Rony:
Rony nasceu em Aramat, um reino mágico onde a magia fluía como o ar que se respirava. Era um lugar de maravilhas, onde fadas dançavam em florestas encantadas, e magos teciam feitiços com a destreza de artesãos. Mas a paz de Aramat e de outros reinos foi quebrada por algo terrível que ameaçava engolfar o mundo em trevas.
O medo se espalhou como um incêndio, e os pais de Rony, temendo pelo futuro de seu filho, decidiram deixar Aramat para trás. Eles partiram para Damasco, um mundo distante, onde a magia era apenas um conto de fadas e as pessoas viviam vidas simples e ordinárias. Rony tinha apenas sete anos quando deixou para trás o mundo que conhecia.
A vida em Damasco era diferente. Rony se viu em um mundo estranho, onde as memórias de Aramat se esvaíam como fumaça ao vento. As lembranças se tornaram um eco distante, uma sombra vaga em sua mente.
Apesar da distância, o mundo mágico nunca deixou de existir em Rony. Ele carregava dentro de si um anseio por algo que não conseguia definir, um vazio que o acompanhava como uma sombra.
Quando Rony completou vinte anos, conheceu Vânia. Foi amor à primeira vista, um encontro que iluminou seu mundo e preencheu o vazio que ele carregava há tanto tempo. Vânia era uma jovem de beleza singular, com cabelos ruivos que lhe davam um ar de mistério e olhos que refletiam a força e a coragem de sua alma. Vânia era diferente de tudo que Rony conhecia em Damasco.
Vânia:
Anastácia, a matriarca da família Morlen, era uma visão de rara beleza. Seus cabelos, ruivos emolduravam um rosto delicado, com traços finos e olhos azuis que pareciam refletir o céu. Sua pele, pálida como a porcelana, era salpicada por sardas que pareciam estrelas em um céu noturno. Mas a beleza de Anastácia ia além da aparência física. Havia um brilho em seus olhos, uma aura de mistério e poder que a tornava incrivelmente cativante.
No entanto, essa mesma beleza, essa mesma aura, a condenou. Em uma época de superstições e intolerância, a magia ( o poder de cura) que Anastácia possuía, uma herança de um passado distante, foi interpretada como bruxaria. Ela foi acusada, julgada e condenada à morte.
Décadas se passaram, e a memória de Anastácia se tornou um fantasma, um segredo sussurrado na família Morlen. Vânia, a vigésima geração da família, nasceu com o mesmo cabelo ruivo que Anastácia, uma marca indelével de sua ancestralidade. A cor de seus cabelos, tornou-se um fardo pesado, uma lembrança constante do destino trágico de sua ancestral.
Os pais de Vânia, a rejeitaram. Ela era constantemente comparada à sua prima, uma jovem perfeita, com cabelos negros e olhos azuis, a imagem da família Morlen que eles desejavam. Vânia, a menina de cabelos ruivos, era chamada de estranha, pois seus pais tinham cabelos escuros e depois de décadas, alguém novamente nasce na família Morlen com os cabelos ruivos.
O amor de Vânia por Rony, um jovem de coração puro e alma gentil, foi a única luz em sua vida. Ele a acolheu com amor e compreensão, reconhecendo a beleza que se escondia por trás da tristeza em seus olhos. Juntos, decidiram fugir, construir uma vida longe do preconceito e do medo que assolavam a família Morlen.
Dois anos se passaram, e Vânia, com o coração cheio de saudade, resolveu escrever uma carta para seus pais. Ela esperava que, com o tempo, o amor e a compreensão pudessem superar o medo e a rejeição. Mas a carta, carregada de esperança e afeto, nunca teve resposta.
O nascimento de Jasper, seu filho, reacendeu a chama da esperança em Vânia. Ela escreveu outra carta, desta vez contando sobre seu filho. Ela enviou a carta com um endereço, na esperança de que seus pais, finalmente, a visitassem. Mas o silêncio permaneceu.
No aniversário de sete meses de Jasper, Rony encontrou Vânia abatida, consumida pela tristeza e pela solidão. Ele, então, resolveu escrever uma carta para os sogros, um desabafo carregado de dor e raiva. Ele não sabia, mas a carta nunca chegaria ao seu destinatário. Pois um mês antes, os pais de Vânia haviam sido vítimas de um crime brutal, por cobradores.
O Sr. e a Sra. Davis, apesar da simplicidade de sua vida e da precariedade de sua morada, irradiavam uma bondade contagiante. A pequena casa, de madeira escura e envelhecida, rangia a cada sopro de vento, parecendo sussurrar segredos ao tempo. As tábuas, comidas pela umidade, se curvavam em protesto silencioso, enquanto a tinta descascada revelava a madeira apodrecida sob uma camada de poeira secular. O ar, impregnado pelo odor úmido e terroso do pântano próximo, não era dos mais agradáveis, mas para o casal, era o lar. Apesar das condições precárias, o interior da casa era limpo e organizado, um reflexo da honestidade e do cuidado que permeavam a vida dos Davis. Um pequeno fogão a lenha, quase tão velho quanto a casa, aquecia o ambiente com seu crepitar constante, e uma mesa de madeira rústica, com alguns pratos e talheres simples, compunha o cenário de suas refeições parcas, mas compartilhadas com amor.
O Sr. Davis, um homem alto de pele clara e cabelos escuros que emolduravam um rosto marcado por rugas finas, mas suaves, trabalhava como carpinteiro. Seus dedos, calejados pelo trabalho árduo, possuíam uma destreza surpreendente, capazes de transformar pedaços brutos de madeira em peças de arte funcional. Óculos redondos, de aros finos, emolduravam seus olhos castanho-escuros, que brilhavam com uma inteligência serena e um olhar compassivo. Um sorriso fácil e genuíno, que revelava dentes levemente amarelados pelo tempo e pelo fumo de seu cachimbo ocasional, irradiava bondade e gentileza, capaz de acalmar qualquer coração aflito. Sua postura, embora curvada pelo peso dos anos e do trabalho, emanava dignidade e respeito, refletindo a honestidade e a integridade que o caracterizavam. Ele era um homem simples, mas sua presença impunha uma sensação de conforto e segurança, como a sombra reconfortante de uma velha árvore em um dia de sol escaldante.
Já a Sra. Davis, magra e ágil como um gato, possuía uma cabeleira ruivíssima que caía em ondas suaves, dois dedos abaixo dos ombros. Seus dedos longos e finos, ágeis como bailarinas, moviam-se com uma destreza incrível sobre a agulha e a linha, criando peças de vestuário de uma beleza e qualidade incomparáveis na região. Sua honestidade era tão inabalável quanto sua habilidade, e a reputação de melhor costureira da redondeza a precedia. Apesar do trabalho árduo, seu rosto mantinha uma expressão serena e gentil, emoldurada por sardas que salpicavam suas bochechas como estrelas em um céu noturno. Seus olhos, um azul profundo e penetrante, refletiam a força e a resiliência de seu espírito. Junto ao Sr. Davis, formavam um casal unido pelo amor e pela dedicação mútua. E completando a família, estava Jasper, seu filho, uma criança adorável, de sorriso fácil e olhar calmo, cuja beleza serena era um reflexo do amor que o cercava. Sua presença trazia uma alegria silenciosa à humilde casa, um contraste suave com a precariedade do lar, mas um testemunho do calor e da felicidade que ali floresciam.
Apesar do amor que os unia e da alegria que Jasper trazia, a felicidade dos Davis era constantemente ameaçada por um peso avassalador: as dívidas. O dinheiro, escasso a ponto de mal suprir as necessidades básicas, era um fantasma que assombrava seus dias e suas noites. Quase diariamente, um cobrador diferente batia à sua porta, seus rostos implacáveis e palavras ameaçadoras ecoando na pequena casa. A Sra. Davis, cujo nome completo era Vânia, sentia um medo profundo e constante, um nó na garganta que a sufocava a cada batida insistente. O medo não era apenas pela perda da casa, seu único bem material, mas principalmente pelo que poderiam fazer a Jasper, seu filho precioso. A origem das dívidas era um fardo cruel, uma herança amarga deixada pela família de Vânia, que se afogara em um mar de débitos, deixando-a como única responsável por saldá-los. Os Davis, encurralados pela situação, se viam perdidos em um labirinto de desesperança, sem saber como honrar as dívidas que os esmagavam. A situação se tornava ainda mais misteriosa com o sumiço repentino da família de Vânia. Não houve um adeus, apenas o vazio. Seus pertences, alguns poucos e humildes, desapareceram sem deixar rastros, como se a terra os tivesse engolido. Nenhuma carta, nenhum recado, apenas o silêncio pesado e a sombra da incerteza pairando sobre o mistério do desaparecimento, adicionando ainda mais terror à já angustiante realidade dos Davis. A atmosfera era carregada de um mistério sinistro, como se um véu escuro tivesse caído sobre a pequena casa, misturando-se à umidade do pântano e ao medo constante que habitava o coração de Vânia.
Era uma segunda-feira cinzenta, o tipo de dia que prometia chuva e problemas. O Sr. Davis, Rony, preparava-se para mais um dia de trabalho árduo, quando ouviu uma batida hesitante em sua porta. Ao abri-la, deparou-se com uma figura feminina que lhe pareceu imediatamente estranha. A mulher possuía traços delicados, quase etéreos, mas seus olhos, de um verde incomum e brilhante, emanavam uma estranha intensidade. Seu vestido, de um tecido que Rony não conseguia identificar, parecia antigo e desbotado, mas de uma elegância singular. Antes mesmo que Rony pudesse formular uma pergunta, antes mesmo que pudesse articular um "Bom dia" ou um "Posso ajudá-la?", a mulher, com uma agilidade surpreendente para alguém de sua aparente idade, já se encontrava dentro de sua casa. Seus olhos, rápidos e perspicazes, percorreram o interior modesto e precário, pousando em cada detalhe, cada rachadura na parede, cada tábua rangente. E então, com um suspiro quase imperceptível, ela murmurou, em tom baixo e enigmático:
— Essa madeira... Está tão próxima do fim quanto vocês.
A observação, desnecessária e inquietante, pairou no ar como uma ameaça silenciosa, deixando Rony paralisado, o medo gelando-lhe o sangue nas veias. A mulher, sem dar mais explicações, permaneceu em silêncio, observando-o com aqueles olhos verdes penetrantes, como se lesse seus pensamentos mais profundos.
A mulher, ignorando o espanto evidente no rosto de Rony, continuou sua inspeção implacável da casa. Com um gesto quase teatral, ela apontou sua bengala, de madeira escura e polida, para uma mesinha frágil posicionada ao lado de um sofá surrado. Sobre a mesinha, alguns livros antigos e desgastados pareciam prestes a desabar sob o peso dos anos.
— Isso aqui pode cair a qualquer momento, não acha? — Ela comentou, sua voz carregada de um tom que não era exatamente sarcástico, mas sim profundamente irônico, como se a precariedade da casa fosse uma piada cruel. A bengala tocou levemente a superfície da mesinha, que rangeu em protesto. A paciência da mulher, aparentemente infinita até então, começou a se esgotar. Um leve tremor percorreu seu corpo, e seus olhos verdes brilharam com uma intensidade ainda maior.
— Vânia?
ela perguntou, desta vez com uma firmeza que não deixava espaço para dúvidas. A pergunta não era um pedido educado, mas sim uma exigência, um comando velado que deixava claro que a mulher não tinha tempo a perder. A atmosfera da casa tornou-se ainda mais carregada, o silêncio pesado e expectante, interrompido apenas pelo rangido da velha casa. Rony, petrificado pelo medo e pela estranheza da situação, sentia que algo de extraordinário estava prestes a acontecer.
— E Vânia, onde está? — A mulher repetiu, sua voz agora mais incisiva, cortando o silêncio como uma lâmina afiada. A pergunta era direta, sem rodeios, revelando uma pressa crescente e uma certa impaciência. Rony, ainda atordoado pela entrada inesperada da mulher e por suas observações enigmáticas, tentou responder com a melhor educação possível, mesmo sentindo um frio na espinha.
— Ah, é claro, deve ser uma cliente de Vânia... — Ele gaguejou, tentando parecer natural, apesar da crescente sensação de desconforto. — Engraçado, eu nunca vi a senhora por aqui. — A tentativa de disfarçar sua inquietação foi, no entanto, ineficaz. A mulher sorriu, um sorriso fino e misterioso que não alcançava seus olhos penetrantes.
— É claro que sim, sou uma cliente, mas se você me conhece ou não, isso não é problema meu. — A resposta foi seca, quase rude, confirmando a impressão de que a mulher não estava ali para uma visita social. Seus olhos verdes, fixos em Rony, pareciam avaliar sua honestidade, procurando por qualquer sinal de mentira ou hesitação. A tensão aumentou, o ar ficou mais denso, carregado de uma expectativa que prometia uma reviravolta iminente na tranquila rotina da família Davis.
Enquanto Rony saía para chamar Vânia, a mulher permaneceu na sala, seus olhos verdes examinando cada canto, cada detalhe da casa com uma atenção quase obsessiva. Sua avaliação inicial se confirmou: a estrutura era precária, as tábuas apodrecidas, a umidade se infiltrando por todos os lados. A casa, na verdade, parecia prestes a desabar a qualquer momento. A inquietação da mulher cresceu. Como uma família se estabelece em um lugar assim? Como uma criança poderia ser criada em meio a tanta precariedade? A curiosidade, mais forte que qualquer regra de educação ou etiqueta social, a impulsionou a explorar a casa com mais profundidade. Ela percorreu os cômodos com passos silenciosos e ágeis, observando cada objeto, cada detalhe, como se estivesse decifrando um enigma. A casa, pequena e humilde, revelava a história de uma vida simples, mas repleta de amor e luta. A mulher subiria as escadas se necessário, mas a sorte, ou talvez o destino, a guiou para um quarto aconchegante, onde uma cena comovente a esperava. Ali, em um berço simples, um bebê dormia profundamente, seu rosto sereno e angelical, imerso em sonhos tranquilos e puros. Era uma visão de beleza e inocência que a conquistou instantaneamente. A mulher, até então implacável em sua busca por Vânia, sentiu seu coração amolecer. O amor à primeira vista, não por um homem, mas por uma criança, invadiu seu ser, e ela se aproximou lentamente do berço, seus passos suaves como o cair de pétalas de flor.
— Você é lindo... — Sussurrou a mulher, aproximando-se ainda mais do berço. Seus dedos, longos e delicados, pairaram a centímetros do rosto sereno do bebê, quase tocando-o com um carinho reverente. — É um dos bebês mais lindos que já conheci, e mesmo dormindo fez com que eu me apaixonasse por você... — Ela continuou, sua voz carregada de uma emoção genuína e inesperada. A frieza e a impaciência que a caracterizavam até então haviam desaparecido, substituídas por um afeto profundo e terno — Acredito eu que tenho um presente para você... — Ela murmurou, seus olhos verdes brilhando com uma luz mágica e misteriosa — Vou lhe abençoar... — Disse ela, sua voz ganhando um tom solene e quase ritualístico — Eu, Lupin de Aramat, vos abençoo com amor, humildade, lealdade, e quan... — Mas a frase ficou incompleta, interrompida pela chegada iminente de alguém, interrompendo o momento mágico, deixando a mulher em suspenso, a benção inacabada pairando no ar, como uma promessa a ser cumprida em um futuro incerto.
— O quê você está fazendo? — Perguntou Vânia, sua voz carregada de pavor e surpresa ao encontrar Lupin com as mãos estendidas em direção a Jasper, que dormia serenamente no berço. O medo refletia-se em seus olhos, enquanto ela se aproximava cautelosamente, protetora, pronta para defender seu filho. Lupin, sem se mostrar intimidada, respondeu com calma, quase com indiferença:
— Eu estou dando a ele apenas um presente — A resposta, porém, não acalmou Vânia, nem Rony, que se posicionou ao lado da esposa, seu rosto expressando uma mistura de medo e raiva — Fique longe do nosso filho — ordenou Rony, sua voz firme, apesar do tremor que denunciava seu medo. Vânia, ecoando o sentimento do marido, insistiu:
— O que você quer com ele? — A pergunta era incisiva, exigindo uma resposta clara e direta, sem rodeios. Lupin, mantendo a serenidade quase irritante, respondeu:
— Não precisa se preocupar, eu não vou fazer nada de mal com ele — A afirmação, porém, soou mais como uma promessa vaga do que uma garantia verdadeira, deixando Vânia e Rony ainda mais apreensivos.
Com um movimento rápido e inesperado, Lupin pegou Jasper no colo. Rony e Vânia, já assustados, sentiram o medo se intensificar exponencialmente. O bebê, até então dormindo serenamente, despertou com o movimento, mas não chorou, observando a mulher estranha com uma curiosidade inocente. Lupin, percebendo a apreensão do casal, começou a explicar o real motivo de sua visita, sua voz calma contrastando com a crescente angústia de Rony e Vânia. Ela contou sobre sua origem, sobre um mundo distante e em dificuldades, descrevendo tempos sombrios e incertos que estavam vivendo em sua terra natal. Falou da descrença inicial, da dificuldade de aceitar a realidade cruel que se impunha, da necessidade de agir antes que fosse tarde demais. Mas suas palavras, apesar da sinceridade aparente, não encontravam eco nos corações de Rony e Vânia. Para eles, Lupin era uma estranha, uma figura enigmática que havia surgido do nada em sua humilde casa, carregando consigo um mistério que os deixava desconfortáveis e apavorados. A confiança não existia, e a descrença era uma muralha intransponível entre eles e a mulher que segurava seu filho nos braços. O que realmente importava naquele momento era a segurança de Jasper, a proteção do seu bem mais precioso, que estava nas mãos de alguém desconhecido, alguém que, apesar de suas explicações, permanecia uma figura enigmática e ameaçadora. A tensão era palpável, o medo se instalara profundamente em seus corações, misturando-se à incerteza e à desconfiança.
— Eu estou à procura de um lugar seguro, e vocês foram escolhidos para isso — Disse Lupin, sua voz firme e convicta, apesar da incredulidade evidente nos rostos de Rony e Vânia — Eu fiquei dias observando vocês e sei que vocês farão muito bem isso... Vocês vão ajudar a princesa de Aramat! — Ela completou, sua declaração ainda mais fantasiosa e inacreditável. A menção à "princesa de Aramat" soou como o toque final em uma história de ficção, um elemento surreal que reforçava a incredulidade de Vânia, que, impaciente e desesperada, interrompeu Lupin.
— Calma, você acha que vamos acreditar nessa loucura toda? Será que você pode devolver nosso filho? — Ela disse, sua voz carregada de uma mistura de medo, raiva e incredulidade. A pergunta era direta, sem rodeios, revelando a prioridade absoluta do casal: a segurança de Jasper. A confiança em Lupin era zero, e a situação, longe de se resolver, se tornava ainda mais tensa e incerta. A casa humilde, já precária, parecia se tornar ainda menor sob o peso daquela situação absurda e ameaçadora.
— Eu sei que tudo isso parece mentira e é bizarro, mas por favor, eu preciso... — Lupin implorou, sua voz carregada de desespero. — Na verdade, nós de Aramat precisamos de vocês... Rony, por favor, você sabe que isso não é mentira, é só se permitir sentir... Você acreditou por tanto tempo, e eu acredito que não vai deixar alguém na mão — Ela continuou, tentando apelar para a compaixão e para a empatia de Rony. A insistência de Lupin, porém, apenas reforçava a desconfiança do casal. Rony, confuso e perturbado, respondeu com firmeza:
— Eu não sei do que você está falando — A resposta, porém, não convenceu Lupin, que insistiu:
— Sabe, você sabe sim — A insistência da mulher, a menção a algo que Rony aparentemente conhecia, mas não conseguia ou não queria admitir, aumentou a confusão e a tensão no ambiente.
Vânia, desesperada e sem entender nada, questionou o marido:
— Rony, do que ela está falando?
A resposta de Rony foi imediata e categórica:
— Eu Não sei, essa mulher é doida. — A declaração, apesar de expressar a incredulidade e o medo do casal, não encerrava a questão. O mistério permanecia, a tensão se intensificava, e a situação se tornava cada vez mais complexa e imprevisível.
— Rony Davis! Você dizia quando criança que nunca deixaria de acreditar que existiam outros mundos, e sempre que você falava isso seus olhos brilhavam — Lupin disse, sua voz suave, mas firme, quebrando a barreira de descrença que separava os dois mundos — Não permita ser enganado por seu medo, que ainda te atormenta — Ela completou, sua fala carregada de uma compreensão profunda da alma de Rony, revelando um conhecimento que transcendia o simples encontro casual. Com um gesto delicado, Lupin entregou Jasper para Vânia, que o recebeu com um misto de medo e surpresa, ainda sem conseguir processar a situação surreal que se desenrolava diante de seus olhos. O olhar de Lupin, penetrante e intenso, encontrou o de Vânia, transmitindo uma mensagem silenciosa, uma conexão que transcendia as palavras. Em seguida, Lupin aproximou-se de Rony, colocando sua mão suavemente em seu rosto. Um sussurro quase inaudível ecoou em seu ouvido, uma mensagem secreta que só ele poderia entender. O nervosismo de Rony era palpável, a transpiração fria escorrendo por sua testa, mas nada conseguiu ofuscar as lágrimas que, inesperadamente, começaram a rolar por seu rosto, um sinal de que a barreira da descrença estava se rompendo, dando lugar a uma emoção profunda e incontrolável. O momento era carregado de significado, um ponto de inflexão na história da família Davis, que se via à beira de uma realidade fantástica e desconhecida.
O toque de Lupin em Rony pareceu despertar algo adormecido em sua alma, uma memória, uma crença, um sentimento que ele havia enterrado profundamente dentro de si. Em um instante, a descrença deu lugar à aceitação, a dúvida à certeza. Como num passe de mágica, Rony concordou com tudo o que Lupin havia dito, aceitando a missão de ajudar a "princesa de Aramat". A transformação foi tão repentina e completa que deixou Vânia atônita. Ela observava o marido, tentando compreender o que havia acontecido, o que aquela mulher havia feito para provocar tamanha mudança de comportamento. A rapidez da decisão de Rony, a facilidade com que ele abraçara uma realidade tão fantasiosa, era inexplicável. O que Lupin tinha feito? Que poder ela exercia sobre Rony? Que influência tão profunda ela tinha sobre ele? Milhares de perguntas invadiram a mente de Vânia, mas ela preferiu silenciar. Conhecia Rony muito bem, sabia que qualquer questionamento naquele momento seria em vão. Ele não responderia, não explicaria. A mudança era profunda, visceral, e Vânia, apesar da perplexidade, decidiu confiar em seu marido, esperando que o tempo, e talvez as próprias ações de Lupin, revelassem o mistério que envolvia aquela mulher enigmática e a extraordinária jornada que se iniciava.
Lupin, percebendo a hesitação ainda presente nos olhos de Rony e Vânia, apesar da concordância formal, reforçou a garantia de recompensa pela ajuda prestada. Suas palavras foram cuidadosamente escolhidas, pintando um futuro promissor, um futuro que prometia solucionar as dificuldades financeiras e as incertezas que assombravam o casal. A promessa de uma nova morada, um lar estável e seguro para Jasper, foi o argumento decisivo. A necessidade era premente, a precariedade da casa atual era inegável, e a perspectiva de um futuro melhor, garantida por Lupin, pesou mais que qualquer dúvida ou receio. Rony e Vânia, apesar do estranhamento e da descrença persistente, aceitaram a proposta. A sobrevivência, a segurança do filho, eram prioridades inegociáveis. A promessa de recompensa, aliada à necessidade premente de uma nova moradia, selou o acordo. O desconhecido, com todos os seus perigos e incertezas, tornava-se a única opção viável.
Quatro anos se passaram desde a partida de Lupin.
— Olá, alguém em casa? — Uma voz suave, mas inconfundível, ecoou pela casa.
— Eu conheço essa voz! — Exclamou Vânia, um misto de surpresa e apreensão na voz. O coração acelerou, a memória daquela jornada fantástica retornando com força.
Rony, igualmente assustado, compartilhava a mesma sensação. Nem sequer precisaram abrir a porta. Em um piscar de olhos, Lupin estava dentro da casa, como se tivesse atravessado as paredes, materializando-se diante deles com uma destreza sobrenatural. Um sorriso travesso, quase infantil, surgiu em seus lábios, enquanto ela observava o espanto estampado nos rostos do casal. Uma série de gargalhadas ecoou pela sala, quebrando o silêncio.
— Ah, não sejam modestos, vocês já me viram antes... — Lupin disse, um sorriso divertido brincando em seus lábios.
— Mas antes eu havia aberto a porta! — Retrucou Rony, lembrando-se da primeira vez que encontraram Lupin, a tensão daquela ocasião ainda presente em sua memória.
— Ok, eu só vim fazer uma visitinha para os meus amigos, não gostaram? —, Lupin perguntou, o sarcasmo evidente em sua voz, enquanto observava a reação de Rony e Vânia.
— Da última vez não foi muito agradável... — Respondeu Vânia, sem esconder a sua reserva, a lembrança daquela situação tensa e confusa ainda viva em sua mente.
— Eu sei, posso imaginar... — Lupin concordou, mantendo o tom divertido, porém com um toque de sinceridade — Mas pense bem, da última vez, não vim como amiga, mas sim como cliente.
— Já faz quatro anos! Sabia? — Exclamou Vânia, surpresa com a rapidez do tempo e a lembrança vívida daquela experiência transformadora.
— Eu sei, mas eu voltei e espero que vocês estejam preparados — Respondeu Lupin, sua voz carregada de uma expectativa que deixava o ar tenso.
— Eu dei minha palavra e eu não vou voltar atrás — Rony afirmou com firmeza, reafirmando seu compromisso assumido anos atrás, mesmo com a incerteza que pairava no ar.
— Assim espero... — Lupin murmurou, um brilho misterioso em seus olhos. Com um gesto teatral, Lupin tocou sua bengala no chão, fazendo faíscas saltarem do ponto de contato.
Vânia ficou impressionada, sua incredulidade evidente, enquanto observava o acontecimento sobrenatural. Como aquilo era possível? Rony, embora "acostumado" às peculiaridades de Lupin, ainda sentia um arrepio de desconforto e incerteza.
— Eu não queria me meter em confusões... — Ele murmurou, expressando o medo latente que ainda o acompanhava.
— Você não precisa se preocupar — Lupin o tranquilizou, porém com um ar misterioso — Eu preciso ir e os verei em breve — Ela disse, sua voz ficando mais distante, como se estivesse se desligando da realidade. Antes que Rony e Vânia pudessem questionar, Lupin desapareceu em uma nuvem de fumaça azul, como se tivesse sido sugada para dentro de um portal invisível.
O silêncio que se seguiu foi quebrado por uma batida na porta, os dois se entreolharam, surpresos. Rony, cauteloso, aproximou-se da porta, abrindo-a lentamente. E lá estava ela, a nova moradora.
Rony olha para Vânia e ambos estavam espantados… A menina diz com uma voz suave e doce
— Meu nome é Sofia… E eu sou de Aramat.— Vânia pede para a menina entregar e lhe faz, algumas perguntas.
— Oi, eu me chamo Vânia
— Oi, tia Vânia.— Vânia dá um leve sorriso.
— Sofia, Você estava com fome? Estás cansada? Ou algo do tipo?
Sofia não diz nada a não ser dar uma carta para Vânia e de repente, estranhamente começar a chover, o céu escureceu e lá fora as flores morreram. Rony pede para Sofia sentar no sofá e esperar, pois já iria falar com ela, os dois começam a ler a carta que dizia o seguinte:
As palavras na carta, escritas em uma caligrafia elegante e firme, pareciam dançar sobre o pergaminho negro como se estivessem escritas com tinta viva. A tinta de prata, quase translúcida, brilhava sob a luz fraca da lamparina, revelando um leve brilho mágico.
"Querido Sr. e Sra. Devis," as palavras iniciais, escritas com uma leve inclinação, pareciam sussurrar um pedido gentil, mas a urgência da situação se tornava evidente nas palavras seguintes: "Espero que esta carta os encontre bem. Escrevo-lhes com um pedido de favor urgente."
A cada palavra, a raiva da Rainha Diana se tornava mais evidente. "Há quatro anos, uma mulher chamada Lupin visitou a humilde casa de vocês, como me foi descrito." A frase, escrita com uma ênfase especial em "humilde", parecia acusar os destinatários de não serem dignos da missão que lhes foi confiada.
"Talvez vocês se perguntem por que foram escolhidos para esta missão, e imagino que Lupin já tenha mencionado algo a respeito." As palavras, escritas com uma leve ironia, pareciam questionar a capacidade dos destinatários de compreender a gravidade da situação.
"No entanto, a situação se tornou ainda mais grave, pois o Rei foi assassinado e estamos todos em desespero." A frase, escrita com uma força brutal, parecia ecoar o grito de dor da Rainha Diana.
"Nossa prioridade agora é proteger Sofia deste caos crescente." As palavras, escritas com uma determinação inabalável, revelavam a importância da missão que os destinatários receberam.
"Há alguns anos, o Rei pediu a Lupin que encontrasse um local seguro, e ela mencionou ter encontrado vocês, que se comprometeram a nos ajudar." A frase, escrita com uma leve esperança, parecia confiar na promessa que os destinatários fizeram.
"Inicialmente, relutei em permitir que Sofia partisse, mas diante da atual situação, não posso arriscar a segurança dela." As palavras, escritas com um tom de desespero, revelavam a angústia da Rainha Diana.
"Agradeço imensamente por estarem dispostos a auxiliar-nos nesse momento crucial." A frase, escrita com uma gratidão genuína, parecia reconhecer a importância do sacrifício que os destinatários estavam prestes a fazer.
"Serei eternamente grata a vocês e farei questão de recompensá-los generosamente por sua ajuda." As palavras finais, escritas com uma promessa firme, pareciam selar o acordo entre a Rainha Diana e os destinatários.
A carta, apesar de escrita com tinta de prata, parecia manchada por um tom avermelhado, quase imperceptível, mas que, sob a luz da lamparina, se tornava mais evidente. Uma aura de mistério e perigo emanava do pergaminho, como se ele carregasse em si o peso da tragédia e da esperança que a Rainha Diana depositava em seus destinatários.
Rony e Vânia, depois de lerem a carta, se entreolharam, seus rostos refletiam um misto de espanto, apreensão e, acima de tudo, compaixão. A história contada pela Rainha Diana, por mais fantasiosa que parecesse, despertou algo profundo dentro deles.
A imagem da menina Sofia, frágil e assustada, sentada no sofá, os fez se lembrar de suas próprias infâncias, de momentos em que a segurança e o amor eram tudo o que importavam. A carta, com sua aura mágica e a tinta que parecia pulsar com vida, reforçava a sensação de que algo extraordinário estava acontecendo, algo que os colocava em uma encruzilhada.
Os dias se transformaram em semanas, e a casa de Rony e Vânia se encheu de risadas e brincadeiras. Jasper e Sofia, com seus espíritos inquietos e corações generosos, formavam um laço inquebrável que florescia a cada dia. As tardes eram preenchidas com histórias inventadas, jogos imaginativos e a mágica simplicidade da infância.
Rony e Vânia, observando a conexão especial entre as crianças, se sentiam gratos por terem acolhido Sofia em suas vidas. Mesmo sabendo que ela não era uma Devis por nascimento, isso nunca foi um obstáculo. O que importava era o amor e a união que se formaram entre eles. A casa, agora, era um lar vibrante, onde os laços de família eram definidos não apenas por sangue, mas por escolha e afeto.
Sofia e Jasper, em um momento de pura camaradagem, se sentaram no quintal, cercados por flores que, após a chuva que havia murchado as pétalas, agora renasciam em cores vibrantes. Com olhares sérios e sussurros, fizeram um pacto: "Prometemos que nossa amizade durará para sempre, até o fim."
Com as mãos unidas, eles selaram o compromisso, uma promessa que ecoava a força de suas infâncias e a magia que os cercava. A conexão deles era tão forte que nem as dificuldades do mundo exterior poderiam abalar. Sofia protegia Jasper com a bravura de uma irmã mais velha, enquanto ele a defendia com um zelo feroz, como um verdadeiro irmão.
Enquanto as estrelas começavam a brilhar no céu noturno, Rony e Vânia observavam a cena, sentindo que haviam feito a escolha certa ao abrir suas portas e corações para Sofia. A vida estava cheia de incertezas, mas ali, naquela pequena família, havia um vínculo que transcendia o tempo e as circunstâncias, uma magia que os unia e que prometia durar para sempre.
Rony, com um sorriso gentil no rosto, olhou para Jasper e Sofia, que o encaravam com curiosidade. Sua voz, calma e suave, ecoou:
— Sabem, crianças, amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente sócios da felicidade um do outro.
Jasper franziu a testa, confuso.
— Não entendi, o que isso quer dizer, pai?
Sofia, com a mesma expressão pensativa, concordou:
— É tio, também não entendi.
Rony sorriu, com um brilho de ternura em seus olhos.
— Vocês vão entender. Com o tempo, vocês vão perceber o que significa compartilhar alegrias e tristezas, apoiar um ao outro, e encontrar conforto na companhia um do outro. É algo especial, uma ligação que vem do coração.
Ele se lembrou do dia em que Jasper e Sofia, com os rostos pintados de terra e os cabelos emaranhados, haviam marcado a árvore com suas iniciais entrelaçadas.
Para Rony e Vânia, aquela árvore, com suas iniciais gravadas na casca rugosa, era mais do que uma simples lembrança. Era um símbolo, um testemunho silencioso do vínculo inquebrável que se formava entre as crianças, um presente de Deus, como eles sempre haviam dito. Era o marco de uma amizade que transcendia a compreensão infantil, uma amizade que eles agora observavam florescer com admiração e gratidão. Aquele gesto simples, feito na inocência da infância, havia se tornado um elo poderoso, um presente de Deus que enriquecera suas vidas de uma forma que jamais imaginaram.
Em uma certa manhã enquanto Vânia estava preparando o café para todos tomar, Jasper chega por trás dela e lhe dar um abraço, um abraço aconchegante, Vânia sorrir e pergunta o do porque do belo bom humor, Jasper fala que estava sentindo que o dia prometia muita coisa e que esperava que fosse coisa boa.
— Bom, então eu acho que você começou do jeito certo.
— Sim, mãe sabe onde está Sofia?
— Ela deve está no lago, você vai atrás dela?
— Sim.
— Bom, então não demore muito.
Jasper caminhava pelo bosque, seguindo o caminho familiar até o local onde sabia que encontraria Sofia. Ao se aproximar, avistou-a sentada debaixo da árvore com suas iniciais entalhadas no tronco. Mesmo à distância, pôde perceber a expressão tristonha em seu rosto, o que o motivou a se aproximar com cuidado.
— Olá, será que tenho horário reservado para mim nesses pensamentos? — Brincou Jasper, tentando trazer um pouco de leveza ao momento.
Sofia ergueu o olhar e, ao reconhecer Jasper, um lindo sorriso iluminou seu rosto.
— Jasper! — Exclamou ela, a alegria transparecendo em sua voz.
— Como você está? — Perguntou Jasper com preocupação genuína — Só não tenta mentir para mim, eu te conheço muito bem — Acrescentou, demonstrando sua familiaridade com os sentimentos de Sofia.
Enquanto olhava nos olhos de Jasper, um sorriso triste se formou nos lábios de Sofia, mas logo seus olhos se encheram de lágrimas. Com a voz embargada, ela fala para Jasper que não havia acordado bem naquele dia. Sofia explicou que sua mente estava sobrecarregada com muitas preocupações, e que estava se sentindo sufocada. Por isso, decidiu sair para tomar ar fresco e tentar clarear seus pensamentos.
Jasper, com empatia e compreensão, senta ao seu lado para lhe confortar, oferecendo-lhe apoio e um ombro amigo para desabafar. Juntos, eles permaneceram ali, sob a sombra da árvore.
Jasper diz para Sofia que sentia que aquele dia seria especial, diferente de todos os outros. Sofia, com um brilho nos olhos, sorriu para Jasper e disse:
— Jasper, você é a pessoa que traz conforto para a minha alma. Sua presença sempre traz luz aos meus dias, mesmo nos momentos mais difíceis.
Os dois amigos se olharam com cumplicidade, compartilhando um vínculo especial que transcendia as palavras. Em meio à tranquilidade da natureza ao redor, Jasper e Sofia encontraram conforto um no outro, fortalecendo ainda mais a amizade que os unia.
Depois de terem conversar bastante Jasper se lembra que teria que voltar para casa porque a sua mãe estava esperando para o café da manhã Jasper e Sofia voltam correndo para casa, ao chegar em casa, Sofia conta para sua tia que Jasper acabou se distraindo na conversa e esqueceu de avisar que era para voltar para tomar café.
Jasper pede mil desculpa por ter esquecido e se distraído na conversa dele com Sofia, Sofia começa a sorrir de Jasper e tentando desfaça coloca a mão na boca e sorrir baixo, Jasper olha para Sofia e sorrir, Vânia briga com eles e fala para os dois irem lavar as mãos e se sentarem para tomar café. E foi exatamente isso que eles fizeram obedecendo a ordem de Vânia, era lindo estar no meu daquela família, existia muito amor, felicidade e paz.
Enquanto Sofia se sentava para tomar café, começou a sentir fortes dores de cabeça. Jasper, preocupado, perguntou se ela estava se sentindo bem. De repente, Sofia deu um grito alto, assustando a todos ao redor, e começou a repetir desesperadamente a mesma frase:
— Me ajudem, me ajudem!
Com o desespero aumentando e a tensão no ar, Vânia tentava encontrar uma maneira de acalmar não só Sofia, mas também os ânimos de Jasper, Rony fala para Jasper ir para seu quarto, mas Jasper diz que não deixaria Sofia sozinha, relutante em deixar Sofia naquela situação, se viu surpreendido com a reação firme de seu pai.
Rony, segurando Jasper pelos braços, repetiu com determinação:
— VÁ AGORA PARA O SEU QUARTO E NÃO SAIA DE LÁ ATÉ SEGUNDA ORDEM... VAI.
Jasper ficou atônito com a reação de seu pai, mas antes que pudesse argumentar, Vânia interveio. Sentindo-se perdida diante da situação, Vânia dirigiu-se a Jasper com calma e sabedoria:
— Jasper, mantenha a calma. Só assim você poderá ajudar Sofia da melhor forma. Confie que, ao se acalmar, estará mais preparado para apoiar ela.
As palavras tranquilizadoras de Vânia ecoaram no ambiente tenso, trazendo um breve momento de serenidade em meio ao caos. Jasper, ainda preocupado com Sofia, respirou fundo e seguiu as orientações de sua mãe, buscando encontrar a serenidade necessária para enfrentar a situação com clareza e apoio.
Enquanto os minutos passavam e a situação de Sofia não melhorava, Jasper sentiu a urgência de estar ao lado de sua amiga. Ignorando as instruções de seus pais, ele correu até Sofia e segurou a mão dela com firmeza.
— Sofia, sou eu, Jasper. Escute a minha voz. Estou aqui segurando a sua mão e não vou soltar. Fiz uma promessa e vou cumpri-la. O dia está lindo lá fora, os passarinhos querem ouvir a sua doce voz e ver um dos seus lindos vestidos da manhã. Eu também quero te ver bem, te ouvir...
As palavras de Jasper eram carregadas de amor e preocupação, enquanto ele tentava acalmar Sofia e trazê-la de volta à realidade.
Sofia aos poucos foi se acalmando, ao chegar ao ponto de dormir, Jasper observar sua mãe com o rosto molhado de tanto chora porque ela não soube o que fazer, indo em direção a seu pai que estava com o semblante pálido, Jasper ver seus pais se abraçarem e saírem para fora.
Jasper sente uma sensação estranha, como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer no meio da família. Jasper viu seus pais entrarem novamente só depois de passar meia hora do lado de fora conversando.
Rony, com cuidado e preocupação, pegou Sofia no colo e a levou para o seu quarto. Com gentileza, ele a colocou na cama e observou o ambiente ao redor. Enquanto olhava em volta, Rony notou o quanto Sofia havia crescido desde sua chegada. Uma sensação de apreensão começou a se formar em seu coração, algo que ele não queria admitir, nem para si mesmo.
Enquanto observava o quarto de Sofia, as lembranças do passado e a preocupação com o futuro se misturavam em sua mente. Rony sabia que algo estava errado, mas relutava em enfrentar a verdade que se apresentava diante dele. Em meio às lembranças e às dúvidas, ele permanecia ao lado de Sofia, pronto para protegê-la e cuidar dela, mesmo diante dos desafios desconhecidos que estavam por vir.
No dia seguinte.
Sofia acorda, coberta de suor, e ao sair do quarto, é recebida por Jasper, que corre em sua direção com preocupação e carinho.
— Dormiu bem? Quer que eu prepare algo para você comer? Quer se sentar? — Jasper pergunta, demonstrando sua atenção e cuidado. Antes que Sofia possa responder, Vânia interrompe com um tom de humor.
— Eu acho melhor perguntar se ela quer respirar primeiro, Jasper... vamos deixar Sofia acordar completamente.— Vânia comenta, trazendo um toque leve à situação.
Sofia, ainda sonolenta, pergunta:
— Eu dormi por quanto tempo?
Jasper responde com um olhar talvez de compaixão:
— Dois dias consecutivos.
A expressão em seu rosto revela uma mistura de surpresa e preocupação pela longa duração de seu sono. A atmosfera na sala é de curiosidade e leve descontração, enquanto Sofia tenta processar o que acabou de ouvir.
Rony, com um sorriso travesso, comenta de forma descontraída:
— Você está muito suada, Sofia, deve estar fedendo — Ele se aproxima de Sofia para abraçá-la.
— Pai! Não foi assim que o senhor me ensinou a tratar uma dama — Jasper diz, com um sorriso divertido, demonstrando sua educação e respeito.
— Deixa, Jasper, o tio Rony só está brincando, e a tia Vânia está certa, eu preciso de espaço para respirar.
— Desculpa, eu só estava preocupado.
— É, disso eu sei.
Logo à tarde. Sofia se aproxima de Jasper enquanto ele joga pedras no lago. Sem precisar olhar para trás, Jasper pergunta como ela o encontrou ali. Sofia responde que seria tolice não procurá-lo naquele lugar, o que faz Jasper sorrir. Ele se vira para encarar Sofia, seus olhos cheios de lágrimas revelando a angústia que ele estava segurando.
Sofia o abraça e Jasper desabafa, contando que sentiu muito medo ao ouvir os gritos dela e não saber o que fazer. Ele menciona que viu o desespero nos rostos de seus pais também.
— Todos tiveram medo, Sofia.
Sofia, sem proferir uma única palavra, se afasta do abraço de Jasper e menciona que precisa ir ao hospital com seus tios. Ela expressa que talvez o procure quando retornar do hospital. Jasper, compreendendo o momento, apenas balança a cabeça em silêncio, sem acrescentar mais nada à conversa.
Naquela mesma noite, Rony, Vânia e Sofia retornam para casa, e Jasper questiona o motivo da demora. Ao perceber Sofia nos braços de seu pai, Rony a leva para o quarto, enquanto Vânia prepara uma água com açúcar. Rony então se junta a Vânia e Jasper na cozinha, encontrando os dois nervosos. Vânia está tomando a água com açúcar, e Jasper está sentado na cadeira com as mãos no rosto, refletindo a tensão do momento.
O cenário era complexo para todos, já que eles nunca haviam vivido algo assim antes. Agora, estavam enfrentando juntos essa situação inesperada. A incerteza pairava no ar, e todos estavam buscando maneiras de lidar com a situação.
Os dias se sucediam, e a rotina parecia estagnada, com Sofia continuando a dormir por dois dias consecutivos sempre que se encontrava naquela condição. O desespero por respostas só aumentava, criando uma tensão palpável no ar. Jasper e Sofia estavam se distanciando cada vez mais, enquanto Rony e Vânia buscavam incansavelmente por soluções para ajudar Sofia.
Jasper mal permanecia em casa, imerso em sua própria angústia e busca por respostas. A sensação de impotência diante da situação era avassaladora para todos. Ninguém desejava que as coisas seguissem daquela forma, mas o tempo parecia escapar de seu controle, levando tudo a sair do eixo.
A tensão na casa se intensifica com o diálogo entre Rony e Jasper:
— Onde você estava? — Questiona Rony, visivelmente preocupado com a situação.
— Estava dando uma volta por aí — Responde Jasper de forma tranquila.
— Estamos passando por uma crise e você me diz que estava dando uma volta por aí, — Repreende Rony, expressando sua frustração.
Jasper responde com sinceridade:
— Sim, pai, é exatamente isso. Ficar em casa não vai resolver nada, então prefiro não resolver nada, fora daqui.
Rony, visivelmente incomodado, chama Jasper de garoto mimado, refletindo sua preocupação e descontentamento com a atitude do filho.
Vânia intervém, tentando acalmar a situação:
— Rony, deixa ele... Está sendo difícil para ele também.
Rony, ainda exasperado, questiona se Jasper realmente está enfrentando dificuldades, mencionando a promessa anterior do filho de nunca abandonar o barco.
Jasper, sentindo-se incompreendido, decide deixar a discussão e sai, deixando seu pai falando sozinho.
— Eu não vou permitir que você fale isso dele. Você deu a sua palavra, ele não. Ele só era um bebê naquela época. Não culpe o nosso filho em nada, pois ele não tem culpa — Vânia defende Jasper com determinação, protegendo-o do julgamento de Rony.
A súbita pergunta de Sofia interrompe a discussão:
— Do que vocês estão falando? — Sua presença repentina pega Rony e Vânia de surpresa, levando-os a tentar disfarçar e mentir para Sofia, dizendo que estavam tratando de outro assunto irrelevante. Sofia, exausta demais para lidar com mais conflitos, finge acreditar na mentira, evitando entrar em um debate que poderia ser desgastante.
Enquanto o sol brilhava suavemente através das folhas da árvore, criando padrões de luz e sombra no chão, Sofia estava sentada em seu lugar especial, debaixo da árvore compartilhada com Jasper. O ambiente tranquilo era interrompido pela chegada repentina de uma amiga de Sofia.
A garota tinha a pele escura, cabelos longos e lisos que dançavam suavemente ao vento. Sua energia era contagiante, e sua expressão sempre parecia transmitir uma sensação de urgência e movimento. Diferente da calma e serenidade de Sofia, a amiga era espontânea e cheia de vida.
Sem fazer barulho, a garota se aproximou sorrateiramente e deu um susto em Sofia, que se virou com um sobressalto, mas logo relaxou ao reconhecer a amiga. Com um sorriso, Sofia perguntou o que a trouxe até ali, e a garota respondeu com um brilho nos olhos, dizendo que estava com saudades.
Sofia, ainda um pouco surpresa com a chegada inesperada, olhou para a amiga com um misto de curiosidade e desconfiança.
— Tá bom, eu vim acompanhar meu tio, ele veio fazer uma visita a senhora Nervilha.
— Estão em outra "aventura"?
— Sim! Agora vamos conhecer todas as cidades que meu tio queria conhecer quando tinha nossa idade.
— Uau, devem ser muitas!?
— Nem tantas, mas enfim me fala.
— O quê?
— E Jasper, como ele está? Continua lindo?
— Sabia que você não estava querendo me ver.
— Não, isso não é verdade, eu vim sim te ver, mas também vim ver ele... Então como ele está?
— Não sei... Não estamos nos falando tanto, mas sim, ele está da mesma forma de quando você se apaixonou por ele, ainda está mais alto que você, está com o mesmo cabelo ruivo, com as mesmas sardas.
— Nossa! para quem falou que não tinha nenhum enternece, nele você presta bastante atenção.
— O quê? Do que você tá falando? Dspero que não esteja falando o que eu estou pensando.
— Eu estou falando, que você presta muita atenção nele para quem se diz ser uma "irmã".
— Talvez seja porque eu convivo com ele e moro com ele a 10 ANOS.
— Mas você fala de um jeito que...
— Que, o que Catrina? Não acredito que você está falando isso, ele é como um irmão para mim e pronto.
— Desculpa... Você sabe que eu acho ele mó gatinho, e não posso ficar por muito tempo, já você pode, e você é linda, você é tipo uma princesa que a Disney não tem, é difícil competir.
— Para de falar besteira, você é linda... Tá vamos parar de falar de garoto, e me diz, o quê é Disney?
— Não sei… Tá, então o que você acha de falarmos do que se passa nessa cabecinha? Fiquei sabendo que ela não anda nada bem... Quer me falar sobre?
— Eu não faço a mínima ideia do que se passa aqui dentro, eu... Sinto muito dor e desmaio... Eu não falei para ninguém mas eu sinto essas dores e vejo coisas, não sei se são apenas coisas aleatórias, lembranças ou visões... Eu acho que estou endoidando, amiga, o que você acha?
— Eu acho que você está biruta, está louquinha, mas assim como um pai falou para sua filha e ela falou para o seu melhor amigo, 'As melhores pessoas são assim'...
Após a partida de Catrina, Sofia permanece sentada, deixando de lado o livro e mergulhando em seus pensamentos mais profundos.
Enquanto navega por suas reflexões, Sofia sente uma dor aguda em sua cabeça, mas desta vez consegue conter seu grito, como se já estivesse habituada a suportar a dor sem demonstrar. No entanto, a intensidade da sensação a faz desfalecer, mas antes que caia no chão, Jasper surge sob a árvore em busca de ar fresco e tranquilidade. Ao se deparar com Sofia em uma situação estranha, Jasper se aproxima e a chama pelo nome, interrompendo momentaneamente o que quer que estivesse acontecendo em sua mente.
Subitamente, Sofia para e desaba, mas antes que atinja o chão, Jasper a ampara em seus braços, preocupado com a situação e sem compreender totalmente o que está ocorrendo com ela. Em meio à preocupação e à confusão, Jasper se questiona internamente sobre o que poderia estar acontecendo com Sofia, temendo que ela não consiga escutar ou responder.
— O quê está acontecendo com você garota?
— A garota aqui está ficando maluca, mas eu fiquei sabendo que as melhores pessoas são assim.–Diz Sofia quase sussurrando.
— Sofia!
— Oi Jasper, Acredita que eu e Catrina estávamos falando de você.
Sofia se levanta, sorrindo e agradecendo por Jasper estar presente aqui. Ela revela a Jasper o motivo pelo qual Catrina pensava que ela estava apaixonada por ele: era porque, de fato, ela era apaixonada por ele, mas não da maneira que Catrina interpretou. Sofia estava apaixonada pelo incrível irmão que Jasper era, admirando suas qualidades e bondades.
Jasper e Sofia começam a sorrir e se abraçam, sentindo a conexão e a importância um do outro em suas vidas. O abraço representa a força da amizade e do apoio mútuo, mostrando que, mesmo em meio às dificuldades e confusões, eles podem contar um com o outro. Esse momento de união e compreensão era exatamente o que eles precisavam, reforçando o vínculo especial que compartilham e a importância de estarem juntos nos momentos de necessidade.
Na quarta-feira de manhã, Rony e Vânia aguardam ansiosos por Jasper na sala, suas expressões carregadas de preocupação e raiva. Assim que Jasper adentra o ambiente, depara-se com seus pais, sabendo instantaneamente que uma bronca está por vir. A tensão no ar é palpável, e Jasper se prepara para enfrentar mais uma reprimenda familiar.
A dinâmica familiar de conflitos e discussões já se tornou rotina naquela casa, com brigas recorrentes e as mesmas questões sendo levantadas repetidamente. Jasper já estava familiarizado com os sermões de seu pai e as palavras de preocupação de sua mãe, tendo decorado cada argumento e reação que esperava encontrar naquela situação.
Após a discussão, Jasper se retira para seu quarto e se depara com Sofia sentada em sua cama. Ele pergunta o que ela queria ali, e ela responde que queria conversar, pois os dois não faziam isso há muito tempo. Jasper responde que não tinha tempo, pois estava ocupado demais para conversar e já havia tido duas conversas ruins naquele dia. Sofia insiste, mencionando que as brigas com Rony e Vânia eram devido ao comportamento estranho de Jasper, como sair sem avisar, chegar quando queria, não se reunir mais com a família, não ajudar nas tarefas de casa e estar ausente na maior parte do tempo.
Jasper larga o que estava fazendo naquele exato momento e se vira para Sofia. Ele afirma que sempre esteve presente e sempre estará, dizendo que não havia feito nada de errado. Jasper explica que apenas tinha novos planos e estava se divertindo um pouco mais, mas optou por não contar aos pais para evitar perguntas desnecessárias. Sofia ressalta que se os pais fizessem isso, estariam certos, pois Jasper sempre evitava fazer amizade com as pessoas da região, alegando que eram vândalos, e que sempre foi apenas ele e Sofia, questionando se isso iria mudar agora.
— Jasper, você nunca teve outros amigos... Não acredito que esteja falando a verdade.
— Por quê? Eu sou estranho demais para ter novos amigos ou sou incapaz de fazer novas amizades?
Sofia não diz uma palavra sequer, e Jasper fica furioso por entender apenas pelo olhar o que Sofia estava pensando. Ele sai do quarto com os olhos mais vermelhos do que a cor de seu cabelo. Sofia fica no quarto chorando, arrependida de suas palavras e da falta de reação, sentindo que estava perdendo seu único amigo. Sofia sai às pressas do quarto e passa pelos seus tios, que perguntavam para onde Jasper tinha ido daquela forma e para onde ela estava indo daquela forma. Sofia não responde, apenas diz que estava indo atrás do seu irmão. No entanto, ao chegar do lado de fora da casa, Sofia não encontra nenhum sinal de Jasper.
Sofia sai correndo atrás de Jasper em direção à árvore, que era o lugar onde eles sempre iam para fugir da realidade. No entanto, Sofia não encontra Jasper lá também. Ela se senta no chão, abaixa a cabeça e começa a chorar com os olhos fechados, arrependendo-se de tudo. De repente, Sofia ouve um barulho, levanta a cabeça rapidamente e pergunta se era Jasper que estava ali, mas tudo fica novamente em silêncio.
Com os olhos inchados de tanto chorar, Sofia se arrasta até a beira do lago para molhar o rosto. Enquanto molha o rosto, ela vê algo refletindo na água e levanta a cabeça para ver o que era. Sofia começa a gritar e, de repente, tudo escurece e ela desmaia. Seu grito foi tão alto que seus tios, que estavam em casa, ouvem e deduzem que algo aconteceu com ela e com Jasper. Rony e Vânia correm ao encontro de Sofia e, ao chegarem, percebem algo estranho prestes a acontecer com ela. Parecia que algo estava querendo algo e talvez tenha encontrado o que procurava: Sofia.
Sete dias haviam se passado. Sofia estava deitada em sua cama, delirando e repetindo os nomes de pessoas aleatórias, como Vitória, Diana, Gustav, e outros, repetindo as mesmas coisas o tempo todo. Jasper chega em casa e pergunta por Sofia. Sua mãe diz que ela estava da mesma maneira nos últimos sete dias. Jasper vai até o quarto de Sofia, abre a porta e a ouve falando nomes até chegar ao dele. Quando Sofia menciona o nome de Jasper, ele se senta na beirada da cama, pega na mão dela, abaixa a cabeça e começa a chorar, pedindo desculpas, pois ele não queria que aquilo acontecesse com ela. Jasper expressa seu arrependimento por não ter ficado e conversado com ela quando ela pediu.
Depois que Jasper diz aquelas palavras, Sofia começa a acordar e chama mais uma vez pelo seu nome.
— Jasper.
— Sofia!
— Jasper é você?
— Sim! Sofia sou eu.
Sofia solta a mão de Jasper, senta-se e pergunta por Vânia. Antes que Jasper pudesse responder, ela chama por Vânia. Rony e Vânia aparecem rapidamente no quarto e abraçam Sofia, demonstrando a felicidade que sentiam por vê-la acordada. Lágrimas de alegria escorrem pelos rostos dos dois.
— Por que estão chorando? — Pergunta Sofia.
— Estamos felizes em ver nossa menina de olhinhos abertos — Responde Vânia emocionada.
— Também estou feliz de ver o rosto de vocês... Mas me digam, por quanto tempo eu fiquei dormindo? Eu só me lembro de ver algo horrível flutuando por cima da água e logo em seguida vindo em minha direção... Parecia que meus pesadelos estavam se realizando.
— Vamos responder a todas essas perguntas, mas você precisa descansar — Diz Rony com carinho.
— Não, tio Rony, eu estava dormindo.
— Sofia, você está um pouco fraca e como você mesma disse, você estava dormindo até pouco tempo. Você precisa de força. Vou preparar uma sopa de carne bem gostosa para você, está bem? — Oferece Vânia.
— Ok, tia — Concorda Sofia, aceitando o cuidado e carinho da família.
Vânia olha para Rony e com um simples olhar, ele entende que era hora de se retirar, pois Jasper, que não havia dito uma palavra, estava no canto da parede ao lado da janela, esperando para falar. Assim que os dois ficam sozinhos no quarto, começam a se olhar, como se já estivessem conversando silenciosamente, mas as palavras precisavam ser expressas em voz alta.
Sofia olha para Jasper com uma expressão de dor e decepção.
— Desculpa. — Murmura Jasper, com os olhos baixos.
— Você se afastou de novo. — A voz de Sofia tremia, carregada de mágoa.
— É, eu sei... — Jasper responde, com um peso evidente em suas palavras.
— Será que sabe mesmo, Jasper!? Eu precisei de você mais uma vez, você não estava lá. Por um instante, eu imaginei que você apareceria, me abraçaria e diria que tudo não passava de um surto psicótico... Mas você não apareceu... Mais uma vez. — As lágrimas escorriam pelo rosto de Sofia, a dor era palpável em suas palavras.
Jasper olha nos olhos de Sofia, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu estou aqui. — Sua voz soa fraca, carregada de arrependimento.
— É, só que, "o aqui" ou o agora, não existe mas mostro... Uma menina de 15 anos acreditando na existência de monstros. Sabe, Jasper, eu acho que até a Catrina, que não é tão presente assim, me ajudaria de alguma forma... Pelo menos mais do que você. — as palavras de Sofia ecoam no quarto, carregadas de desilusão.
Jasper respira fundo, uma decisão parece ter sido tomada em seu coração.
— Eu acho que eu não sirvo para te servir. — Sua voz soa resignada.
— O quê? — Sofia levanta o olhar, confusa e magoada.
— É, é isso mesmo, Sofia. Eu vou embora... Agora você vai ter muito mais motivos para se questionar sobre a minha presença, ou melhor, a minha ausência. — Jasper fala com um tom pesaroso, as palavras pesando em seu peito.
Silêncio paira no quarto, as palavras de Jasper ecoando na mente de Sofia.
— Eu vou com a Catrina, eles vão passar por aqui de novo e quando eles vierem, eu sigo a viagem com eles... Eu vou falar com os meus pais daqui a pouco... Eu sei que eu te fiz uma promessa, mas eu só tinha 5 anos e 10 anos já se passaram, eu acho que... — Jasper tenta explicar sua decisão, enquanto a dor da separação se reflete em seus olhos.
— Acha o quê? — Sofia interrompe, com a voz trêmula.
— ... Não sei, eu só queria te dizer isso mesmo. — Jasper conclui, com um nó na garganta.
Sofia olha para Jasper, com uma mistura de tristeza e resignação.
— Será que você pode se retirar do meu quarto? — Sua voz soa firme, mas carregada de dor.
A relação entre Jasper e Sofia estava mais uma vez abalada, e Sofia lutava para acreditar na realidade que se desenrolava diante de seus olhos. Olhando nos olhos de seu melhor amigo e ouvindo o tom de sua voz, ela sabia que ele não estava mentindo. Jasper sai do quarto de Sofia, indo direto falar com seus pais, pois não queria perder tempo. Seus pais estavam na cozinha, conversando animadamente, mas interrompem a conversa imediatamente ao ver o rosto pálido e preocupado de Jasper.
— Filho, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa entre você e Sofia? — Pergunta Vânia, com preocupação estampada em seu rosto.
— Eu preciso falar com vocês. — Jasper responde, com uma expressão séria e determinada.
— E nós precisamos te ouvir, filho, fala. — Rony encoraja, pronto para escutar o que Jasper tem a dizer.
— Pai, Mãe, eu conversei com Catrina e ela me fez um convite, e eu pensei em aceitar... Ela me chamou para viajar com ela e o tio, preciso saber o que vocês acham. — Jasper revela sua decisão, com um misto de ansiedade e expectativa.
— Você está falando sério, meu filho? — Vânia olha para Jasper, surpresa e preocupada.
— Por mim, tudo bem. — Rony responde de forma tranquila, surpreendendo Vânia.
— O quê? Como assim "tudo bem"? Ele é nosso filho, ele está dizendo que está pensando em aceitar uma proposta de viagem, ele só tem 15 anos. Rony, você está pensando no que? Quero dizer, você está pensando em alguma coisa?! — Vânia expressa sua preocupação e confusão.
— Ele é um menino livre, Vânia, tudo bem para mim... Meu filho, você pode fazer o que quiser. — Rony responde, mostrando sua confiança no filho e em sua liberdade de escolha.
— Filho, posso conversar com seu pai? — Vânia pede com um olhar sério para Jasper.
— Claro.
Rony e Vânia ficam sozinhos, tendo uma conversa intensa sobre a decisão de Jasper. Vânia estava furiosa ao ouvir a posição de Rony, que ela considerava errada e imprudente. Ela expressava sua preocupação de forma enérgica, argumentando que permitir que Jasper viajasse com Catrina era um grande risco.
Rony, por sua vez, tentava acalmar Vânia, dizendo que ela estava sendo dramática. Ele argumentava que Jasper não iria de verdade, pois ele não seria louco o suficiente para deixar Jasper sair em uma viagem com Catrina. Rony compartilhava sua opinião de que ele próprio se sentia sufocado perto de Catrina em apenas uma hora, imaginando como seria passar dias ou até mesmo meses ao lado dela.
Com as palavras de Rony, Vânia começa a se sentir mais aliviada, percebendo que talvez a decisão não fosse tão real quanto parecia.
Já a situação entre Jasper e Sofia estava longe de ser fácil. Enquanto Sofia se via imersa em lembranças dolorosas de Jasper, com lágrimas escorrendo pelo rosto a cada pensamento, Jasper buscava um momento de tranquilidade junto ao lago para aliviar o estresse que o cercava.
Chegando ao lago, Jasper observa a serenidade da água à sua frente, abaixa-se para pegar algumas pedrinhas, buscando distração. Ao erguer a cabeça, depara-se com sombras se aproximando rapidamente. Um calafrio percorre sua espinha enquanto tenta fugir, mas tropeça na raiz de uma árvore, caindo desajeitadamente. Esforçando-se para se arrastar rapidamente, Jasper é surpreendido quando a sombra emana uma ordem, congelando-o de medo.
Jasper, assustado e sem saber o que esperar, para abruptamente, seus olhos fixos na figura sombria diante dele.
A tensão atinge seu ápice com o diálogo perturbador entre Jasper e a misteriosa sombra.
— O que você é? E o que você quer? — Questiona Jasper, com um misto de medo e determinação em sua voz.
— Eu sou o seu maior medo e quero algo que não é da sua conta, mas você sabe onde está. Eu sinto um cheiro forte vindo naquela direção e você também vem daquela direção. — A sombra responde com uma voz ameaçadora, fazendo arrepiar os cabelos de Jasper.
— Eu não sei do que... — Jasper tenta argumentar, mas é interrompido abruptamente.
— CALADO! Eu quero ela, a garota, Sofia Black. — A sombra exige com firmeza.
— Sofia!? — Jasper sente um frio na espinha ao ouvir o nome de sua amiga sendo mencionado.
— Exatamente. Eu não posso te fazer mal e nem a ela, mas não tente fazer nenhuma gracinha, porque eu posso tocar nos seus pais. — A sombra ameaça, aumentando a pressão sobre Jasper.
— Não ousaria. — Jasper responde, sua determinação em proteger Sofia transparecendo em suas palavras.
— Você vai me trazer Sofia Black? — A sombra insiste, sua presença sinistra pairando sobre Jasper.
— Nunca. — Jasper responde com firmeza, decidido a enfrentar qualquer desafio para proteger sua amiga. A coragem e a determinação de Jasper brilham em meio à escuridão da situação, enquanto ele se prepara para enfrentar o desconhecido e proteger aqueles que ama.
A tensão atinge seu ápice quando Jasper corre desesperadamente em direção à sua casa, sua mente dominada pelo medo e pela urgência de proteger sua família. Ao se aproximar da casa, ele avista seu pai, Rony, na cozinha, desfrutando de uma xícara de café e contemplando a vista pela janela. Jasper começa a apontar e gritar, tentando alertar seu pai para sair dali, mas seus gritos se perdem no ar, não sendo compreendidos. O desespero impulsiona Jasper a correr mais rápido, mas a sombra sinistra que o acompanha é ainda mais veloz, avançando em direção à casa.
A sombra, ciente de que o cheiro está mais forte e indicando o caminho, segue determinadamente em direção à residência de Jasper. Invadindo a casa, a sombra assume a forma de uma figura real, porém flutuante, e ataca Rony, agarrando-o pelo pescoço e fazendo-o flutuar no ar. Vânia e Sofia, que estavam no quarto, são tomadas pelo pânico e correm para a cena, testemunhando a terrível situação.
Sofia, abalada pela cena diante de seus olhos, sente suas pernas enfraquecerem, incapaz de se mover. Vânia grita desesperadamente por socorro ao ver o marido sendo atacado pela sombra sinistra. Jasper, chegando a tempo de presenciar o caos, se coloca na frente de sua mãe como um escudo humano, determinado a protegê-la. Ele pede a Sofia para se levantar, mas ela, dominada pelo medo e pela impotência, declara que não consegue.
Jasper, consciente de que a sombra não pode tocá-la e da importância de controlar as emoções, instiga Sofia a fazer um esforço, pois a vida de todos depende disso. Em meio às lágrimas e ao desespero, Sofia luta para encontrar forças, suas pernas imóveis parecendo pesar toneladas. Jasper, com determinação e amor inabaláveis, estende a mão para Sofia, incentivando-a a se levantar. Com um esforço sobre-humano e o apoio de Jasper, Sofia finalmente consegue se erguer, sua expressão misturando medo, coragem e determinação diante do desafio que se apresenta.
— O que você quer com agente.
— Oh, você é muito inocente, Sofia Black!… Será que eu conto ou vocês contam, Sr. e Sr. Davis?
— Do que ele está falando, mãe?
— Eu acho que o Sr. Rony Davis, não vai sobra para contar história, eu acho melhor você contar sozinha.
Jasper, ao ver seu pai ficando roxo e em perigo, agiu rapidamente, puxando seu pé e fazendo a sombra se dissipar. O alívio e a determinação brilhavam em seus olhos, enquanto ele percebia a conexão especial que ele e Sofia compartilhavam, tornando-os intocáveis. A sombra, enfurecida, tentou atacar Rony novamente, mas foi impedida por Jasper, que segurava sua mão com firmeza.
Rony, enfraquecido, sugeriu que todos se abraçassem, e Jasper explicou que isso poderia tornar a sombra mais vulnerável. O grupo se uniu em um abraço, e a sombra se transformou em uma nuvem de fumaça, formando uma caveira no ar antes de desaparecer no chão. A emoção transbordava enquanto todos se olhavam, sabendo que haviam enfrentado um grande perigo juntos.
Rony e Vânia, incapazes de esconder a verdade por mais tempo, sabiam que agora tinham muito para compartilhar com os outros. A tensão no ar era palpável, mas também havia um sentimento de união e confiança entre eles, prontos para enfrentar o que quer que viesse a seguir.
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