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Só Podia Ser Você

Capítulo 1

Alô? Michael?

- Sim, vovó, como vai?

- Estou indo, meu neto...quero saber o motivo de você não ter vindo mais me ver, está acontecendo alguma coisa?

- Não vovó...Sei que estou em dívida, mas ando muito ocupado com o trabalho...sabe como é, muitos projetos, reuniões, viagens...

- É isso mesmo, ou está com algum problema mais sério?...ou será que....Oh, meu Deus! Não me diga que tem alguma mulher envolvida? Não me diga que finalmente encontrou alguém? Que felicidade, meu filho...como ela se chama? Quantos anos tem? Há quanto tempo estão juntos? – perguntava, eufórica.

- Vovó, não... – Michael tenta dizer, sucesso.

- Oh, meu neto, traga ela aqui, eu suplico. Você sabe que eu posso partir a qualquer momento, então, me dê essa alegria, por favor. Traga-a ao meu aniversário.

- Vovó, escute, eu...

- Nada de vovó...me prometa que virá ao meu aniversário de noventa e três anos de idade, e que me apresentará à sua futura esposa!

Futura esposa? Michael engasgara com o próprio cuspe. Sua querida avó desejava tanto o ver ao lado de uma mulher e formar uma família, que acabava atropelando os fatos. Ele não tinha mulher alguma, na verdade, se tinha uma coisa que ele queria distância, era de mulher. Mas...como ele podia dizer não à sua avó? Afinal, ela era a pessoa que mais amava no mundo, e sabia que em breve, ela não estaria mais entre eles. Sua amada avó em breve faria noventa e três anos de idade, e ele sabia que ela não duraria para sempre.

Subitamente, uma ideia lhe passa pela cabeça, e acaba entrando no “jogo” dela. Por que não conceder a ela, um último desejo? Não era tão difícil assim achar uma “noiva”!

- Está bem, vovó. Prometo que a levarei ao seu aniversário, está bem assim?

- Oh, meu Deus! Que alegria, meu neto vai se casar! – ela gritava a plenos pulmões.

Michael desliga o telefone e fica olhando fixamente para o aparelho. Por que não havia insistido com sua avó de que não havia noiva alguma? Devia ter sido mais firme em suas palavras, mas sabia também que quando sua avó colocava algo em sua cabeça, era mais fácil tirar a cabeça, ao invés da ideia. Mas, e agora? O que ele faria para arrumar uma noiva em tão pouco tempo? Era verdade que ele conhecia muitas mulheres dispostas a representar o papel brilhantemente, mas sabia também que uma farsa nunca acabava bem, ainda mais quando envolvia dinheiro e poder.

Michael sente seu corpo enrijecer em sua cadeira. O grande escritório, se tornara pequeno, não fazia ideia de como resolveria aquele problema, mas tinha que arrumar uma noiva, custasse o que custasse. Ele então, pega novamente o aparelho telefônico e chama sua secretária particular.

- Frances? Me faça um favor? Quero que faça uma lista com todas as mulheres da alta sociedade, as mais próximas a mim...solteiras. Mas tome o cuidado de ser discreta, e seja rápida, por favor. Obrigado!

Como um homem como ele, aos trinta e sete anos de idade, se deixava manipular por uma velhinha de noventa e três anos? Michael era o típico homem inglês: Pontual, educado com os demais, apreciador do chá das 5h, valorizava todo tipo de trabalho e respeitava sua própria cultura.

Era verdade que não estava acostumado a obedecer nada, nem ninguém, se acostumara a não dar satisfação de sua própria vida, e chegava até a ser arrogante em alguns momentos, mas tudo não passava de aparência, pois amava sua avó mais que tudo, e por ela, faria qualquer coisa. Ainda olhava fixamente para o telefone, não acreditava que acabara de dizer uma coisa daquelas, mas não tinha como voltar atrás. Estava decidido a conseguir uma falsa noiva, a qualquer custo, tudo pela felicidade de sua avó, afinal, seria apenas por poucos dias, ou meses, quem sabe.

A semana havia passado voando. Michael tinha um encontro atrás do outro, e a cada vez que chegava em sua casa, ao final da noite, se sentia exausto. Obviamente quando convidava uma mulher para jantar, não deixara claro sua intenção logo de cara, não dizia que estava atrás de uma “noiva”, ele apenas fazia as perguntas certas, e investigava o comportamento das possíveis candidatas, não demorava nada, até que acabava descobrindo que todas, sem exceção, tinha o mesmo objetivo: casamento, status, vida de luxo, em seguida, divórcio milionário.

Algumas mulheres até o interessavam sexualmente falando, eram bonitas, atraentes, e por este mesmo motivo, eram proibidas, pois o acordo poderia sair do controle e acabar saindo pior do que o esperado. O melhor a se fazer, era achar alguém com as características opostas ao que ele gostava numa mulher, talvez alguém...comum, e sem graça, pois assim estaria seguro. Michael não estava disposto a correr o risco de que algo desse errado, queria alguém que aceitasse se passar por sua noiva, mas que também deixasse tudo em nível puramente “profissional”. Deveria ser alguém que tivesse um bom caráter, mas que não oferecesse risco algum a ele, uma mulher sem encanto algum...mas quem?

O dia estava quente. O céu tinha uma coloração de um azul muito claro, sem nuvens, e ao fundo, ouvia-se o som de dezenas de cigarras cantando, aquele clima ensolarado e agradável, fazia com que Ivy se lembrasse de sua terra natal. Brasil. Crescera em um país tropical, cheio de lindas praias e clima quente, e se não fosse pelos últimos acontecimentos, com toda certeza jamais teria saído de seu país, e ido para um lugar com um inverno rigoroso e com grandes índices de chuva, não que ela não gostasse daquele contraste, muito pelo contrário, aprendera a gostar do clima de Londres. As pessoas eram educadas, pontuais, e muito elegantes, Londres tinha um charme especial. Se sentia pertencente àquele país.

Mais uma vez, olha em seu relógio de pulso e nota que passava de uma da tarde, estava oficialmente, atrasada! O que era quase imperdoável, pois os britânicos são extremamente pontuais. Balançava suas pernas com impaciência dentro do taxi, pois àquela hora a via expressa era sempre movimentada, e o trânsito sempre engarrafava. Mesmo tendo saído de casa com antecedência, parecia que não era seu dia de sorte. Não havia sido nada fácil conseguir um horário para uma entrevista num dos escritórios de arquitetura mais conceituados do país, mas graças a sua prima que trabalhava na recepção, havia sido avisada que aconteceria uma seleção para novos arquitetos, e falando com as pessoas certas, conseguira colocar seu nome na lista de entrevistados.

A cada minuto que olhava para seu relógio, sentia sua esperança escorrendo por entre os dedos, pois aquela poderia ser a grande chance de sua vida, e já que desistir não era uma opção, sem pensar duas vezes, acaba decidindo terminar o trajeto até o edifício a pé, pois ficava a apenas duas quadras de onde estava.

Andava apressada pela calçada, e o calor fazia com que escorresse suor de sua testa, o que não era nada bom, já que queria estar impecável em sua apresentação. Seu terninho surrado àquela altura já estava todo amarrotado, seus cabelos impecavelmente escovados especialmente para a entrevista, já que eram naturalmente cacheados, começavam a ficar cheios de frizz, e seus saltos altos, se tornavam insuportáveis, pois esmagavam seus dedinhos dos pés. Andava o mais rápido que podia, e no momento em que avista o edifício, sente um imenso alívio, afinal, ainda teria sua tão sonhada entrevista.

Capítulo 2

Começava a atravessar a rua a passos largos, e novamente sentia a confiança dentro dela renascendo, sentia que daria tudo certo, e daria mesmo, se não fosse o fato de que não havia olhado para os dois lados da avenida, e antes de chegar ao meio da rua, um carro a acertara em cheio fazendo com que caísse no meio fio. Não fazia ideia de onde o carro havia surgido, muito menos como havia ido parar ao chão tão rapidamente, não sentia dor alguma, seu corpo parecia anestesiado. Ela olhava fixamente para o céu sobre sua cabeça, notava como era bonito e relaxante aquele tom de azul, podia ouvir algumas vozes ao redor dela, via ainda algumas sombras, mas não conseguia identificar ninguém, muito menos conseguia se mover.

— Senhorita! Está me ouvindo? — Dizia uma voz masculina.

Ao mover seus olhos para acompanhar a voz, um nó na garganta de Ivy se forma, pois aquele homem à sua frente parecia um anjo, seu rosto era bonito, seu maxilar era anguloso, seus olhos profundos, envolventes e igualmente misteriosos, seus cabelos escuros penteados impecavelmente lhe conferiam um ar sério e atraente ao mesmo tempo, sua barba por fazer lhe dava um ar sexy, a boca bem desenhada, seus lábios pareciam macios. Ela queria dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam de sua boca, pois aquele olhar à sua frente era tão intenso, que as palavras morriam presas na garganta. Vagarosamente, Ivy sente seu corpo entrando num estado de torpor intenso, e em questão de segundos, seus olhos se fecham a levando para um lugar desconhecido.

Horas depois, vagarosamente abre seus olhos, sentia que estava em uma cama muito macia, bem diferente da sua, já que seu colchão tinha adquirido o formato de seu corpo, de tão velho. Um bocejo sai de sua boca, e ao olhar atentamente para a janela, nota que já havia escurecido, e num sobressalto, acaba se sentando na cama.

— Não faça movimentos bruscos!

Assustada, vira seu rosto, e nota que sentado em uma cadeira ao lado de sua cama, havia um homem que a observava atentamente.

— Onde estou? E quem é você?

— Não se recorda do acidente?

— Acidente? — Pergunta ainda meio confusa.

Ivy pensa por um instante e olha a sua volta, somente então, é que se dá conta de que estava em um hospital, leva ainda a mão à sua cabeça e percebe um pequeno curativo em sua testa. Lentamente começa a se recordar de horas antes, e como tudo havia acontecido, inclusive do último rosto que havia visto antes de desmaiar, sim, era ele! O “anjo” que a encarava enquanto ela estava no chão.

— Oh! O anjo! — Diz baixinho para si mesma, se lembrando que havia o comparado com um ser celestial, tamanha sua beleza.

— O que disse, senhorita? — Tinha o cenho franzido, pois se não estava enganado, ouvira aquela mulher o chamando de anjo.

— Eu...não disse nada, acho que me lembro do acidente. Eu estava atravessando a rua quando um louco surgiu do nada e me atropelou.

— Não foi bem assim, senhorita, Ivy! Eu me lembro muito bem que atravessou a rua sem olhar para os lados, não tive tempo de fazer absolutamente nada, infelizmente meu carro acabou a acertando. Sinto muito por isso.

— Então foi o senhor, que me atropelou?

— Sim!

— Como sabe meu nome?

— Eu abri sua bolsa e peguei seus documentos.

— Como é? Você mexeu em minha bolsa?

— Claro que sim! Precisava saber seu nome para registrá-la no hospital. Aliás, há alguém que eu possa chamar para ficar com você?

— Oh! Entendo. Não há ninguém que possa ficar comigo, estou morando em Londres há alguns meses apenas, vim em busca de trabalho, já que onde eu morava não tinha tantas oportunidades, aliás, eu atravessei a rua com pressa, pois tinha uma entrevista marcada e estava atrasada, mas infelizmente devido as circunstâncias, não pude comparecer. Aquela era a grande chance de minha vida.

— Sinto muito! Talvez eu possa ajudar em algo, quero me retratar com a senhorita, de alguma forma. Conheço algumas pessoas, acredito que alguns telefonemas ajudem!

— Não se preocupe, acho que seria impossível me ajudar, afinal, minha entrevista era no escritório, Wood Arquitetura, e mesmo estando em Londres há pouco tempo, sei que é quase impossível falar com alguém de lá. Eu mesma liguei uma centena de vezes, e nunca consegui nada. Por sorte, minha prima trabalha na recepção e me avisou de uma seleção de última hora, conseguiu inclusive fazer com que colocassem meu nome na lista de entrevistados, mas acho que uma chance como aquela, não vai aparecer nunca mais!

Michael a olhava surpreso, pois seus caminhos de qualquer forma iriam se cruzar, já que ele era o dono do escritório Wood, e ele próprio faria a seleção de candidatos naquela manhã. Com toda sua experiência de vida, sabia que não existiam coincidências, e que talvez, aquela mulher à sua frente, fosse a solução, ainda que temporária, para seus problemas. Ele então, a olha mais atentamente.

Em sua visão, aquela mulher não era atraente, não tinha uma beleza estonteante, não tinha os encantos femininos que ele tanto gostava, ela também tinha um sotaque diferente, não parecia inglesa, talvez fosse uma mulher latina, não se lembrava de onde, quando havia pegado seu documento em sua bolsa. Talvez ela servisse para seus planos, por que, não? Àquela ideia lhe passa pela mente, e naquele mesmo instante, decide que Ivy, permaneceria em sua vida, pelo menos por algum tempo, se ela aceitasse, claro!

— Bem, senhorita, Ivy, sei que nos conhecemos numa ocasião não muito boa, mas novamente peço desculpas pelo acidente. E agora que sei que está bem, e que não terá sequela alguma, preciso ir embora. Não se preocupe com os gastos com o hospital, pois pagarei o que precisar.

— Obrigada, e...me desculpe por atravessar na frente de seu carro, eu realmente estava distraída. Obrigada por tudo.

— Não se preocupe. Nós nos veremos muito em breve senhorita, Ivy!

Ela não tivera tempo de responder, pois o homem saíra do quarto muito rapidamente, a deixando com muitas perguntas, inclusive, como se chamava, já que esquecera de perguntar. Encosta sua cabeça novamente no travesseiro e fecha seus olhos, mas a todo instante, a imagem daquele homem vinha à sua mente, pois definitivamente, era um homem difícil de esquecer.

Enquanto andava pelos corredores do hospital, Michael Wood tinha um semblante determinado, seus olhos que normalmente eram misteriosos, pareciam estar ainda mais enigmáticos naquela noite, pois o destino havia literalmente jogado aquela mulher à sua frente, e com certeza, Ivy Garcia, era perfeita para seus planos, ela não era nem de longe o tipo de mulher que ele se interessaria, não tinha uma beleza estonteante, muito menos o charme e a malícia de mulheres experientes, mas também não podia dizer que era totalmente feia, mas sim...comum, sem encantos, o que a tornava perfeita para seus planos.

Começaria então, investigar mais a vida dela, para ter certeza de que era a pessoa certa para o que ele tinha em mente, mas se ele estava certo, como achava que estava, finalmente poderia dar uma última alegria à sua avó.

Capítulo 3

Finalmente Ivy tem alta do hospital, pois seus machucados haviam sido superficiais, estava somente em observação. Em poucos minutos o taxi que a levava, para em frente ao seu pequeno prédio, e ela desce, enquanto subia as escadas se sentia desanimada, pois havia perdido a entrevista de emprego que tanto almejara.

Depois tentaria ligar no escritório e explicar a situação, mas sabia que as chances de alguém remarcar a entrevista eram mínimas. Se lembra então de pegar seu telefone e nota uma dezena de mensagens de sua prima, e imediatamente, explica todo o ocorrido.

Alguns dias depois, enquanto terminava de tomar seu café da manhã, para então sair novamente em busca de trabalho, seu telefone começa a tocar insistentemente. A secretária pessoal de Michael Wood havia entrado em contato, e pedido que ela comparecesse ao escritório dentro de uma hora, no máximo.

Ao final da ligação, correra tomar um bom banho, em seguida vestira seu único terninho surrado, o mesmo que vestia no dia do acidente, pois era sua melhor roupa.

Fizera ainda uma leve maquiagem, somente para realçar seus lindos olhos amendoados. Naquele dia dispensara a escova, não o deixaria liso, até porque não tinha tempo hábil para isso, resolvera deixá-los presos num coque formal, mas que a deixavam com ar sério. Ao terminar de se arrumar, se olha no espelho e sorri, sentia que daquela vez daria tudo certo, daquela vez, o destino estava a seu favor!

Ivy chega ao escritório de arquitetura em questão de minutos, sem imprevisto algum, o que era um bom presságio. Ao informar à secretária do senhor Wood, que tinha hora marcada, a senhora de meia idade a leva imediatamente até a sala dele. O ambiente era sofisticado e moderno, certamente quem havia feito o projeto daquela sala, tinha muito bom gosto, obviamente o grande senhor Wood deveria ter planejado o ambiente. A sala tinha um tom de cinza, preto e branco, e apesar de serem cores escuras, haviam sido usadas com muita inteligência e elegância. Ela olhava cada detalhe do ambiente, não escapava nada aos seus olhos, nem mesmo percebe um homem a olhando fixamente.

— Gosta do que vê, senhorita, Garcia?

Ela congela, pois o homem parado à sua frente, era o mesmo que havia a atropelado, novamente seu caminho cruzara com o “anjo”, mas o que ele fazia ali? Qual era a ligação que aquele homem tinha com o senhor Wood, dono do escritório? Seus olhos ficam um longo tempo presos nos olhos dele, nenhum dos dois conseguia desviar, pois alguma força, os prendiam.

— Eu... estou um pouco surpresa de o encontrar aqui, senhor... como se chama? No dia do acidente esqueci de perguntar — Falava Ivy, sem jeito.

— Me chamo, Michael Wood!

— Michael Wood? Então, VOCÊ, é Michael Wood?

— Sim!

— Santo Deus! Jamais poderia imaginar isso. Mas...por que o senhor não me disse antes? – diz, se lembrando que dias atrás havia o chamado de maluco, por ter a atropelado.

— Sente-se senhorita, Garcia! Teremos uma longa conversa.

Ela se aproxima lentamente até a grande mesa dele, e se senta em uma poltrona à sua frente. Ainda mantinha seus olhos fixos nos dele, pois era simplesmente impossível parar de olhá-lo. Seu coração batia mais rápido do que gostaria, mas ela dizia para si mesma que era pelo simples fato de estar de frente para um dos maiores arquitetos do país, senão o maior.

— Bem, senhorita, acredito que deve ter um milhão de perguntas em sua cabeça, mas o que aconteceu foi uma enorme coincidência. No dia de seu atropelamento, eu iria entrevista-la, e certamente nossos caminhos se cruzariam, mas acabamos nos encontrando de uma forma mais “intensa”, digamos assim. O fato é que eu pude observá-la mais, e tive também tempo de fazer uma breve pesquisa sobre sua vida, e acho que você será perfeita para o trabalho que vou lhe oferecer.

— Trabalho? Então quer dizer que a vaga de arquiteta é minha? Mas eu nem mostrei meu portfólio, ainda! — falava de forma eufórica, pois era seu sonho trabalhar naquele lugar.

— Se acalme, Senhorita, pretendo contratá-la como minha arquiteta, mas...não somente isso, preciso que seja minha...noiva! — falava de forma calma, porém firme.

— O quê? Só pode estar brincando!

Ivy o olhava com olhos arregalados. Que brincadeira de mau gosto era aquela? Como ele era capaz de propor um absurdo daquele sem se sentir constrangido? Falava como se fosse algo natural, como se já estivesse acostumado. Como ele ousava? Os dois, mal se conheciam, não tinha o menor cabimento. Estava a ponto de ter uma síncope, mas o homem sentado à sua frente, a olhava muito tranquilamente, parecia ter a mais absoluta certeza de sua proposta, para ele, parecia algo completamente natural.

— Nunca falei tão sério em toda minha vida, senhorita! Minha oferta não é tão absurda assim. Preciso de alguém que seja confiável, e investigando mais, sua vida, sei que é perfeita para isso.

— Confiável? Como sabe, que sou confiável?

— Retruca em tom desafiador.

— Muito simples! No relatório que recebi, seus professores, amigos e familiares mais próximos foram unânimes em descrevê-la como “a melhor pessoa do mundo”, e também como “tem um coração gigante”. Devo também informá-la que sei exatamente o motivo de ter saído de seu país e vindo parar em Londres — Falava calmamente — Sei que veio do Brasil, assim como sua prima, ela se estabeleceu aqui há muito mais tempo e quando você pediu sua ajuda para vir, ela o fez. Sei também que saiu de lá, não, por não ter trabalho, e sim, para fugir de seu padrasto, não é? Tenho certeza que se fosse outro tipo de mulher, teria se envolvido com ele, já que segundo minha pesquisa, ele tem a mesma idade que a sua e é de boa aparência, além de colecionar conquistas.

Ivy abaixa sua cabeça por um momento, não era nada agradável ter sua vida exposta daquele jeito, por um estranho. Era doloroso saber que havia deixado seu país de origem, um lugar que amava de todo coração, apenas por se sentir machucada pela escolha de sua mãe. Sentia saudade das pessoas calorosas, amáveis e simpáticas de seu país, se lembrava perfeitamente de como as pessoas eram acolhedoras e solidárias, e com sorriso fácil, agora tinha que viver num lugar muito diferente do seu, mas que amava igualmente, pois Londres a acolhera muito bem, e tinha muito mais oportunidades, mas ainda assim, se sentia sozinha. Enfrentara muitos desafios ao chegar, para começar, tivera que validar seu diploma de arquitetura, enfrentara dias difíceis.

No começo, tivera que aceitar outros trabalhos, como garçonete e atendente, mas assim que conseguira a validação, começara a procurar trabalho. O idioma nunca havia sido um empecilho, pois se esforçara muito nas aulas de inglês, ganhara uma bolsa integral, e por oito anos aprendera o idioma. Se não fosse seu sobrenome, Garcia, talvez nem descobrissem que era brasileira, pois seu sotaque aparecia somente quando estava nervosa, como quando estava no hospital.

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