincar um pouco com os meninos da vizinhança.

Como você está minha querida?.- pergunta dona Lara.

Estou bem! Como está o seu Romeu?.- seu Romeu é o esposo de dona Lara, recentemente ele sofreu um AVC.-

Graças a Deus ele está bem melhor.- Dona Lara responde.

Ficamos conversando quando procuro pelo o Rael e vejo que um homem vem correndo em sua direção, mas esse não olha para o meu filho.

Rael! - Gritei quando o vi correndo e esbarrando nesse bendito homem.- Você está bem ? - ele vem choramingando em minha direção e me abraça quando chega perto de mim.

Procuro pelo seu corpo se tem algum arranhão ou algo que lhe feriu quando ele caiu, graças a Deus não tem nada.

Ele se machucou? - o homem que esbarrou no meu filho pergunta vindo em minha direção.

O encaro e fico o fitando esperando ele completar a frase que seria " me desculpe, não vi ele ou me perdoe."-

Poderia acontecer algo pior sabia? E se eu tivesse em um carro? Deveria ensinar a ele a ser mais comportado - ele fala olhando para mim. Eu fico sem acreditar que ele está me dando lição de moral ao invés de falar a frase que eu estava esperando. Mando o Rael entrar e me esperar dentro de casa.

Escuta aqui, Moço! Não sei quem é você e nem me interessa saber. - falo me aproximando dele e colocando um dos meus dedos em seu peito.- mas acho que você não tem nenhuma lição de moral para chegar aqui e falar o que devo ou não fazer com meu filho! Já que nem para ser educado você serve, que nem um pedido de desculpa pediu. Até porque foi você que vinha correndo na toda em uma rua onde várias crianças brincam. Babaca!.

Quase fiquei sem respirar pois não parei nem um segundo até concluir toda a frase. Peguei as sacolas que tinha deixado cair no chão e fui embora para minha casa sem nem esperar a resposta daquele bendito. Vou para a minha casa e logo ponho as sacolas em cima da mesa, bebo um pouco de água para vê se me acalmo mais.

Rael, vem tomar banho.- falo depois de ter me acalmado mais e ele veio correndo em minha direção e já tirando a roupa, coloquei ele no banheiro e fiz todo processo. Enquanto o arrumava, ele me pergunta.

Ô mamãe, meu pai vai brigar com aquele homem ? - fui pega desprevenida com essa pergunta e fiquei sem reação ao responder.

O pai do Rael não aparece faz 7 meses! Não liga e não manda pensão. Se separamos a uns 2 anos e ele foi a causa do meu bloqueio total de ter algum relacionamento futuro ou até mesmo confiar em alguém. O João Lorenzo é um tipo de pessoa que se eu pudesse, exterminava da face dessa terra.Ele é aquele tipo de pai que some e aparece quando bem quer e se acha no direito de fazer isso e fico revoltada com toda essa situação, pois não aceito a forma que meu filho fica na esperança que um dia ele virá e ficará sempre com ele. Rael não é uma criança que todos os dias pergunta pelo pai, mas se ele escuta falar sobre ou vê alguma criança na rua com seu pai, ele lembra e me pergunta. Respiro fundo e logo trato de inventar algo para o meu filho, como odeio fazer isso!

Meu amor, o seu pai trabalha longe e não pode resolver isso. - Falo alisando seu lindo rostinho e depositando um beijo na sua testa.- Mas a mamãe aqui deu uma bronca naquele grandão e já está tudo resolvido. - Ele começa a rir e me dar um abraço.

Você é minha heroína, mamãe! Eu te amo muito e muito.- ele me dá um leve beijo em minha testa e meus olhos lacrimejam, tento segurar o choro até ele ir brincar e assitir, e assim que ele faz eu desabo.

Não só desabo por este elogio que meu filho fez, mas por tudo que venho enfrentando a anos. E não pôde demostrar o tanto que estou destruída por dentro é que me deixa ainda pior, pois quero mostrar para o Rael que sou sua heroína forte e corajosa! Mas, isso doe demais! Doe porque sei que tudo isso que estou passando para ele é uma farsa , que daqui a uns anos ele vai ver toda realidade e entender o quão doloroso é tudo isso que vivemos. Mas um coração de mãe faz de tudo para que seu filho não sofra antecipadamente, e faço o que for preciso para essa alegria dele durar o tempo que for preciso.

Me recomponho e vou fazer as coisas. Trabalho em casa, faço bolos decorados e doces finos e então tenho mais tempo com o Rael.

Finalizo uma encomenda de um bolo e aviso ao cliente que está pronto, aguardo ele vim buscar e aproveito para arrumar a bagunça que ficou na cozinha. Já é 11:30 da manhã e peço um almoço para nós dois, hoje é sábado e me dei essa folga de fazer o almoço.

Enquanto espero o pedido, o cliente veio pegar o bolo e logo após vou brincar com o meu filho. Brincamos muito até a campainha tocar, pela hora eu já imaginava que era o almoço e vou correndo para atender o entregador.

Rael, espera na mesa que já vou com o almo...- as palavras some quando vejo quem está bem a minha frente-.

Oi Liana.- João Lorenzo fala. E sim gente , é o pai do Rael bem na minha frente.

Você de novo?!

Mamãe, cadê o almoço?- o Rael grita lá da cozinha.

Eu fico ali parada sem reação nenhuma olhando para o João. É como se eu tivesse sido congelada, mas ainda viva por dentro e sentindo tudo. O que esse canalha está fazendo aqui ?

Posso entrar?- ele pergunta.

Cla..Claro.- Digo quase que gaguejando e abro passagem para ele passar. Eu sei que nesse momento eu deveria gritar com ele e bater a porta na cara dele, mas eu simplesmente estou sem reação nenhuma! Nem as palavras queria sair quando ele me fez a pergunta. Mas tenho certeza que quando a adrenalina passar, eu vou matar esse homem. Ele que me aguarde.

Papaaai!- Rael grita correndo em direção ao João quando o vê entrando.

Meu garotão!- João suspende o menino o fazendo ele girar para cima.- Como está meu menino?- Meu menino? Meu menino uma ova! Ele é o meu menino! Penso ao ouvir ele perguntar isso. Pelo visto a minha adrenalina já está sumindo em.

Tô bem papai. Tenho algo para dizer ao senhor!- Rael fala puxando o bendito cujo para a sala e o faz sentar no sofá pulando logo em seguida no colo do pai.- Hoje um homem correndo bateu em mim e eu cair no chão.

João olha do Rael para mim, e pelo olhar dele está bem esperando uma explicação mais verídica e concreta dessa história. Mas finjo que nem vejo ele me encarando e vou para cozinha procurar algo para fazer, já que não tinha nada pois tinha arrumado logo cedo, mas fingo está fazendo alguma coisa só para não ter que ficar olhando aquele ser sentado no meu sofá fingindo que é um ótimo pai.

Você se machucou meu filho?- ele pergunta.

Não, não pai! A mamãe deu um jeito nele. - ele fala sorrindo e me procura logo em seguida.- Né mãe? Mamãe? - eu volto para sala e respondo sem nem olhar para eles dois.

Sim, Rael!- passo por eles e fico na porta esperando o almoço chegar.

Hum. Que bom!- o João fala logo em seguida.

Papai, eu esperava que fosse você lá para me defender.- Meu coração só não saiu do peito porque era impossível mesmo! Me segurei para não virar e vê como estaria agora a reação do João. Demorou quase que três minutos para ele responder.

Filho, desculpa pelo papai não está presente nessa hora! Mas agora estou aqui, né? E sua mãe tenho certeza que deu um belo sermão nele.- nessa hora eu tive que virar para encarar esse ser desprezível que não sei nem o real motivo dele está aqui. Mas deixa só meu irmão vim buscar o Rael que vou fazer ele conhecer Jesus bem de perto! Ou melhor , o próprio bixo lá de baixo.

O Rael da um abraço nele e o chama para brincar, ele concorda e vão para o chão da sala  brincar de carrinho. Contínuo no mesmo canto parada até que me assusto com a buzina da moto do entregador.

Obrigada!- falo pegando o almoço e entro. Passo por eles e chamo Rael para almoçar, sei que não vou precisar convidar o João porque o próprio Rael irá fazer isso.

Vem papai, vem almoçar comigo e com a mamãe.- Viu? Uma boa mãe sempre conhece a peça que convive! Sentei e logo em seguida o João veio com o Rael no braço. Servir o Rael e me servi, em seguida comecei a comer. O João se serve e ficamos em silêncio por apenas alguns segundos , já que o bebê dessa casa não consegue ficar em silêncio.- Papai, aconteceu alguma coisa no seu trabalho?

Por que meu filho?- João o encara.

Para o senhor está aqui, ué!- ele fala bem simples e objetivo. Percebo que João fica tenso e sem saber o que responder. E apenas o encaro e espero que ele perceba que não vou tirar ele dessa situação!

O papai quis tirar um dia de folga.- ele fala e começo a rir.

Mas não se acostuma tá filho!? nem sempre terá essas folgas.- falo logo em seguida.- Possa ser que a próxima só seja daqui a uns dois anos!- Paro de encarar o João e volto a comer. Ficamos em silêncio novamente e começo a estranhar, já que Rael está bem quieto e sem falar absolutamente nada. O encaro e percebo que está chorando.

Filho?- me levanto e vou em direção a ele.- está tudo bem ?- tiro ele da cadeira e o coloco nos meus braços, vou indo em direção a sala quando percebo que João também está vindo.

Tá tu.. tudo bem ma...mamãe.- ele fala soluçando. Quando eu ia falar, uma buzina toca e agradeço a Deus por isso.-

Titioo!- Rael sai do meu colo e corre em direção a porta para esperar o meu irmão que entra logo em seguida com uma caixa em seus braços. Quando ele coloca ela no chão e levanta a cabeça para ir abraçar o Rael, vejo o brilho sumindo dos seus olhos, rosto e vida.

Mas que merda esse cara tá fazendo aqui?- ele pergunta um pouco alterado e vou para frente dele.

Matthew, que tal levar o Rael para casa da mamãe? Vejo que trouxe um presente para ele! Aproveita e leva para ele abrir lá.- falo tentando acalmar a situação pois o Rael está presenciando tudo isso. Matthew ainda fica ali rígido e parado encarando o João que também está parado o encarando de volta.- Por favor irmão. Pelo Rael! - quando falo o nome do meu filho, percebo que ele muda a postura e se acalma mais.

Tudo bem! Vem Rael , vamos para casa da Vovó.- ele pega a caixa novamente e vai indo em direção ao carro. Rael corre para abraçar o João e vai logo atrás do tio.

Fecho a porta e começo a orar todos tipos de orações para que Deus me dê todo controle do mundo para não cometer um assassinato terrível aqui! Pelo visto, a minha adrenalina já estava no outro lado do mundo.

Pai de novo ?!

Bom, acho que essa é a hora em que começo a me explicar né!?- João fala e eu já começo a rir.

Nossa, ele tem um cérebro ou tô sonhando?- pergunto ainda rindo. Ele fica tenso mas depois começa a rir junto. Fui de 100 a 0 tão rápido que percebo quão assustado ele ficou. Fico séria e calada esperando o posicionamento dele.-

Liana, sei que sumir por quase sete meses, mas por favor tenta me entender.- não estou acreditando que ele está me pedindo para entender ele?! É sério isso?.

Como é que é? Eu tentar entender? - me levanto e começo a andar de um lado para outro.- Entender o que João ? O pai inútil que você é? Que simplesmente some e aparece quando bem quer e acha que isso está fazendo bem para o Rael?- ele fica de cabeça baixa encarando o chão e sem falar nada.-

Me diz João Lorenzo, o que eu tenho que entender? Quer que eu entenda também que ter me traído com uma prostituta e viver nos bares cuidando de cada uma delas foi o melhor? Que ter abandonado seu filho também foi o melhor?- meu coração pesa só de lembrar toda a cena que tive o desgosto de presenciar com ele e aquela mulher no bar. Nessa hora ele se levanta e vai em direção a porta.-

Viu aí? Toda vez é isso João Lorenzo! você aparece se fazendo de bom pai e finge que nada aconteceu e quando eu mostro a verdadeira realidade que é toda essa situação que vivemos, você simplesmente me vira as costas e some!- ele fica parado de frente para a porta, fico em silêncio só esperando um posicionamento da parte dele, e quando menos espero ele fala a frase que eu jamais imaginei ouvir na minha vida...

Liana, Eu vou ser pai novamente!- Sinto como se uma faca atravessasse o meu peito nesse momento, uma dor inexplicável me toma por inteira e a única coisa que faço é cair de joelhos e chorar! Um choro que eu mesma não me reconheço naquele momento. Sinto as mãos dele em meus ombros e começo a gritar.-

SAI, SAI DESSA CASA! SAI DA MINHA VIDA E DA VIDA DO MEU FILHO! SEU SER DESPREZÍVEL.- cuspo essas palavras com todo meu ódio e dor que sinto naquele momento. Ele se afasta de mim com olhos marejados e se vai. Quando a porta se fecha, eu simplesmente desabo no chão e me abraço! Me abraço como se fosse alguém ali a me abraçar. Choro como se nunca mais fosse viver. Meu choro não é por ter perdido de uma vez por toda o João, até porque a única coisa que eu queria era de fato ele longe de mim e do meu filho. Mas choro pelo Rael! Choro por não conseguir acreditar que um homem é capaz disso, de não dar amor e atenção ao primeiro filho quem dirá a outra criança? Choro quando tudo volta em meus pensamentos e me faz lembrar toda dor que sentir quando peguei ele com outra, é como se eu estivesse vivenciando tudo novamente.

E nesse momento os meus pensamentos voltam para o Rael. Como vou contar isso para ele ? Que o pai que ele quase não vê não vai ser só dele? E que tenho certeza que dessa vez o João não irá mais voltar para nossas vidas? Que agora ele não vai mais ter essas "folgas" que o pai dele dizia ter para poder aparecer aqui. E choro ainda mais.

Aos poucos vou me recompondo e me levanto indo atrás do meu celular. Quando acho, ligo para minha prima, amiga e irmã.

Oi minha princesa.- ela atende no terceiro toque.- Liana? Tá tudo bem?- ela pergunta ao perceber que não respondo e tenho certeza que ela está escutando meu choro fraco.

Po..Pode vim a..aqui?- pergunto quase que sem conseguir falar.

Em cinco minutos eu estou ai!- Melinda fala e desliga. E sim, em cinco minutos ela chega e sem tocar a campainha ou até mesmo bater! Ela já entra com um pau na mão.

Cadê? Quem mexeu com você? ESTOU ARMADA VIU!- ela grita e fica indo de cômodo por cômodo tentando achar um suposto ladrão que ela pensa que invadiu minha casa. E é exatamente por isso que amo essa garota e sou tão sortuda por ter ela aqui, pois nesse momento tão doloroso ela consegue me fazer rir.

Não tem ladrão nenhum aqui Melinda.- Falo e volto a sentar no chão e coloco a cabeça entre meus joelhos.

Então porque você está aí sentada como se fosse uma refém?- ela pergunta vindo em minha direção e deixando o pau cair de suas mãos. Levanto minha cabeça para fita-la e quando ela me vê chorando, corre e se abraça comigo.-

O que houve Liana? Cadê o Rael?.

O Matthew levou ele para casa da mamãe.- Respiro fundo e fico em silêncio.-

Mas então porque você está chorando?- ela me abraça ainda mais.

O João, esteve aqui e...- ela nem espera eu terminar de falar.

Viu! Por isso que eu vim com o pau! Sabia que ia ter que matar alguém.- e novamente ela me faz rir.- Cadê esse nojento?- quando ela vai se afastar para pegar o pau novamente e ir procurar pelo João eu seguro pelo pulso dela.

Ele vai ser pai , Mel!.- ela fica sem nenhuma reação e novamente me abraça, mas esse abraço é ainda mais apertado e mais caloroso.

Minha Liana...- é a única coisa que sai de sua boca. Comecei contando detalhe por detalhes de como foi esse dia louco.- esse inútil vai pagar por tudo que fez! Fico triste só de pensar que essa criança será mais uma que não terá sorte em ter um pai bom.- novamente ficamos em silêncio e logo após a porta se abre.

Cheguei mamãe... Cadê o papai?- quando vejo o Rael procurando pelo pai e ficando triste quando não o acha, aquilo foi como um gatilho terrível para mim que não suportei e desmaiei.

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