Nova York — 2020, um mundo onde não existiu pandemia.
Cidade de Nova York…
A cidade em que todos sonham viver.
Uma cidade de encantos e oportunidades, desde que cheguei aqui fiquei maravilhado com tudo. Não que fosse algo novo para mim, mas as pessoas, o ritmo de vida que elas levam, acabam por contagiar tudo à sua volta.
Eu me chamo Liam, Li Yan Chang, muito prazer! Muitos me conhecem por Chang'ar ou Sr. Chang (não me chamem assim). Recentemente fui transferido para uma grande empresa de jornalismo em NY e me vi numa grande mudança de cenário. Antes tinha uma vida até bem normal em Shanghai, era um jornalista local, até então, muito bem pago. Mas tudo isso devido à minha aparência, chegando a ser confundido com alguns atores, o que era bem “incomum” para um jornalista local, não era algo que eu gostava, mas pensando que em outros tempos eu já fui caçado, ameaçado e até torturado, isso era um bom Karma… E tudo isso apenas por ser considerado um Bruxo.
Bem, eles não estavam completamente errados na época, em parte sou realmente um Bruxo, mas não do tipo “abracadabra” e tal. Sou um ser místico com forte influência mágica, ao certo não sei nem se posso me considerar bruxo, mas é. Infelizmente não me lembro que tipo, mas a magia flui por mim e consigo manipulá-la facilmente. Então desde que a segunda era de caça as bruxas acabou, eu continuei fingindo ser um cidadão comum, procurando sempre estar acima de qualquer suspeita. Felizmente (ou talvez nem tão feliz assim) não sou o único neste mundo em que insistimos em subestimar. Ocasionalmente surgiam alguns seres mal-intencionados, e eles logo se tornavam casos para serem cuidados. Seres como eu, fazemos parte de uma espécie de sociedade secreta (tipo um MIB) onde somos registrados e alguns de nós temos como trabalho manter os Non-Régis, também conhecido como seres de classe baixa, na linha como: Sirens, Ninfas, Espíritos Obsessores, Poltergeist… Enfim, seres místicos e sobrenaturais, que muitas vezes eram espíritos condenados que não achavam seu caminho e acabavam se perdendo, ou imortais que invadiam a terra por mera curiosidade ou eram condenados pelos para passar por provações na terra.
A sociedade secreta é chamada de ACS ou Agência de Controle Sobrenatural. Essa sociedade existe há séculos em toda parte do mundo, divididos em 4 regiões. Norte, Sul, Leste e Oeste, que também possuem subdivisões com a mesma divisão regional. Antes cada divisão cuidava dos seres de sua região. Mas tudo mudou quando algo, até hoje misterioso, aconteceu e todos os seres se espalharam pela terra, se misturando uns com os outros e fazendo assim todas as regiões se tornarem apenas um centro. Mesmo assim havia as sub-divisões, e eu pertencia à divisão Leste, mais especificamente a divisão Sub-leste responsável por toda área da China até a Indonésia, por possuímos semelhanças entre nós no sentido sobrenatural.
Antigamente, nossa divisão tinha uma comandante suprema, ela era responsável por ordenar as equipes e treinar todos os caçadores e supervisores daqui, mas de repente ela desapareceu. Muitos dizem que ela enlouqueceu enquanto tinha o poder, e que estava treinando prisioneiros para serem seus soldados e dominar toda a divisão leste, e consequentemente toda ACS. Outros acreditam que ela apenas cansou do trabalho e resolveu tirar umas férias. Isso acho creditável até um certo ponto, mas há algo muito misterioso sobre essa Comandante Desaparecida que me faz querer acreditar mais na primeira versão dos boatos que nesta segunda.
Bem, em compensação, desde seu desaparecimento, o caos no mundo sobrenatural diminuiu e seu impacto no mundo real é quase imperceptível. O que proporcionou a aliança da subdivisão leste anos de paz e calmaria. Como eu era um dos âncoras do jornal local, me sentia um pouco entediado, pois as notícias eram mais comuns que qualquer coisa, e com tranquilidade em Shanghai logo me transferiram para Nova York. Mas não foi o canal de TV e sim a agência. Agora estava temporariamente como um caçador e teria um contato que me ajudaria como supervisor enquanto agia do outro lado do mundo.
(Logo EU precisando de ajudante).
Achei uma ideia ridícula de início, já que sempre trabalhei sozinho, mas no fim me convenceram de que seria muito melhor no trabalho, então aceitei sem grandes expectativas. Para minha sorte e desespero do ACS, meu ajudante jamais apareceu desde que me mudei e com isso todo o trabalho que surgia eu fazia praticamente sozinho, como uma forma de convencer eles de que não precisava de ninguém no meu pé. O trabalho no jornal também ajudava bastante a encontrar os casos por conta própria. Enquanto separava as matérias para irem ao ar, encontrava casos e relatos de ações sobrenaturais que ocasionalmente surgiam e eu ia atrás, com a desculpa de fazer um trabalho investigativo.
Três meses depois eu já estava completamente familiarizado, aproveitando o trabalho e o apartamento que tinha apenas para mim. Havia feito amizade com a assistente de jornalismo do setor, e meu chefe simplesmente adorava a audiência que o jornal trazia com a minha participação. Enquanto isso os casos não paravam, eram diversos casos a todo momento. A vida estava perfeitamente estável… Perfeita demais para durar.
E finalmente veio o fatídico dia…
O dia ocorria normalmente, estava organizando as notícias da programação da noite quando vi um caso, aparentemente parecia um caso de latrocínio em uma residência. Os vizinhos ouviram barulhos de briga no noite anterior à chegada da polícia que foi a residência na manhã seguinte. Os policiais não encontraram sinais de arrombamento, nem a causa da morte do casal que segundo relatos viviam sozinhos. E o mais esquisito é que segundo a perícia, nada foi roubado da residência.
“Tudo que encontramos foi uma mancha roxa fluorescente nos lábios das vítimas.”
Isso não passava de um mistério para a polícia. Mas pelos relatos e a pista da mancha roxa ficou claro para mim que era a ação de um Inferi Parasita, um corpo morto reanimado por necromancia, que se alimenta da alma humana para se manter vivo, e apenas isso é o seu objetivo. Dependendo da idade e da quantidade de humanos que ele se alimente, sua expectativa de “vida” pode passar de séculos, caso contrário ele volta a forma de cadáver até se tornar pó.
O casal já tinham uma idade bem avançada, o que significava que não havia muita vida para ele poder se manter, então ele atacaria novamente se eu não entrasse nesse caso. Peguei todos os arquivos daquela matéria e delete substituindo por uma história de uma celebridade que adotou gêmeos num trabalho voluntário na África. Avisei a Daneel que iria sair mais cedo porque tinha um compromisso marcado caso o Hans, meu chefe perguntasse por mim, e assim que saí do prédio tomei um táxi até o endereço da matéria.
Chegando a residência o taxista disse que aquela casa agora lhe dava arrepios, provavelmente ele tinha algum nível de mediunidade, pois dificilmente humanos comuns sentem algo em um lugar que nunca estiveram. Caminhando até a entrada da casa, a presença da magia escura do Inferi ainda estava bastante forte. Por dentro a casa parecia em ordem, apenas o quarto do casal estava um caos e os corpos já haviam sido levados.
(Ótimo! Vou ter que esperar a perícia do corpo então?)
Mas um barulho no andar superior da casa me tirou o resto de bom humor que eu ainda tinha. Sentindo a tensão no ar me direcionei as escadas subindo silenciosamente cada degrau, porém no penúltimo um ranger veio dele o que me fez avançar para cima e...
– EXOT-
– MIAAAAAAAU!
— Mas que porra!
Era a porra de um gato! Um gato preto!
Recuperei o fôlego olhando as escadas a tempo de ver o gato correndo por elas para o corredor.
— Gato desgraçado!
Infelizmente depois disso não senti mais a aura mágica que estava na casa, quase como se o gato tivesse feito com que ela desaparecesse. Desci as escadas novamente indo para a sala de estar, era uma casa bem arrumada com várias fotos do casal espalhadas pelo corredor e pela sala, mas em nenhuma delas haviam um gato.
(Pode ter sido adotado recentemente. Ou talvez…)
Saí da sala de estar e fui em direção à cozinha, encontrando o gato sentado na frente da porta que dava para o quintal da casa, me encarando com o olhar mais irritado que já vi num gato. Eu não liguei e fui procurar indícios na cozinha, quando encontrei rastros da mancha roxa deixada pelo inferi. Os policiais tinham razão, parecia um cenário de latrocínio, mas não havia pistas que indicasse isso porque o que foi roubado não era nada físico. Nesse momento um barulho de algo metálico caindo no chão me chamou atenção, então novamente olho o gato que agora estava na bancada que dividia a cozinha da sala de jantar. Peguei a colher e a coloquei de volta na bancada apenas para encontrar um par de olhos amarelos brilhantes me encarando.
— O que foi? Está com fome?
– Miau.
— Hum?
(Estão adestrando gatos para responder agora?)
O olhar do gato voltou a ser raivoso, parecia que a qualquer momento ele pularia na minha cara e rasgaria ela completamente até que ninguém pudesse me reconhecer. Quando o gato começou a se armar peguei a colher novamente, mas para minha surpresa o gato apenas me usou como um impulso. Quando me virei, o gato havia saltado para cima do Inferi que estava atrás de mim, pronto para atacar. O gato conseguiu se segurar na pele deformada do cadáver, o que me deu tempo de reagir e ir para cima do Inferi.
– Ecxodum Lockio.
O corpo do Inferi foi finalmente paralisado por correntes e o gato agora me olhava com menos ódio, não parecia assustado, mas também havia se machucado certamente pelo Inferi.
— Se vinher comigo posso cuidar disso depois!
O gato nem miou, apenas se levantou e saiu andando pela cozinha como se nada tivesse acontecido. O Inferi, por outro lado, grunhia de ódio tentando se soltar, mas para o azar dele o feitiço só o aprisionava ainda mais.
— Se acalma aí! Logo você vai estar livre dessas correntes, mas não sei se vai viver o suficiente para aproveitar essa liberdade. Vamos bichano!
Com alguns toques no ar formando um octograma conjurava um portal em forma de hexagrama diretamente para o ACS juntamente com o gato. Assim que chegava ao saguão lembrava que tinha que falar os direitos do prisioneiro, então o fazia enquanto caminhava em direção às celas.
— Bem, pela lei tenho que te falar os seus direitos… Tem o direito de ficar calado, qualquer coisa que disser guarde para a suprema corte por que eu não tô nem aí. — Não era verdade, mas era uma boa tática para arrancar confissões sem pressão. — Você só será ouvido uma vez durante o interrogatório, então eu não ficaria de gracinha se corresse o risco de retornar ao pó.
O Inferi riu, eu acho que ele riu.
[Inferi]
— Como se um imortal tivesse medo da morte. Sua alma seria perfeita para alimentar todos de nós eternamente!
[Liam]
— Como eu disse, eu não tô nem aí. Bai Jing!
Bai Jing é a gerente atual da subdivisão leste desde que a líder anterior desapareceu. Eu e ela treinamos juntos e somos praticamente como irmãos, mas desde que assumiu o posto de gerência, além de viver ocupada, também prefere que eu a trate como uma superiora. Eu tento não me importar com todas essas exigências mesmo sendo abaixo do nível empresarial dela. Enquanto estamos diante de seres importantes ela é minha chefe, mas diariamente ela sempre é minha irmã mais nova.
[Bai Jing]
— Você trabalhou hoje Liam. O que temos aqui?
Ela caminhou até mim quase sem tirar os olhos da sua prancheta e com um copo de café na outra mão.
[Liam]
— Te mando os dados depois, já tô vendo que você está cheia de trabalho.
[Bai Jing]
— Você não faz ideia! A subdivisão do norte está cheia de problemas na América do Sul. Ainda acho que despachar nossos agentes para outras partes do mundo é um desperdício, não é?
[Liam]
— Mas você tem visto o trabalho que temos tido nos últimos três meses, eles precisam da nossa ajuda. E você… precisa parar com o café, ou vai fazer seu pelo cair!
Bai Jing é uma Raposa Vermelha de Nove Caudas do clã das raposas vermelhas (Hóng hú), porém muito viciada em café. Uma das dificuldades das raposas vermelhas é controlar seus vícios e desejos e Bai Jing infelizmente foi muito mimada por mim antes de saber dessa informação, e o vício dela em café a deixa extremamente agitada. Pode ser bom no trabalho, o que fez dela a gerente geral, mas é um empecilho para sua magia que se torna limitada. Por isso tomei o copo de café dela apenas para receber seu olhar irritado.
[Bai Jing]
— Prefere que eu chame os guardas?
Ela se referia a mim, mas aproveitando que já estava com uma ameaça ao meu lado, sorri, levitando o café passando por ela e colocando numa mesa distante.
[Liam]
— Ah, sim, por favor. Esses bichos fedem mais que um demônio!
[Bai Jing]
— Hum… Deve ter tido trabalho para pegar esse parasita.
[Liam]
— Bem, na verdade, bem menos do que o de costume… espera, cadê ele?
Começava a olhar no chão em volta procurando pelo gato. O pestinha de repente desapareceu.
[Bai Jing]
— Ele quem?
[Liam]
— Um gato que veio comigo, ele…
Bai Jing riu e se aproximou para olhar ma mesma direção onde eu procurava ver se o gato não havia ficado para trás no meio do caos do saguão.
[Bai Jing]
— Liam, você ainda fala com gatos? Não tinha nenhum com você quando chegou aqui!
[Inferi]
— Hahahaha, ele fala com gatinhos!
[Bai Jing]
— Você continua aqui?
Ela se afastou se voltando para o Inferi Parasita. Eu também havia ignorado que esse monstro estava ali, mas a voz mórbida e a risada sem graça dele me fez lembrar do pobre casal morto. Bai Jing acenou para dois guardas da prisão dimensional que se aproximaram.
[Bai Jing]
— Podem levar, logo farei o interrogatório!
Os guardas agarraram as correntes do Inferi e o puxaram até o portal da prisão, por onde desapareceram. Eles são os carcereiros desses non-regis. As prisões eram dimensões de vácuo, onde nada existe além do próprio prisioneiro, ele tinha liberdade total lá, porém não tinha nada o que utilizar, nem nada para fazer, muito menos poderes para saírem de lá, por isso muitos enlouqueciam ou morriam antes mesmo de irem à corte. (Uma pena.)
[Liam]
— Eu vou dar uma olhada por aí, talvez ele tenha se perdido. Mais tarde eu prometo que mando um relatório!
[Bai Jing]
— Tudo bem, boa sorte com seu novo gato!
Alguma coisa nessa fala me dizia que ela sabia onde estava, ou de qual gato eu estava falando, mas infelizmente ninguém havia visto gato em lugar nenhum, então resolvi acreditar que o gato deve ter recuado e ficado na casa dos seus donos. Eu retornei para o saguão onde conjurei um portal para uma rua algumas quadras do prédio onde fica o meu apartamento, fiz umas compras para o jantar e segui para casa.
No caminho recebi uma mensagem da Daneel falando que o Hans me pôs de castigo e queria algo diferenciado para ser noticiado no jornal de domingo a noite.
(Que maravilha, trabalhar no final de semana!)
Assim que abri a porta do apartamento ouvi o barulho da água do chuveiro. Eu deixei as minhas compras no balcão da cozinha enquanto caminhava em direção ao banheiro pronto para conjurar um feitiço de aprisionamento. Eu me perguntava quem seria maluco o suficiente para invadir meu apartamento e usar meu banheiro, mas em seguida me dei conta de que a porta da frente não estava arrombada.
(Devem ter feito cópia das chaves… Algum morador antigo… Não, nenhum ser iria invadir a casa de alguém só para tomar banho…)
Pensava enquanto atravessava a sala chegando próximo e vendo que a porta do banheiro estava apenas encostada, então, em vez de um feitiço de aprisionamento, invoquei um feitiço revelador que abriu a porta apenas para eu dar de cara com um homem tomando banho… Mas não era um homem. Ele tinha orelhas de gato e uma cauda preta em volta da sua cintura e tentava se esconder no vapor do chuveiro, mas eu consegui ver muito bem o que era, ou pior, quem era!
– QUAL É NÃO SABE O QUE É PRIVACIDADE?
[Liam]
— Um Neko???
Novembro de 2019-Busan, Coreia do Sul (em algum lugar fugindo da guarda-florestal coreana)
Ah! Oh, desculpe…
Quero dizer… Olá, eu sou Kim Eun Jin. Desculpe a introdução confusa, eu também estou um pouco confuso, ultimamente vêm acontecendo tantas coisas confusas…
Bom, vou explicar o início.
Há alguns meses eu era apenas um cara comum, procurando uma universidade para seguir carreira na Coreia. Eu sou órfão, e viver em um abrigo não era algo fácil, principalmente quando você era responsável pelo sustento dele e do seu futuro, mas conseguir entrar uma universidade seria a garantia de uma vida melhor para todos nós. Foram semanas até conseguir uma boa faculdade, mas logo após sair do local, algo me impediu de seguir em frente com isso.
Eu teria que largar o lar e a família que me acolheu, deixando toda a responsabilidade com um dos acolhidos que era muito mais novo do que eu. Foi um dilema, eu não queria ver nenhum deles tendo responsabilidades de adulto sendo tão jovens, como aconteceu comigo e também não queria perder essa chance de fazer uma faculdade decente. E esse mix de sentimentos acabou desencadeando um descontrole mágico. Sim, mágico, esse é outro problema sobre mim…
Eu sou um Bakeneko, uma espécie de espírito felino com forma de gato. Mas também sou um metamorfo, além de possuir a forma de um gato, também possuo a forma de um humano. Às vezes essas formas se mesclam, mas se eu não as controlo, isso resulta em um grande felino negro. E descobri isso da pior forma com apenas 16 anos.
(Um banheiro nunca foi tão pequeno!)
E se Tigres e Panteras Negras já assustam, imagine um gato maior que um Ligre caminhando pelas ruas de Busan. Pois foi o que aconteceu! No início eu nem me dei conta do que estava acontecendo até ver meu reflexo em um prédio. Correr para me esconder foi meu primeiro pensamento, mas onde se esconde um gato de 3 metros de altura? Minha única opção foi correr para o parque municipal onde a mata era fechada e ficar por lá até a guarda-florestal desistir de me procurar ou até que eu voltasse ao tamanho de um gato normal.
Tudo já estava um caos, e foi aí que encontrei ela, Bai Jing, que surgiu como uma Gumiho, um espírito de raposa com nove caudas. Era o ser mais lindo que eu havia visto na vida, sua aura alaranjada brilhante parecia fogo, ou talvez devesse ser apenas seu pelo brilhando mesmo, mas ela estava indiferente a mim naquele momento. Ela me mandou segui-la entre as árvores e quando me dei conta estava numa espécie de saguão enorme com vários tipos de criaturas andando por ele.
Fadas passavam por minha cabeça e nem todas eram iguais a Sininho, umas eram assustadoras de verdade, mas todas eram pequenas (ou talvez eu estivesse grande). Também havia outros espectros animais do tamanho da Bai Jing, Ghosts atravessavam meu corpo como se eu nem estivesse ali (é bem gelado), o mais engraçado é que havia outras criaturas que nunca havia ouvido falar, outras que só ouvi em contos infantis. Tive que ter bastante cuidado ao andar por ali sem acabar pisoteado ou machucado alguém sem querer, o que só piorou minha ansiedade.
– Espere aqui, e tente não se mexer muito!
Bai Jing me falou antes de assumir sua forma humana, e ela não parecia ser muito mais velha do que eu, no mínimo 2 anos só. Ela caminhou elegante entre a multidão mistica até uma sala, e não demorou muito até voltar com uma bandeja de chá. Ela conjurou uma mesa para dois ali no meio do saguão, pegou o bule e serviu uma xícara generosa antes de me pedir para abrir a boca, então despejou o chá e em seguida se serviu.
O chá que tinha um gosto terrível no início, como madeira seca, canela e gengibre velho, com o tempo ia melhorando e no fim tinha gosto de camomila, limão e mel. Quando me dei conta novamente, já havia voltado a forma humana, porém mesclado com minha cauda e orelhas ainda a mostra.
– Se sente melhor?
[Eunjin]
– Ah, sim! Gomapsumida!
– Não há de quê, é bem raro encontrarmos Nekos hoje em dia. Vocês estão praticamente extintos!
[Eunjin]
–Nem imagino o porquê. Olha, er… Senhora, eu não…
– Senhora?
Bai Jing me olha com uma expressão ofendida, mas logo sorri vendo que eu estava mais confuso do que disposto a ofender ela.
– Por favor! Pode me chamar de Bai Jing ou Noona se sentir que é melhor para você.
Ela falou rindo diminuindo a tensão que eu estava. Por alguma razão, parecia sermos velhos conhecidos, amigos de longa data ou talvez de outras vidas. Eu tentei explicar que não tive a intenção de assustar ninguém nem causar transtornos, e ela ouviu tudo atentamente e em silêncio. Em seguida se levantou da mesinha e pediu para que eu a seguisse novamente.
Ela me explicou o que era aquele lugar e o que eles faziam e me disse que se eu quisesse continuar a conviver em sociedade teria que aprender a me controlar, controlar os meus instintos e entender o que acontece comigo. Ela também me ofereceu a opção de me registrar e assim integrar o sistema de Ocultação e Proteção Aos Seres Sobrenaturais (O.P.A.S.S) com um simples trabalho, agir como um informante e avisar sobre anomalias causadas por seres sobrenaturais, foi assim que ela chegou a mim.
Não precisei pensar muito antes de aceitar, eu precisava me manter em segurança e mais importante manter outras pessoas em segurança. Óbvio que foi bem esquisito nos primeiros meses trabalhando lá. Conheci seres que nem sabia existirem como um golfinho rosa que vira homem ou uma pomba branca que na realidade é uma mulher que suga almas. O mundo como eu conhecia virou algo além do que eu podia ver, o que me fez ter interesse em descobrir sobre cada criatura nele.
Paralelo a isso, minha saga em busca da universidade tomou um rumo diferente...
Enquanto trabalhava para a ACS, também trabalhava de meio período num mercadinho de bairro, o que melhorou o sustento da família que me abrigou. Até que o pai da família conseguiu um reconhecimento legal e conseguiu transformar o abrigo num orfanato de fato e logo muitas das crianças que viviam lá conseguiram um novo lar só para elas, e com isso também não tive que me ocupar com o sustento do orfanato, apenas com as doações.
Seis meses já haviam se passado desde que entrei para o OPASS e estava meio que me formando como um supervisor. Supervisores são os responsáveis em acompanhar, ajudar e categorizar todos os seres que seu caçador captura. Todo supervisor tem seu caçador definido e logo na minha formatura eu recebi os dados sobre o meu.
[Eunjin]
– Shanghai?
[Bai Jing]
– Algum problema?
[Eunjin]
– Noona eu não posso sair de Busan, não agora! E se precisarem de mim?
[Bai Jing]
– Não se preocupe, eles estão muito bem agora não estão? E em Shanghai já tem uma universidade esperando por você. Principalmente indicado por um de seus ex-alunos.
Bai Jing me entrega um envelope com o brasão da universidade, eles já haviam combinado tudo. Até o curso que eu faria enquanto estivesse auxiliando o caçador designado para mim, o que não era nada ruim. Eu não tinha muitas escolhas, e ela tinha razão em dizer que o orfanato não precisava mais de mim, então não tinha muito o que me prendesse na Coreia, e logo parti para a China.
Janeiro de 2020 (3 meses depois) - Academia de Relações Internacionais em Shanghai.
Agora aqui, desde que me mudei, nada aconteceu no mundo sobrenatural, muito menos encontrei o caçador que deveria supervisionar. Na universidade eu fiz amizade muito rapidamente com um calouro do curso, mas infelizmente ele tinha outros sentimentos em relação a mim, e isso meio que nos afastou nos últimos meses.
As aulas eram intensas, mas mesmo durante elas eu ainda tinha tempo de estudar magias e criaturas mágicas. Tudo estava estranhamente calmo demais, o que me fazia surtar minimamente, e ir atrás de Bai Jing de vez em quando para pedir que fosse transferido para outro caçador em outro lugar que fosse, porque uma coisa que odeio é me sentir inútil. Nada anormal acontecia na China, então descobri o porquê.
[Bai Jing]
–Desculpe Eunjin, é uma questão de atualizações. Recentemente que o ACS se estabilizou e muitas coisas continuam sendo organizadas, inclusive a frequência de anormalidades no Leste Asiático.
[Eunjin]
–Mas o que eu vou fazer? Nem posso transferir meu contrato para outro agente na Coreia. Se pelo menos eu tivesse encontrado o caçador…
[Bai Jing]
–Sim, bem sobre isso…
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