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No Morro

Camille ( apresentação )

Camille

Lá estava eu, atrasada, mais uma vez. Nos últimos dias, venho atrasando tanto, que não sei como ainda não fui despedida. Bom, mas antes de eu continuar essa história, irei me apresentar.

Me chamo Camille Guimarães, tenho 21 anos, faço faculdade de RH, moro no Rio de Janeiro, mas não na parte mais acessível da cidade, moro no Morro do Vidigal, e no momento estou atrasada para o serviço, no qual já estou a dois anos, como assistente pessoal de Aline Ribeiro, uma mulher cruel e mesquinha, que cria projetos de caridade para arrecadar fundos, gastando pouco com os projetos, embolsando o restante, e ainda se passando de boa moça na imprensa.

Sou a mais velha de três irmãos, tendo como o do meio Cristian, de 16 anos, e Larissa, de 12 anos.

Minha irmã é uma criança excelente, apesar de ser muito fechada e timida, ainda é muito amorosa. Já meu irmão, é meio grosseiro, vive metido em baile funk, anda com esses bandidinhos pé de chinelo.

Moramos com minha mãe, Fernanda, que tem uma mercearia no Morro.

Ela se separou do meu pai, e viúva do pai dos meninos, que meu pai ajudou a criar.

A quatro anos o meu pai faleceu. Ele se chamava Luiz Fernando, mas era mais conhecido como "Falcão". Era proprietário do morro do Jacarezinho. Ele foi assassinado numa invasão dos cana, onde mataram ele e o sub dele, que era conhecido como "Cobra".

Desde a morte do meu pai, nunca mais fui a mesma. Queriam que eu assumisse o morro, mas eu jamais seria capaz disso, não quero nunca me envolver com isso. Além de que, precisamos sair de lá, por termos sido muito ameaçados por inimigos do meu pai. O comando nos trouxe pra cá, e disse que estariamos em segurança.

Além de deixar-me, o meu pai também deixou uma irmã, chamada Cintia, casada com Wesley, que assumiu o morro do meu pai, e agora é começo do como WL, e juntos, eles ocupam o cargo de tios favoritos, já que os irmãos da minha mãe, são folgados, e sempre tentam tirar proveito dela.

Essa princesa sou eu rs

Enfim, agora que já contei um pouco sobre mim, vamos voltar a história.

Em plena segunda-feira, eu estava atrasada novamente. Sinceramente, não sei o que acontece comigo, tenho que me atrasar pelo menos uma vez por semana, ou não sou eu.

Estava esperando o ônibus para seguir para o escritório da senhora Ribeiro, quando meu melhor amigo, Renato, estava passando de carro com o namorado dele, Miguel, para levar o mesmo ao trabalho, que é na mesma rua do meu. Me levantei do banco do ponto de ônibus, e comecei a gritar e acenar. O que por minha sorte, foi um sucesso, já que Miguel me ouviu, avisando o Renato, que me parou para me dar uma carona.

No caminho para o serviço, trocamos poucas e rápidas frases, por todos estarmos um pouco atrasados, mas marcamos de jantar no fim de semana, que seria ótimo para quebrar a rotina.

Cheguei no trabalho, e por sorte a senhora Ribeiro, ainda não havia chegado. Me organizei, e passei o dia trabalhando.

Ao final do dia, passei todos os recados a senhora Ribeiro, organizei meu ambiente de trabalho e segui para a faculdade, pois não estava nem um pouco interessada em atrasar novamente.

A sede da faculdade, fica a duas quadras do escritório, então, normalmente vou caminhando, por não ser longe, e hoje não foi diferente. Estava caminhando, meio atrapalhada com meus pertences, quando avistei o prédio da faculdade. Seria apenas atravessar a rua para chegar, e eu já estava em cima da hora, quando o sinal abril para predestes, eu logo corri para atravessar.

Assim que cheguei do outro lado da rua, um carro grande preto parou ao meu lado. Quando pensei em andar novamente, senti alguem segurar meu braço, me puxando para dentro do carro. E o mesmo saiu dali em alta velocidade.

Pronto, era isso que eu precisava. Estou agora em um carro estranho, com três homens todo de preto, com o rosto coberto, que Deus me proteja.

Escorpião ( apresentação )

Escorpião

Salve família, tudo na paz?

Sou Escorpião, mas meu nome é Vinícius. Tenho 25 anos, sou o de frente aqui do Vidigal a quase 9 anos. Carrego isso aqui junto com meus parceiros Bola e Lagarto.

Meu pai era dono desse morro, e acabou sofrendo uma emboscada do "Capeta", era um de seus rivais. Ele pegou meu pai na covardia, mas ja pagou pelo que fez, agora ta no fundo do inferno.

Além do meu pai, tenho minha mãe e minha irmã. Minha mãe Vanessa, e minha irmã Lorena de 18 anos. As duas moram juntas em Petrópolis.

Bom, o pai ta com tudo. Cheio das putas, cheio da grana, todo no ouro, sem preocupação com nada.

Mas vou lança o papo ai, essas puta do morro é tudo igual, fica só atrás do patrocínio, e ainda querendo ser assumida. Logo eu, assumir puta, jamais. Gosto de ser assim, ser de todas.

Esse gostosão ai é o pai aqui.

Agora vamos começar.

Acordei as 6:30 da manhã, levantei de vagar, com um pouco de dor de cabeça ainda, pelo final de semana. Fui direto pro banheiro, tomei um banho rapido, gelado, porque aqui ta calor pra carai, mane.

Ja coloquei logo uma cueca preta, uma bermuda preta, e uma camisa branca. Coloquei um cordão, porque é assim que elas gosta do pai, no estilo. Meti um kenner no pé, e um bone. Pai ta como? Ta gatão, no estilo.

Desci as escadas, sentindo um cheirinho bom de café fresco. Olhei pra cozinha, vendo a dona Regina montando minha mesa de café da manhã. Fui até ela, abracei a mesma, dando um beijo em sua testa.

- E ai, tia. Beleza?

- Oh meu filho, bom dia. - ela disse, me dando um abraço rapido - Daqui a pouco o Cristian ta chegando ai. Ele foi buscar umas coisas pra mim no mercado.

- De boa tia, tem que botar esse vagabundo pra trabalhar mesmo.

Ela da risada e volta a fazer as coisas. Dona Regina é mãe do Bola, ela cuida de mim desde sempre. Ela e minha coroa eram otimas amigas, quando minha coroa vem me visitar, sempre fica na casa dela alguns dias.

Tomei café e sai de casa antes mesmo do Bola chegar com as compras.

_____

Algumas horas depois, Bola entra na minha sala rapido, sem bater na porta, quase que arrombando a porta.

- Ae, caralh*. Não tem mão nessa porra?

- Ain vida, me desculpa, prometo que nunca mais entro assim, bebe - Ele afinou a voz, imitando mulher

- Sai daí, viado

Dou risada, esse cara vive de piada.

Quando estava perto do horário de almoço, o Lagarto entrou na minha sala, trazendo três quentinhas pra gente almoçar.

Após o almoço, Bola e Lagarto saíram com uma lista grande pra cobrar esses drogado caloteiro do caralh*. Quando deu por volta das 20 horas, tava cansadão, me arrumando pra ir pra casa, quando a Melissa entrou.

- Oi vida, to com saudades. - A puta ja chegou abaixando meu short, caindo de boca. Vou é aproveitar.

Camille ( A falta que ele faz )

Camille

Os segundo naquele carro pareciam horas. Estava muito assustada, pois sabia bem o que esses homens são capazes de fazer, quando pegam os parentes de seus inimigos.

O silêncio estava reinando, até que o homem que estava ao meu lado tirou a sua touca e disse.

WL - Nossa Mille, como é difícil falar com você.

Suspirei aliviada, me jogando nos braços do meu tio.

- Meu Deus! Quase morri de susto. Achei que estavam me levando para me torturar ou me matar.

Ele deu risada, alisando meus cabelos.

— Calma, querida. Não deixaria ninguém encostar em um fio de cabelo seu, prometi ao seu pai, que te manteria em segurança. — Sorrio gentilmente, me soltando do abraço.

- muito obrigada, tio. Agora, aonde estamos indo? E por que me sequestrou? - perguntei

- Vamos pro morro. Temos que conversar sobre negocios

Suspirei. Detestava ter nascido em uma família envolvida com o crime.

_________

Após a reunião, meu tio e seus seguranças me trouxeram até a entrada do morro. Eu ja estava extremamente cansada, precisando urgente me deitar e dormir.

Cheguei em casa, abrindo o portão devagar, já que as janelas estavam fechadas e a casa parecia estar toda escura, entrei e tranquei o portão. Abri a porta lentamente, também a tranquei, caminhando rapidamente para o meu quarto, onde acendi a luz. Joguei a minha mochila na cadeira (da mesinha onde ficava o meu notebook), peguei um pijama no guarda-roupas, sai do quarto devagar para ir ao banheiro. Lá, tomei um banho demorado, pensando sobre a conversa que tive com o meu tio, não estava pronta para me envolver novamente com esse mundo, e esperava que não me pedissem isso, na reunião que marcaram para o domingo de tarde. Finalizei o meu banho, sem molhar o cabelo. Sequei o meu corpo, vesti o meu pijama e voltei para o quarto.

Me deitei em minha cama, olhando para a janela que estava entreaberta, me dando uma visão perfeita da noite estrelada.

Logo veio-me a cabeça, um momento com o meu pai, em cima da laje da nossa antiga casa.

● Flashback On ●

Estava eu, sentada na laje, meus olhos vermelhos e inchados, vestia meu pijama rosa de bicho-preguiça. Em volta de meu corpo, havia uma coberta, e em minhas pernas, uma panela de brigadeiro.

Tinha 16 anos, e havia acabado de sofrer minha primeira desilusão amorosa.

Nunca havia prestado atenção em meninos, sempre fui bastante focada nos estudos e nos negócios, ja que meu pai sempre me dizia que eu seria a herdeira de tudo aquilo.

Lágrimas desciam pelo meu rosto, molhando a coberta que me envolvia. Distraída, olhando as estrelas, senti braços fortes envolverem-me. Sabia sobre quem se tratava, só podia ser ele, a minha pessoa favorita no mundo, meu pai.

— Querida, o que houve? Por que está chorando? — ele perguntou-me calmamente, mas sabia que ele estava preocupado.

— Papai, por que temos que nos apaixonar? - perguntei-lhe, ignorando as suas perguntas, apenas, aconcheguei-me nos seus braços.

— Ah, minha princesa, acredito que nos apaixonamos porque não fomos feitos para viver sozinhos, embora algumas pessoas escolham assim, se afastar do amor romântico, nós, humanos, fomos feitos para viver o amor. Eu gosto de pensar que nos apaixonamos e amamos várias pessoas para podermos vivenciar experiências diversas e entender o que queremos para nós, e mesmo que após um coração partido, pareça que o mundo vai se esvair em dor, o próximo dia sempre vem, a cura nos encontra e daqui a pouco, quando menos esperamos, estaremos amando mais uma vez, procurando alguém que nos faça sentir únicos e nós mesmos.

- Papai, eu acreditei que ele era o garoto certo. Acreditei que ele não iria me ferir. Achei que ele iria escolher me amar. - funguei, deixando mais algumas lágrimas caírem.

- Mille, sei que agora parece impossível acreditar, mas essa dor vai passar, e se não passar, a gente vamos atras desse garoto, e da uma surra nele.

Meu pai disse, me arrancando uma risada. Ele entrou em casa, pegando mais uma coberta e alguns travessiros, colocou tudo no chão, e eu contei para ele sobre o que havia acontecido entre eu e o Nathan. Meu pai me apoiou e me animou. Passamos o restante da noite ali, em um mundo nosso, onde nada mais importava, pois, independentemente da dor, meu pai estaria comigo.

● Flashback off ●

Tal pensamento fez com que lágrimas molhassem meu rosto. Todos os dias sinto falta do meu pai, ele era a melhor pessoa que eu conheci, e quando estavamos juntos, ele não era o Falcão, ele era apenas meu pai, Luiz Fernando.

Acabei por adormecer em meio as lágrimas.

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