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Luciana Mendez
Sabe aquele dia em que acontecem coisas tão ruins que você para e pensa: "Por que cargas d'agua fui sair de casa?"
Pensa também que gostaria de recomeçar o dia e fazer diferente.
Nesse caso o botão "RESET" não existe e não funciona!
Na verdade em nenhum caso! A questão é que o ocorrido comigo hoje mais cedo não foi algo bobo como brigar feio com alguém que gosto muito ou bater o pé numa pedra e machucar feio o dedão.
Fui sequestrada! Isso mesmo, sequestrada!
Saí de casa por volta das sete e meia da manhã, tinha uma entrevista de emprego.
Entrevista essa que custei para conseguir!
Me*da! Tinha de fazer compras para casa, o que meu pai irá comer?
O cartão de crédito está aqui comigo! Tudo na verdade!
No caso tudo que estava dentro da bolsa.
Fui sequestrada a poucos metros da minha casa.
Colocaram um pano com um líquido próximo ao meu rosto, essa é a única coisa que eu me lembro.
Depois acordei nessa espécie de galpão com a boca amordaçada e as mãos e os pés amarrados.
O que acaba sendo irrelevante. Digo isso porquê estou dentro de uma cela.
Cela igual aquelas da cadeia, sabe?
Quero entender o que eu fiz para parar aqui!
Que pensamento bobo!
Desde quando alguma pessoa mal caráter que cometer esse tipo de crime fica procurando motivos para fazer isso?
As pessoas que fazem esse tipo de coisa é a mando de alguém e normalmente as vítimas são culpadas ou serão usadas para extorquir alguém.
Como sei de tudo isso? Assisto muitas séries policiais e programas de jornalismo.
Só tem duas questões! A primeira é que não estou devendo dinheiro a ninguém.
Apenas para empresa de cartão de crédito.
No caso a fatura venceu a duas semanas e eu ia pagar hoje de manhã.
Tecnicamente não é dívida! Não matei ninguém, não ameacei ninguém.
A questão da extorsão não daria em nada. Moro apenas com o meu pai, a nossa condição financeira é boa.
Não somos ricos, nem nada do tipo. Vivemos bem, confortavelmente.
Sei lá acho que estou apenas tentando encontrar algum motivo.
Eu juro que sou uma boa pessoa. Posso ser um pouco surtada e meio barraqueira, mais não sou criminosa.
Já estou aqui a duas horas. Como sei?
Coloquei um alarme no meu telefone.
O alarme seria acionado quando fosse nove e meia da manhã.
Nessa hora fiquei revoltada! Revoltada porquê escolhi um toque tão chato e repetitivo.
Na situação que estou se torna irritante. A bolsa está comigo, a alça esta no meu ombro.
Não dá para desligar! Essa é a verdadeira tortura, droga!
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Foram longos dez minutos. E finalmente o barulho do alarme cessou.
Respirei aliviada. Aliviada pelo barulho ter cessado.
Um dos problemas foi resolvido! Agora o maior desafio será descobrir uma forma de sair daqui.
Quando levantei da cama hoje pela manhã, as expectativas estavam bem altas.
Havia planejado como seriam os próximos meses de trabalho se tudo acontecesse como eu esperava.
E olhe só onde estou agora! Num galpão/cela de tamanho bom, tem uma boa circulação de ar.
Ao menos estou vendo tudo. Mesmo que seja algo óbvio!
Paredes, grades de ferro, uma porta com fechadura.
Esse cenário parece muito com os dos filmes de terror/suspense.
Aqueles onde a vítima é forçada a contar o que sabe sobre algo ou alguém, ou corre risco de morte.
Cruzes! Por que penso essas coisas? Só eu mesma para ser tão doida!
Minha barriga começou a roncar. Me*da! Por que não tomei um café da manhã reforçado?
Ao menos devia saber que três barrinhas de cereal de aveia com banana e quinhentos mls e água de coco não dariam saciedade.
Que droga! Parece que não dei uma dentro hoje.
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No meio da fome e do tédio adormeci. Não sei como consegui pegar no sono estando num lugar tão macabro quanto este.
Silencioso demais. Ao menos foi o que pensei antes de ouvir barulhos de passos.
Fiquei feliz. Ainda não sabia o por quê. Quem sabe alguém que por alguma razão chegou aqui.
Tá! Eu sei! Essa foi a suposição mais idiota que tive.
Um homem parou em frente às barras de metal e sorriu para mim.
— Vejo que a minha futura esposa finalmente acordou, é mais bonita pessoalmente!
Arregalei os olhos em pânico. Futura esposa? Do que esse louco está falando?
— Bom... ainda não sabe de nada, não é mesmo?
O homem loiro de olhos azuis e bem vestido exclamou em tom de deboche.
— Esclarecerei as coisas! O seu querido papai te vendeu para mim e é claro, eu aceitei! Ainda mais sabendo como é bonita! E geniosa eu suponho..
O tom dele é totalmente sarcástico. Que história louca é essa de ter sido vendida pelo meu pai?
Acho que ele pegou a pessoa errada. O meu pai jamais faria isso comigo!
JAMAIS! Disso eu não tenho dúvida!
— Não, você não é a pessoa errada! Luciana Mendez, correto?
Que bizarro! Como ele..como? Ok, essa foi uma coincidência bem estranha.
— Deixe-me contar algo que você não sabe! O seu querido pai é um viciado em jogos de azar e deu muito azar kkkk! Entendeu a piada?
Não estava acreditando no que estava ouvindo!
Essa piada foi péssima! Fiz questão que ele soubesse disso.
Revirei os olhos bem devagar. Queria que esse maluco entendesse que não vi graça nenhuma na mentira que ele estava me contando.
— Não estou mentindo e posso provar! Acha mesmo que o seu pai sai cedo todas as manhãs e volta para casa todas as noite com garrafas de vinho caríssimas e queijo importado por sorte ou porquê ele mesmo comprou? Foi muita ingenuidade da sua parte! Fala sério, foi muito boba! As vezes, o seu pai ganhava a boa quantia, mas a sorte não é eterna! E no último jogo o seu pai apostou você! Apostou o bem mais precioso, essas palavras são deles.
O homem loiro de olhos claros desdenhou de mim.
Mais que po**a! Parando para pensar aqui, o tal homem descreveu exatamente o que meu pai fez e...
Não! Eu não posso acreditar numa coisa dessas!
— Acredite no que estou dizendo! Não teria motivos para mentir, sabe como é! Negócios são apenas negócios, e garanto que não sou de desperdiçar uma boa oferta!
O homem abriu um sorriso malicioso. Que raio de lugar eu fui parar!
Tenho que descobrir uma forma de sair daqui o mais rápido possível.
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Luciana Mendez
Aquele cara estava me testando! Só podia ser algum tipo de brincadeira de mal gosto.
E sabe qual o pior de tudo? Não posso sequer dizer nada.
PORQUE ESTOU AMORDAÇADA! MAIS QUE PO**A!
— Existem algumas coisas que precisa saber, Luciana!
O homem loiro de olhos azuis olhou fixamente para mim.
Caramba por essa eu não esperava! Devo ser doente mesmo!
Hora super conveniente para sentir uma pontinha de e*citação lá na minha florzinha?
Tenho certeza que é pelo fato de um homem estar me olhando daquela maneira, do que uma atração se*ual por ele.
Hellooo. Era a explicação mais lógica.
Estalos. Estalos e mais estalos. Balancei a cabeça e o homem riu.
— Agora que retornou a esse mundo tem algumas coisas que você precisa saber!
Nossa! Como esse cara consegue ser tão chato e repetitivo?
Tipo.. ele acha mesmo que vou ouvi-lo?
Se não estivesse amordaçada, estaria rindo.
Debochando da cara dele. Esse engravatado é engomado não sabe com quem está lidando.
Não sou como essas garotas que crescem sem algum propósito na vida e procuram um homem para custear a vontade que elas tem de ostentar e se mostrar para os outros como se não tivessem problemas por terem dinheiro.
No meu caso, eu não quero estar aqui. E não o procurei.
Ele me achou. Infelizmente eu não tinha escolha!
Por isso fingi interesse no que aquele cara tinha a dizer.
Do contrário tenho certeza que ele repetiria a mesma frase e isso sim seria uma tortura pior que o toque que escolhi para o meu alarme.
E por falar em alarme. Acredito que o próximo já deveria ter tocado.
Será que o meu celular descarregou? E por que estou preocupada com isso?
Não poderia mexer no celular.
PORQUE FUI SEQUESTRADA! ACHO QUE O MEU SUBCONSCIENTE AINDA NÃO SE DEU CONTA DA SITUAÇÃO DE BARRIL EM QUE ESTOU!
— Preste atenção, garota! Não repetirei!
O homem de olhos claros apertou os olhos e franziu os lábios.
Xi! Ele ficou nervosinho. Que vontade de rir. Se ao menos desse para fazer isso.
Que pedaço de pano vagabundo que colocaram para me amordaçar.
O cara não é rico? Por que usa algo tão podre e de baixa qualidade para me amordaçar?
Olha eu de novo surtando pelo meu "aposento real".
No caso a qualidade do tecido.
Ai, ai!
Ficar nesse lugar está me fazendo surtar.
— MAIS QUE PO**A! QUAL O SEU PROBLEMA?
Agora ele surtou! De verdade. Sinceramente pensei que o cara fosse um pouco mais equilibrado.
E ainda se acha um "CEO". "Eu reconheço um bom negócio, quando ele está na minha frente"
Na minha cabeça a frase combinou perfeitamente com aquele cara arrogante e metido a besta.
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Após alguns minutos de um silêncio constrangedor e de um par de olhos furiosos me encarando, o engravatado começou a dizer quais eram as regras ou sei lá o que eu precisasse saber.
-Como minha propriedade me deve total obediência.
Revirei os olhos. Esse cara acha mesmo que sou como um prédio, fazenda ou compras exorbitantes para dizer que sou como uma propriedade.
Eu achei que estava ficando louca por estar aqui dentro, agora começo a pensar que a loucura está afetando quem está do lado de fora.
Pensando bem agora prefiro ficar aqui dentro desse cômodo/cela.
Acho que o sol deve estar afetando os neurônios desse cara.
Ao menos acho que está fazendo sol lá fora.
Mal lembro quanto tempo se passou desde que "acordei" aqui.
— Está proibida de falar com estranhos.
Inclinei-me para frente. Foi um movimento tâo involuntário que rolei para o lado.
Não deu para segurar essa. Namoral, tinha duas opções.
Ou eu deitava no chão de barriga para cima e me sacudia de um lado para o outro.
Ou eu fingia que simplesmente perdi o equilíbrio.
O tapado começou a rir. Ao menos não gritará comigo.
Por enquanto. Pois se ele acha que conseguirá me controlar irá se decepcionar.
Sou autêntica. Não posso ser mudada por imposição de alguém, se tiver de mudar será porque eu mesma decidi fazê-lo.
Uau! Frase bem poética. Pensando bem quero ficar nesse lugar mais um tempo, sinto que a minha mente está se abrindo.
Esse meu lado poético até um minuto atrás era completamente desconhecido.
A proibição de falar com estranhos está sendo quebrada por ambos.
Eu não o conheço e ele não me conhece. Até agora essas regras estão sem pé e nem cabeça.
Será que ele está assistindo muito filme de suspense?
Acho que em algum momento, esse homem pensou estar no controle da situação.
Isso porquê eu sem dizer uma única palavra consegui irritá-lo.
O silêncio. O gelo. O silêncio dói. Machuca.
-Só poderá sair de casa acompanhada, por mim é claro!
Aquele louco abriu um largo sorriso. Não acredito que seja possível que esse homem não tenha um pingo de noção!
Ele me sequestra e acha que vou querer sair com ele?
Nem que me paguem!
-Vestirá o que disser para vestir! Tenho uma reputação a zelar!
O homem loiro de olhos claros respondeu em tom firme.
Parece que ele não aprende. Onde quer chegar com tudo isso?
São exigências tão bobas até agora! Para tornar-se de fato uma figura assustadora e imponente precisa ao menos me ameaçar!
-Se me desobedecer sofrerá as consequências!
Aí está a ameaça! Maravilha!
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Depois do último contato com o Mr. Insuportável...
Sim! O apelidei! Até parece que ninguém nunca fez isso com uma pessoa idiota.
Idiota é muito genérico. Gosto de como "Mr. Insuportável" soa bem no meu subconsciente.
Estou louca para dizer com toda vontade o quão insuportável ele é.
Voltando ao que estava dizendo anteriormente, depois do último contato com o Mr. Insuportável não o vi mais.
Acho que ele perdeu mesmo a paciência comigo!
Não é para menos, não sou uma pessoa fácil de lidar!
Acho que de alguma forma isso funciona para ele!
Deixar-me aqui sozinha. Na companhia dos meus pensamentos mais loucos, engraçados e profundos.
Que com toda certeza são bem mais importantes do que qualquer coisa que ele poderia me dizer.
Ou ele apenas está dando um gelo em mim.
Boa sorte para ele. Não sou uma pessoa que cede facilmente.
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Adormeci. Acho que o meu corpo está começando a se cansar.
Está ficando um pouco escuro aqui. Com certeza, esse idiota apagou algumaas luzes para assustar-me.
Tenho certeza de que ainda está no início da tarde.
O meu celular o qual pensei estar desligado tocou.
O segundo alarme era um aviso para iembrar de comer alguma coisa.
Deve ser umas dez para uma da tarde. A barriga está roncando.
Seria uma boa hora para o Mr. Insuportável aparecer.
Será que esse bobão está tentando me castigar por não ouvi-lo?
Não serei ignorada! Como ele ousa fazer isso comigo?
Exijo um tratamento melhor! Não pedi para estar aqui, ao menos deveria dar-me algo para comer.
Ainda bem que não estou com vontade de ir ao banheiro.
Estaria perdida! Ou mijaria nas calças. Pior seria o cocô!
Não daria para dar um jeito. Eca! Estou com fome e acabei de falar sobre urina e fezes.
Sou muito doida mesmo.
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Nossa que sede! Que droga! Até tenho uma garrafa de água na bolsa.
Observo a bolsa e percebo que ela estava aberta esse tempo todo.
Inclinei os braços para frente e consigo alcançar a tampinha da garrafa.
E com muito sacrifício vou girando bem devagar a garrafinha que para o meu azar não estava tão cheia.
Droga de vício de água! Não é bem um vício, mas amo beber água.
Estava perto do fim. Consegui segurar a garrafa com cuidado e encostei a garrafa no pano que estava na minha boca.
Boa parte da água caiu na minha roupa. Ao menos consegui beber um pouco.
Assim que ouvi barulhos de passos coloquei a garrafa de volta na bolsa.
E deitei no chão ao lado contrário para que seja lá quem estivesse passando não constatasse a minha roupa e a boca molhada.
Quando já não conseguia mais ouvir os passos, coloquei a tampa de volta na garrafa e me sentei.
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Falei tanto do banheiro que agorasim, comecei a sentir vontade de ir.
Tive de respirar fundo e acalmar-me.
Procurei com os olhos algumas coisa que talvez não estivesse aqui antes para caso a vontade voltar ao menos para dar um jeitinho.
Nada. Não tinha nada. Agora ferrou. Ao menos a minha roupa está seca.
Preciso manter a calma e controlar a respiração.
Sou bem mais forte que isso. Já passei por muitas coisas nessa vida com o meu pai.
E por falar em pai, que história é essa de vício em jogo?
Nunca suspeitei de nada. Ou ele fingia muito bem ou de fato esse homem de olhos claros estava mentindo.
Sinceramente não sei no que devo acreditar.
Chega a ser um absurdo eu duvidar da palavra do meu pai, mas estou aqui presa nesse lugar e até agora nada!
Se esse engravatado conhece o meu pai e ele já tomou conhecimento do meu desaparecimento, era para estar aqui!
Quem me garante que ele não fez isso? Estou muito confusa.
Foram muitas coisas para assimilar em pouco tempo.
A decepção e frustração por não ter conseguido chegar a entrevista.
Era uma oportunidade muito boa. Ficaria um pouco mais independente financeiramente.
Meu pai sempre me deu amor e carinho.
Nunca deixou faltar nada dentro de casa.
O que eu mais queria era cuidar dele. E tentar retribuir em vida o que ele fez por mim.
Depois que a pessoa morre não serve para nada tentar elogiar e dizer que era uma pessoa boa.
Ele não poderá ouvir, porquê não estará entre os vivos.
Estou com um mal pressentimento. Será que de fato o meu pai se envolveu com jogos e esse cara o assassinou?
E inventou essa história de que fui vendida pelo meu pai?
É bem possível! Apesar de achar essa possibilidade do meu pai ser um viciado em jogo totalmente fora da realidade.
Meu pai sempre foi um homem trabalhador, honesto.
Nunca levantou a mão para me bater, sempre me respeitou e cuidou de mim.
Ele também não tinha vícios. Nem em cigarros, nem em bebidas.
Os amigos dele bem que tentam levá-lo para festas, e raramente o meu pai os acompanha.
Ele é muito caseiro. Adora fazer comida no fogo a lenha, churrasco é a especialidade dele!
Será que o meu pai está aprisionado assim como eu?
Será que está em alguma cômodo/cela daqui?
Talvez. Agora parando para pensar seria muito fácil.
Meu pai pode estar correndo perigo em outro lugar.
Ou até pode estar sendo torturado. Sinto as lágrimas descerem dos meus olhos.
Calma Luciana! Você não pode perder o controle agora!
Precisa pensar racionalmente! Deve haver alguma brecha, algo que possa ser usado para escapar.
Olho para os lados e não tem nada. Na minha bolsa só tem a minha carteira, o celular, protetor solar e a garrafa que tinha água.
Não coloquei nem uma bala Juquinha. E mesmo se tivesse colocado não poderia comer.
Ai, ai! Como posso pensar em deliciar-me com a melhor marca de balas que existe num momento como esse?
Tem uma explicação mais que óbvia!
ESTOU MORRENDO DE FOME!
Ao menos a bala enganaria a fome. Por alguns minutos, ficaria feliz.
Deixaria a endorfina falar mais alto e me transportar para um lugar bem longe daqui.
Qualquer lugar. Até mesmo o esgoto mais sujo da cidade e..
Não! Não siu tão destemida assim! Deixe-me pensar em outro lugar.
Um padaria. Ai sim, hein! A primeira coisa que pediria ao atendente seriam cinco balas Juquinha!
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