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Cinco anos da sua vida. Jogados fora como se não valessem nada.
Era nisso que Brenda pensava enquanto esperava, sozinha, em um banco de praça em frente ao cartório. O sol ainda nem tinha se firmado no céu, mas ela já estava ali, decidida a colocar um ponto final no casamento que a fez acreditar no amor, e depois a despedaçou.
Sentia o coração apertado, mas não de saudade. Era frustração. Raiva. Dele. Dela mesma. De ter acreditado. De ter fechado os olhos tantas vezes. De ter ignorado os sinais porque amava aquele homem com tudo o que tinha.
O estopim foi o que viu com os próprios olhos:
Liebert sentado numa cafeteria da zona sul, rindo, flertando e depois beijando Leila, sua secretária, uma loira artificial, toda montada, silicone gritando por atenção. E ele? Agindo como se fosse solteiro. Como se ela, sua esposa, não existisse.
Brenda não tinha ido lá por acaso. Já desconfiava de algo. A forma como ele escondia o celular, as mensagens apagadas, os sorrisos sem motivo ao olhar pra tela. Foi atrás. Seguiu seus instintos. E infelizmente, estava certa.
Ela se escondeu do lado de fora, esperando que aquela cena patética terminasse, talvez com uma explicação que ela pudesse suportar. Mas o que viu foi bem pior do que imaginava: o beijo veio, descarado, bem no meio da cafeteria cheia. Beijo de novela. Beijo com gosto de traição. Beijo que alguém registrou e jogou nas redes sociais, como bomba pronta pra explodir.
No dia seguinte, lá estava: “Liebert Drumond, o galã das telonas, é visto aos beijos com nova affair loira em cafeteria de Copacabana.”
E Brenda? Estava em casa, com a alma em pedaços, lendo tudo enquanto o celular não parava de tocar com notificações. Amigos, parentes, curiosos, todos querendo saber se era verdade. Era. Doía admitir, mas era.
Agora, ali naquela praça, o relógio corria devagar. O cartório abriria em instantes. E com ele, viria o fim oficial daquilo que já tinha acabado desde o momento em que ela viu o beijo.
— Bom dia.
A voz veio de trás. Familiar, inconfundível. Ela nem precisou se virar pra saber. O coração ainda reagia, idiota, batendo forte com aquele som que um dia foi casa. Mas agora, só causava enjoo.
Ela se levantou lentamente, virando-se pra encarar o homem que por cinco anos chamou de marido.
— Mal dia pra mim, pra ter que ver a sua cara de cafajeste logo cedo.
Liebert soltou um suspiro pesado, visivelmente nervoso. Estava abatido, com olheiras profundas e cabelo bagunçado, como se a culpa o estivesse corroendo por dentro. Ainda assim, isso não bastava.
Ele se aproximou devagar e, num gesto automático, tocou nas mãos dela. Mãos que um dia segurou com carinho, agora frias e tensas.
— Brenda… eu sei que errei, tá bom? Não vou negar. Mas a gente não precisa acabar assim. Cinco anos não são cinco dias. A gente construiu tanta coisa junto. Por que jogar tudo no lixo por causa de um erro? Me dá uma chance, só uma. Eu tô disposto a mudar. A fazer o que for preciso. De verdade.
A sinceridade podia até estar no tom dele. Mas pra Brenda, isso já não era suficiente. Ela tinha visto com os próprios olhos. E isso não se apaga.
— Chance? Que chance, Liebert? A de continuar sendo feita de idiota? — Ela engoliu em seco, sentindo a garganta apertar. — Você não quebrou só o nosso casamento. Quebrou a confiança, o respeito. Fez tudo virar cinzas. E agora quer o quê? Colar os cacos?
— Eu não tô pedindo pra você esquecer. Só pra tentar de novo. Eu deixei meu orgulho de lado pra estar aqui. Só quero te mostrar que posso ser diferente.
Ele ajoelhou-se na frente dela, bem ali, no meio da praça. Como se isso fosse grandioso. Como se um pedido público de perdão fosse capaz de apagar tudo.
— Para com isso, Liebert. Não é um filme. Levanta. — Ela fechou os olhos, tentando segurar a lágrima que já ameaçava escapar. — Você quer ser herói depois de virar vilão?
Ele se calou, derrotado.
— Tudo bem — disse baixo. — Pelo menos aceita minha ajuda. Sei que tá difícil pra você. Posso ajudar financeiramente, todo mês. Sem compromisso.
Brenda riu, amarga.
— Eu pareço frágil pra você, é isso? Acha que não posso me sustentar sozinha? Eu não preciso de nada seu. Só quero que assine aqueles papéis. E depois desapareça da minha vida, Liebert Drumond.
Ele ficou parado, olhando como se não soubesse o que dizer. Mas Brenda não queria mais palavras. Já tinha ouvido o suficiente.
O barulho da porta do cartório abrindo foi como um alívio. Sem esperar mais nada, ela virou as costas e entrou, determinada.
Foram rápidos. Objetivos. Sem espaço pra melodrama.
— Tem certeza que querem fazer isso? — perguntou o juiz, olhando para os dois.
— Eu não...
— Tenho sim. Quero me divorciar desse homem — Brenda cortou antes que Liebert abrisse a boca.
Assinaram. E assim terminou.
Brenda saiu do cartório com passos firmes. Um pedaço dela ainda doía, claro. Mas o outro, o que ela escolheria ouvir daqui pra frente, estava pronto pra recomeçar.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
...🌸 Dois anos depois 🌸...
O tempo passou. Dois anos inteiros desde o divórcio, e parece que parte de mim ficou congelada lá atrás.
Logo depois da separação, tentei focar em mim. Era jovem, ainda dava tempo de reconstruir tudo o que pausei por amor. Voltei pra faculdade que tinha trancado quando me casei. Fiz isso com o coração apertado, com vergonha de reaparecer, mas fiz. E também comecei a distribuir currículos por toda a cidade, de porta em porta, como quem joga sementes no asfalto esperando que alguma brote.
Mas não brotou. Nada. Nenhuma ligação, nenhum e-mail, nenhuma chance. Parecia que o azar tinha decidido morar comigo. Meu nome na praça era limpo, minha vontade era imensa, mas as portas continuavam fechadas.
E pra completar, descobri que estava grávida.
Sim, grávida. Dele. E ele não fazia ideia.
Quando peguei o teste positivo, minha primeira reação foi o desespero. Eu mal conseguia respirar. O homem que me traiu, que me expôs, que me deixou no chão, também tinha me deixado grávida. E agora? Como contar? Ou melhor: por que contar?
Respirei fundo. E decidi: não contaria. Aquele filho seria só meu. Ele não merecia saber. E eu não queria mais nada que viesse de Liebert Drumond.
Hoje, meu filho Vinícius tem dois anos e meio. Um menino lindo, esperto, com um sorriso que ilumina qualquer lugar. Quando ele me chama de “mamãe” com aquela voz doce, parece que tudo valeu a pena. Ele é meu mundo. Meu motivo. Minha força.
Mesmo assim, a vida ainda não ficou fácil. Estou trabalhando em uma floricultura há quase um ano. Faço buquês, limpo folhas, atendo clientes com um sorriso que às vezes é mais máscara do que verdade. É um trabalho digno, mas o salário mal cobre o básico. Sigo mandando currículos quando dá, tentando algo melhor. Por enquanto, sobrevivo.
Naquela manhã, estava atrás do balcão da loja, arrumando um buquê de lírios brancos para um cliente que esperava em silêncio. Me concentrei nos detalhes, nas flores, nas cores… até que fui interrompida por um som familiar: a voz do apresentador da TV que ficava pendurada na parede do outro lado do balcão.
Levantei os olhos.
E lá estava ele. Liebert. Na tela. Sorrindo, provocante, em uma sequência de fotos sensuais em preto e branco.
“O galã e charmoso Liebert Drumond inicia nova carreira como modelo. Seu corpo escultural e olhar sedutor estão levando as mulheres ao delírio.”
Suspirei, irritada. Revirei os olhos.
— As mulheres vão ao delírio, é? Se soubessem o tipo de cafajeste que você é, sairiam correndo.
— Perdão, senhorita… está falando comigo? — perguntou o cliente, sem graça.
— Ah! Não, me desculpe — respondi, voltando ao mundo real. — Estava falando sozinha.
Terminei o buquê, entreguei com um sorriso breve e desejei bom dia. O cliente agradeceu, pagou e saiu.
Sozinha de novo, sentei no banco atrás do balcão. Olhei pra TV mais uma vez. As imagens ainda passavam. Liebert em poses provocantes, como se nada tivesse acontecido. Como se a nossa história tivesse sido só uma nota de rodapé.
Fechei os olhos por um momento. Imagens dele voltaram à mente, mas não da TV. Da nossa casa. Da vida que tivemos. Ele secando meu cabelo depois do banho, fazendo miojo quando eu ficava doente, lavando louça com música alta. Ele me olhando como se eu fosse o centro do mundo.
A verdade é que ele foi, sim, um bom marido. Até deixar de ser. Por cinco anos, me tratou com carinho, me deu risadas, noites longas, jogos bobos na cama. Era o tipo de homem que dizia “te amo” no meio de um supermercado. Que fazia planos. Que prometia o futuro.
E mesmo que eu odeie admitir… sinto falta. Não do que ele se tornou. Mas do que ele foi. E às vezes me pergunto: quando foi que tudo mudou? Quando foi que ele virou outra pessoa?
Minha mãe, Ayda, me avisou. Sempre me olhou com aquela cara de quem sabia mais do que queria dizer.
— Essa é a vida que você quer pra si, filha? Casar com um ator? Viver cercada de escândalos? Ver seu marido beijando outras mulheres nas telas e dizendo que é “beijo técnico”?
Na época, eu balancei a cabeça e disse que sim. Porque amava. Porque acreditava. Porque menti pra mim mesma, achando que amor bastava.
Nos primeiros anos, foi bom. Maravilhoso, até. Mentiria se dissesse o contrário. Ríamos, viajávamos, dormíamos juntos no sofá vendo séries ruins. Fazíamos planos pra filhos, casa com quintal, cachorro chamado Bolota.
Mas a fama cobra caro. O mundo dele era outro. Era público, cheio de flashes, cheio de tentações. E eu? Uma mulher comum, com inseguranças demais e paciência de menos. Sempre me senti pequena ao lado dele, mesmo quando ele dizia que não.
— Eu te amo, Brenda. E preciso de você pra me manter em pé — ele dizia.
Mas amor nenhum resiste a traição. E a nossa história, linda e trágica, ficou no passado.
Hoje, é só lembrança. Um capítulo que, por mais que doa, já foi virado.
O dia em que me casei com Brenda foi, sem dúvida, o mais feliz da minha vida. Nunca fui do tipo que sonhava com casamento. Nunca imaginei subir no altar, muito menos dividir a vida com alguém. Eu era o típico gato escaldado. Vinha de relações fracassadas, escolhas ruins, envolvimentos por conveniência. Todas as mulheres com quem me envolvi antes deixavam claro, mesmo que não dissessem com todas as letras: não estavam comigo por amor. Era pelo meu sobrenome. Pela minha conta bancária. Pelo status de ter ao lado um ator famoso pra mostrar por aí. E isso me afastava cada vez mais da ideia de pertencer a alguém.
No início da minha carreira, eu mesmo me prometi que jamais me prenderia a ninguém. Queria curtir minha liberdade, aproveitar minha juventude e as vantagens que a fama me dava. Viver uma vida de curtição, sem regras, sem cobranças. Sexo casual, relações rasas, e nada que exigisse envolvimento. E, até certo ponto, isso funcionava muito bem. Era divertido, leve. Não existia a menor chance de frustração quando você não esperava nada de ninguém.
Mas tudo isso mudou quando Brenda Rios entrou na minha vida, sem pedir licença, virando meu mundo de galã do avesso.
Estava gravando um especial para um reality show quando a vi pela primeira vez. Ela estava ali, entre a equipe, observando tudo. Seus olhos cor de mel me atravessaram. Tinha algo neles que me fez parar. Não era só beleza, e sim, ela era linda, mas havia algo mais. Aqueles olhos brilhavam com um desejo sem vergonha, e ao mesmo tempo com uma doçura absurda. Enquanto me observava, mordiscava os lábios de forma quase inocente, e ainda assim tão provocante que me fez perder o foco da gravação.
Mesmo com todos os olhos voltados pra mim, minha atenção estava presa nela. E eu, acostumado a controlar qualquer situação, senti um tipo de nervosismo que fazia tempo que não sentia. Ela parecia pura demais. Sensível demais. Tão... real. Eu, com meu jeito explosivo e minha fama de ogro, não combinava com ela. Aquela mulher não merecia ter mãos como as minhas tocando em seu corpo.
Mas é claro que ela me surpreendeu. Fez mais do que olhar. Ela agiu.
Quando todos já estavam indo embora, ela ficou. Sozinha, esperando, provavelmente arquitetando sua entrada. Apareceu com um sorvete na mão e fingiu esbarrar em mim. Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela se ofereceu para me limpar com a língua.
Juro por tudo que precisei me segurar pra não rir alto. Os seguranças vieram, achando que era uma fã maluca, e queriam tirá-la dali. Mas eu já estava encantado. Aquele absurdo que ela disse me pegou de surpresa de um jeito que poucas coisas tinham feito nos últimos anos. Ela era atrevida, divertida, e ao mesmo tempo... doce. E, sim, aquele “me limpar com a língua” me deixou excitado. Muito. Imaginei coisas com ela naquele instante. Coisas que nunca falei pra ninguém. Ela nem fazia ideia das cenas que passaram pela minha cabeça se me desse oportunidade.
As semanas seguintes passaram rápido, mas ela ficou na minha mente. Achei que não a veria mais, até que, do nada, ela surgiu de novo. Dessa vez, em uma festa fechada, num iate de amigos meus. Estava tentando entrar sem convite. Como uma penetra. E, mais uma vez, precisei intervir. Porque ninguém queria deixá-la passar, e, sinceramente, eu já sabia que queria que ela entrasse.
Pouco tempo depois, Brenda apareceu em uma entrevista comigo. Estava substituindo uma amiga dela, que tinha tido um imprevisto. E foi aí que tudo começou de verdade. A entrevista foi só o pretexto. O que rolou ali foi muito mais. Ela era engraçada, espontânea, tinha uma luz própria. Era diferente de tudo que eu já tinha conhecido. Tinha algo de instintivo nela, algo que me prendia de forma absurda. E quando finalmente ficamos juntos, tudo fez sentido. O beijo. O toque. A entrega. Era como se meu corpo soubesse que ela era minha, mesmo antes da minha mente aceitar isso.
A forma como ela fazia amor... era diferente. Não era só prazer, era conexão. Ela se entregava sem pudores, sem joguinhos. E cada vez que estávamos juntos, era como se eu descobrisse algo novo sobre ela, e sobre mim também.
Mas, como tudo que vem fácil demais costuma assustar, ela sumiu. Desapareceu da minha vida de uma hora pra outra. Não respondia mensagens, não atendia ligações. Sumiu como se nunca tivesse existido. E eu... entrei em desespero.
Nunca imaginei que sentiria aquilo por alguém. Ela virou vício. Fiquei obcecado. Nada mais me dava prazer. Nem minha carreira, nem os eventos, nem os papéis que surgiam. Nada fazia sentido sem ela. Foi aí que percebi que estava completamente entregue.
Com a influência que eu tinha, e a ajuda de algumas pessoas, descobri onde ela estava: trabalhando em um restaurante no Caribe. Peguei um avião sem pensar duas vezes. E, pra não correr o risco de perdê-la novamente, fiz o impensável. Pedi Brenda em casamento ali mesmo, na frente de todo mundo. Foi a coisa mais insana e maravilhosa que já fiz na vida.
E como sempre, a imprensa caiu matando. Saiu em todos os portais de fofoca, claro. Mas eu não me importava. Pela primeira vez, não me importava com o que iriam dizer. Só queria ela. Ela era minha razão. O centro do meu universo. E eu sabia que tinha encontrado o amor da minha vida.
Mas, como todo idiota que não sabe cuidar do que tem, eu errei. Errei feio. Fui um covarde. E paguei o preço.
Brenda me flagrou em uma cafeteria beijando minha secretária. E tudo desabou. Mas o que ninguém entendeu, nem ela, é que aquilo não foi traição. Pelo menos não como as pessoas pensam. Não teve sexo, não teve sentimento. Foi um beijo. Um beijo por interesse, por conveniência, por pressão. Eu precisava de documentos importantes que ela estava segurando, e usei o único meio que achei que funcionaria. E funcionou. Mas custou tudo que eu tinha.
Brenda viu. E pra ela, foi o suficiente. Não quis ouvir minhas explicações. Não quis saber do contexto. Só viu o beijo. E me apagou da vida dela.
Agora estou aqui. Sozinho. No meu iate, cercado de água por todos os lados, encarando o vazio. Me deram dois dias de folga depois de um ensaio fotográfico. Resolvi vir pro mar. Pelo menos os peixes não me julgam. Acho.
Esse processo de divórcio me deixou completamente fora de mim. Tentei me reerguer. Tentei seguir em frente. Mas tudo desmorona quando penso nela. No que vivemos. No que destruí. São dois anos sem sua presença. Dois anos sem seu sorriso. Sem sua risada de canto. Sem suas implicâncias. Dois anos sem saber se ela está bem. Ela me bloqueou de tudo. Antes, eu ainda conseguia ver uma foto ou outra. Agora... nada. É como se eu nunca tivesse existido na vida dela.
E enquanto escrevo isso, ou penso, ou só sinto, nem sei mais, estou chorando feito criança. E não me envergonho. Porque perdi a mulher da minha vida. Por um erro estúpido, por orgulho, por não saber colocar limites. Eu daria tudo pra voltar no tempo. Mas não posso.
Eu queria tentar de novo. Recomeçar. Mostrar pra ela que sou outro homem. Mas como fazer isso, se ela não deixa nem uma fresta aberta?
A dor que carrego não passa. E talvez nunca passe. Mas ainda assim, eu não desisto. Mesmo que ela nunca mais me queira. Mesmo que tenha seguido em frente. Mesmo que exista outro em meu lugar. Eu vou seguir tentando. Tentando ser alguém melhor. Tentando ser digno da mulher que um dia me olhou como se eu fosse tudo.
Se o amor que sinto ainda tiver algum valor, algum peso, que ele me transforme. Que ele me mova. Que ele me faça suportar a ausência, a saudade, o silêncio.
Porque mesmo que o caminho esteja fechado, e que a distância entre nós pareça impossível de encurtar, eu continuo acreditando. E se um dia, por um segundo que seja, ela me olhar de novo... eu estarei pronto.
Pronto pra fazer tudo diferente, pronto para tê-la de volta.
Após retornar novamente para a cidade, caminhei apressado pelo centro. Entrei em um dos comércios e comprei uma carteira de cigarros. Eu costumava fumar antes, principalmente quando o estresse dominava minha cabeça. Brenda me ajudou a vencer isso. Com paciência e amor, ela me mostrou que eu não precisava fugir pelos vícios. Deixei o cigarro por ela. Mas hoje, o desejo voltou com força. Talvez pela saudade. Talvez pela solidão. Comprei também um isqueiro, mas ainda não acendi.
Continuei andando, e ao seguir por algumas quadras, parei. Sentei-me em um banco de praça e fiquei observando a fachada de uma floricultura do outro lado da rua. Na hora, lembrei dela. Brenda sempre amou flores. Rosas, lírios, margaridas... todas. Amava tanto que eu construí uma estufa só pra ela, cheia de cores e perfumes. Ela se perdia naquele jardim, e eu me encontrava só de vê-la feliz. Fazer aquilo por ela foi uma das melhores coisas que já fiz na vida.
Meus pensamentos me dominaram, e eu nem percebi que estava cercado de gente. Algumas pessoas se aproximaram, pediram fotos, outras autógrafos. Às vezes eu me esqueço que não posso andar livre por aí como qualquer um. Que ser famoso cobra esse tipo de preço. Eu só queria caminhar em paz, fumar aquele maldito cigarro que não acendi, e me perder nas lembranças. Mas ali estavam eles, como sempre. Me olhando, me esperando, me cobrando. E pior, hoje eu estava sem segurança. Resolvi dispensar. Às vezes me sinto sufocado por ter alguém me seguindo o tempo todo. Mas a liberdade, pra alguém como eu, é quase sempre ilusória.
Depois que consegui me livrar da pequena multidão que se formou, voltei para o carro e fui pra casa. Olhei para a biblioteca, onde Brenda costumava passar seu tempo. Passei quase o dia inteiro lá, lendo livros aleatórios só pra ocupar a mente. Peguei um livro de romance, sem perceber. Era um dos favoritos de Brenda. Em uma página em branco, vi algo escrito. Seu nome. E o meu. Uma mistura de nostalgia e dor me atingiu como um soco. Sorri, sem querer, ao lembrar do dia em que ela leu esse livro comigo sentada no meu colo, na frente da lareira. O nome do livro era “O Amor Tudo Cura”. E naquela época, eu acreditava nisso. Mas agora... Agora, não sei. Guardei o livro de volta na estante e saí dali. Já estava tarde, e meu corpo pedia descanso.
No dia seguinte, retomei minha rotina. Acordei cedo, como sempre. Preparei um café leve, só o suficiente pra quebrar o jejum. E fui direto para a minha academia particular, o lugar onde eu descontava tudo. Dor, raiva, saudade. Tudo saía no soco.
Treinei como um condenado. Soquei o saco de pancadas com toda a força que tinha. Desejei, por um momento, que fosse eu mesmo ali, apanhando. Me odiei por ter estragado tudo. Por ter deixado o orgulho me guiar. O casamento acabou. Eu sei disso. Não tem mais volta. E talvez eu precise aceitar. Curar esse amor com outro. Seguir minha vida. Apagar Brenda da memória, mesmo que ela ainda viva em cada canto da minha casa. Mesmo que ainda habite cada pensamento meu. Mas eu estava decidido. Não dava mais pra viver assim.
Talvez ela também tenha seguido em frente. Talvez esteja com outro, talvez até tenha um filho. E eu aqui, remoendo o passado feito um idiota. Isso só aumentava minha raiva. Soquei mais forte. Cada vez mais.
Depois de quase uma hora, saí da academia, respirei fundo, descansei e subi para tomar banho. Precisava me arrumar. Tinha uma sessão de fotos marcada. Ensaio importante, capa de revista. Tomei banho, me vesti e segui para a agência.
Assim que estacionei, fui cercado por paparazzi. Era sempre assim. Um passo fora da linha e no outro dia já era manchete. Felizmente, meus seguranças apareceram e abriram caminho até a entrada da agência. Respirei fundo e entrei.
Cumprimentei a equipe, todos em ritmo acelerado preparando o estúdio. Logo fui apresentado à minha parceira de sessão.
— Liebert, essa é Elisa Connor, sua parceira de hoje — disse Edson, meu assessor.
Meus olhos analisaram a mulher à minha frente. Bonita, sem dúvida. Pele clara, cabelos cacheados e ruivos, vestia algo provocativo, chamativo. Peguei sua mão e a beijei como um cavalheiro. Por que não? Talvez essa fosse minha chance de recomeçar.
— É um prazer, senhorita Connor. Você é ainda mais linda pessoalmente do que nas fotos.
— O prazer é todo meu, querido — ela respondeu, com um olhar direto, cheio de segundas intenções.
— Vamos começar o ensaio — Edson interrompeu, quebrando o momento.
As fotos começaram. Pose, clique, troca de olhares. Elisa era profissional, sabia jogar com a câmera. E eu entrei no ritmo. Depois de muitas fotos, nos sentamos para revisar os resultados. Tudo aprovado. No fim, quando já me preparava pra ir embora, ela me surpreendeu.
— Que tal um café? Só nós dois. Pra nos conhecermos melhor?
Aceitei. Fomos até uma cafeteria próxima dali. Sentamos em uma mesa discreta, fomos atendidos, e a conversa rolou. Fluída, leve. Falamos de tudo. Rimos. Ela tinha uma energia boa, vibrante. Trocamos números de telefone, e depois que a deixei no hotel, fui pra casa.
Cheguei cansado, mas com a cabeça cheia. Sentei na beira da cama e fiquei pensando. A presença de Elisa trouxe algo novo à minha rotina. Uma distração, talvez. Um sopro de vida diferente. Pequeno, mas suficiente pra mexer comigo.
Olhei pela janela e vi as luzes da cidade lá fora. Pensei em como a vida pública é cruel. Cada passo vigiado. Cada sorriso julgado. Cada aproximação virando manchete. Às vezes eu só queria ser comum. Um cara qualquer. Mas não sou. E não posso mais fugir disso.
No outro dia, acordei novamente cedo. Trabalho me esperava. Mais fotos, mais compromissos. Mas algo em mim estava mudando. Elisa aparecia nos meus pensamentos com mais frequência. Não como substituta de Brenda, ninguém seria, mas como uma presença que suavizava a dor.
À noite, de volta em casa, peguei o mesmo livro de antes. “O Amor Tudo Cura”. Abri devagar, folheando página por página. Como se fosse sagrado. Como se as palavras ainda tivessem o poder de reconstruir o que foi quebrado. Lembrei de nós dois, deitados na frente da lareira, lendo juntos, acreditando em finais felizes.
Na manhã seguinte, tomei uma decisão diferente. Chamei meus seguranças, pedi que me acompanhassem. Não porque eu tinha medo da mídia, mas porque entendi que não precisava mais lutar contra o mundo. Só precisava aceitar que mesmo com os holofotes, eu ainda posso escolher o que fazer com minha vida.
O caminho à frente é incerto. Sei disso. Mas sigo em frente. Passo a passo. A memória de Brenda ainda mora em mim. Vai morar sempre. Mas agora, talvez, seja hora de escrever uma nova história. E se o destino permitir, talvez um dia eu consiga dizer a ela com todas as palavras, que nunca deixei de amá-la.
E se ainda houver espaço, eu vou lutar. Até o fim.
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