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AMOR A PRIMEIRA VISTA

Capítulo 1

Capítulo 1

As vezes enfrentar o mundo não é tão simples assim. Quebrar barreiras e desvendar o que alguns corações carregam dentro de si, não é fácil.

Conhecemos pessoas amarguradas, solitárias, mas que tem um coração maravilhoso que foi quebrado, despedaçado por várias vezes. Mas, conseguem se manter firmes. Outras trazem a dor dentro de si, mas o sorriso no rosto. Não ferem, não machucam, apenas estão ali. Talvez, já tenham sido tão feridas, que procuram não machucar outras pessoas. Tem outras que parecem anjos, mas são o caos em pessoa. Destruir, humilhar, pisar em outras, para alcançarem os seus objetivos, é o seu maior prazer. Essas são as que gostam de despedaçar corações.

Mas tem aquelas que apesar da escuridão, da solidão, e do temperamento insuportavelmente difícil, querem ajudar, mesmo sem você saber.

Conviver com todas essas pessoas não é nada fácil, mas existe uma que me faz suportar tudo isso. Tem o sorriso banguela mais lindo que eu conheço, cabelos loiros cacheadinhos, olhos amendoados, e tem cinco aninhos. Esse é o único motivo que me manteve nessa casa.

Mudei para a pequena cidade de Citrus, após a morte da minha avó. Decidi mudar de vida, mudar de ambiente e de lugar. Não aguentava mais a cidade, tudo lá estava acabando comigo. Cheguei até aqui por causa de uma amiga virtual. Vim a Citrus uma vez, a convite dela, por causa de um festival anual. Eles celebram a chegada da primavera. Flores & Cheiros. Esse é o nome do festival. A cidade é movimentada nessa época, vários turistas vêm prestigiar a festa. No começo fiquei um pouco apreensiva,por não conhecê-la, mas, depois as coisas fluiram. Sonia é um amor, me recebeu de braços abertos, me senti acolhida como filha.

A viagem é muito tranquila, pelo caminho temos a vista do porto. Uma bela paisagem, diga-se de passagem.

Chego na rodoviária da cidade, e ela está lá a minha espera.

- Luiza, que bom que chegou. Como foi a viagem? - Sonia me abraça,ja fazendo perguntas.

- Estou feliz em vê-la. A viagem foi boa. Como você está? - Enquanto ela responde, já vou pegando as malas.

- Estou bem, já estava preocupada. O ônibus atrasou, aconteceu algo no caminho? - Sonia, pega uma das malas, e vamos em direção ao táxi.

- Ele atrasou apenas cinco minutos, não aconteceu nada no caminho. Apenas algumas pessoas demoraram para descer na outra parada. - Ela apenas concorda com um sinal de positivo.

A casa da Sônia não fica longe, ela é como uma mãe. Ela já tem seus 40 anos, a nossa amizade começou através de um grupo no Facebook, sobre flores. A minha avó era apaixonada,e após a morte dela, não sabia como cuidar de todas aquelas flores. Ela postou uma foto de algumas orquídeas, e a nossa conversa surgiu a partir dessa postagem.

- Deve estar cansada da viagem. - Sonia pergunta, segurando a minha mão.

- Imagina, não foram tantas horas assim. - Na verdade estava cansada, mas tinha a certeza de que um banho resolveria tudo.

- Não entendo, deveria ter vindo de avião. Assim, teria chegado bem mais cedo. Não daria uma hora de viagem. - Ela balança a cabeça em negação.

- É bom poder ver a paisagem mais de perto, o que veria lá do alto? - falo para que fique mais tranquila.

- Bom, o importante é que está aqui, e chegou bem. Estou feliz por você ter vindo. - Sonia sorri para mim.

- Obrigada pelo convite, eu estou feliz por conhecer alguém como você. Depois da morte da minha avó, pensei que ficaria sozinha. - falo já contendo as lágrimas.

- Enquanto eu Sonia Stevens estiver nesse mundo, você nunca ficará sozinha minha querida. Sabe que a tenho como uma filha. - Ela nem imagina como aquelas palavras me fazem bem.

Chegamos a casa dela, como sempre belas flores enfeitam o seu jardim. Não é uma casa enorme, mas o acolhimento, e a paz que aquele lugar transmite, é perfeito.

Sonia, me ajuda com as malas, vamos até o quarto em que ficarei. A casa dela parece ter vida, de tão colorida. O sol que invade o quarto é maravilhoso. É perfeito, não tenho palavras para descrever essa sensação.

- Luiza estarei na cozinha, vou colocar a carne para assar. Fique a vontade, sabe onde fica tudo. Seja bem-vinda, a casa é nossa.

- Obrigada Sonia, não tenho palavras para agradecer. Só vou arrumar as coisas no lugar, tomar um banho, e ajudo você.

- Aqui está tudo sob controle, não se preocupe com isso. Descansa, eu chamo você para o jantar. - Sonia sai, e me deixa só.

Bom ainda posso aproveitar os últimos raios de sol. Desfaço a mala, e arrumo minhas coisas no pequeno guarda-roupa. Não carrego muitas coisas, o espaço é suficiente para tudo.

Deixo tudo em ordem, e vou para o banho. Saio, e vou para a cozinha.

Sonia está habilidosamente (risos) amassando batatas.

- Deveria ter cozinhado mais essas batatas. - disse, e ela olha-me com cara de deboche.

- Deveria, mas, pensei, que a minha adorável amiga ia adorar amassalas. - diz ela, entregando o pote.

- Eu faço isso, mas saiba que será apenas dessa vez. - rimos juntas, pois não seria a última vez.

Conversamos um pouco, sobre como estavam as coisas na cidade. E as minhas preocupações. Conversar com ela era simplesmente maravilhoso. Parecia que tirava um peso de mim. Ela tinha esse dom, tudo ficava mais leve.

Após o jantar, arrumamos a cozinha, e tomamos chá, na varanda da casa. Os vizinhos eram pessoas de idade, muito tranquilos. Aquele era o lugar perfeito para quem quer fugir da cidade e viver em paz.

Capítulo 2

Sonia sai para o trabalho todas as manhãs. Ela tem uma pequena boutique no centro da cidade. Trabalha com roupas sob medida, normalmente ela é quem faz os uniformes, para os empregados de algumas casas. Alguns escolares, ela trabalha com mais duas senhoras. Além de ternos, e vestidos.

Antigamente ela fazia pequenas costuras, mas aos poucos resolveu abrir o próprio negócio. E desde então dedica-se para que ele prospere.

Luiza, aproveitou para limpar a casa, e cuidar das flores.

Não se preocupem, ela deixou tudo explicadinho num papel. Caso contrário, certamente ela ficaria sem flores.

Levou almoço para a Sonia, na boutique, e almoçaram juntas. Depois sai para passear pela cidade. O lugar é simplesmente fantástico.

Passou aquela semana apenas aproveitando.

Sonia estava com um pedido, de novos uniformes para o senhor Guerra. Nunca vi tantas pessoas vestindo preto. Pensei que haviam saído de um velório. Algumas eram simpáticas, outras nem tanto.

- Sonia, eles vieram da casa da familia Addans? - Não segurou o riso. Sonia apenas a olhou seriamente.

Luiza, vê parado na porta um homem alto, vestindo uma roupa completamente preta. E trazia com ele uma menina. Vestindo também preto. Nesse momento pensou que alguém havia falecido, e ela fazendo piada. Ele encarou-lhe, e desviou o olhar assim que a Sonia o cumprimentou.

- Senhor Guerra, boa tarde.

- Boa tarde, viemos tirar as medidas para as nossas roupas.

- Claro senhor, poderia acompanhar-me. Luiza poderia cuidar um pouquinho da filha do senhor Guerra?

- Claro que sim, será um prazer. - Aquele homem olhou-lhe mais uma vez, e depois para a menina. Que apenas assentiu positivamente com a cabeça.

Esperou ele sair, e aproximou-se da menina.

- Como você se chama?

- Helena Guerra. - disse a menina quase sussurrando.

- É um prazer conhece-lá Helena Guerra. Eu sou a Luiza, mas pode me chamar apenas de Lu. - Aqueles olhinhos, me olharam de forma intrigada. - Você quer sentar?

- Sim, por favor. - creio que ela estava muito envergonhada. Peguei a mão dela, e a levei para sentar em um puff todo rosa. Ela olhava timidamente para as cores, e baixava a cabeça.

- Quantos anos você tem?

- Tenho cinco.

- Qual cor você mais gosta?

- Eu não sei. - Sentiu que ela falou de uma forma triste.

- Eu gosto de azul, aqui tem muitas cores, e é tudo bem colorido. Gostaria de ver alguns vestidos?

- Eu não posso.

- Porque? - Perguntou curiosa.

- Não posso vestir outra cor.

Antes que Luiza pudesse perguntar o motivo, o pai da Helena apareceu.

Ele não parecia ser uma pessoa fria, mas era um pouco assustador, a forma como olhava para ela.

- Sua vez Helena. - falou enquanto olhava a menina nos olhos.

- Vamos pequena, eu vou com você. Tenho certeza de que a Sonia fará um belo vestido florido para você. - Naquele momento Luiza sentiu que havia cometido um crime. Ele fechou a cara por completo.

- O mesmo de sempre senhora Stevens. - Ele olhou para Luiza com um olhar acusador.

- Sim senhor Guerra. Luiza minha querida, se quiser ir para casa. - senti que ela estava me dizendo para sair e voltar depois que eles saíssem.

- Vou para casa então, já vou preparando o jantar.

- Por favor coloque as minhas flores na área. - Sonia piscou o olho.

- Foi um prazer conhecer você Helena Guerra. É muito bonita, tenho algo para você. - Luiza pegou um pirulito da bolsa e deu a ela. Imediatamente olhou para o pai, e depois olhou para ela.

- Obrigada, Luiza. - ela o segurou, e guardou no bolso do casaco.

- Licença. - não perdi a oportunidade de encará-lo da mesma forma que ele fez comigo.

Sai da boutique e fui para casa. Aquela piscadinha da Sonia, significava uma coisa apenas. Vamos comer fora. Mas, realmente precisava colocar as flores dela na área.

Aquela menina era tão educada, tão tímida, e precisava da autorização dele para tudo.

Procurei esquecer aquilo, não tinha motivos para me preocupar.

Quando Sonia chegou em casa, já havia arrumado todas as flores no seu devido lugar, e estava pronta a espera dela.

Sonia tomou banho, arrumou-se e saímos para caminhar um pouco, depois sentamos num restaurante perto do porto.

- Você chegou bem em casa? - ela pergunta com um sorriso estranho.

- Sim, porque esse sorriso estranho?

- Nada, achei que o senhor Guerra iria atrás de você. - fiquei um pouco perdida com o que ela disse.

- Atrás de mim, porque?

- Você falou em um vestido florido para a filha dele.

- E qual crime cometi?

- Desde que comecei a fazer as roupas dela, sempre foi usada a cor preta. Nunca vendi, ou fiz algo De outra cor, para qualquer pessoa daquela casa.

- Nossa, eles estão de luto?

- A história não sei ao certo, uns dizem que ele enlouqueceu após a morte da mulher e obriga a todos usarem preto. Todos os funcionários, e até mesmo a filha.

- Coitada da menina, não merecia passar por isso. Ele praticamente me condenou quando falei aquilo.

- Ela quase não fala, sempre olha para ele, antes de responder.

- Isso é triste, mas ela não tem mais ninguém além do pai?

- Não sei muito sobre eles, apenas faço o que ele me pede, paga sempre a vista, não mora no centro da cidade, a filha estuda numa escola particular. Sei disso pois já fiz o uniforme dela.

- Bom vamos esquecer isso. Vamos apenas aproveitar a noite.

Falar sobre aquilo ia acabar com a nossa noite. Mas, conseguimos aproveitar depois. Música ao vivo, algumas pessoas dançando. Aproveitamos antes de ir para casa. No sábado, e no domingo saímos para passear, e aproveitar alguns pontos turísticos da cidade. Alguns que ainda não havia explorado.

Sonia mostra-me um parque, muito bom para fazer caminhadas. Tem algumas trilhas que levam até um lago. Algumas pessoas acampam por ali, mas não é sempre. Jovens frequentam o lugar, gostei de saber que há uma caverna ali por perto. Mas, Sonia não levou-me até o local. Não gostava desse tipo de atividade. Outro dia iria descobrir como chegar até lá. Voltamos para casa, e terminamos nosso domingo com uma bela cerveja.

Na semana seguinte, comprei um jornal, talvez houvesse alguma oferta de trabalho, ou algum curso que pudesse fazer. Li as notícias da cidade, e os eventos que iriam acontecer. A festa da primavera estava prestes a acontecer.

Encontrei uma oportunidade de emprego, o salário era muito bom, precisaria ficar no serviço, deveria saber falar francês, e espanhol, disponibilidade de horário, apresentar um bom currículo, era para ser tutora de uma menina de cinco anos. O único problema desse trabalho, é que era para a família Guerra.

Questionei a mim mesma se deveria tentar essa vaga. Existem pessoas mais capacitadas, mas, por um instante pensei naquela menina. Deveria sofrer nas mãos daquele pai. Não permitir que ela use outro tipo de roupa.

Achei melhor falar com a Sônia, para saber o que ela pensa sobre o assunto.

Arrumei-me e fui até a boutique. Quando cheguei ela estava recebendo uma mercadoria.

Para a minha surpresa o senhor Guerra estava por lá. A Helena não o acompanhava.

- Boa tarde senhor Guerra! - Ele olhou-me, com a mesma cara seria de antes.

- Boa tarde.

- Vi no jornal que estão a procura de uma tutora, é para sua filha? -Ele nem olhou-me para responder.

- Se leu o jornal, deve saber onde deve largar seu currículo. Aliás, está atrasada para entrevista. Seria as 9h, mas já notei que não é pontual. - Que homem mais Abusado.

- Eu apenas pensei em fazer um currículo, mas foi somente por causa da sua filha. Não pense que me agradaria trabalhar para alguém com essa cara. - Aquele olhar que ele lançou-me, pensei que naquele momento ele iria perder a classe, e gritar comigo. Mas perguntou calmamente.

- Que tipo de cara tenho? - O vontade de responder.

- Está sempre muito sério, e me olha como se tivesse cometido um crime. - Ele apenas me esnobou.

Sonia atendeu ele em seguida. Entregou-lhe o dinheiro, olhou-me novamente com aquela cara, e saiu.

- O que aconteceu?

- Nada demais, vim até aqui para saber o que você pensa sobre o anuncio de tutora que tem no jornal, é para a família Guerra.

- Você está pensando em se candidatar para esse trabalho?

- Estava, por causa da menina. Vai saber o tipo de pessoa que irá cuidar dela.

- Bom, eu não sei se você conseguiria, não quero dizer que você não tem capacidade, mas ele é muito exigente.

- Eu li o jornal, realmente tem algumas exigências, acredito que posso cumprir os requisitos. Poderia, se ele não tivesse dito que estou atrasada, pois a entrevista era hoje pela manhã.

- Então era sobre isso que estavam falando?

- Sim.

- Se ele não conseguir ninguém o anúncio irá permanecer. Dificilmente ele encontra alguém daqui.

- Vamos esperar então, depois veremos.

- Quer me ajudar por aqui?

- Claro.

Ajudei a Sonia com os tecidos. Mas, não parei de pensar na Helena. Por algum motivo ela não saia da minha cabeça.

Terminei de ajudar a Sonia, sentei no puff, e pesquisei sobre a família Guerra.

Parece que são muito discretos. Nada de muito interessante.

Quando suspirei profundamente, Sonia foi falar comigo.

- Porque esse suspiro, e essa carinha de preocupada?

- Estou pensando na Helena.

- Lu, você conheceu a menina semana Passada, viu ela apenas uma vez.

- Você não sente pena dela. Ela é uma criança, não acredito que ela seja feliz. - falo aquilo com muita tristeza. Realmente não conheço eles, e nem sei nada sobre a vida da família Guerra, mas, sinto pena da Helena.

- O que vai fazer a respeito? - Sonia pergunta, enquanto olha fixamente para mim.

- Vou esperar, se o anúncio permanecer no jornal, levarei meu currículo até o senhor Guerra.

- Você quem sabe, só não esquece que vai ter que usar preto. - Sonia falou, e voltou para os afazeres dela.

Pensei por alguns minutos,levantei e saí. Caminhei até o parque, talvez lá conseguisse pensar melhor.

capítulo 3

Faço de tudo pela minha filha. Quero que ela tenha uma excelente educação, e um comportamento exemplar. Não é fácil cuidar de uma criança, e ela exige muita atenção. Por isso, mais uma vez colocamos um anúncio no jornal. Procuro alguém que possa dedicar a minha filha todo tempo que necessita. Ajudar nas tarefas escolares, e nas atividades extra-curriculares. Que tenha pulso firme, mas ao mesmo tempo de carinho e tenha cuidado com a Helena.

- Ja encontrou alguem?

- Não senhor, já analisei os currículos que considerei capacitados, mas ainda não tenho nenhuma resposta.

- Alguma Luiza deixou o currículo?

- Não senhor, está esperando por ela?

- Não, mas me avise se alguém com esse nome deixar.

- Sim senhor.

Essa garota, talvez a Helena fosse gostar de ter ela por perto. Foi muito atenciosa com a minha filha, e nesse momento é tudo o que ela precisa, de atenção. Sei que não tenho sido um bom pai, desde aquele dia, mas faço o que posso.

Enquanto Igor pensava no que seria melhor para a sua filha.

Helena assistia a aula, entediada com a aula de matemática. Ela já sabia todas aquelas coisas, e se tornava algo cansativo para ela.

Mesmo para a pouca idade, Helena era capaz de resolver cálculos mais avançados, para a idade dela. Sabia multiplicar, contas com três dígitos, todos os números que pudesse imaginar, algumas divisões. Aprendeu com o pai, o pouco tempo que dedicava a ela, ensinou-lhe matemática. Suas notas eram boas, não as melhores, mas boas o suficiente para dar a ela um destaque entre os alunos.

As professoras não entendiam muito bem porque ela não tinha as melhores notas. Sabia muito mais que os colegas. Mesmo conversando com ela, a menina não se abria. Respondia apenas o básico, e sempre com muita educação pedia permissão para voltar para a classe.

As professoras queriam apenas ajuda-la, mas não viam motivos para chamar o pai da mesma a escola.

Apesar, de Helena ter um quarto somente para ela, sentia-se triste. A rotina era a mesma de sempre. Chegava em casa, fazia os temas, tomava banho, lanchava, e depois esperava o pai para revisar se a tarefa estava pronta. Ele lhe dava um beijo de boa noite e a deixava sozinha.

O quarto tinha tons escuros, assim como uma boa parte da casa.

Igor mantinha uma rotina de trabalho, e toda vez que chegava em casa, ia direto para o escritório. Bebia um pouco de whiskey, e ficava revisando as contas da empresa. Não gostava de pensar no momento em que teria que ir para o quarto. Tinha dias que se questionava, se estaria fazendo o certo, em continuar morando ali com a filha.

Todos os dias antes de ir para a empresa, deixava Helena no colégio. Depois passava o dia na empresa, normalmente ele almoçava por lá. O motorista levava o almoço dele. Se precisasse sair, ele pegava a Helena na escola e levava para o trabalho. Caso contrário, o motorista a levava para casa. Esses eram os poucos momentos que ele ficava de verdade com a filha.

Igor esperou o currículo da Luiza durante aquela semana. Enquanto entrevistava as mulheres escolhidas pelo assistente dele. Se perguntava, se ela ainda mandaria o currículo.

De todas entrevistadas, ele selecionou três. Iria testar elas por uma semana. Queria ver como iriam se sair com a Helena. Seria depois dessa avaliação que ele iria escolher uma delas.

- Senhor, já retirei o anuncio do jornal. Peço a elas para irem tirar as medidas para o uniforme?

- Pode mandar, mas elas estarão em teste. Não recebemos mais nenhum currículo?

- Não senhor.

- Já pode ir então, passe a elas todas as orientações.

- Sim senhor.

Igor ficou mexendo na caneta, enquanto pensava no motivo dela não ter enviado o currículo. Talvez perdeu o interesse.

Ele pensou tanto naquilo, que não se conteve. Levantou, e saiu.

Passou no colégio e pegou a filha. Foi até a boutique, e não viu ela por lá.

- Senhor Guerra, posso ajudá-lo?

- Vim pagar o uniforme de três mulheres que irão vir tirar as medidas. - Ele olhava para todos os lados, procurando pela Luiza.

- Senhor Guerra, algum problema? - Sonia perguntou intrigada.

- Não, nenhum. Quanto lhe devo?

- Se quiser pode pagar depois que elas tirarem as medidas.

- Depois? - Igor pensou por alguns segundos. - Pode ser então, a senhora pode me avisar.

- Claro, não se preocupe. Ligarei assim que elas vierem até aqui.

- Bom, então já vamos. Obrigado. - Igor saiu decepcionado por não ter encontrado com a Luiza.

Assim que saiu da boutique, ouviu alguém chamar a Helena.

- Helena. - um sorriso brotou no rosto da Luiza assim que viu a menina. - Oi, como você está?

- Bem! - timidamente a menina responde.

- Estou feliz em ver você. Estava no colégio?

- Sim.

- Quer entrar e comer um pedaço de bolo? - antes de responder a menina olha para o pai. Que mesmo sem dizer nada, só no olhar já respondia pela menina.

- Obrigada, mas não posso.

- Tenho certeza de que o seu pai pode esperar um pouquinho. - Luiza fala, e olha seriamente para ele.

- Eu preciso resolver algumas coisas do escritório. - Igor responde, olhando com a mesma cara de sério que tanto irrita ela.

- Não seja por isso, eu fico com a Helena, enquanto o senhor resolve as suas coisas. - Luiza responde já arqueando a sobrancelha esquerda.

- A Helena precisa fazer os temas. - Luiza estava ficando irritada com ele.

- Eu ajudo a Helena a fazer os temas, eu dou até banho nela, mas será que o senhor pode deixar ela comer um pedaço de bolo. Tenho certeza que não é pedir muito. - Luiza já estava extremamente irritada com ele.

- Bom, ela ficará então. Mas, se acontecer algo com a minha filha, eu processo você. - Igor falou, mas sabia que nada iria acontecer a filha. Era somente para assustar ela.

- Eu levo ela para casa depois. Não vai acontecer nada. - Luiza ficou mais tranquila.

- Helena, você quer ficar? - ele pergunta, mesmo já sabendo a resposta.

- Sim.

- Tudo bem, as 19h. Esse é o horário que a minha filha deve estar em casa.

- Ela não pode chegar mais tarde?

- As 19h em ponto. Aqui está o endereço da nossa casa. - Igor entregou um papel com o endereço da casa. Despediu-se da filha, e entregou-lhe a mochila.

Luiza esperou ele se afastar. Pegou a Helena pela mão e entraram na boutique. Sonia olhou para ela sem entender nada.

- Sonia, teremos uma companhia para o nosso chá da tarde. - Luiza falou muito animada.

- Bom, então o que estamos esperando para fazer o chá. - Sonia mesmo sem entender, animou-se para preparar o chá.

- Como foi o seu dia na escola hoje?

- Foi bom.

- Tem muito tema para fazer?

- Tenho matemática, e francês.

- Enquanto a Sonia prepara o chá, podemos fazer um deles, o que você acha?

- Tudo bem, você sabe francês?

- Sei, e o que eu não sei você pode ensinar-me. Vem, vamos sentar aqui na cadeira da Sonia, você alcança no balcão?

- Acho que sim.

Luiza colocou ela na cadeira e aproximou do balcão. Ela entregou a mochila da Helena para que pudesse retirar o caderno.

Helena retirou os cadernos, e a agenda. Luiza pegou outra cadeira e colocou ao lado da dela. Ela apenas observou a menina, enquanto fazia os cálculos. Rapidamente eles estavam prontos. Ela conferiu para ter certeza de que estavam todos certos. Aproveitou para olhar o restante do caderno, enquanto ela fazia o tema de francês.

A letra era perfeita para uma menina de cinco anos. O caderno muito cuidado, sem nenhuma marca, ou até mesmo os rabiscos que crianças na idade dela faziam.

Helena pediu ajuda a ela, mas era apenas um teste. Sabia a resposta, mas queria saber da Luiza. Ela respondeu em francês, a pergunta da Helena.

- Vocês estão concentradas aí. O que estão fazendo? - Sonia perguntou, ao aproximar-se delas.

- Estamos terminando os temas.

- O nosso chá já está pronto, e fiz um suco para essa princesinha. Ou você queria um chá? - Sonia pergunta sorrindo.

- Um suco está muito bom.

- Assim que terminar aqui, já vamos lá.

- Estarei esperando.

Helena terminou o tema bem rapidinho. Luiza levou ela para lavar as mãos, e depois foram para a cozinha. Após o lanche, Luiza convidou ela para dar um passeio. Ela levou a Helena até o parque. Colocou ela no balanço e a empurrou. Não muito alto para que ela não caísse.

Igor, mandou o motorista, ficar vigiando elas de longe. Ele chegou em casa e como sempre foi para o escritório.

Assim que elas terminaram o passeio, Luiza chamou um táxi para levar a Helena para casa.

- Princesa, precisamos ir agora. Assim vamos chegar cedo na sua casa, e voce vai ter tempo de tomar banho antes do jantar. - Luiza não tinha a menor vontade de devolvê-la ao pai. Mas, pelo menos sabia que havia tido a oportunidade de alegrar o dia da Helena um pouquinho.

- Tudo bem, você vai poder sair comigo outro dia? - A menina pergunta com os olhinhos cheios de esperança.

- Se o seu pai deixar, a gente pode sair novamente sim. - Luiza não sabia ao certo o que sentia por ela, mas queria fazer ela feliz nem que fosse um pouquinho só.

- Tudo bem, então vamos. Assim ele vai deixar você sair comigo. - Helena pegou a mão dela, e as duas entraram no táxi.

Helena foi segurando a mão dela até lá. Quando chegaram Luiza pediu ao taxista que esperasse. Ela tocou a campainha e esperou ser atendida.

- Boa tarde! Em que posso ajudá-la? - pergunta uma mulher alta toda de preto.

- Vim trazer a Helena, poderia avisar ao senhor Guerra que estou aqui?

- Entre por favor, Helena suba e vá direto para o banho. - Luiza não gostou do tom de voz da mulher. Helena apenas fez sinal de positivo e já ia subir.

- Espera princesa, eu vou dar banho em você. - Luiza colocou a mão no peito da Helena impedindo a passagem dela.

- A Helena sabe tomar banho sozinha. - retruca a mulher, não gostando da atitude da Luiza.

- Mas, eu disse ao senhor Guerra que entregaria a Helena de banho tomado. E como não havia nenhuma roupa dela na minha casa, ela tomara banho aqui, e entregarei ela ao pai já limpinha e arrumada para o jantar.

- Eu não sei quem você é, não vou permitir que entre nessa casa.

- Você não tem que permitir nada, a Helena é dona dessa casa, e ela permite a minha entrada. Agora me de licença, eu tenho mais o que fazer. - Luiza entrou com a Helena, que a levou até o quarto.

A governanta foi até o escritório.

- Senhor Guerra, posso entrar?

- Sabe que não gosto de ser interrompido. O que foi?

- Uma mulher invadiu a casa, e foi direto para o quarto da sua filha.

- Que mulher?

- Eu não sei senhor. Mas ela está lá em cima.

Igor ficou branco, levantou rapidamente e foi até lá.

Luiza entrou no quarto da Helena, e por um instante ficou parada na porta. Não acreditando que estava vendo aquilo. Parecia um quarto de alguma pessoa idosa, e antiga. Não o quarto de uma menina de cinco anos.

- Helena, esse é o seu quarto? -Luiza pergunta, mas incrédula.

- Sim.

- Ok, mas porque não tem coisas de criança? - ela perguntou com medo de ouvir a resposta.

- Meu pai diz que não tem necessidade. Você vai me ajudar no banho? - A pergunta de Helena a tirou dos pensamentos que estava tendo. Luiza a olha e sorri.

- Claro princesa, vamos pegar uma roupa, e eu ajudo você.

Enquanto Helena pegava a roupa, Luiza colocava a mochila da menina na escrivaninha. Igor entrou apressadamente no quarto. Ele olhou para a Luiza, e respirou aliviado, passando a mão pelos cabelos. Se recompôs rapidamente e olhou para o relógio.

- Parece que vocês chegaram cedo. - ele fala, enquanto mantém a mesma expressão de sempre. Por dentro estava feliz por ser ela.

- Sim, disse ao senhor que daria até banho na Helena, mas não havia nenhuma possibilidade de fazer isso na casa da Sônia. - Luiza fala com uma certa tranquilidade, mas por dentro estava indignada com tudo o que estava vendo até agora.

- Espero vocês na sala, assim que der banho na Helena, desçam. - Igor falou como se a Luiza fosse a babá da filha.

- Tudo bem, desceremos daqui a pouco.

Igor saiu e deixou elas sozinhas. Luiza, olhou para a Helena, que estava muito séria. Para descontrair, ela fez uma careta. Helena acabou sorrindo. Mesmo sem entender o motivo, ela amava aquele sorriso banguela.

Luiza ajudou ela com o banho, e quando foi vestir a roupa dela, percebeu que era toda preta. Aquilo já estava incomodando ela. A cor era pesada demais para ser usada todos os dias. Ainda mais numa criança.

- O que foi Lu?

- Nada princesa, já está de banho tomado, e agora vamos secar o seu cabelo.

- Não precisa, ele vai estar seco daqui a pouco. Obrigada.

- Então vamos descer, antes que seu pai suba até aqui.

Igor estava sentado na sala, a espera delas. Luiza apareceu com a Helena.

- Pronto senhor Guerra. A Helena está em casa antes do horário, de banho tomado, com o dever pronto, e sem nenhum arranhão.

- Que bom, pensei que não traria ela no horário combinado. - Igor fala com um olhar ainda curioso sobre ela.

- Tínhamos um acordo, não é mesmo? - Luiza pergunta enquanto o olha fixamente.

- Sim.

- Espero poder sair com a Helena outras vezes?

- A partir de amanhã a Helena vai ter uma nova tutora. Não vai ser possível ela fixar passeando por aí. - diz ele, esperando que ela se manifeste. Mas, ao contrário do que ele pensa, Luiza não entra numa discussão pelo emprego.

- Tudo bem então, eu preciso ir agora. Pedi ao taxista para esperar. - por dentro, ela estava rezando, para que Helena pegasse uma pessoa boa, e que realmente cuidasse direitinho dela.

- Eu vou pedir o motorista para deixar você em casa, eu dispensei o taxista, e não se preocupe já deixei pago. - ele esperava uma reação dela, que o olhava com uma certa raiva.

- Não se incomode, eu posso chamar outro. - Luiza pensava, em como ele foi inconveniente ao fazer aquilo, sem ao menos perguntar a ela.

- Pai a Luiza pode jantar aqui em casa? -A menina pergunta, e olha diretamente para o pai, quase que implorando para ele deixar.

- Ela deve ter coisas a fazer. - No fundo ele só queria uma reação dela.

- Na verdade, não tenho nada para fazer, mas vou avisar a Sônia. Se me dão licença. - Luiza pisca o olho para a Helena, e se afasta com o celular na mão, já ligando para a Sonia.

Igor olha para a filha, que está com os seus olhinhos brilhando. Talvez a Luiza seja a pessoa que a filha precisa para cuidar dela. Mas, ele já havia acertado com as outras três, iria esperar para ver como tudo iria se desenrolar. Ele chamou a empregada, e pediu para por mais um lugar a mesa.

Assim que Luiza voltou, eles foram para a sala de jantar. Pelo menos algo naquela casa não era preto.

Igor, observou a postura dela enquanto jantava.

Como de costume havia um silêncio enorme.

Após o jantar, Igor mandou a Helena subir. Luiza levantou para acompanhá-la. Esperou a menina escovar os dentes, e colocar o pijama. Sentou ao lado dela na cama.

- Quer ouvir uma história antes de dormir? - Luiza só queria ficar mais um pouquinho com ela.

- Eu quero. - disse a menina enquanto se aconchegava no colo da Luiza.

Luiza, calmamente contou a história da Branca de neve, enquanto acariciava os cabelos da Helena. Assim que terminou, ela beijou o rostinho da Helena.

- Luiza, eu me diverti muito hoje. Obrigada. - A menina falou, enquanto abraçava ela. Igor apenas observou a cena da porta.

- Eu fico feliz em saber que você se divertiu hoje. Agora vamos combinar de sair no fim de semana. Eu vou pedir para o seu pai. - Luiza beijou a ponta do nariz da menina, e acomodou as cobertas dela.

Ela levantou para sair, e deixou a luz do abajur acesa. Igor voltou para sala, antes que ela percebesse a presença dele ali.

Luiza desceu, e encontrou ele sentado fechando o notebook.

- Senhor Guerra, obrigada pelo jantar, mas agora preciso ir. - Luiza estendeu a mão para ele.

- Vou deixa-la em casa. - falou enquanto levantava do sofá.

- Não é necessário, posso ir sozinha. - insistiu ela.

- Vamos, já havia pedido para tirar o meu carro. - disse ele, mostrando a saída para ela. Luiza sem ter como recusar, saiu com ele.

Igor, abriu a porta do carro a ela. Luiza agradeceu, e entrou. Eles saíram, e nenhuma palavra havia sido dita até agora. Não que ela não quisesse questioná-lo, mas, talvez já estivesse se intrometendo demais.

- Como a Helena se comportou? - pergunta ele, para quebrar o silêncio.

- Muito bem, como era de esperar. É uma menina adorável, e muito educada. - responde Luiza, que não conseguiu se conter. - Por que faz isso com ela? - questiona, esperando uma resposta plausível.

- Do que está falando? - pergunta ele, sem entender ao que ela está se referindo.

- Não se faça de desentendido, estou me referindo às roupas que ela usa, ao quarto que não é adequado para a idade dela. - Luiza dispara, num tom de voz já irritado.

- O quarto está adequado para a minha filha, você não deve se introduziu em certas coisas. - diz ele, percebendo que ela se irrita com muita facilidade.

- Tem razão, talvez não devesse me envolver nessas questões. Por favor pare o carro. - Luiza pede, sabia que aquela conversa não iria evoluir de uma forma boa. Lembrou os motivos pelos quais foi para aquela cidade. Queria paz, apenas isso.

- Vou deixar você em casa. - disse ele, com muita calma.

- Eu preciso caminhar, só para o carro. - Luiza estava irritada com ele.

Igor parou o carro e travou as portas. Ela tentou abrir, e olhou para ele.

Ele olhou seriamente para ela.

- Por que você se aproximou da minha filha? -Era uma pergunta que ele vinha se fazendo.

- Senhor Guerra conversamos em outro momento, agora se puder abrir a porta, serei grata. Caso contrário iremos discutir, e eu não quero isso. - Luiza procurou falar calmamente.

- Não precisamos discutir. Só quero saber os seus motivos para aproximar-se da minha filha. - Igor estava achando estranha a reação dela, parecia nervosa, agitada.

- Por favor, abre a porta. - Luiza falou tentando se manter tranquila.

Igor destravou a porta, e ela saiu. Luiza respirou fundo, e antes de fechar a porta, deu boa noite a ele. Igor não podia deixar ela sozinha, acompanhou por um tempo. Ele baixou o vidro.

- Luiza entra aqui, vou deixar você em casa. - ele só queria deixa-la em casa.

- Senhor Guerra, vai para casa e fica com a sua filha. Reflita, se é justo fazer tudo isso com ela. - Luiza já havia ficado mais tranquila, mas ainda queria desabafar e falar tudo o que estava entalado.

- Não há nada para pensar. - Igor fechou o vidro, e voltou para casa. Estava preocupando-se demais com alguém que ele nem ao menos conhecia.

Luiza, chegou em casa, depois de alguns minutos de caminhada. Foi direto para o banho, e depois cama.

Igor chegou em casa, e foi para o escritório. Serviu um pouco de whiskey, e bebeu. Abriu uma gaveta que estava trancada no escritório, e pegou um porta retrato. Ele olhou por um instante e depois guardou novamente.

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