Eu a observo de longe. Desde que a vi, meus olhos parecem ter apreciado a obra de arte mais linda do mundo, meu coração se aperta todas as vezes que me aproximo. Nádia está limpando a mesa ao lado, enquanto estou sentado a secando descaradamente e ela sabe disso. Sabe que a observo, sabe que a quero. Kellie não está aqui hoje e é melhor assim, pois seria capaz de demitia a pobre coitada se me visse encarando sua funcionária. Eu a chamo. Nádia parece não querer vir até mim no começo, mas após constatar que ninguém viria, ela se aproximou.
— O que você quer?
— Quero você, Nádia.
Jogo uma piscadela em sua direção. Ela assusta-se com a minha atitude e olha ao redor para ver se alguém mais viu. Não são loucos de abrir a boca. Sabem que sou o dono dessa porta toda e seria capaz de matar um por um.
— Não diga isso assim, em público.— Tirou um bloco de notas para fora do bolso do avental.— Vai pedir alguma coisa? Se não for, vá embora.
Sorrio com sua fala.
— Eu já pedi o que quero. Sei que também me quer, Nádia.
— Está enganado, Diego.— Suspira.— Não vê que não te quero? Eu sou casada, me esqueça!
Me levanto furioso e agarro seu braço, não muito forte, pois não seria capaz de machucá-la nem se me pedisse. Ela me encara também, mas não transmite medo, pelo contrário, vejo em seus olhos que me quer tanto quanto a quero, mas não entendo porque me deixou. Ela ia se separar do marido, me prometeu isso na última vez que estivemos juntos, mas agora, era como se não tivesse acontecido nada, como se eu fosse apenas mais um.
— Se não me quisesse, não teria ficado comigo.
Desvia seus olhos de mim.
— Aquilo foi apenas um passa tempo.— Puxa seu braço.— Me esqueça logo.
Bato na mesa com força, logo após, jogo tudo o que está em cima dela ao chão. Já não me importo com as pessoas que olham assustadas. Nádia não se assustou, ela nunca se assusta quando reajo dessa maneira, pois sabe que não s3ria capaz de encostar em um só fio de seu cabelo.
— Ele te ameaçou, não foi?— Minha voz está alterada.
— Diego, por favor, está chamando atenção.
— Foda-se!— Passo a mão pelos cabelos.— Eu não vou deixar ele te tirar de mim, amor.— Seguro os dois lados de seu rosto.— Vou descobrir com o que ele está te ameaçando. Vou te tirar dessa e depois te tomar para mim. Você é minha, ouviu?
Encosto minha testa na sua. Nádia deixa as lágrimas descerem e fecha seus olhos, evitando me encarar. Nesse momento ela também já não se importava com quem estava ao redor ou que pudessem falar depois.
— Me entenda, eu não posso estar com você.— Segurou minhas mãos.— Ele sequestrou minha mãe e disse que se me separar, vai matá-la.— Confessou.— Sei que Bárbara não foi a melhor mulher do mundo, mas é minha mãe e não quero que morra por minha causa.
Naquele momento eu soube. Alessandro era o homem mais sujo do mundo e jurei a mim mesmo que vou matá-lo. Beijo seus lábios com delicadeza e a abraço. Vou descobrir onde esse rato está se escondendo com a mãe de Nádia.
— Ele disse que vai voltar. Vai vir buscar a mim e as meninas. Ele quer me levar para longe.
— Não vou deixar isso acontecer.— Apertei-a.— Vou fazer o impossível por vocês. Só promete que não vai mais me deixar.
— Não vou. Eu te amo.
...****************...
OI, GENTE! ESSA É UMA OBRA INEDITA DIRETAMENTE PARA VOCES E ESSE É UM CAPÍTULO DE ANÚNCIO!
Aguardem, em breve teremos mais capítulos. Por enquanto, adicione a sua biblioteca, curte, comenta e me segue.
MUITO OBRIGADO, PROMETO QUE VÃO AMAR A HISTÓRIA.
A porta de abriu bruscamente, causando um barulho ao colidir-se com a parede. Nádia olhou em sua direção, assustando-se. Era ele. Seu marido mais uma vez havia chego bêbado em casa e por sua expressão, mais uma vez havia perdido dinheiro em apostas no bar e estava frustrado. Olhou para Nádia com sua carranca, como de costume. Um calafrio percorreu o corpo da mulher. Sempre que isso acontecia, era a mulher quem recebia as punições das frustrações de Alessandro. Respirou fundo e tentou não se importar muito, na esperança de que dessa vez a cena de todas as semanas não se repetisse, afinal, mais uma vez Alessando prometeu que iria mudar e que eles finalmente seriam como uma família feliz. Alessandro prometeu que iria melhorar, prometeu por suas filhas, elas mereciam um ambiente melhor, não deveriam crescer assim, observando a mãe ser agredida e violentada pelo marido quase sempre. Além do mais, agora estavam em um lugar diferente, em uma semana se mudaram para uma nova comunidade, ela tinha esperanças de que enfim seriam uma família feliz. Uma família de verdade, apesar de como tudo começou entre os dois.
Ela terminou de preparar o leite que Melissa, sua filha mais nova tomava todas as vezes que acordava de madrugada. Colocou na mamadeira, logo provando e constatando que não estava muito quente, estava na temperatura perfeita para dar a ela, para quê voltasse a dormir. Alessandro entrou na casa, ainda se sentindo tonto, estava irado por ter arrumado mais uma briga, dessa vez em um bairro novo. Ele sempre arrumava brigas em qualquer lugar que iam, mas agora era diferente, pois havia visto uma "boa" oportunidade atraves disto. Após jogar a semana inteira e ficar devendo de tantos jogos perdidos, Alessandro irritou-se com o homem que ganhava suas apostas e acabaram saindo na mão, por esse motivo, ele foi levado para o chefe dos traficantes e descobriu que o mesmo homem que lhe deu uma surra e quase o matou, era um dos subordinados do chefe e dono do morro, mais conhecido como Perigoso. Agora, para pagar sua dívida ele deveria se tornar mais um de seus funcionários e trabalhar, mais especificamente no local onde chamavam de "loja", onde vendiam produtos ilícitos, mais especificamente drogas.
— Boa noite, Alessandro.— Cumprimentou-o.— Chegou tarde mais uma vez, já é madrugada.
— E o que isso te interessa?— Perguntou-lhe.— Venha aqui e me ajude!
Sua voz estava alterada. A mulher se assustou um pouco com a forma que fora tratada, haviam alguns dias que Alessando estava mais calmo e a tratava bem, assim como disse que mudaria. No entanto, agora ele vinha voltando a ser o que era antes, depois que voltou a frequentar bares, ele voltava a tratá-la da mesma maneira. Suspirou e decidiu deixar a mamadeira de lado e ir até seu marido para o ajudar a entrar completamente, tentando evitar que ficasse irritado. Contudo, logo Melissa iria chorar pela demora de seu leite e isso também deixava o homem irritado sobremaneira, pois o choro da menina era alto e Alessandro, impaciente. Se aproximou dele.
— Fale baixo.— Pediu.— Mel está acordada e com fome. Não vai querer que Alice acorde também.
— Tanto faz! Tire meu sapato.
Ela se abaixou, ficando aos seus pés e fazendo o que lhe ordenara. A verdade era que Nadia nao gostava de servir seu marido como uma escrava, mas nao tinha muitas escolhas, ou pelo menos, não as enxergava. Neste mesmo momento, iniciou-se um choro, vindo do único quarto onde dormiriam todos da família, Melissa começava a estar impaciente e a sentir fome. Era apenas uma inocente criança, mas que poderia causar irritação em Alessandro, Nadia sentiu medo. A casa era muito pequena, contendo apenas o quarto, cozinha e banheiro, todos em mal estado, com paredes cheias de umidade e rachaduras. A mulher preocupava-se muito com a saude desuas filhas, se as paredes começassem a mofar, logo poderiam adoecer. Após terminar de tirar seus sapatos, a mulher puxou uma cadeira e deu ao homem que se sentou, sem sequer agradecer pelo gesto. Nádia não se importava com isso. Vendo que nao precisava mais de seus servicos, foi até a pia da cozinha e pegou a mamadeira, caminhando em direção ao quarto, Nádia pegou sua filha em seus braços e lhe deu o alimento em sua boca. A menina se acalmou imediatamente e começou a alimentar-se.
— Mamãe?
Ouviu a voz de Alice, sua filha mais velha. Seu coração se apertou. Não gostava quando Alice acordava no meio da noite, pois poderia presenciar prováveis cenas de abuso de seu pai contra a mãe. Dormindo era melhor. A mais velha não tinha o sono leve, não acordaria por qualquer barulho. Suspirou.
— Acordou, Alice?
— Sim.— Ela levantou o tronco para encarar a mãe.— Papai chegou?
Ela se virou para a filha, observando seus olhinhos brilhantes e cheios de medo. Suspirou. Muitas vezes Alice presenciou as cenas de espancamento que Nádia sofria nas mãos de Alessandro. A menina chorava muito quando isso acontecia e geralmente saía para fora pedindo por socorro, mas seus antigos vizinhos não tinham o hábito de ajudar, porque sabiam que a cena se repetiria a cada semana pelo fato de Nádia nunca ter se separado de Alessandro. Ela era muito nova quando engravidou dele e mesmo contra sua vontade, acabou cedendo as vontades de sua mãe, que a convencia de que aquilo era o certo, casar-se com o pai de sua filha, mesmo sendo um homem muito mais velho e pior, seu padrasto. Desde a primeira vez que foi abusada sexualmente, Sabrina, mãe de Nadia sabia e deixou, pois tinha medo de perder o marido. Ela convenceu sua filha de que o que Alessandro fazia não era errado e que se ele quisesse fazer qualquer coisa com ela, deveria deixar. Nádiaera apenas uma criança. A menina cresceu sendo abusada desde os dez anos de idade, mas quando finalmente abriu seus olhos e viu que aquela situação era errada, tinha uma filha em seus braços e ainda possuía a menoridade. Ela se viu dependente do homem, e agora, depois de tantos anos, não se via mais distante dele, pois precisava criar as filhas e apesar de ser um péssimo marido, nunca tentou fazer nenhum mal às meninas, afinal, eram suas filhas e além do mais, nunca faltou alimento a elas, mesmo que as fontes de Alessandro fossem duvidosas.
— Chegou sim, filha.
— Ele está bravo? Vai te bater de novo?
Os olhos da menina se encheram de lágrimas, pelas lembrancas que vieram em sua mente. Alice já tinha idade suficiente para saber o que era certo e o que era errado, ela já sabia que violência doméstica era algo ruim e até já tentou denunciar, mas ninguém nunca quis a levar até uma delegacia de polícia, nenhum de seus antigos vizinhos realmente levavam Nádia a sério. Diziam que ela era só mais uma daquelas mulheres que gostavam de apanhar e no fim, acabava voltando para o marido. Nádia suspirou. Ela não sabia o que iria acontecer aquela noite, então apenas sorriu para a filha.
— Volte a dormir, meu amor.
Ela saiu do quarto deixando a filha mais velha amedrontada para trás. Entrando na cozinha, deu de cara com um Alessandro impaciente, procurando o que comer. Estava de costas para Nádia, mas a mulher já poderia sentir a tensão.
— Estes armários estão vazios!— Resmungou.— Não há nada aqui?
— Tem arroz e ovo frito na panela.
— Arroz? Ovo frito?— Se virou para Nádia com uma expressão de nojo.— Amanhã eu resolvo isso!— Bufou.— Escute isso.— Mudou de assunto, virando-se para ela.— Agora sou um dos funcionários do Perigoso.
Nádia juntou as sobrancelhas, desde que chegou a este lugar ainda não havia saído de casa, portanto não sabia quem era o tal Perigoso, mas imaginou que não seria ninguém tão certinho, pelo apelido dava-se a conhecer. Ela temeu que Alessandro pudesse estar se envolvendo em problemas. Nádia não temia por ele, apesar dos anos juntos a mulher não o amava, apenas acostumou-se a situação, mas ela temia por suas filhas, que por suas dívidas, agora com gente perigosa, que viessem cobrar em suas filhas, na tentativa de o atingir. Sentiu um arrepio lhe atingir e o medo passou a apoderar-se dela. Mordeu um de seus lábios. Não iria dizer nada naquele momento, afinal, seu marido parecia muito entusiasmado ao lhe contar a novidade e se contrariado, poderia irritar-se muito e ela não queria que tomasse atitudes impulsivas.
— E quem é esse tal de Perigoso?
Alessandro riu, como se fosse óbvio.
— Como, quem? Ele é simplesmente o dono de tudo isso aqui.
— Está se envolvendo com o dono do morro?— Nádia arregalou seus olhos.— Alessandro, sabe o quanto isso pode ser perigoso?
Ele apenas concordou com a cabeça, esbanjando um sorriso largo em seus lábios. Então tudo em Nádia estremeceu. Ela sabia que ali começaria seu pior pesadelo, pois estaria sempre com medo de alguém invadir sua casa e pegar suas filhas para fazer-lhe mal. Nádia suspirou. Não, não poderia deixar Alessandro trazer perigo às meninas.
— Sou mais novo gerente da "boca".
— O que pensa que está fazendo?
Criou coragem para falar, não poderia o deixar fazer mal a Melissa ou a Alice. Suas veias se encheram de raiva. Nesse mesmo instante ela viu os olhos dele se encher de fúria. Não admitia que a mulher elevasse a voz com o mesmo. Alessando se desencostou da pia onde estava escorado e cruzou seus braços, a encarando friamente.
— Como disse?
Nesse momento todas as suas forças se perderam, mas Nádia não poderia deixar de proteger suas filhas. A segurança delas deveria ser em primeiro lugar para ambos.
— Não vou permitir que traga perigo às nossas filhas.
— Acho melhor calar a sua boca, antes que eu me irrite. E pense bem. Vou te dar apenas uma chance.— Passou a língua nos lábios.
— Não vê que está trazendo risco para nossas filhas?— Ela continuou sem se importar com o aviso.— E se você ficar devendo esses homens como faz em seus jogos? Virão aqui e farão mal às...
Não houve tempo de falar. Alessando esbofeteou-a. Com o impacto de sua mão no rosto a mulher acabou virando-se bruscamente e consequentemente acordou sua filha, pois quase a derrubou de seu colo. A menina começou a chorar por ter acordado no susto.
— Nunca mais eleve sua voz ou me diga o que fazer!— Gritou.— Trarei sustento para você e essas duas idiotas!
— Não, você nos trará a morte.
— Cale a boca!
— Eu não vou mais me calar, Alessandro. Eu prezo pelo bem das meninas em primeiro lugar!
— EU MANDEI SE CALAR!!!
Outro tapa. Aquela foi mais uma noite onde o homem se irou e acabou por a espancar, mas diferente de outras noites, não foi só porque queria. Alessandro se surpreendeu porque dessa vez Nádia foi capaz de o desafiar, foi capaz de o enfrentar. Apesar de não demonstrar, estava realmente surpreso por ser confrontado pela primeira vez e pensou que não poderia deixar se repetir. Ele pegou Melissa com violência dos braços da mãe e a levou para o quarto, a colocando na cama. Viu que Alice estava acordada.
— Cuide de sua irmã.
Logo voltou para a cozinha, pegando no pescoço de Nádia e a jogando no chão, depois foi até ela novamente e rasgou sua camiseta em seu próprio corpo. A mulher nao gritou por socorro, não pediu compaixão, pois sabia que isso alimentava a ira de Alessandro, sentia muito mais prazer em agredí-la. Tirou o cinto de sua cintura, deixadoo lado da fivela para baixo, a verdade éque sentia prazer quando agredia Nádia. A mulher o encarava chorosa, já sabia o que haveria de acontecer. Suas costas eram marcadas pela fivela de seu cinto, isso aconteceu muitas vezes. Na verdade o corpo inteiro da mulher era marcado por agressões fortíssimas vindas de um só homem. Alessandro já estava acostumado com aquela situação e sinceramente, Nádia também estava, mas algo dentro dela, dessa vez gritava "basta". Ela estava começando a se rebelar.
— Vou te ensinar a nunca mais me desafiar.
E aquela foi mais uma noite onde era espancada e depois abusada pelo homem que todos pensavam ser seu marido, mas na verdade era seu abusador há treze anos. Mais uma vez ele fizera diante de suas filhas, pois os cômodos eram separados apenas por uma cortina. Nádia naquela noite percebeu que cenas como essa deveriam ser encerradas diante de suas filhas e ela faria isso, não sabia como, mais faria.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
Em breve teremos mais capítulos de Dono do Morro, adicione a sua biblioteca e divirta-se! Gostou? Apoie minha obra com suas reações, isso me incentiva demais.
Nádia havia saído cedo para deixar currículos por algumas lojas da comunidade mesmo. Alice ficou em casa para ir à escola assim que fosse seu horário, enquanto Melissa havia entrado em um berçário em tempo integral. Com tudo fluindo bem, Nádia viu uma saída, ela iria trabalhar e ajuntar dinheiro para finalmente fugir de Alessandro. Era exatamente o que estava a procurar naquele momento, já havia entregue currículos por várias lojas e se sentia exausta de tanto caminhar, até que parou em frente a uma loja de sorvetes que parecia muito chique para estar dentro de uma comunidade. Muito bem construída, era como um estabelecimento de luxo em meio a estabelecimentos comuns. Ela observou o lugar, com portas de vidros, cadeiras confortáveis e mesas em madeira muito chique. As cores predominantes do local era azul-claro e rosa Pink, Nádia ficou encantada e então se imaginou a trabalhar em um local como este. No balcão, havia uma mulher muito linda e bem arrumada. Nádia sentiu-se envergonhada por um momento, por estar a usar roupas velhas e gastas enquanto a mulher de sorriso largo, era tão bem vestida e parecia ser uma pessoa muito culta e doce. Ela olhou para o envelope pardo em suas mãos, imaginando se entraria e deixaria um currículo, ou se deixaria vencer por sua falta de esperanças, por imaginar que aquele não era um local para alguém como ela. Suspirou. Estava cansada, havia andado muito e sabia que a maioria dos lugares que deixou o seu currículo extremamente simples, nem sequer olharia. Essa poderia ser uma oportunidade, afinal, poderiam estar a precisar de alguém para trabalhar e poderia ser um funcionário em que enquadrasse o currículo dela. Ousou tentar. Nádia abriu a porta do estabelecimento e entrou.
Havia poucos clientes sentados à mesa e funcionários que pareciam trabalhar tranquilamente, aquele não parecia ser um lugar que precisassem urgentemente de alguém, mesmo assim, Nádia iria deixar o seu currículo. Caminhou timidamente na direção do balcão, em direção a mulher, que conversava animadamente com uma funcionária ao mesmo tempo em que mexia em seu celular caro. Suas unhas eram longas e faziam um tilintar ao tocar na tela do aparelho, Nádia ficou encantada em como alguém poderia ser tão bonita. Parou diante dela, do outro lado do balcão. Ela sentia um frio na barriga, um frio além do ar-condicionado que refrescada todo o local. A loja tinha cheiro de chiclete, era realmente feito para pessoas chiques, Nádia não entendia o que estava fazendo uma sorveteira como aquela em uma comunidade.
— Com licença.— Chamou a sua atenção.— Bom dia.
Logo a atenção fora voltada para ela. A mulher manteve seu sorriso largo nos lábios, observando-a com certa altivez, mas ao mesmo tempo receptiva.
— Bom dia.
Respondeu, sentindo-se intrigada, afinal, conhecia todos os moradores daquele lugar, mas parecia que não a conhecia. Se tratava de uma nova moradora.
— Desculpe incomodar. Sou Nadia Antunes.
— Oi, Nádia. Sou Kellie Rodrigues.— Apresentou-se.— Você é nova por aqui, não é?
— Sou sim.— Nádia sorriu timidamente.— Vim perguntar se está precisando de funcionários. Estou entregando currículos desde cedo e, seria um prazer se me der uma chance.
Os olhos de Kellie brilharam no mesmo instante. Estava mesmo comentando com sua funcionária que estava precisando de alguém para trabalhar para ela, pois a demanda de sua sorveteira vinha aumentando bastante nos últimos dias, afinal, o verão havia chegado e o dono do morro havia mandado fazer uma quadra na comunidade, o que significava que as pessoas iam lá para jogar e sentiam muito calor, consequentemente se encaminhavam para a sorveteira que era muito próxima, assim que acabavam o jogo. Sorriu. Apesar de ter reparado que Nádia era uma pessoa muito, muito pobre, usando roupas velhas e muito gastas, Kellie pagava bem aos seus funcionários e imaginava que poderia comprar roupas novas assim que recebesse seu salário, afinal, zelava pela aparência de seus funcionários, já que a representava.
— Oh, estava falando isso com Merida agora mesmo.— Olhou para Merida.— Estou sim, você tem disponibilidade de começar no turno da tarde?
— Sim, até prefiro, minhas filhas estudam nesse turno.
— Filhas?— Surpreendeu-se.— Mas você parece tão nova para já ter filhos. Quantos anos tem?
— Vinte e três.
— Uau! Não parece.— Kellie sorriu.— Enfim, deixe um currículo e quero você aqui amanhã às 13 horas para fazer um teste. Combinado?
Nádia sorriu contente, só de pensar que quase desistiu de deixar seu currículo ali, mas ainda bem que tudo estava dando certo. A mulher concordou com a cabeça, tudo estava realmente fluindo para seu bem. Ela tirou o currículo para fora, trocou mais algumas palavrinhas com a mulher e logo se foi, feliz da vida de que teria finalmente arrumado pelo menos um teste para fazer. Bom, não era garantia de emprego, já que se não fosse aprovada, não estaria contratada, mas já era um começo. Ela saiu de lá feliz da vida, caminhando animadamente pelas calçadas de seu novo bairro, sem se importar pelos olhos curiosos que a observavam por ser uma nova moradora.
E entre esses olhares, mais próximo de chegar em sua casa, estava o olhar de Diego. Ele estava sentado em uma mesa de um bar, sua moto logo na frente do estabelecimento. Conversava com Felipe, vulgo Matador sobre o novo funcionário de sua boca. Alessandro, apelidado Ale. Felipe era seu melhor amigo. A verdade era que Diego não simpatizou nada com o homem e planejou o colocar justamente como gerente, porque se ele desse a primeira mancada como seu funcionário iria o cobrar com a vida. Diego nunca errava quando achava que alguém não prestava e ele pensava isso, de Ale. Pensava nisso. Foi quando ele viu uma mulher passar do outro lado da rua, ela estava com roupas velhas e surradas, mas não encobria sua beleza. Labios carnudos, cabelos cacheados, grandes e volumosos, estavam soltos, ela pareceua feliz e andava quase saltitando. Diego ficou intrigado, nunca havia a visto por ali, juntou as sobrancelhas. Como ninguém o notificou sobre mais moradores novatos? Iria ter uma conversa séria com seus homens para melhorar a segurança.
— Aquela é a mulher do cara que eu te falei.
Comentou Felipe. Diego juntou ainda mais as sobrancelhasencarando o amigo, que soltou um sorriso, mostrando que já sabia o que o amigo pensava. Felipe partilhava o mesmo pensamento: a diferença de idade entre o tal casal. Diego tomou um gole de sua bebida enquanto observava a mulher caminhar pela calçada, aproximando-se. Sua mesa estava localizada na parte externa do bar, dando-lhe uma visão perfeita dela. Não aparentava ter muita idade, ou sequer ter uma idade próxima a de seu marido, isso deixou Diego muito curioso sobre o que os levou a se unir. Quais seriam os motivos de uma mulher tão linda e que pode ter o homem que quiser nas mãos, de querer um homem muito mais velho e, na opinião de Diego, de beleza duvidavel.
— Aquela é mulher do cara que tentou te bater e que levou uma surra ontem a noite?
— Isso, cara!— Pegou o copo de cerveja dando um gole.— Não acha estranho? Ela é muito nova para ele, são uns vinte anos de diferença.
— Sim, isso é muito estranho, cara.
— Mas, enfim! Cada um com sua loucura!
Felipe concluiu, debochando da possibilidade de Nádia estar com um homem muito mais velho. Eles tinham certeza que nao era por amor. Não sabia os motivos e imaginava que poderia ser por algum tipo de dependência emocional que Alessandro desenvolveu na garota, afinal, meninas novas são muitos fáceis de manipular e ele poderia ter a conhecido muito mais nova. Não deu a mínima importância, o importante era saber se Alessandro era confiável, não se sua mulher o amava ou não.
— Qual o nome dela?
— Nádia, por que?— Encarou o melhor amigo.— Ei, nem pense nisso, ela é casada.
— Não pensei em nada.
Felipe imaginou que Diego poderia ter se interessado por Nádia, afinal, fazia muito tempo que não aparecia uma garota nova pelo bairro, a última foi Kellie, com quem Diego teve um breve relacionamento, mas agora havia se cansado dela. Eles nem sequer chegaram a namorar. A garota por sua vez não parava de correr atrás do dono do morro, querendo voltar a ter alguma coisa com ele, dizendo que o amava. Diego apenas tirava proveito disso quando queria satisfazer seus desejos carnais, afinal, não ficava com qualquer mulher que aparecesse em seu caminho e Kellie era um acesso muito fácil. Felipe sorriu, talvez seria bom que Diego criasse uma obsessão por outra pessoa, assim Kellie talvez o esqueceria e Felipe poderia finalmente ser notado. Sim, ele era apaixonado pela garota, sempre foi, mas não teve tempo de se declarar, afinal, ela já apareceu agarrada com seu melhor amigo no terceiro dia depois que chegou. Felipe também nunca contou isso a Diego.
— Não, né?— Pegou um cigarro na carteira.— Esqueça, ela tem até uma filha do cara.
— E só vieram os três para cá?
— Não, parece que a irmã dela também. Uma menininha de dez anos. Eu acho isso muito estranho, a irmã de Nádia se parece mais com Alessandro do que com a própria irmã.
E então, antes de desaparecer em um beco qualquer, Nádia virou seu rosto e seus olhos se encontraram brevemente com os de Diego. O homem viu mais detalhadamente sua beleza, mas não deixou de perceber uma coisa: O rosto da mulher estava com uma mancha de hematoma muito forte, como se tivesse apanhado. Isso sim chamou sua atenção. Diego poderia ser muito ruim com seus inimigos, mas nunca agrediu uma mulher e não aceitava que qualquer dos moradores de seu bairro o fizesse. Se remexeu na cadeira. Ele sentiu uma ira enorme ao imaginar que ela poderia ter sido agredida pelo marido, mas enfim iria comprovar que Alessandro era tão mal caráter quanto imaginava. Diego não o tiraria de sua mira até concluir suas suspeitas. Nádia não poderia apanhar do marido em seu morro e o desgraçado sair ileso, isso não aconteceria assim, não aqui. Diego encarou o amigo, que segurava um sorrisinho fraco em seus lábios, como se decifrasse os pensamentos do amigo ao lado. Bufou.
— Você viu?— Apontou para o próprio rosto, referindo-se ao machucado da mulher.
— Vi sim, o desgraçado é um covarde dentro de casa.
— Pois é.— Bebeu todo o líquido de seu copo de uma só vez.— Não quero que tire os olhos de cima desse cara.— Roubou o cigarro da mão de seu amigo e o colocou em sua boca, tragando.— Chame-o, hoje vamos dar a honra de almoçar em sua casa.
Felipe se levantou, teria trabalho a fazer.
— Vamos investigar Alessandro?
— Sim, mas antes temos que dar toda a confiança, fazer ele pensar que está seguro aqui. Você sabe, cara. Não gosto de pessoas desconhecidas no meu morro.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!