O pequeno Orlando, trancado dentro da arca de brinquedos em seu quarto, ouvia os gritos de sua família. Seu pai suplicava pela vida de sua mulher e seus filhos, mas não era isso que os algozes queriam.
— Não teremos piedade, já que você não teve piedade de nossa família.
— Eu me retiro da licitação e rejeito o prêmio, eu juro , mas não mata minha família, por favor.
Orlando ouviu, quieto, só tinha três aninhos, mas um nome ficou gravado em sua mente:
— Esta é uma lembrança do Senhor Navarro, para você nunca mais se meter com sua família.
O som dos tiros disparados, chegou até a arca e Orlando tampou os ouvidos.
Horas se passaram e o menino dormiu e só acordou, quando um policial abriu, por acaso, o baú e encontrou-o ali dentro.
*
25 anos depois
Emily nem sonhava em nascer, quando a família de Orlando foi dizimada. Não estava acostumada com esse tipo de brutalidade. Era filha dos caseiros, da casa de Campo da família Navarro e vivia bem e tranquilamente. O senhor e a senhora Navarro, vinham com seus dois filhos.
Soube que a mãe dos meninos morreu assassinada e ele casou de novo, com a atual esposa e toda vez que vinham, mandavam seus pais levarem ela para ficar na casa grande. A senhora Navarro não teve filhos e tratava Emily como se fosse sua filha. Era ela que comprava suas roupas, pagava seus estudos e seu plano de saúde, tornando sua vida confortável.
Ela havia completado 18 anos e voltava da escola com os colegas, comemorando o último dia de aula e foram a uma sorveteria. Emily comprou seu sorvete e saiu com sua melhor amiga, Kátia, até o playground das crianças. Ficava no parque central da cidade, um lugar arborizado e amplo, onde muitos jovens estavam jogando bola ou frisbee.
Elas conversavam, sentadas no gramado, observando os meninos. Sorriam alegres e viram quando um rapaz entrou no jogo. Era bonito e parecia mais velho que os outros, mas não dava para dizer sua idade. Em um passe errado, a bola veio parar perto das meninas e justamente ele veio buscar.
— Olá, meninas! Sou o Lando, vim morar na cidade faz pouco tempo.
— Eu sou a Kátia e esta é minha amiga Emily.
— Prazer, vocês moram na cidade dade? Podiam me ajudar a conhecer tudo por aqui.
— Ei, Lando, traz a bola! — um dos rapazes gritou.
Ele piscou um olho e sorriu para as meninas, se virando e correndo. Elas ficaram entusiasmadas, pois não era todo dia que um rapaz bonito, flertava com elas.
Depois desse dia, Emily voltou a se encontrar com Lando e ele investiu em um relacionamento e começaram a namorar. Sempre se encontravam de dia, iam à praia e ao parque, almoçavam e caminhavam pela cidade. O primeiro beijo foi suave e ela ficou corada, mas gostou e correspondeu.
— Você é linda e pura, Emily. Estou apaixonado por você.
Ele segurava o rosto dela, observando o efeito de suas palavras e gostou do que viu.
— Você está me deixando encabulada, mas eu também gosto de você.
Ela abraçou ele pela cintura e escondeu o rosto em seu peito, tímida. Ele a manteve juntinho dele, sentindo que ela estava entregue e beijou sua cabeça. Era mais alto que ela e conseguia envolver todo seu corpo, protegendo-a.
Tomaram um sorvete e ele propôs:
— Que tal sairmos a noite, está passando um filme que gostaria de assistir,mas só encontrei ingressos à noite. Se quiser, posso falar com seus pais.
— Já tenho 18 anos, não preciso pedir à mamãe, só comunicar. Eu vou adorar ir com você ao cinema.
— Então, te pego às sete horas, no sábado, depois comemos algo e te levo pra casa.
O sábado chegou e Emily passou o dia ansiosa, se arrumou com antecedência e sua mãe não parava de sorrir pelo entusiasmo da filha. Foi até a porta, levá-la quando ouviram o barulho da buzina e quando o carro se foi, deu um adeusinho para eles.
Chegaram no cinema, ele pegou os ingressos e foi comprar refrigerante pipoca, enquanto ela esperava. Entraram, ocuparam seus lugares e quando o filme começou, comeram a pipoca e beberam o refrigerante. O filme terminou e ele chamou, mas ela não atendeu. As luzes se acenderam e o lanterninha veio ver o que estava acontecendo.
— Minha namorada dormiu e não consigo acordá-la. Acho que escolhi um filme errado para assistir com ela. Vou levá-la no colo.
O funcionário do cinema verificou se realmente ela estava viva e respirando e liberou a saída dos dois. Lando foi para o estacionamento, abriu a porta do passageiro e sentou-a, prendendo o cinto de segurança.
Dirigiu tranquilamente, saindo da cidade e depois de duas horas, entrou em uma garagem subterrânea e depois de sair do carro, passou por um corredor e entrou em um quarto, totalmente fechado.
Ele tirou a roupa dela, se deliciando com a pele sedosa e a perfeição de suas curvas. Tirou a própria roupa e se deitou ao lado dela, a olhando e esperando-a acordar. Passou um tempo e viu que ela se moveu e abriu os olhos, se alongando. Ele então agiu.
— Ah…
Emily sentiu o beijo dele e suas mãos acariciando seu corpo, se deixou levar, ainda sentindo o entorpecimento de sua mente. Ele se esmerou em amá-lá, tornando sua primeira vez, um momento especial e prazeroso. Colocou a camisinha, sem que ela percebesse e quando a penetrou, ela estava tão excitada, que quase não sentiu dor.
Quando terminaram, ele a puxou para seu peito e esperou que dormisse, então se vestiu e saiu, trancando a porta. Foi embora daquele lugar no meio do nada e sequer olhou para trás.
Começava, agora, sua vingança.
Nunca mais, a família Navarro, veria sua filha. Foi para seu apartamento, era uma cobertura, no predio mais alto da cidade. Serviu-se de uma dose de whisky e foi até a janela, contemplar o céu enluarado. Um sorriso pairava em seu rosto, satisfeito.
— Aquela vadia até que era gostosa. Não faz ideia do que espera por ela.
Emily acordou aos poucos e percebeu que estava sozinho. Sentou-se e lembrou o que havia feito, sorrindo. Não esperava por aquilo, mas foi bom, muito bom. Espreguiçou sem vergonha por estar nua. Olhou em volta e viu uma porta aberta, que devia ser o banheiro e era o que precisava com urgência.
Foi direto para o box e urinou enquanto deixava a água cair sobre o seu corpo. Sabia que arderia e encontrou um sabonete íntimo, com o qual se lavou, agradecendo pelo cuidado de Lando, com ela. Depois de vestir o roupão atoalhado e escovar os dentes com uma escova nova, que estava sobre a pia, saiu e explorou o quarto.
Além da cama, havia um frigobar, uma mesa com cadeira, duas mesinhas de cabeceira e um guarda roupas, recolheu suas roupas no chão e foi até o armário e dentro havia dois uniformes de faxineira, com pecas íntimas novas e sapatos baixos. Franziu a testa e foi até a porta de entrada do quarto e estava trancada.
Bateu, chamou, gritou e ninguém atendeu. Cansou e foi ao frigobar, encontrando caixas de suco e água de côco. Também tinham garrafas de água e vários pacotes de biscoitos e frutas. Comeu, sentindo falta de café, mas era melhor do que nada.
Não havia nada que pudesse ajudar a passar o tempo. Abriu tudo e verificou o que tinha e o quanto duraria. Tentou evitar de comer e beber muito, para economizar. Bebeu água e sentindo sono, dormiu. O tempo foi passando, sempre da mesma forma e perdeu a noção do tempo.
*
Enquanto isso, os pais de Emily, estavam desesperados. Passaram-se cinco dias e eles avisaram a polícia. Descobriram que ela saiu do cinema carregada pelo namorado. A polícia investigou tudo, mas a placa do carro era fria e foi encontrado na beira da estrada, onde devem ter trocado de carro.
Agora os Navarro chegaram e com eles um completo aparato de proteção e investigação. Esperavam um contato de quem quer que a levou.
— Desculpe, senhor Navarro, não cuidamos bem de nossa menina. — disse o pai.
— A culpa é minha. Ela estava namorando, o rapaz a tratava bem e foi a primeira vez que saíram a noite. — assumiu a mãe.
— Quem iria querer a filha de caseiros? — disse o pai.
— Acalmem-se. Vamos esperar, voltem ao seu trabalho habitual e deixem tudo conosco. Afinal, isso pode ser só uma fuga de amantes.
Carlos Navarro
— Não fale assim dela, ela é uma menina decente e não uma vadia como suas noras. — disse a Sra. Navarro, recebendo um tapa forte no rosto, que a derrubou no sofá.
Ester Navarro
— Cale essa boca, mulher, não é a hora de falar demais.
O telefone tocou e estava ligado a aparelhos, o Sr. Navarro esperou e atendeu devagar:
— Alô?
— Como vai, Sr Navarro, espero que mal. Aqui é Orlando Vargas, só para desejar muitas saudades. Adeus.
Desligou o telefone, sem dizer mais nada e Navarro gritou, sabia quem era o homem e o que significava seus dizeres.
Nunca mais veria sua Emily!
Tanto sacrifício em viver longe da filha e não adiantou. Aquela praga, sobrevivente dos Vargas, além de estar prejudicando seus negócios, levou a sua filha, o bem mais precioso que tem.
— Infelizmente, não conseguimos determinar o local da ligação, senhor.
— Eu já sei, podem desarmar tudo e tirar daqui, ele não vai mais ligar.
A Sra. Navarro deu um grito de dor, como se uma espada atravessasse seu coração.
— VOCÊ! — levantou-se e socou o peito do marido — Você é o culpado pelo sumiço dela, você a tirou de mim, eu te odeio, te odeio!
Ele deu outro tapa em seu rosto, a derrubado mais uma vez e saiu. Não tinha mais por que ficar ali, iria correr atrás do prejuízo. Aquele fedelho não levaria mais nada do que era seu.
*
Um homem alto e forte entrou no quarto onde estava Emily, que dormia pelo efeito da droga contida na água. Atrás dele vinha uma mulher bem vestida, de meia idade.
— Pobrezinha, ainda está de roupão, vire-se, que vou vesti-la.
Depois de vestida, o homem a colocou no ombro e sairam, apagando a luz e fechando tudo. Emily não viu o caminho que tomaram, nem que andou de avião pela primeira vez na vida e chegou em outra casa grande, tradicional, onde foi colocada em um quarto de empregada, onde só tinha uma cama de solteiro e uma cômoda.
A mulher que a buscou a chamou:
— Emy, acorde, acorde, menina!
Ela acordou, descobrindo que já não estava no mesmo lugar, olhou para a mulher que a acordou, sem entender nada.
— Onde estou?
— Na casa do Senhor Orlando Vargas. Seus pais a venderam e agora você é uma serva desta casa. Sou a governanta, Sra. Mollie. Venha, vou lhe mostrar o serviço.
Emily levantou-se como um autómato e pediu para ir ao banheiro, antes. A Sra. Mollie, mostrou uma porta no corredor e esperou do lado de fora. Emilly encontrou apetrechos e se arrumou, percebendo que usava um dos uniformes e estava até calçada.
Saiu e a governanta foi dando as instruções:
— Você não terá horário fixo de trabalho, começará às sete horas e só parará quando terminar tudo que te mandarem fazer. Esse lugar é isolado de tudo e não tem para onde fugir, temos guardas vigiando toda a área. Você terá roupas e alimento, não se rebele, por favor, será pior para você.
— Quem é esse Sr. Vargas?
— Você o conhecerá, ele te solicitará sempre que estiver em casa.
— Como assim?
— Do modo que as mulheres servem a um homem.
— Mas, mas, eu não sou uma prostituta…
— De certa forma é sim, seus pais a venderam, esqueceu?
Só então Emily se deu conta de que caiu em um mundo paralelo ou estava tendo um pesadelo. Chegaram à cozinha e a mesa estava posta para os funcionários .
— Coma à vontade, mas às sete em ponto, comece a limpar toda a cozinha, será o seu primeiro afazer do dia.
Olhando em volta, se assustou com a quantidade de louças e panelas sujas, que pareciam ser do dia anterior.
— Alice no país das escravas, essa sou eu, agora. O que mais vem por ai?
Bastou três dias para Emily entender sua nova realidade, era como a gata borralheira, naquele lugar. Uma escrava dos tempos modernos, só não conhecia seu algoz, no que dava graças a Deus. Percebeu que quanto mais rápido limpasse tudo, mais cedo podia ir dormir e se esmerou mais.
Governata Mollie
A governanta apresentou os outros funcionários, mas só ela e o motorista, Igor, a tratavam bem. Com uma semana que estava ali, seus cabelos ficaram secos, as unhas quebraram e a pele ressecou.
Começou a aproveitar o tempo que sobrava à noite para andar discretamente pela casa e conhecer todos os cômodos.
A governanta colocava uma lista dos afazeres de todos, em um quadro na cozinha, e rapidamente, ela cumpria com seus afazeres. Foi em uma dessas vezes, que subiu até o terceiro andar para olhar ao redor da casa, que percebeu que os outros funcionários, principalmente a cozinheira, estavam com maldade com ela.
Ao descer, sorrateiramente, para não ser pega andando onde não foi enviada, ouviu uma conversa na cozinha:
— Aquela idiota nem percebeu que as panelas estão sujas demais, nem deve saber cozinhar. — dizia a cozinheira.
— Pois é, nem percebeu que as comidas não queimam assim, para deixar o fundo das panelas tão pretos.
Na verdade, Emily percebeu, mas não ia criticar a cozinheira, já que a comida parecia tão boa. Esperou que elas saíssem e aproveitando que as panelas estavam quentes, lavou-as rapidamente, e foi logo dormir, pois daria uma outra lição a elas no dia seguinte.
A governanta Mollie, também estava observando, na verdade já havia notado a artimanha da cozinheira e da arrumadeira, mas, hoje, percebeu a presença de Emily, assistindo a maldades das duas e quis ver qual a reação que ela teria e não se surpreendeu, pois notou que Emy, como gostava de chamá-la, tinha um coração bom e era uma jovem humilde.
No dia seguinte, Emily acordou com as galinhas e correu para a cozinha, abriu a geladeira e tirou todos os ingredientes que precisaria para o café da manhã. Eram ao todo oito funcionários com ela e preparou uma mesa farta.
Preparou bolos, torradas, ovos e bacon e colocou todos os frios que tinham na geladeira, sobre a mesa. Fez café, ferveu o leite e fez suco.
— Mas que invasão é essa na minha cozinha?
— Bom dia, senhora Gertie, a senhora trabalha tanto, que resolvi lhe preparar o café, assim pode descansar e parar de queimar a comida.
Da cozinheira quase bateu no chão tal a surpresa que teve, mas sua expressão não era boa e já estava se preparando para brigar com Emily, quando a governanta entrou.
— Mas que café da manhã maravilhoso, pela cara de Gertie, foi Emy que preparou e ainda deixou a louça toda limpa. Isso foi bem providencial.
— Bom dia, senhora Mollie. Por quê foi providencial?
— O patrão chegou essa madrugada e vai gostar muito deste café. Agora, Emy, corra e vá se arrumar, deixei um vestido sobre sua cama.
A Emily ficou tão chocada com a ordem, que paralisou no lugar, sem coragem de sair e ter que enfrentar seu novo destino.
Mole percebeu e foi até ela e puxou-a pelo braço a levando em direção ao anexo para que ela se trocasse.
— Você está suada e fedendo a cozinha, tome um bom banho, lave os cabelos, depile-se, lixe as unhas e esteja pronta para quando ele descer.
— Mas não tenho nada disso!
— Já coloquei tudo o que precisa, no banheiro e no quarto. Não me decepcione, querida,sei que você é a única que pode amolecer aquele coração.
— Do que a senhora está falando?
— Outra hora eu conto a história, mas você vai saber um pouco ao conhecê-lo. Ande, querida, vá se arrumar.
Emily entrou no banheiro e viu as coisas sobre a pia ponto como foi criada de forma simples, sabia tudo o que precisava saber para cuidar de uma casa e de si mesma sozinha. Sua mãe lhe ensinou o que uma dona de casa precisava saber para governar uma casa e aos poucos, ela foi aprendendo a cuidar do próprio cabelo, das suas unhas e da depilação, com a senhora Navarro.
Se ajeitou o mais rápido que pude e tomando um bom banho, lavou bem os cabelos com os novos shampoos perfumados e finalmente saiu do banheiro de roupão, indo para o quarto.
No quarto, havia um vestido sobre a cama, não era chique, nem muito caro, mas era novo e combinava bem com ela. Tinha um corte reto e era de uma cor só, verde. Tinha um cinto do mesmo tecido com uma fivela de madeira no centro, que marcava sua cintura, sapatos scarpin de salto baixo, nudes e ela amou.
Emily chegou no quarto, quando ela havia acabado de se arrumar e ajudou a secar os cabelos. Depois de bem escovados, ela se afastou e olhou a jovem:
— Perfeita, esta bonita e discreta. Agora só depende de você.
— Não sei porque, mas obrigada, senhora.
— Vamos. Ele já acordou e daqui a pouco já vai descer. Já mandei arrumar a mesa do café para ele na sala de jantar e você irá até lá eles ficará de pé ao lado da mesa. Obedeça ao que ele mandar e fique calada.
As duas saíram e chegaram à sala de jantar, no mesmo instante que ele. Ela olhou para ele e não acreditou em quem era e ele olhou para ela, franzindo a testa em desagrado, fitando-a dos pés a cabeça.
— Lando! — sussurrou ela.
— Mas por quê ela está vestida assim? Eu disse que ela é só uma serva desta casa, não tem que ter regalia alguma, vá colocar o uniforme imediatamente.
Emily ficou chocada com aquelas palavras. Aquele não era o mesmo homem com quem ela fez amor pela primeira vez na vida. Não era o namorado doce e respeitoso, mas era um algoz frio e rude. Ela se retirou correndo e foi para o seu quarto, se jogou na cama, chorando.
A cozinheira, se acabava de rir, junto com as outras e estavam à espera do que mais aquela cinderela iria sofrer na mão do patrão. Ele era duro, grosso e cruel e todas as mulheres que passaram pela cama dele sofreram.
Casa de Orlado
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