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Um Coração Em Obras

Capítulo 1- Oi, me chamo Charlie

"Será que é pedir muito alguém chegar no horário?" Digo olhando pro relógio. 

Eu contratei um empreiteiro, pra reformar minha casa. 

Era o mais em conta, e que atendia minhas exigencias....bem pelo visto nem todas...

Bem...agora  essa era minha casa. Vovó me deixou essa casa de herança, já que eu era sua única neta.

A casa era bonita, estilo vitoriana. E claro, em alguns lugares estava caindo aos pedaços....

Vovó, antes de falecer, ficou com a saúde muito debilitada, com isso sua casa foi se deteriorando....

Seria bom começar de novo...seguir em frente.....só que tava difícil, já que o empreiteiro não muito profissional não chegava.

Vejo um caminhão  de uma empresa de construções estacionar do outro lado da rua. Um homem desce e eu aceno pra ele

" Oi, é aqui!" Digo.

Ele vem em minha direção com uma expressão um pouco confusa.

" Pois não, posso ajuda-la?" Ele pergunta

" É norma da empresa chegar tarde?" Pergunto 

" Desculpa, eu não entendi " ele responde

" Olha eu liguei e combinei com você as 7:00, por que eu teria uma reunião às 8:30, já são exatamente 8:15, e a menos que eu tenha um helicóptero eu não vou conseguir chegar a tempo. " Digo sem paciência

" Desculpa, você deve tá me confundindo" Ele diz

" Você não é o empreiteiro que eu contratei?" Pergunto

" Na verdade...não. Bem eu sou empreiteiro, mas você não contratou meu serviço " Ele diz 

Minha cara vai no chão e volta. Fico extremamente sem graça. 

"Ai meu deus! Desculpa! Eu tô esperando esse cara e ele simplesmente não aparece....pelo visto levei bolo" Digo dando de ombros.

Ele me olha como se soubesse de algo.

" Aham..sei" Ele diz

" Como assim você sabe ?" Pergunto 

" Moça eu já passei por isso antes, mas você poderia ter arrumado uma desculpa melhor se queria saber meu nome" Ele diz 

Dou uma gargalhada de deboche 

"Como é que é? Gente e eu achando que a minha estima era alta...olha você se superou" Digo 

Ele era bonito, convenhamos. Ele tinha o cabelo e os olhos castanhos, era alto, e tinha as feições bonitas, e tinha um ar rústico....mas acho que o que ele tinha de beleza ele tinha de estima.

" Tenho que te dar o crédito pela criatividade " Ele diz com um sorriso convencido

Olho pra ele com desdém. 

" Sorte a sua que eu tô atrasada e não tenho tempo a perder...pelo amor de deus onde já se viu isso" Digo dando as costas e indo pra garagem. " Que cara doido...." Digo entrando e dando partida no carro " Como se eu fosse perder meu tempo....que péssima maneira de começar a manhã.....cada doido que me aparece"

Tento chegar o mais rápido possível. Acho que levei algumas multas no caminho.....

Essa reunião era muito importante pra mim.

Consegui uma reunião com a Dodge, a empresa de carros. Eles precisavam de sugestões e projetos para o novo motor do carro que eles iriam lançar.

Eu tinha bacharelado em engenharia mecânica.

Quem conseguiu marcar essa reunião foi meu ex professor. 

Seria uma ótima oportunidade pra mim...

Acabo chegando 5 minutos atrasada.  

Dou meu nome na recepção e subo pra sala de reunião. 

A secretária me acompanha e abre a porta. Quando entro começo a pedir desculpas.

" Peço imensas desculpas , pelo atraso, sei que é totalmente anti-profissional e isso não irá se repetir." Digo de uma forma calma, mas séria.

E então um homem na casa dos 50, se aproxima estendendo a mão, com um sorriso.

" Pelo menos você não usou a desculpa do carro quebrado" Ele diz rindo."Prazer senhorita Foster, me chamo Michael Green" 

Retribuo o comprimento e sorrio de volta.

"Prazer é todo meu" digo e então sentamos 

Pelo menos estávamos começando bem.

" Seu professor falou muito bem de você" Ele diz olhando alguns papéis "primeira da classe....no seu TCC você desenvolveu um motor de  alta performance, usando componentes de motores diferentes, que você encontrou em um ferro velho, e o colocou em um Mustang Boss, que inclusive era do seu professor, e até hoje o motor funciona.... interessante... o que você tem pra nós?" Ele pergunta 

Então começo a explicar e mostrar a planta que havia desenhado do motor. Me dediquei ao máximo criando essa planta.

Depois de alguns minutos de conversa, ele se levanta.

" Bem, acho que por hora é só. Muito obrigada pela demonstração senhorita Foster. Iremos apresentar esse projeto para os outros engenheiros e entramos em contato se for aprovado" Ele diz .

Saio do prédio e dirijo até o trabalho.

" E então? Alguma notícia boa? " John pergunta. 

" Bem......eles disseram que iriam ligar se fosse aprovado" Digo com um sorriso um pouco triste 

" Ei..." John coloca a mão no meu ombro " Vai dar certo, você se dedicou muito pra isso, todos nós vimos você passar noites em claro no escritório pra poder fazer esse projeto, se eles não concordarem , eles que estarão perdendo" Ele diz com um sorriso de encorajamento.

Ele era meu funcionário a anos, ele era mais velho que eu, mas me respeitava muito. E eu tinha ele como um tio. Sempre o escutava. 

Meus funcionários eram como família pra mim. O time era composto por John de 45 anos, Mark de 30 , Tim de 24 e Joseph de 36.

" Obrigada por isso John....agora, vamos voltar pro trabalho... é a melhor forma pra mim distrair a cabeça" Digo com um sorriso fraco.

Quando estamos saindo do escritório meu telefone toca.

" Foster" Digo 

" Oi minha querida aqui é a Glenda falando" Glenda era minha vizinha da frente.

Era uma senhora muito amorosa. Ela sempre me convidada pra comer biscoitos e tomar chá....desde que eu me mudei a uns dois meses, ela sempre foi um doce. Ela era muito amiga da minha avó, Judy, antes dela falecer. E consequentemente se tornou minha amiga 

" Oi Glenda, como você está? Está precisando de algo? Se quiser eu posso levar depois do serviço pra você" Digo 

"É muita gentileza sua querida, mas na verdade estou precisando da sua mão de obra.Hoje fui na feira e percebi que meu carro estava fazendo um barulho muito esquisito. Será que você poderia dar uma olhadinha pra mim? Sei que você é de confiança" Ela diz 

" Claro, olho sim. Será que teria como trazer ele por volta das 13:00?" Pergunto

" Tem sim. Meu neto voltou de viagem, aí eu vou pedir pra ele levar aí, tenho seu cartão com o endereço " ela diz 

" Combinado, vou deixar a tarde vaga pra olhar o seu carro" Digo

" Muito obrigada minha querida" Ela diz e nos despedimos.

Passo o resto da manhã resolvendo algumas papeladas, no escritório. Meu estomâgo começa a roncar e então olho no relógio, já era 12:30. Paro o que estou fazendo e vou almoçar. 

Volto e visto meu uniforme. Quando termino de vestir , vou andando pela oficina e um dos meus funcionários me chama

" Chefe, preciso da sua ajuda com o Buick Riviera" Mark fala

Vou até ele pra olhar o carro.

Inspeciono o carro.

" Tá....eu acho que sei onde está o problema" Digo 

Pego algumas ferramentas , e deito na maca entrando embaixo do carro. 

Enquanto estou embaixo do carro escuto uma voz ao longe.

" Boa tarde. Eu tenho um horário marcado com Charlie Foster." Um cara diz

"É só ir até aquele Buick que você vai conseguir falar com a chefe" Mark diz .

Escuto alguns passos, e vejo dois pares de pernas parando ao lado do carro .

" Senhor Foster?" Ele diz 

Dou uma leve risada. Era normal isso acontecer. Principalmente por conta do meu nome.

E isso as vezes causava um pouco de confusão em algumas pessoas. Todos esperavam um homem. Mas era engraçado a reação das pessoas.

" Na verdade é senhorita Foster " Digo saindo debaixo do carro sorrindo, mas meu sorriso murcha no momento em que vejo o homem" A não...só pode ser pegadinha...''

Capítulo 2- Me chamo Dean Walker.

Era a mesma mulher louca de hoje de manhã!

" Posso ajuda-lo?" Ela diz um pouco séria, se levantando.

"Desculpe estou procurando por Charlie Foster, ele é o mecânico. " Eu digo 

" Sou eu mesmo" Ela diz.

O que ela tava fazendo? 

Tava escrito no cartão que minha vó me entregou 'Charlie Foster'.... mecânico...mecânicos geralmente são homens....

" Mas...você é mulher.. " Digo um pouco confuso

" É mesmo capitão óbvio?" Ela diz de forma sárcastica

Ela tava começando a me fazer perder a paciência

" Olha minha vó pediu pra mim trazer o carro e procurar diretamente por Charlie Foster, eu não sei que tipo de brincadeira é essa..." Digo 

" Sua avó é Glenda Walker? " Ela pergunta.

" Sim, como você a conhece?" Eu pergunto

" Por que eu mesma falei com ela no telefone. O carro está lá na frente?" Ela diz indo em direção a entrada.

Eu que não ia deixar ela mexer no carro da minha avó!

" Espera! Você é uma mulher você não vai saber mexer! " Digo e vejo ela parar.

Vejo todos pararem o que estão fazendo e olhar pra mim.

Ela se vira devagar....com aquele mesmo olhar de doida...

" Oh meu deus!" Ela diz fingindo surpresa " Vem cá pessoal! Mais um da espécie rara de macho que acha que mulher não sabe mexer em carro. Vai pessoal tira foto, só não pode  alimentar.... " E então ela fecha a cara  "Fere tanto o seu ego masculino assim? Pra começo de conversa, eu falei com a proprietária do carro, que até onde eu sei, você não é uma senhora de cabelos grisalhos, chamada Glenda . Agora se possível, podemos ir até o carro? Tá atrasando meu trabalho" Ela diz e se vira indo até o carro.

Vou atrás dela.

"Que tipo de barulho você escutou enquanto vinha pra cá?'" Ela pergunta.

"Há, um barulho esquisito, você que tem que saber, você que é a mecânica afinal" Digo.

Vamos ver se ela era boa mesmo, ou se era só uma tranbiqueira querendo passar a perna na minha avó.

"Sim eu sou mecânica,  não vidente. Até onde eu sei não dá pra ler o futuro na mancha de óleo. Me dá as chaves por favor" Ela diz  estendendo a mão.

Nossa...que cavala.....

Eu  reluto mas entrego....

Ela entra no carro e dá partida, mas o carro não faz o barulho. Ele só fazia quando andava.

Ela abaixa os vidros e olha pra mim.

Vou até a janela ver o que ela quer.

"Eu vou ter que dar uma volta no quarteirão" Ela diz

"Espera eu vou com você. Quem me garante que você não vai roubar o carro" Digo enquanto entro no carro.

Escuto ela respirar fundo.

"Tem certeza que você é neto da Glenda?" Ela pergunta sem muita paciência.

"Tenho" Digo

"Como que pode uma pessoa tão doce ser avó desse ser tão insuportável" Ela diz mais pra ela mesma, mas alto o suficiente pra mim escutar.

Olha quem fala....mulherzinha difícil.....

Ela acelera e começa a andar pelo quarteirão.

No meio do caminho começo a escutar o barulho

"Isso! É esse bar..."

"Shiuuuu" Ela diz me interrompendo.

Arregalo o olho e olho pŕa ela .

"Você fez shiu pra mim?" Pergunto incrédulo.

"E vou fazer de novo se você não calar a boca" Ela diz.

Resolvo ficar quieto.

Voltamos  pra oficina, e ela entra com o carro.

Ela pede pra mim sair. Quando fecho a porta, ela anda mais colocando o carro em um elevador.

Quando ela sai, e vai em direção as ferramentas eu resolvo perguntar. "E então qual o problema?"

"Bem o seu eu não sei, mas o do carro é rolamento." Ela diz.

Senhor....me dá paciência....

"E isso demora pra ficar pronto?'' Pergunto

"Se você ficar me empatando sim.....Você tem duas opções, ou pede um táxi e vai embora, ou espera naquela salinha ali, sem pertubar" Ela diz  apontando pra sala de espera.

Então ela vira as costas pra mim e começa a mexer no carro....

Nossa que mau-humor.....

Resolvo esperar na sala. Não tinha compromisso hoje

Vou até a sala de espera, e me sento na poltrona.

"O seu eu não sei mimimimimi.." Digo pra mim mesmo. "Mulher mal amada.....Insuportável...."

Resolvo mexer no celular.

Nem vejo o tempo passar, quando ela aparece na porta da sala e fala comigo.

"O carro está pronto" Ela diz sem muita paciência e dá as costas

"Ei! Espera..." Me levanto e vou atrás.

Ela se vira.

"Sim" Ela diz com uma cara de quem comeu e não gostou.

"Eu tenho que pagar o serviço" Digo

"Se fosse pra você eu cobraria o dobro, mas como é pra Glenda eu não vou cobrar nada. Passar bem " Ela diz virando as costas, entrando no escritório e batendo a porta.

Nossa! Como que alguém pode ser tão....tão....desnecessária....tomara que eu não tope com ela de novo.....

Resolvo ir embora.

Entro no carro, ela já havia estacionado do lado de fora.

Dou partida e acelero o carro, andando de volta pra casa da minha vó.

"Vamos ver se você é boa mes..... parou....o barulho parou..." Digo sem acreditar " E parece que tá mais macio.....o volante tá mais firme.....Desgraçada! Não é que a infeliz é boa"

Chego na casa da minha avó.

"Vovó cheguei" Digo

"Oi querido! E então como foi lá?" Ela pergunta

"Bem...eu me surpreendi...Ela é uma excelente profissional, levarei meu carro nela na semana que vem pra dar uma olhada... o carro ficou muito bom" Digo

"E quanto ficou?'' Vovó pergunta.

"Bem, ela disse que como era pra você, ela não cobraria" Digo

"Você insistiu?" Ela pergunta

"Ela não aceitou de forma alguma" Digo. Na verdade ela me deixou com cara de tacho e foi pro escritório.

Vou até a geladeira pegar uma água.

"Então eu vou fazer um jantar pra ela. Como ela mora na frente não vai ser muito difícil pra ela vir" Vovó diz

Fico parado de frente a geladeira.

A não, aquela cavala aqui não, mil vezes não.....

"Vovó tem certeza? Ás vezes ela é muito ocupada, pelo que eu vi ela tem bastante serviço...." Digo mas ela me interrompe.

"Claro que tenho certeza, Dean! Isso é inegociável, vou fazer algo pra ela. Ela é minha amiga e sempre me visita. Ela é um amor de pessoa. Vocês poderiam ser ótimos amigos..." Ela diz

Um amor de pessoa....não sei aonde....

Não ia conseguir mudar a cabeça da minha vó. Ela era tão teimosa quanto eu, se não mais.

Resolvo ajudar ela com o jantar.

Algum tempo depois, o jantar fica pronto.

"Vai lá chamar ela " Vovó diz

"Por que eu? Não é mais fácil ligar?" Digo

"Por que eu mandei, Dean. E não aceite um não como resposta, diz que eu faço questão" Vovó diz

Suspiro fundo e vou até a casa da Charlie.

Toco a campainha.

Olho em volta, e então escuto a porta se abrir.

Me viro e quando ia falar ela fecha a porta.

MAS QUE MULHER DIFÍCIL!! COMO ALGUÉM PODE SER TÃO INSUPORTÁVEL!!

Respiro fundo e tento manter a calma.

Aperto a campainha sem parar. Ela ia ter que vir aqui.

Ela abre a porta com tudo.

"O que é?!" Ela pergunta

Eu suspiro  tentando manter a calma.

"Minha vó chamou você pŕa jantar, como forma de agradecimento...." Digo entre os dentes.

Ela me olha por um tempo.

"Diga pra ela que em alguns minutos estarei lá. " Ela diz .

Quando vou falar mais alguma coisa ela fecha a porta na minha cara.

Seguro minha vontade de socar essa porta.

Então depois de sentir o sangue abaixar eu vou pra casa da vovó.

Depois de alguns minutos escuto alguem bater na porta.

Vou até a porta e abro.

Era aquele entojo.

"Fica á vontade" Digo sem muita emoção

Ela entra  e vai até a cozinha.

"Oi minha querida!" Vovó diz indo até ela e a abraça.

"Oi Glenda, a comida está cheirando do outro lado da rua" Charlie diz sorrindo.

Ela sabe sorrir?

"Bem hoje eu dei uma caprichada. Fiz algo especial, como forma de agradecimento. Meu neto disse que o carro ficou uma maravilha" Vovó diz

Droga vovó...não era pra ela saber, agora ela vai se achar.

Charlie olha pra mim e eu desvio o olhar.

"Que bom Glenda. Eu coloquei peças de rolamentos novas, e troquei o óleo. Fiz um check-up nele, mas de resto ele está novo. " Ela diz

" Você não sabe o quanto fico grata. Meu neto disse que você é uma excelente profissional " Vovó diz

"Bem vovó eu não disse exatamente isso..." Eu digo

"Disse sim. Você disse ' Ela é uma excelente profissional, levarei meu carro nela na semana que vem pra dar uma olhada' Você disse com essas palavras" Vovó diz.

Obrigada vovó, por ser tagarela....

Vejo Charlie segurar o riso...

Então a janta fica pronta. Nos servimos e nos sentamos a mesa.

" E então querido como foi a viagem?" Vovó pergunta.

"Foi ótima vovó, gostei bastante. Um dia quero levar a senhora lá" Digo sorrindo pra vovó

Realmente queria levar minha vó pra conhecer vários lugares. Ela era minha segunda mãe. Ela era a família mais próxima que tinha. O resto da minha família morava em outra cidade.

" Você já esteve na Suíça, Charlie?" Vovó pergunta

"Com certeza não..." Digo baixinho olhando pro seu prato.

Alguém como ela não ia longe, com certeza....

"Infelizmente não....É um lugar lindo, mas dizem que é muito mal frequentado" Ela diz olhando pra mim com um sorriso sínico.

Ela tava provocando

" Acredite não é! Eu estava lá" Digo um pouco ríspido

"Acho que foi justamente por que você estava lá" Ela diz . " E então foi fazer o que lá , além de procurar por um mecânico que seja homem ?" .

Tento disfarçar meu ódio, pra vovó não notar.

"Fui pra um seminário..." Digo

Eu olho pra mão dela e vejo uma aliança.

Agora fazia sentido.

Nem o marido dela devia suportar ela , e deve ter vazado.

Não vi ele lá, e minha avó não mencionou nenhum marido. Agora ela me paga

"Você é casada Senhorita Foster? Seu esposo não quis se juntar a gente essa noite?" Pergunto sorrindo

"Dean..." Minha vó fala como se tivesse em repreendendo.

Não ligo. Ela merece.

Ela me olha sem emoção.

"Infelizmente ele não vai poder vir " Ela diz com cara de tacho.

Acertei na ferida.

"Por que? Ele tá procurando por um mecânico mais educado, ou ele só não aguenta o seu humor ácido?" Digo com um sorriso sarcástico

"Acho pouco provável senhor Walker.... meu marido faleceu..." Ela diz olhando pra aliança.

Fico surpreso.

Droga.....De todas as respostas que eu poderia imaginar, essa nunca me passou pela cabeça....

Dean, você passou dos limites....sei que ela pediu mas....Droga, vovó vai me matar.

Ela volta a comer como se nada tivesse acontecido.

Vovó cutuca minha costela, como que dizendo pra mim pedir desculpas. 

"S-Sinto muito..." Digo

Ela continua comendo, como se nada tivesse acontecendo.

Comemos em um silêncio ensurdecedor.

Quando termina de comer, ela olha  pra vovó com um sorriso.

"Glenda estava maravilhoso como sempre. Muito obrigada, eu estava precisando de uma comida caseira hoje. Se você não se importa, eu vou pra casa, hoje o dia foi bem puxado." Ela diz.

Ela sorria, mas dava pra ver dor em seus olhos.....

"Você não quer ficar mais um pouco querida? Tomar um chá?" Minha vó pergunta

"Muito obrigado, mas eu estou exausta. Mas outro dia passo naquela loja de donuts, e trago alguns pra gente tomar um chá juntas. Dorme bem Glenda. " Ela diz e vai embora.

Escuto a porta se fechar.

"Aiiii!' Digo pra vovó que me deu um beliscão.

"Por que você foi falar isso pra coitada!?"Ela pergunta em um tom bravo.

"Ela que começou tá! Desde que eu conheci ela , ela não foi nem um pouco simpática comigo" Digo tentando me defender

"E você não fez nada pra ela agir assim?" Vovó pergunta

"Bem....talvez...." Digo desviando o olhar " AIIIII! VOVÓ!" Digo esfregando o braço pra ver se aliviava a dor do outro beliscão.

"Você trate de ir pedir desculpas pra ela! Charlie é uma boa moça, ela me faz companhia desde que se mudou. Ela era neta da Judy, minha amiga.....Dean,ela passou por muita coisa muito nova...ela sofreu muito com a perda do marido....Se amanha você não se retratar com ela, eu te dou um cascudo!" Vovó diz e vai até a pia lavar a louça.

Ajudo vovó com a louça. Quando termino vou pra casa.

No dia seguinte, fico o tempo todo pensando no que aconteceu......

Tá  eu fui um babaca quando a gente se conheceu...

Só achei que ela era só mais uma querendo me cantar...mas tava enganado....

"Dean, você precisa trabalhar urgentemente seu excesso de amor prórpio" Digo pra mim mesmo enquanto dirijo.

Resolvo ir até a casa dela.

Olho em volta e vejo que tá tudo apagado, e sem sinal de algum carro.

Sento no banco que tem ali na varanda ao lado da porta e espero por ela.

Alguns minutos depois escuto o barulho de um carro, ele para em frente a casa

Não era um carro qualquer. Era um Dodge Charger RT 1969....O sonho de consumo, até o meu sonho de consumo.

Vejo ela sair do carro.

Não é possivel que essa mulher dirige esse carro, nem reparei ontem....Pelo menos ela tinha bom gosto.

Ela vem em direção a porta e pega a chaves e coloca na porta

"Oi... olha sobre ontem e a noite eu..." Eu começo a falar, mas paro quando ela abre e fecha a porta na minha cara.

Tá eu entendo....ela ta magoada....tudo bem...amanhã eu volto.

No outro dia faço a mesma coisa. Espero por ela do mesmo jeito.  

Ela chega e coloca as chaves na porta.

"Olha eu só queria convers..." Ela fecha a porta de novo

Respiro fundo.....Me dá paciência pra conseguir aguentar essa mulher.

No terceiro dia faço a mesma coisa e espero por ela. Ela chega e pega as chaves indo até a porta.

Só que dessa vez quando ela vai abrir a porta eu não falo nada. Apenas espero.

Quando ela vai fechar a porta eu seguro a porta com força impedindo ela de fechar.

Ela me olha com surpresa.

Agora você não escapa.

Capítulo 3- Charlie

"Charlie me escuta por favor....Olha me desculpa por aquele dia, eu não sabia sobre seu marido. Eu sinto muito pela sua perda. Eu ultrapassei os limites" Ele diz de forma sincera.

Olho pra ele...ele estava sendo sincero...eu também provoquei ele...e a insistência dele mostra que ele realmente queria se acertar....

Deixo ele segurando a porta e me viro

"Você bebe cerveja?" Pergunto enquanto vou para a cozinha

"Que?" Ele pergunta e eu viro pra ele. Sua cara era de que não estava entendendo minha reação.

"Eu perguntei se você bebe cerveja" Digo

"Há...Sim... eu bebo" Ele diz com uma expressão confusa

"Quer que eu traga a cerveja até a porta ou voce vai entrar?" Pergunto.

Ele se ajeita e entra.

"Cuidado onde pisa" Digo enquanto abro a geladeira.

"Bela casa...só está precisando de alguns reparos" Ele diz olhando em volta

"Sim...era da minha avó, ficou um bom tempo desocupada.." Pego as cervejas e vou até o corredor " Vem, vamos pra sala."Digo indo pra sala e ele vem atrás

"Eu gosto muito desse estilo vitoriano...é algo único...só que acho que poderia dar uma mordenizada, deixar um pouco mais claro" Digo sentando no sofá, e Dean se senta também.

"Tem hora que  parece casa de filme de terror." Digo.

Ele da uma leve risada.

"Olha, sobre aquele dia, peço desculpas também, eu passei dos limites e não fui muito profissional com você" Digo

"Tá tudo bem...são águas passadas" Ele diz dando um sorriso.

Ficamos alguns minutos em silêncio, então Dean resolve falar: " E então, conseguiu uma empreita pra reformar a casa?"

"Não, o cara não apareceu aquele dia , e simplesmente não retornou mais....Tá dificil achar alguém que queira arrumar essa casa, eu até entendo...é muita coisa pra fazer..."Digo descrente e dou uma gole na minha cerveja

"Eu posso arrumar pra você" Ele diz

"Como assim?"Pergunto supresa

"Bem, eu sou empreiteiro, e eu tenho uma empresa de construção e reforma...." ele diz .

"Tá, isso eu já sei,  mas....por que você vai me ajudar?" Pergunto curiosa.

" Por que você é muito legal com a Glenda.. e como pedido de desculpas por aquela noite. Além disso daria um ótimo catálogo fazer um antes e depois dessa casa" Ele  diz

Olho pra ele por alguns instantes....

"Você faria isso por mim? " Pergunto esperançosa

Ele concorda com a cabeça

Suspiro aliviada.

"Obrigada...eu já tava sem saber o que fazer..." Digo

"E então o que você tem em mente pra casa?" Ele pergunta

"Bem eu queria deixar um pouco mais moderno, sem perder a essência, mais iluminado....Há, e uma claraboia no teto do quarto....O banheiro tem uma banheira antiga,que é muito bonita, mas tem que ver se ela ainda funciona... Mas tem um porém, eu não entendo muito de decoração...." Digo

"A gente pode fazer o seguinte, eu faço um projeto e mostro pra você, ai você vai fazendo as modificações até ficar do seu gosto, o que acha?" Ele pergunta

"Acho uma ótima idéia" Digo sorrindo. " E então...Glenda disse que você fez faculdade de engenharia civil. Qual faculdade você se formou?"

"Me formei na Brown" Ele diz

"Ótima faculdade, recebi uma bolsa pra lá também..." Digo

"E qual que você se formou?" Ele pergunta

"Berkley" Digo e ele me olha surpreso.

"Uau...quem diria" Ele diz

"Nem eu acreditei quando consegui a bolsa....foi uma época muito boa" Digo olhando ao longe....

Tento espantar os pensamentos

"Vem eu vou te mostrar a casa pra você ter uma noção" Digo 

Faço um tour com ele.

Era uma casa muito grande, tinha dois andares, dois banheiros, três quartos, uma cozinha e uma sala grande...pra mim que morava sozinha era gigantesca...e mesmo que talvez, um dia, quem sabe, eu encontre alguém que queira ficar comigo, talvez eu já vou estar velha demais eu não vou ter filhos....mas enfim...

"Acho que já sei mais ou menos por onde começar. Bem eu vou pra casa, essa semana eu entro em contato com você pra mostrar o projeto, okay? " ele diz 

" Okay...mas como você vai entrar em contato comigo se eu não tenho seu telefone?" Pergunto 

" Eu tenho o cartão de uma mecânica bem durona, qualquer coisa eu ligo pra ela, aí ela passa pra você " ele diz me fazendo rir um pouco

Abro a porta pra ele .

"Até mais Charlie" Ele diz com um sorriso gentil

"Até, Dean " Digo 

Agora sim estou vendo algum parentesco com Glenda. 

Ele não era de tudo um entojo....

Alguns dias depois, no sábado de manhã, resolvo dar uma corrida pelo quarteirão. Procurava sempre fazer algum tipo de atividade...me ajudava a liberar serotonina e evitar ficar depressiva.

Não ia abrir a oficina hoje.....

Chego em casa e tomo uma água.

Meu telefone toca. Era Dean

" Oi Charlie, terminei o projeto" Ele diz

" Nossa foi até rápido" Digo 

" A planta original que você me enviou ajudou bastante. Se quiser eu posso levar aí pra você ver " Ele diz 

" Bem pode ser, se não for incômodo." digo

" Não é não. Chego aí em meia hora " Ele diz e desliga o telefone

Estava suada por conta da corrida....Resolvo tomar um banho antes dele chegar.

" Uau...ficou perfeito..." Digo olhando para o tablet, ele fez até uma planta 3d

Eu pedi que Dean diminuisse um dos quartos que ficava no térreo, fizesse uma lavanderia, e fizesse algumas modificações no quintal de trás. Ele fez tudo do jeito que eu queria.

" Se quiser pode fazer alterações pra deixar do seu gosto" Ele diz

Não precisava mudar, tava perfeito. Ele era bom no que fazia.

" Não...está perfeito. Eu amei.....agora a parte crítica. Qual o valor final?" pergunto 

Ele me mostra um papel com os custos de materiais e mão de obra.

" Você aceita rim como pagamento?" Pergunto e ele ri.

" Se você conhecer algum médico clandestino, sim" Ele diz, o que me faz rir.

O projeto dele tava perfeito. Ele era detalhista e eu gostava disso. 

" Okay, pode começar o projeto. Exatamente como está aqui" Digo 

" Perfeito. Eu vou redigir o contrato e te envio." Ele diz "Podemos começar na segunda, está bom pra você?" 

" Está ótimo, vou te dar uma cópia da chave pra caso precise quando eu não estiver em casa, ás vezes eu saio cedo ou chego tarde. Dessa forma se você chegar e eu não estiver, pode abrir e se eu não tiver voltado quando terminar, pode trancar a casa." Digo

''Combinado" Ele diz com um leve sorriso

As obras começam.

Alguns dias depois eu chego em casa do trabalho, e vou vistoriar a obra.

"Vou admitir, achei que ia ficar um caos...mas até que tá um caos organizadinho...gostei" Digo com um sorriso fazendo um joia pra Dean.

Ele disse que seria melhor e mais rápido fazer por cômodos. Gostei da idéia.

Ele estava no quarto onde ia ser a lavanderia.

Ele sorri e faz um joia em seguida.

Esses dias que estavam passando eu estava tendo mais convivência com ele....e até que ele era um cara legal....

"Por hoje é só, amanhã eu tenho que comprar alguns canos , pra poder terminar o sistema de distribuição de água. Você já decidiu a cor que vai querer a lavanderia?" Ele pergunta

"Hmmm acho que branco, com detalhes em madeira ia ficar legal..." Digo

"Beleza, eu vou indo então" Ele diz e eu o acompanho até a porta

"Até amanhã" Ele diz sorrindo

"Até" Digo e fecho a porta.

Vou até a cozinha pra fazer algo pra mim, estava morta de fome.

Depois de pegar algumas coisas, escuto a campanhia tocar

Abro a porta e vejo Dean.

"Oi de novo" Ele diz um pouco sem graça

"Tá tudo bem?" Pergunto

Vejo ele coçar a nuca, parecia sem jeito....

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