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Protejam-se Deles

Nada de festa

 

 

 

 

_ Maria! A mamãe já te falou várias vezes que não é educado comer de boca aberta.

    Maria, a filha caçula dos Santos tenta manter a postura segurando forçadamente o choro.

_ Pai? Olha o que o Gustavo fez na toalha de mesa.

    Natália, a filha mais velha, chama a atenção para a bagunça que o irmão acaba de fazer.

_ Gustavo?

_ Você fez onze anos ontem, já pode começar a se comportar como um rapaz. Nem a Maria com quatro anos faz isso, você Natália, ajude e ensine antes de dedurar. Hoje você tem dezesseis anos, mas não foi muito tempo atrás que vivíamos atrás de você juntando tudo que tirava do lugar, seu apelido era pequeno dilúvio.

    Marina

e Roberto

se conheceram a mais de vinte anos e estão juntos desde então. Ele é um excelente arquiteto, tem uma visão futurista e auto sustentável. Marina cedeu a pressão dos pais, não queria ser médica, seu sonho sempre foi ser cantora, tomou gosto pela profissão assim que salvou sua primeira vida. Sempre canta nas horas vagas, apesar de ser difícil ter um momento só seu.

_ Mamãe? Tem mais mel?

_ Não coma tanto mel Maria. Pode te dar dor na barriga. Você não é uma abelha certo?

_ Não!

_ Até porque as abelhas tem bulimia e você não!  

_ O que é bumilia?

_ Algo que não exige sua preocupação minha filha. Natália? Sério mesmo? Você quer que eu explique para ela o que é?

_ Desculpa pai. É que eu vi em um documentário...

_ Depois quero saber mais sobre isso. Agora tenho que ir.

    Roberto pega a pasta que estava ao lado do seu pé direito e beija a testa de todos.

_ Amor? Mais tarde vamos assistir o filme mesmo?

_ É só preparar a pipoca, escolher um filme, aliás, eu escolho, o último que você escolheu foi péssimo.

_ Eu sei! Todo mundo dormiu e não eram nem dez horas. E você seu engraçadinho, foi o primeiro que eu vi!

    Roberto dá um sorriso, beija Marina novamente e se despede.

_ Mãe? Posso passar na casa da Clara depois da escola?

_ Não! Lembra que ficou de buscar a Maria na creche? E hoje é minha folga, quero aproveitar ao máximo meu dia. Tenho tanta coisas para fazer que nem sei por onde começar.

_ Mas...

_ Não me venha com mas. Eu sei que você quer ir para casa da Clara porque o Guilherme estará lá, nada contra você estar encantada com esse rapaz. O problema é seu pai, confio em você e sei que irá pensar em mim antes de fazer algo que se arrependa, mas seu pai irá te martelar até que fique rente a madeira.

_ E eu faço o que hoje?

_ Bom! Depois que você e Natália chegarem do colégio, já terei adiantado pelo menos umas três lojas, o aniversário é seu Gustavo, mas quem está resolvendo tudo? Então só peço a vocês que aguardem eu chegar para arrumamos o que der, a Maria só estará em casa no fim da tarde, então temos esse tempo para trabalhar em conjunto. Pode ser?

_ Tudo bem!

_ Caso não tenham mais nenhuma dúvida ou pedido podemos ir! Deixem a mesa aí mesmo, não vai dar tempo de arrumar sem que nos atrasemos, resolvo isso na volta.

   Sexta-feira está seguindo normalmente, nada em absoluto fora dos eixos. Marina deixa Gustavo e Natália na escola, segue sentido centro da cidade para deixar Maria na creche e depois segue para cumprir com suas visitas.

_ Oi amor! Esqueci de te falar do painel. Não irei conseguir buscar, pode quebrar essa? Não esquece de me responder.

    Marina manda um áudio para Roberto.

_ Merda! Essa rua não tem jeito mesmo, sempre engarrafada. Imagine quando esses prédios ficarem prontos. Mais carros, mais trânsito.

    Ela liga o rádio, deixa na mesma estação de sempre, a música que toca no momento é Imagine de John Lennon. Ela arrisca algumas letras, balança os ombros junto a melodia e olha para o trânsito tentando não se deixar levar pela raiva. Apesar de estar se sentindo extremamente frustrada com a demora muito mais excedente que a de costume, resolveu firmemente que isso não iria estragar seu dia. Depois de muito custo, chegou na primeira loja.

_ Bom dia! Gostaria de falar com a Sandra.

_ Oi? Você deve ser a Marina. Sou eu mesma que vou te ajudar, a Sandra vai se atrasar e pediu para que eu lhe atendesse.

_ Entendo! Quase não cheguei também, pensei em desistir com tanto congestionamento.

_ Tudo que foi solicitado já está separado. A única coisa que não temos são os saquinhos na cor azul.

_ Sem problemas!

_ A senhora prefere ver outras cores?

_ Imagine você que meu filho pediu que a decoração fosse em três tons de azul. Eu não sei de onde ele tirou isso, por isso que especifiquei tudo azul, terei que ver na outra loja mesmo.

   Depois de resolver tudo Marina sai da loja e entra no carro. Ao olhar o celular, vê que Roberto deixou uma mensagem de voz.

_ Amor! Está tudo bem por aí? Estou vendo que algumas pessoas desmaiaram próximo as barcas. Por onde você está? Acho melhor você ir para casa, estão dizendo na tv e sites que parece algo grave.

    Marina liga.

_ Amor! Se eu não resolver isso como vou fazer depois?  Faltam dois dias apenas. Deve ser esse calor absurdo que está fazendo.

_ Não importa! Ou você vai para casa agora ou eu mesmo vou aí te buscar! Passa no caminho e pega as crianças. Vou arrumar uma desculpa aqui e ir para casa em uma hora no máximo.

_ Tudo bem! Mas não precisa ficar nervoso assim.

_ Liga o rádio... Melhor, vou te passar um link.

    Marina recebe o link e abre. logo antes de ler, algo em seus pensamentos denota que não seriam notícias falsas devido a credibilidade do site. Nele uma repórter diz:

_ “As informações são de que a polícia militar conteve cerca de seis homens e duas mulheres que estariam agredindo os que passavam sem que houvessem motivos, dezenas de pessoas estavam desmaiando na praça quinze. Todos foram levados para o hospital. Alguns passageiros da companhia Barcas S.A. desmaiaram durante o percurso da viagem, outros após desembarcarem.”

    Acompanhando a notícia Marina podia ver algumas pessoas no chão sendo socorridas, assim pôde ver que as coisas não estavam indo bem como havia imaginado.

_ Amor! Vou buscar as crianças, mas só para te ver mais tranquilo. Sinceramente acho que não é nada com que nos preocupemos.

_ Tá bem amor! Te vejo em casa logo, depois te ajudo a resolver tudo que quiser, faz o que eu estou te pedindo só dessa vez.

    Marina volta o trajeto com menos trânsito que antes.  Na creche arrumou uma desculpa qualquer, pegou Maria e em seguida passou na escola, colocando Natália e Gustavo no carro. Sem querer demonstrar nervosismo, ela dirige para casa.

_ Mãe? Está tudo bem?

_ Está sim querida!

_ Eu te conheço mãe! Eu sei que você não está bem! Estamos assustados, o que aconteceu?

_ Nada demais Natália. Seu pai irá chegar em casa logo. Enquanto isso sem perguntas ok?

_ Tá!

_ Mas eu nem cheguei a lanchar!

_ Pode comer no carro Gustavo! Mas somente dessa vez.

    Todos chegaram em casa. Marina se sentou no sofá da sala, ligou a tv para ver alguma notícia sobre o ocorrido. Nos principais canais falam sobre uma possível pandemia, um vírus desconhecido que tem se espalhado rapidamente no Rio de Janeiro. O repórter do estúdio de gravações acaba de anunciar a chegada de uma equipe de filmagem  na Praça Quinze de Novembro quase que preparada para entrar ao vivo, Marina esquece os barulhos que as crianças estão fazendo, não desviando sua atenção na tela nenhum segundo.  Finalmente a equipe entra ao vivo, a repórter parece desenvolver as mesmas informações já cedidas, nada que já não soubesse, ela percebe que estão segurando a audiência com mero preenchimento de tempo e desliga a TV.

    Ela liga para Roberto.

_ Oi? Já está vindo para casa?

_ Oi amor!  Estou indo agora mesmo. Está tudo bem?

_ Não muito bem. Meu dia está sendo muito diferente do que calculei, muito mesmo! Não tem nada de novidade sobre o ocorrido, acho que foi exagero da sua parte. Agora estou em casa sem saber o que fazer, não posso levar as crianças para resolver os preparativos da festinha, do jeito que está não farei mais nada. Ainda preciso avisar um monte de gente que cancelaremos.

_ Amor? Calma! Estou indo para casa e falamos sobre tudo. Vou desligar, não posso dirigir falando com você, estou quase chegando em casa.

_ Tá! Beijo.

    Marina se levanta e vai organizar a louça que havia deixado.

_ Crianças!

    Todos atendem o chamado indo para cozinha.

_ Vocês estão em casa hoje, mas não significa que não irão cumprir com suas obrigações. Natália e Gustavo irão me ajudar a recolher as louças da mesa, terminando isso, quero que peguem seus cadernos e passem a limpo suas matérias.

_ Mas mãe? Eu ia pedir para jogar videogame agora!

_ E vai jogar! Assim que terminar suas lições.

    Natália e Gustavo terminam de ajudar com a mesa e começam os estudos a contragosto.

_ Maria fica aqui comigo para fazermos o almoço juntas, o que você acha?

_ Mas eu não sei fazer comida!

_ Por isso quero você aqui comigo. Pode ser?

    Marina separa um pequeno pote de feijão para mero entretenimento. Pediu para retirar qualquer coisa que não fosse feijão e separasse a parte. Seguiu nos afazeres até que Roberto chega em casa.

_ Cheguei! Tem alguém com vontade de comer chocolate?

_ Eu!

    Maria responde antes dos irmãos.

_ Eu também!

_ E eu.

    Responde Gustavo por último com um certo descontentamento.

_ Roberto!

    Marina chama a atenção do marido com um olhar fixo sobre a bancada quase toda ocupada com legumes e verduras.

_ Mas amor! Deixa só hoje. Já sei, dou um pedaço pequeno para eles e depois do almoço eles comem o restante.

_ Tá bem!

_ Você tem alguma novidade sobre o ocorrido no centro?

_ Eu cheguei a ligar a televisão para ver, mas tudo que diz é o mesmo. Ninguém sabe a causa em si.

_ O cara lá do trabalho vem de barca todos os dias. Ele disse que quando a confusão começou na Praça Quinze, já estava aguardando para embarcar e como estava cheio não deu para ver muito. Disse que algumas pessoas estavam falando que chegaram a ser agredidas sem saber o motivo. Alguns desmaiaram no percurso até a Praça Araribóia, depois na saída da barca e que alguns convulsionavam e vomitavam.

    O telefone de Marina toca e ela atende no viva-voz

_ Oi Paula?

_ Oi Marina! Está podendo falar?

_ Sim, Pode falar.

_ A equipe hoje está sobrecarregada. Temos alguns pacientes aqui que estão dando um trabalho extra. Tivemos que amarrar eles, mas não sabemos o que fazer. Tem como você vir hoje?

    Roberto está de frente para ela acenando que não de forma desesperada.

_ Não posso! Estou sozinha com as crianças, tenho que terminar o almoço ainda. Estamos numa loucura aqui em casa. Mas se precisar de mim amanhã vejo o que posso fazer.

_ Tudo bem então! É que alguns funcionários faltaram e realmente está puxado.

_ A única coisa que posso desejar é boa sorte. Desculpa amiga, mas não posso ajudar.

_ Está bem! Então até logo.

_ Até.

_ Marina! Precisamos saber o que está acontecendo agora!

_ Você me parece muito preocupado. Eu poderia ter ido ajudar e você ficaria aqui cuidando das crianças.

_ Me escuta! Alguns desses pacientes podem ter vindo desses da Praça Quinze?

_ Senão todos! O hospitais mais próximos tem preferência sempre.

_ Liga para a Paula!

_ Para quê?

_ Para coletar informações.

_ Roberto! Promete que depois que eu fizer o que você está me pedindo, irá parar com tudo isso que está fazendo.

_ Só liga! Por favor.

    Ela retorna a ligação para Paula.

_ Oi Marina?

_ Oi Paula. Então! Eu quero tirar com você uma dúvida. Tem algum paciente vindo da situação das barcas?

_ Estamos sobrecarregados justamente por isso! Não temos prognósticos, não sabemos com o que estamos lidando, tem algumas equipes de reportagem aqui fora cobrando respostas...

_ Mas e sobre o sintomas desses pacientes?

_ Temos oito deles aqui! Todos apresentaram convulsões, febre, baixíssimos batimento cardíaco, palidez, delírios e a maioria tem vomitado um líquido escuro. Os que acordam apresentam agressividade, olhos opacos. Um deles mordeu uma enfermeira, algum tempo depois ela desmaiou. Não temos certeza, mas parece que a contaminação do que quer que tenha neles passou-se através da mordida.

_ Nossa que loucura!

_ Tenho que ir!

    Antes de desligar Marina e Roberto ouvem no fundo alguém gritar loucamente.

_ Quando ela disse que estava uma loucura eu não imaginava assim.

_ Crianças! Venham aqui.

    Natália e Gustavo aparecem.

_ Vocês precisam ouvir o papai e obedecer sem questionamento. Ok?

    Respondem sim com a cabeça. Marina não está entendendo onde Roberto quer chegar.

_ Vamos fazer assim. Natália ajuda a Maria a juntar uma bolsa de roupas, depois junte as suas! Gustavo a mesma coisa.

_ Eu tenho que pegar para quantos dias?

_ Boa pergunta filho. Pode pegar para uma semana. E não esqueçam de pegar roupas de frio. Vamos viajar.

_ Roberto? Você acha que estamos correndo perigo em ficar aqui?

_ Tenho certeza! Pensa comigo. Se algumas pessoas desmaiaram no centro do Rio, outras nas barcas, outras no centro de Niterói. Isso quer dizer que os bairros adjacentes já estão comprometidos. Você ouviu ela falar dos sintomas, vai dizer que estou exagerando?

_ Não! É que nós temos policiamento, profissionais de saúde preparados.

_ Preparados para um surto de raiva? Ou melhor, preparados para uma doença desconhecida? Imagine amanhã como isso já terá desenvolvido.

_ Existem alguns sintomas parecidos com o vírus da raiva. Confusão mental, agressividade, alucinações, convulsão, febre. Mas esse contaminação não se dá tão rápido. Não assim!

_ Isso é pior! Vamos deixar esses questionamentos para depois. Precisamos deixar tudo pronto para sairmos de Niterói hoje mesmo!

_ E para onde iremos?

_ Você se lembra de um projeto que eu estava envolvido a uns seis ou sete anos atrás?

_ Sim! Para aquele homem podre de rico. Aquele esnobe que me apresentou naquele jantar.

_ Ele pediu para projetarmos uma casa auto sustentável, queria que servisse como um modelo para as casas do futuro. O que você não sabe, é que ele pediu para não declararmos um espaço  subterrâneo enorme! Disse que ficaria me devendo por isso. Não trabalho por debaixo dos panos, porém, me ofereceu uma quantia relevante. Nossa casa não foi comprada com anos de economia, eu menti para não gerar desentendimentos entre nós. A questão é que lá tem um tipo de bunker com comida para anos, além de um espaço gigantesco de área cultivada e muros reforçados. Lá é seguro.

_ E você acha que ele irá nos deixar ficar lá assim sem mais nem menos?

_ Isso eu resolvo. Enquanto entro em contato com ele, termine o almoço com calma, depois iremos abastecer o carro com tudo que pudermos achar na despensa.

 

    Mariana continua com suas tarefas e Roberto vai a seu pequeno escritório afim de achar o contato de seu antigo cliente. Ele prefere manter uma agenda em sua gaveta devido as inúmeras vezes que perdeu seus contatos salvos no celular. Localiza rapidamente o número e liga.

_ Construtora Ferraz em que posso ajudar?

_ Bom dia! O senhor Joaquim Ferraz pode falar? Sou um de seus colaboradores.

_ Infelizmente o senhor Ferraz se encontra no sul da França. Seu retorno somente no mês que vem.

_ Há sim! Então tentarei entrar em contato pelo número móvel. Obrigado.

_ Por nada.

    Após encerrar a ligação Roberto verifica o número do celular pessoal dele e liga de imediato.

_ Olá?

_ Oi! Aqui é o Roberto Santos, o engenheiro que ajudou a projetar sua casa no sítio Ferraz.

_ Quanto tempo meu amigo! Em que posso lhe ser útil?

_ A um tempo atrás contei para minha família sobre sua fazenda e todos ficaram encantados. Todos estão insistindo em conhecer. O motivo de te ligar é...

_ Não precisa terminar! Você e sua família são bem vindos sempre. Chegando no portão principal digite a senha que irei enviá-lo. Ao entrarem saberão que são meus convidados.

_ Muito obrigado! Provavelmente chegaremos hoje mesmo. Então aguardo a senha, qualquer coisa que precisar estou a sua disposição.

_ Obrigado meu amigo! Sempre soube que poderia contar com você, tenho um novo projeto que gostaria de lhe apresentar para me ajudar com algumas elucidações. Quando voltar ao Brasil entro em contato. Agora tenho que ir, minha esposa está fazendo cara feia achando que estou tratando de assuntos de trabalho. Au revoir.

    Sem que pudesse responder, a chamada foi encerrada. Em questão de segundos uma senha de seis dígitos é recebida.

_ Marina? Marina!

_ Não precisa gritar! E aí? Conseguiu?

_ Me diz o que eu não consigo?

_ Ser menos convencido?

_ Vamos partir hoje a noite. Você pode arrumar tudo que precisamos com calma, preciso passar em Botafogo para buscar minha mãe.

_ E sua irmã?

_ Você convence a Júlia muito mais rápido. Deixo isso com você.

_ Amor?

_ Diga!

_ Sei lá! Você acha mesmo que é uma boa ideia?

_ Só te peço que confie em mim. A única coisa que quero é ver minha família bem e segura. Não estou te pedindo para abandonarmos nossas vidas, não quero que pense que estou tento um momento de loucura. Você está vendo o que aconteceu, você que é da área da saúde pode me dizer alguma coisa que me faça pensar diferente?

_ Na verdade... Não!

_ Vamos fazer o combinado,  acompanhamos as notícias de lá. Estamos no olho do furacão, isso pode ser algo grande ou nada, mas quando a dúvida assola melhor não descuidar.

_ Quanto antes você ir melhor. Vou dizer as crianças que foi buscar sua mãe para viajar conosco, não se esqueça de voltar logo. Quando chegar já estaremos prontos.

    Roberto pega o celular e liga para sua mãe. O telefone chama diversas vezes e ninguém atende.

_ Ninguém atende! Droga!

_ Calma! Hoje é sexta-feira, provavelmente foi caminhar como sempre faz. Ela gosta de passar no mercado, bater papo naquela banca de jornal perto do apartamento dela.

_ Bom! Vou logo.

    Roberto se levanta rapidamente, pega a chave do carro e o celular. Da um beijo na esposa e vai direto para garagem. Marina ouve o motor do carro ligar, em seguida o arranque. Volta para sala tentando manter a postura de sempre, mas seus olhos marinados não conseguem entrar no disfarce.

_ Mãe? O almoço tá pronto?

_ Já estou quase terminando Gustavo! Cadê Natália?

_ Não sei mãe.

_ Natália! Vem aqui!

    Marina aguarda a resposta ou a presença, nenhuma das opções são atendidas.

_ Gustavo? Vai ver se sua irmã está no quarto, deve estar com os fones.

_ Tá!

_ Maria. Promete para mamãe que quando você estiver na adolescência não irá dar trabalho.

_ Não vou ter que trabalhar mamãe?

    Marina acha graça da inocência de Maria. Ela sempre tem uma resposta inesperada.

_ Mãe! A Natália não está no quarto. O celular dela está na cama.

_ Fica com sua irmã um pouco que vou achar essa garota. O almoço já está quase pronto, agora essa.

    Marina procura por toda casa até concluir que Natália saiu escondida.

_ Gustavo! Você irá vigiar sua irmã um pouco, tenho uma ideia de onde sua irmã possa estar. Por favor! Te peço para não deixar de vigiar a Maria. Posso confiar em você?

_ Claro que não né mãe! Brincadeira, pode sim.

    Marina pega a chave do carro e corre para frente da casa. Ela presume que Natália esteja na casa da amiga, lembra que Clara ainda está para chegar do colégio, mesmo assim é o único lugar que vem em mente.

 

Volto logo

 

 

 

 

 

    Chegando na casa Marina toca o interfone e aguarda. A mãe de Clara atende.

_ Quem é?

_ Oi Eunice é a Marina!

_ Oi minha querida! Vou abrir o portão.    Marina entra e como sempre é muito bem recebida.

_ Tudo bem?

_ Mais ou menos! Sabe como são os adolescentes né? A Natália saiu de casa sem me comunicar, como havia pedido para vir aqui, pensei em começar a procurar...

_ Nossa! Eu não a vi hoje. A Clara está para chegar daqui a pouco, talvez ela saiba de alguma coisa, as duas estão grudadas ultimamente.

_ Sim! Seria muito incômodo esperar um pouco aqui na sala? Vejo que está ocupada com o almoço.

_ Imagina! Venha para cozinha, vamos colocar o papo em dia. Não precisa ficar assim nervosa, essas meninas são assim mesmo, daqui a pouco verá que chegarão juntas.

_ Se importa de ligar para Clara? A Natália deixou o celular em casa.

_ Vou ligar!

_ Obrigada!

_ O telefone dela Parece estar desligado. Tentei duas vezes e cai na caixa postal.

    Quase uma hora se passou e nem sinal das duas. Agora Eunice também se preocupa.

_ Vou na escola! Qualquer coisa liga pra mim, deixei meus outros filhos em casa, então tenho que correr!

_ Ligo sim!

    Marina se despede de Eunice e entra no carro. Antes de virar a chave avista Natália e Clara virando a esquina. De súbito seu coração acelera, sua expressão de alívio é evidente, logo em seguida muda para raiva. Ela buzina afim de chamar a atenção das duas esperando que se aproximem.

_ Oi dona Marina! Tudo bem?

_ Me digam vocês! Está tudo bem? Eu pareço bem?

_ Mãe! Eu só...

_ Entra no carro agora! Clara vai para casa! Sua mãe está preocupada.

_ Então tchau amiga.

    Responde Natália sem graça.

_ O que você pensa que está fazendo?

_ Eu tinha prometido que passaria o sábado com ela. Mas você e o pai resolveram essa viagem do nada!

_ Sua filha da puta! Quase me mata do coração. Seu pai foi buscar sua avó! Eu preciso resolver uma porrada de coisas e você desaparece assim? Minha vontade é de... Olha nem sei. Vamos pra casa e você vai ficar no quarto refletindo.

    Marina encosta a cabeça no volante em choro.

_ Desculpa mãe! Eu ia deixar ela em casa e logo iria voltar. Pensei que nem fossem perceber.

_ Deixei seus irmãos sozinhos por causa dessa sua empreitada! Essa não vou deixar passar, fique sabendo que você terá uma conversa com seu pai! Agora vamos que estou preocupada com seus irmãos.

    Ao chegar Marina se acalma ao constatar que tudo vai bem. Lembra- se então que precisa ligar para Júlia.

_ Natália?

_ Oi mãe!

_ Sirva o almoço para vocês. Vou ligar para sua tia.

_ Tá bem!

    Marina vai para sala ligar a televisão. Senta-se no sofá e liga para Júlia.

_ Oi Cunhada! Pode falar agora?

_ Posso! E como vão os preparativos para festinha do Gustavo? Eu sei que prometi ajudar, mas estou cheia de pedidos em atraso, dois funcionários não apareceram e para completar um maluco apareceu aqui com uma faca dizendo que era o fim do mundo. Queria levar três carrinhos de compra na marra. O dia está cada vez melhor!

_ Nossa que loucura! Espero que vocês estejam bem, mas não é o aniversário o motivo de ter ligado! Na verdade iremos cancelar, ainda não liguei para ninguém, vou comunicar por redes sociais mesmo. Assim vai todo mundo saber de uma vez só.

_ Mas como assim? Não entendi!

_ Vai entender assim que possível. Mudanças de planos! Vamos para um sítio, ou fazenda. Não sei bem ainda, queremos comemorar lá. Como é de última hora, vamos sair hoje a noite. Pode fazer uma mala simples, para um fim de semana...

_ Como assim? De quem foi essa ideia?

_ Do Roberto!

_ Ele endoidou foi? Como assim? Do nada. Com quem vou deixar meu gato? E meu trabalho? Sinto muito mas não vai dar para eu ir.

_ Eu sei que é de última hora e tudo mais. Mas você conhece seu irmão quando põe alguma coisa na cabeça. Ele está indo buscar sua mãe para ir com a gente.

_ Ainda tem essa?

_ Calma! Tudo bem que a relação de vocês não é nada fácil, mas pensa no Gustavo. Ele disse que você é a única tia que ele gosta.

_ Também! Só tem eu de tia!

    Ambas riem timidamente.

_ É eu sei. Minha família não vem para o Rio nos visitar desde sei lá quando. Mas a questão não é essa! Venha para cá e traga o Bartolomeu.

_ Já que é de tão última hora posso levar o Flávio?

_ Você não estava com aquele italiano?

_ O Francesco? Tem um tempão isso. Quer um conselho?

_ Diga!

_ Nunca se apaixone por estrangeiros.

_ E esse Flávio é de onde?

_ Daqui mesmo!

_ Leva ele então! Não esquece de chegar aqui às dezoito horas sem falta.

_ Impossível! O Flávio chega por volta das dez.

_ Muito tarde! Temos mais ou menos três horas de viagem até lá.

_ Lá onde? Não me disse onde vamos.

_ Surpresa! Pode deixar que você irá gostar. Quanto ao Flávio, podemos mandar o endereço para ele. O que você acha? Ele vai depois.

_ Pode ser!

_ Então estamos combinadas. Se puder chegar aqui mais cedo ganha um brinde!

_ Vou fazer o possível. Vou aproveitar então e abastecer a mala de bebidas. Quero meu brinde! Se for de comer melhor ainda! Beijos!

    Júlia faz barulho de beijo e desliga. Marina olha a televisão na programação de sempre, não traz nenhuma novidade. Ela segue para mesa afim de almoçar junto as crianças.

_ E aí gente? A comida está gostosa?

_ Está sim mãe!

_ É Gustavo? Bom saber. Vou almoçar com vocês agora.

_ Eu também gostei muito mamãe!

_ Que bom Maria! Põe mais batata para ficar bem forte!

_ Eu comi seis pedaços já!

_ Então melhor parar com a batata e terminar as ervilhas meu amor! Natália! O que falamos sobre celular na mesa?

    Natália mantém sua atenção no aparelho, sua expressão denota profundo interesse e asco ao mesmo tempo.

_ Natália? Eu estou falando com você!

_ Desculpa mãe! É que está viralizando um vídeo estranho. Dizem que não é fake e não parece mesmo.

_ E é sobre o que?

_ Olha!

    Natália entrega o celular para mãe. A localização marcada é na cidade ao lado, foi postado a uma hora. O vídeo mostra pessoas saindo desesperadas de um ônibus. Um homem banhado de sangue sobre uma mulher, segurando-a pelos cabelos e mordendo seu pescoço. Alguém conseguiu filmar pela janela, ele mastigando distraído, não parece se importar com nada nem ninguém. Dois policiais chegam atirando e o vídeo se encerra. A única coisa que Marina tem em mente agora, é a certeza de que Roberto está um passo a frente dela e que ele corre mais perigo que haviam imaginado.

_ Mãe?

_ Oi?

_ Será que é verdade mesmo?

_ Eu duvido filha. Eles devem ter aproveitado o lance ocorrido mais cedo para ganhar visualizações. Hoje em dia tudo é notícia, até que se prove se é falsa ou não já ganharam alguma coisa com isso.

_ Mas mãe! Não tem só um vídeo! Tem outro no Flamengo. Outro em São Conrado.

    Marina olha para o auto como se pedisse a Deus proteção para Roberto. Ela sabe que dona Eliana é teimosa, que convence-la de vir será difícil.

    Marina corre para sala novamente e liga para Roberto.

_ Oi amor! Está tudo bem?

_ Comigo sim. Mas o trânsito está parado aqui no Aterro do Flamengo. Sabe de alguma coisa?

_ Acabei de saber que ocorreu um caso parecido com o do hospital aí no Flamengo. Só pode ser isso. Vem para casa Roberto, vamos pedir um carro para sua mãe.

_ Você sabe que preciso convencer ela pessoalmente. Aliás, estou a poucas quadras de distância.

_ Pelo amor de Deus! Nem que você tenha que desmaiar dona Eliana, não perca tempo!

_ Tudo bem! Se acalma, volto logo. Verá que vai dar tudo certo.

    Marina ouve um barulho de batida muito alto, logo em seguida uma buzina contínua.

_ Roberto?

    O desespero toma conta de Marina. Ela aguarda resposta mas não a obtém.

_ Roberto! Por favor responde!

    Ela não faz a menor ideia do que fazer. Seu corpo  inerente a suas vontades começa a ficar gelado e quente ao mesmo tempo. Um formigamento que começa em suas extremidades passa a circular por toda parte.

_ Roberto?

_ Mãe? O que aconteceu com o pai?

_ Nada filha! Foi a ligação que caiu! Fica com seus irmãos! Está tudo bem!

    Marina vai para o banheiro chorar. Ela se preocupa em não fazer muito barulho. Quer manter sua postura diante dos filhos, mesmo que para ela seja quase impossível no momento.

 

_ Que porra é essa?

    Roberto acorda com muita dor na cabeça. Ao verificar sobre o ocorrido, identifica que um carro em alta velocidade bateu na traseira de seu veículo jogando-o contra o carro da frente. Ao olhar para trás, vê uma mulher presa ao cinto de segurança, ela parece um animal sem alma. Seus olhos são pálidos como os de um defunto, ela tenta esticar os braços para os curiosos que a assistem. Roberto lembra que estava em ligação com Marina e acha o celular perto dos pés. Retorna a ligação.

_ Alô? 

_ Oi amor!

_ Graças a Deus! Está tudo bem? O que aconteceu?

_ Uma batida! Mas estou bem! Só o carro que não vou conseguir dirigir mais. Vou a pé buscar minha mãe e pego o carro dela. Logo estarei aí.

_ Por favor! Vai logo, vou ligar para sua mãe para ela se adiantar.

_ Amor?

_ Diga!

_ Só por pura precaução irei enviar a senha que precisamos para digitar na entrada.

_ Não vai não! Você mesmo irá digita-la quando chegarmos lá!

_ Não seja boba! Eu posso perder o telefone, esquecer ou sei lá. Somente por isso, com certeza vamos juntos. Agora deixa eu ligar para minha mãe, melhor que eu mesmo faça isso.

_ Roberto? Promete que virá?

_ Eu prometo! Até já!

    Roberto desliga e envia a senha. Liga para mãe, como já imaginava ninguém atende. Ele acelera os passos até finalmente chegar na portaria do prédio.

_ Boa tarde seu Joaquim! Tudo bem?

_ O que aconteceu seu Roberto? O senhor está sangrando.

_ Isso não foi nada! Apenas uma queda pela minha distração. A mamãe está em casa?

_ Olha rapaz! Dona Eliana saiu mais cedo, disse que ia fazer uma caminhada e depois iria almoçar na rua mesmo. Ainda não voltou.

_ Para piorar ela não usa celular!

_ Ela costuma almoçar naquele restaurante aqui do lado,  duas quadras daqui.

_ Vou lá agora!

_ Aqui! Pega esse lenço e se limpa um pouco.

_ Obrigado meu amigo. Se me desencontrar com ela diga por gentileza que fique em casa.

_ Pode deixar seu Roberto!

    Roberto sabe que precisa correr. O acidente o fez ter mais certeza do caos que se aproxima, ele percebe que as pessoas em sua volta não estão dando devida atenção sobre o que tem acontecido. Julga ser inútil perda de tempo tentar alertar as pessoas envolvidas em seus problemas cotidianos. Ele segue para o restaurante na esperança de achar a mãe.

 

 

 

Caia na real

 

 

 

 

 

    Natália bate na porta do banheiro.

_ Mãe? tá tudo bem?

_ Está sim minha filha! Você sabe como é aqueles dias.

_ Eu ouvi você chorando!

_ Não é nada! Você sabe como ficamos mais sensíveis nesses dias.

_  Vou colocar um filme para Gustavo e Maria. Quer assistir?

_ Boa ideia! Primeiro ajude seus irmãos a arrumarem as bolsas!

_ Tá bem!

    Marina busca o número de Paula e liga.

_ Oi Paula! Como estão as coisas por aí?

_ Ainda uma loucura! Os pacientes não respondem a nenhum sedativo,  nem a morfina. Infelizmente foi comprovado que o vírus mata o hospedeiro para depois agir de uma forma mais plena. É como se o sistema nervoso central se reiniciasse com um novo padrão.

_ Você quer dizer que os pacientes...

_ Que os pacientes morrem e em alguns minutos voltam com essa nova forma de agir. Sem batimento cardíaco, sem raciocínio lógico, sem vida propriamente dito. Lembra da enfermeira que foi mordida?

_ Sim!

_ Apresentou todos os sintomas até vir a óbito. Ensacamos o corpo que em minutos começou a se mexer. Não estamos sabendo lidar com o que está acontecendo. Prendemos todos na sala de cirurgia.

_ Paula! Se você disse que o sistema nervoso central parece reiniciar, o que precisa ser feito é desligar.

_ Como?

_ Deslocamento na distribuição do sistema nervoso. Uma contusão na C1, ou uma séria lesão no cerebelo. Comunique as autoridades quanto a necessidade de defesa. Faça isso circular na imprensa.

_ O diretor ordenou que não fosse passada nenhuma informação sem que ele seja consultado.

_ Não importa o que ele diz. Essa doença irá se espalhar rápido, caso não tenhamos um plano de contenção as coisas irão ruir rapidamente. Existem alguns vídeos circulando, mas sem o aparo de um órgão responsável as pessoas não darão credibilidade.

_ Entendo. E o que você sugere que eu faça?

_ Grave um vídeo do que está acontecendo aí dentro! A imprensa ainda está aguardando aí fora?

_ Como mosquitos em água parada.

_ Ótimo! Entregue a eles e peça que façam um alerta nacional. Ainda não sabemos a abrangência dos casos, temos que fazer isso o quanto antes.

_ Entendi!

_ Meu marido  conseguiu um lugar seguro. Se você puder vir conosco. Eu sei que mora sozinha, estará vulnerável. Partiremos a noite.

_ Fui escalada para cobrir a Patrícia amanhã.

_ Esquece isso! As coisas não irão melhorar! Logo chegarão mais pacientes infectados, entenda que estaremos fardados ao caos. Esse tipo de situação não é parecida de longe com qualquer epidemia. Você sabe muito bem que os primeiros lugares a serem afetados nesses casos são os hospitais.

_ E teria vaga para mim nesse lugar?

_ Claro que sim! Vai por mim, você não vai querer estar aí quando tudo virar uma loucura.

_ Tudo bem então! Estarei aí assim que anoitecer.

_ Venha com seu carro! Se puder junte todo medicamento que achar prudente.

_ OK!  Até logo.

_ Até! Se cuida.

    Marina encerra a ligação e vai para cozinha.

_ Natália! Vem aqui na cozinha.

_ Fala mãe.

_ Vou precisar que você me ajude. Como você sabe, as coisas não estão muito boas. Temos que ir para esse lugar e nos mantermos seguros. Aconteça o que acontecer sempre fique de olho em seus irmãos, entendeu?

_ Sim mãe. Mas o que a senhora quer dizer?

_ Você é a mais velha de seus irmãos. Seu pai e eu sempre zelamos pelo bem estar de vocês, agora preciso que você faça isso mais do que nunca. Esses vídeos circulando são reais, temos que manter nosso raciocínio muito equilibrado para não nos perdermos em nós mesmos. Seu pai e eu precisaremos que você seja muito forte. Entendeu?

    Natália olha para mãe sem saber o que responder. Até então, achou que os vídeos não eram reais. Achou realmente que estaria indo para uma comemoração de última hora.

_ Mas mãe! Você mesmo disse que esses vídeos não passam de mentiras.

_ Eu sei o que disse. Nem eu queria acreditar, mas agora precisamos lidar com a realidade dos fatos.

_ Então quer dizer que as pessoas estão comendo as outras por aí?

_ É isso!

    Natália gela. O medo a faz paralisar por completo.

_ Você está bem?

_ Não mãe! Não é melhor então fechar as janelas e portas? Sei lá! Ficarmos em silêncio?

_ Ainda temos tempo até que chegue a esse ponto. Estamos adiantados, o que precisamos agora é Mantermos a calma. Iremos para um lugar seguro, seu pai foi buscar sua avó e logo estará de volta. Sua tia Júlia virá, assim como a Paula lá do hospital. Partiremos todos juntos, será mais seguro. Entende que preciso que me ajude com seus irmãos?

_ Sim mãe. Eu ajudo no que precisar.

_ Obrigado minha filha. Não deixe que seu irmão fique sabendo de absolutamente nada. Deixa para quando chegarmos.

 

    Roberto chega no restaurante. Busca em cada canto por sua mãe e acaba constatando que ali ela não está. Ele se encaminha para o caixa.

_ Com licença! O senhor sabe me informar se a dona Eliana esteve aqui hoje?

_ Dona Eliana? Seria aquela senhora que sempre usa conjunto?

_ Essa mesma!

_ Se o senhor chegasse a uns cinco minutos teria encontrado com ela.

_ Sou filho dela. Acabei de vir do prédio dela, não estava lá e agora não está aqui.

_ Hoje é seu dia de sorte. Ela saiu daqui dizendo que iria passar no Largo do Machado para ir ao banco. Se o senhor correr a encontrará.

_ Muitíssimo obrigado meu amigo! Tenha um bom dia.

    Roberto corre pelas ruas desviando de tudo e de todos. Não demora muito até avistar sua mãe a alguns metros a sua frente. Ao se aproximar toca em seu ombro direito.

_ Mãe!

_ Filho? O que é isso? O que faz por aqui?

_ Mãe! Eu preciso que venha comigo.

_ Para onde? Estou indo ao banco para...

_ Não da tempo para explicar agora. A senhora está precisando de dinheiro? Eu te transfiro quanto precisar, mas preciso que venha comigo.

_ Não preciso de dinheiro! Graças a Deus tenho uma boa pensão. Seu pai apesar de não valer muito, deixou uma conta...

_ Não importa mãe! Vamos para casa, eu preciso que venha comigo.

_ Mas meu cartão está bloqueado! Passei uma vergonha no restaurante e ainda tenho que voltar lá para pagar meu...

_ Segunda feira eu mesmo estarei aqui para resolver isso junto a senhora na sua agência! Temos que ir!

_ Mas posso saber o porquê de tanta pressa?

_ O aniversário do seu neto é esse fim de semana e alugamos um lugar chiquérrimo do jeito que a senhora gosta.

_ É mesmo?

_ É!

_ O Gustavo disse que só vai se a vó dele estiver com ele.

_ Eu sempre soube que os meninos são mais chegados as avós que aos avôs. Então vamos logo, segunda sem falta você irá comigo mesmo?

_ Na volta de lá. Prometo.

    E assim a tarde caminha para quase duas horas. Roberto sabe que precisa apressar ao máximo sua mãe, sempre indecisa em qual roupas, adereços, bolsas e afins. Sempre usa as mesmas peças alegando marcarem melhor sua silhueta.

 

    Paula entra na sala onde os infectados estão amarrados. Seus gritos abafados por mordaças a fazem sentir calafrios. Ela sente que precisa filmar de perto então se aproxima de um deles. Seus olhos parecem soltar uma secreção pustulenta avermelhada, o cheiro deles é insuportável, ela usa máscara e ainda assim coloca metade do rosto debaixo de sua blusa.

_ Gente! Eu me chamo Paula Gouveia Lima. Trabalho como chefe de enfermagem no pronto socorro do Hospital Antônio Pedro e essa é a nossa sala de cirurgia. Os vídeos publicados nas redes sociais não são meros boatos. Precisamos agir o quanto antes... Os infectados transmitem o vírus por mordidas. O que sabemos até agora é que a primeira fase é extremamente agressiva e em poucos minutos o vírus causa febre e desmaio. Na segunda fase o todos apresentaram convulsões, infecção severa e logo o paciente vem a óbito. Essa que vocês estão vendo é a terceira fase, o vírus reinicia o sistema nervoso central fazendo com que eles mantenham esse comportamento agressivo. Precisamos que esse vídeo chegue ao conhecimento de todos, defendam-se e que Deus nos ajude.

    Paula encerra o vídeo e sai da sala apressada.

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