NovelToon NovelToon

Nosso Encontro Destinado

Destruindo um sonho

Deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. Eu iria noivar com o homem que tanto sonhei. Aliás, me chamo Amanda Queiroz, tenho 30 anos, trabalho como repórter em uma emissora de televisão de maior audiência. Desde pequena sempre imaginei meu noivado e casamento, mas nunca pensei que tomaria um rumo completamente diferente dos meus sonhos.

— Podemos conversar? — Samira, um das minhas melhores amigas e também madrinha do meu casamento, me disse entrando no quarto onde eu me arrumava.

— Claro. Algum problema? — Falei com um sorriso. Estava ansiosa para encontrar com Gabriel. Não nos víamos desde ontem, mas parecia muito mais do que isso.

— Amiga, sabe que pode confiar em mim. Nunca iria te julgar ou nada do tipo. Quero saber apenas saber se tudo é verdade. — Samira parecia agitada. Fiquei surpresa.

— Não entendi. Do que você está falando? Aconteceu alguma coisa? — Me levantei preocupada.

— Eu.. Fiquei sabendo que você nunca fez intercâmbio. Na verdade, esteve nos Estados Unidos vendendo seu corpo e acabou engravidando, mas para que ninguém soubesse, você vendeu a criança para uma família e voltou para casa como se nada tivesse acontecido, com a desculpa do fim do intercâmbio. Isso realmente aconteceu? — Samira me perguntou. Senti todo meu corpo gelando. — Seu rosto te incrimina. Sequer consegue responder. Porque esconder isso de mim? Sou sua melhor amiga, fiquei tão surpresa quando soube. Imagino a reação de Gabriel quando você contou tudo para ele.

— Não! Gabriel não pode saber de nada disso. Não pode dizer nada para ele, por favor. Você entendeu errado. Por favor, esqueça essa história. — Eu tentei meu melhor para não lembrar dela.

— Quer dizer que Gabriel não sabe de nada disso? Vocês vão casar, Amanda. Como pode fazer algo assim como um homem como ele? O que eu entendi errado? Qual parte? Você fez ou não um intercâmbio? Teve um bebê ou não fora do país e vendeu para outra pessoa criar? Alugou ou não seu corpo para outras pessoas? Porque não é sincera comigo. Confia em mim ou não?— Samira parecia brava. Não queria mentir para ninguém, era algo que decidi esquecer.

— Eu sei como parece, mas não foi exatamente assim. Pode me ouvir? Eu confio muito em você. É minha melhor amiga. Preciso que me entenda e confie em mim. — Meu corpo tremia. Não sabia nem por onde começar a falar. Olhei para o relógio, já estava na hora do almoço. Todos devem estar esperando por mim. — Te explicarei tudo depois. Hoje não é o dia para isso. É algo muito difícil para mim. Preciso ir para meu almoço de noivado. Todos estão esperando.

— Então tudo é mesmo verdade! Você escondeu não apenas de mim isso, mas também do homem que decidiu passar o resto da vida com você? Não acha injusto que ele case com uma mulher falsa e mentirosa? Se você não disser a ele a verdade, eu mesma direi. Não vou deixar que o engane dessa forma. — Samira estava sendo um pouco mais áspera do que imaginei. Não pensei que seria julgada dessa forma.

— Não será necessário. Eu ouvi tudo. — Gabriel disse entrando no quarto.

— Gabriel? — Olhei surpresa. Minhas pernas estavam bambas. — Espera. Não é exatamente como vocês estão pensando. Acreditem em mim.

— Não fale meu nome. Parece nojento meu nome saindo de uma pessoa que faz o que você faz. — Gabriel olhava com nojo para mim. — Como pude me deixar ser enganado por uma mulher como você.

— Espera. Não é como pensa. Certo, talvez eu realmente tenha omitido uma parte do meu passado, mas tem uma explicação. Pode se acalmar um pouco e me ouvir? — Estava quase implorando. Parecia que ninguém me ouviria. Tinham já me julgado.

— Que explicação você me faria para não ter me contado que era uma prostituta sem escrúpulos que vende seu filho e volta como se nada tivesse acontecendo? Você faz tudo por dinheiro? Casar comigo também é por isso? Quer uma vida boa? Você é a maior decepção da minha vida. — Gabriel tinha lágrimas nos olhos. Samira correu e abraçou meu noivo. Tentando confortar ele. Isso parecia errado de tantas formas diferentes.

— Gabriel… Espera. Podemos conversar sozinhos? Eu irei explicar tudo. Tenho certeza que vai me entender e isso aconteceu no passado. Eu apenas… — Fiquei nervosa só de ver Samira enxugando as lágrimas de Gabriel.

— Amanda, não quero ouvir mais nada vindo de você. Vá embora. Não apareça nunca mais na minha frente. E envie sua carta de demissão hoje mesmo. Trabalhamos com pessoas de respeito, não vamos aceitar alguém com um passado sujo como o seu. Faça ao menos algo digno nessa sua vida de merda. — Gabriel não era apenas meu namorado, mas também, meu editor-chefe. — Você é o maior erro da minha vida.

— Gabriel! — Gritei ao notar que ele e Samira estavam saindo do quarto abraçados.

— Não acha que já machucou demais as pessoas. Vá embora, Amanda. Nada que você falar vai mudar o tipo de passado que teve e como enganou a todos fingindo ser pura e boazinha. Ninguém quer ouvir mais nenhuma mentira da sua boca. — Samira disse antes de saírem do quarto.

Não consegui dizer mais nada naquela situação. Estava com um misto de sentimentos, culpa, raiva, decepção. Me sentia traída e abandonada pelas duas pessoas que mais confiava. Pensei nos convidados que estavam nos esperando para comemorar nosso noivado. Como poderia encarar eles? Se aqueles dois que eu confiava e pensei que acreditavam em mim, me julgaram sem pestanejar. Quem dirá o que os outros vão fazer. Iria apenas gastar saliva explicando.

— Ah! Não me arrependo de nada. — Sussurrei para mim mesma antes de pular pela janela. Eu só queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Estava me sentindo sufocada.

Estávamos em um hotel beira mar. Eu desci para praia com um vestido branco longo e elegante. Por onde eu passava, me olhavam curiosos. Eu mais parecia uma noiva em fuga, realmente estava fugindo de alguma forma. No fim, não me arrependo mesmo, tinha minhas razões, mas não quer dizer que foi fácil e que eu queira relembrar. Continuei caminhando na beira da praia até que tropecei em um garoto que estava sentado na areia da praia chorando, olhando para o mar, completamente sozinho.

Sorte? Não, azar.

— Você está bem? Eu te machuquei? — me ajoelhei na frente do garoto que chorava.

— Ah! Não. Eu… — o garoto começou a chorar mais ainda.

— Você está machucado? Precisa de um médico? — perguntei desesperada. Já imaginando a manchete dos sites de fofoca: " Jornalista foge do seu noivado e quase mata menino na praia".

— Não. — O garoto respondeu sem parar de chorar. Fiquei na dúvida se a resposta dele era para o médico ou para ter se ferido.

— Qual é o seu nome? — Perguntei sentando na areia da praia, ao lado dele. Era mais fácil acalmar ele antes. Talvez estivesse mais assustado do que eu.

— Martin — O garoto respondeu.

— Onde estão seus pais? — Questionei. A praia estava completamente deserta. Como era um lugar impróprio para o banho, normalmente, não haviam banhistas nas redondezas, era até mesmo estranho encontrar uma criança por ali pelo perigo que era a praia.

— Mamãe está no céu. Papai me abandonou. — Martin respondeu com tristeza. Senti uma pontada no meu coração. Que tipo de pai abandona o filho?

— Porque diz que ele abandonou você? — Olhando para o garoto, podia se ver claramente que era bem cuidado. Suas roupas eram de marca. Tinha um semblante pálido, mas saudável. Não parecia características de alguém abandonado.

— Ele não veio me buscar. — Martin respondeu desenhando algo na areia da praia.

— Seu pai sabe que você está aqui,

perdido, esperando por ele? — Era desolador ver aquela criança nessa situação.

— Não sei. — Martin disse olhando para mim.

— Então, não deveria tomar conclusões precipitadas. Deve se encontrar com ele e tirar suas dúvidas, mas até que isso aconteça, que tal um sorvete? — Ofereci. Me senti um pouco criminosa, mas não podia deixar uma criança sozinha na praia. Alguém poderia machucar ela. Meu plano era ir na delegacia depois de acalmar Martin.

— Papai disse que eu não deveria acompanhar estranhos, mas você não parece estranha para mim. — Martin talvez não tenha compreendido exatamente o que o pai quis dizer com estranhos. E definitivamente, não tinha nada de normal em mim.

— Talvez seu pai quisesse dizer para não acompanhar pessoas que não conhece. E realmente ele está certo. As pessoas podem ser bem ruins. Na frente das pessoas podem parecer ser boas, mas por dentro são malvadas. Lobos em pele de cordeiro. — Me perguntei se ele entenderia o que eu estava tentando dizer.

— Acho que eu entendi, mas as pessoas que conhecemos também podem ser assim, né? — Martin me surpreendeu com aquilo. As crianças estão cada vez mais precoce. Eu nunca teria tido uma conclusão dessa na idade dele, mas eu compreendia exatamente o que ele estava falando. Samira, dizia ser minha amiga. Gabriel era meu noivo. Nenhum dos dois confiaram e acreditaram em mim. Será que sempre foi assim e eu não notei?

— Sim, às vezes nos enganamos em relação às pessoas. Ah! Deixa eu me apresentar, eu me chamo Amanda, tenho 30 anos, sou jornalista e acabei de fugir do meu noivado. — Essa era a minha nova descrição. Pensando nisso, não pude deixar de rir.

— Você não gostava dele? — Martin perguntou surpreso.

— Sim, mas talvez ele não gostasse o suficiente de mim. — Na verdade, talvez até gostasse, mas amor não é o suficiente para uma relação, ele não tinha confiança o suficiente ou teria deixado eu me explicar. Me senti o tempo inteiro encurralada por eles dois. — E você, quantos anos tem? Como veio parar na praia?

— Eu tenho oito anos, a namorada do papai me trouxe, mas desapareceu. — Martin disse desanimado. Oito anos, que coincidência, aquela criança também teria a mesma idade que ele. Me pergunto como ela está agora? Será que está tão bonito assim?— Então, que tal o sorvete?

— Sim! — Martin respondeu um pouco mais animado. O que foi ótimo.

No meio do caminho, conversamos sobre várias coisas que tínhamos em comum. Assim como eu, o garoto é fascinado em astronomia, quebra-cabeças e jogos de videogame. Bom, a última parte creio que a maior parte das crianças da idade dele tem.

— Qual sorvete.. — Quando ia pedir o sorvete notei que havia fugido sem carteira ou celular. — Temos um probleminha. Eu fugi sem carteira ou celular. Temos que cancelar o sorvete.

— Eu pago. — Martins disse tirando uma pequena carteira do bolso. Para minha surpresa, tirou uma nota de cinquenta reais. Que criança de 8 anos anda com isso tudo na carteira? Na idade dele, quando conseguia 1 real saia mostrando para todo mundo e nunca gastava. — Será que isso vai dar?

— Sim. Qual sabor que você quer? — Mais importante, eu estou sendo bancada por uma criança? Esse dia realmente está virado de cabeça para baixo. Será que pode piorar?

Tomamos sorvete, conversamos e rimos mais um bocado. Nunca gostei muito de crianças, mas era fácil interagir com Martin. Eu até esqueci todo aquele caos que havia vivido agora a pouco. Quando notei que o garoto estava mais calmo, decidi que era melhor buscar por seu pai, ele deveria está preocupado com o desaparecimento, ao menos, eu espero. Quando estávamos andando em direção da delegacia para conseguir ajuda das autoridades para o encontrar , vimos os policiais se aproximando de mim correndo.

— Olha, estamos com sorte. Encontramos eles bem rápido. — respondi aliviada. Estava com medo de não ter ninguém no ponto policial, acontecia com frequência isso, pela falta de pessoal suficiente, às vezes ficava vazio na hora da ronda.

— Você está presa por sequestro. — O policial gritou enquanto me algemava. Definitivamente, eu estava com tudo hoje, menos com sorte.

— Amanda, você é malvada? — Martin me perguntou confuso. Eu não fazia nem ideia de quem eu tinha supostamente sequestrado.

— Que?? — Gritei desesperada. Como o dia que era para ser o mais feliz da minha vida virou esse caos? Eu era para me tornar noiva, vou me achar me transformando em uma presidiária?

Uma dose de mal-entendido

Quando levantei hoje de manhã, achei que estaria bêbada dançando até o chão essa hora. Quem diria que eu estaria presa em uma delegacia, sem conseguir chamar nem ao menos um advogado, já que não lembro o número de ninguém decorado. Maldita modernidade. Antigamente sabia o número de todo mundo de cabeça. Hoje sei nem o meu.

— Senhora, poderia nos explicar novamente o que aconteceu? — Um policial me perguntou novamente. Eu não faço ideia para onde levaram o Martin, mas até onde eu entendi, eu estou sendo acusada de sequestrar o garoto.

— Estava passando na praia e acabei me deparando com ele chorando. Perguntei a ele porque estava sozinho, parecia ter se perdido da namorada do seu pai. Como estava muito nervoso, chamei para tomar um sorvete antes de levar ao ponto policial mais próximo. Quando estávamos chegando, fui abordada por vocês e trazida para cá. — Explique. Não acredito que consegui me meter em mais problemas.

— O pai daquela criança denunciou desaparecimento dele. Acreditava que a criança havia sido sequestrada. A namorada dele relatou que a criança tinha sido roubada quando estavam passeando no shopping. — O policial me explicou. Não fazia nenhum sentido. Martin havia dito que se perdeu da namorada do seu pai na praia.

— No shopping? Não é muito longe da praia? Não faz sentido. Ele realmente disse que havia se perdido na praia. Será que outra pessoa pegou ele? — Questionei, mas não era hora de ficar preocupada com a criança. Aquele cenário só apontava para mim, como potencial suspeita. Como posso provar que não fiz nada?

— Exatamente, isso que estamos tentando entender. Buscamos por câmeras ao redor, mas as poucas que tinham, não estavam funcionando. Há alguém que possa provar que você chegou após a criança? — O policial questionou.

— Além da criança, a única pessoa que tivemos contato, foi o dono da sorveteria, mas foi após encontrar com ele, como já havia dito. E agora? — Meu desespero já estava crescendo. Estava na cara que eu iria precisar de um advogado.

— Olha, você não tem cara de quem sequestraria ninguém, mas nem sempre somos o que aparentamos. Indico que busque um advogado, porque você é a única suspeita do caso. Estamos trazendo o pai e a namorada do garoto para fazer a sua identificação. A coisa não está boa para você. Além disso, há um montante de jornalista do lado de fora. Se você não for realmente culpada, acabou envolvida em um problema grande. — O policial me orientou antes de levantar da sua mesa. Me deixando sozinha ali.

Fiquei pensando porque não levei o garoto direto para a polícia. Deveria ter simplesmente ignorado ele. Mesmo assim, de alguma forma, eu faria tudo novamente. Martin é uma criança tão doce. Como poderia me arrepender de estender a mão?

— Ahhh! Não é hora para isso. Eu preciso dar um jeito de falar com minha advogada ou vou mofar aqui. — Pensei alto.

Eu já estava batendo com a cabeça na mesa, desesperada sem saber o que poderia fazer para sair daquela situação quando a porta se abriu e Martin passou correndo por ela, se jogando no meu colo com tudo.

— Achei você! — Martin gritou feliz. — Você estava certa, papai não me abandonou. Ele estava me procurando esse tempo todo, sabia?

— Que bom. Fico feliz. — Estava realmente aliviada por ser isso, mas estava um pouco preocupada com meu problema.

Junto com o policial entrou um homem, ele era bem alto, usava um terno slim, tinha um corpo tão bem definido que pude notar por cima da roupa. Usava roupas de marcas. Parecia até um boneco de tão perfeito que era. Seu cabelo estava tão perfeitamente penteado, que me perguntei se era mesmo uma pessoa de verdade.

— Senhora, peço desculpas pelo que aconteceu. A criança explicou tudo ao pai e ele retirou a queixa, você está liberada. — O policial disse, mas meus olhos estavam naquele homem lindo na minha frente.

— Olá, eu me chamo Dylan Robert, sou o pai de Martin. — O homem disse escorado na parede me olhando dos pés a cabeça, enquanto o policial me soltava completamente.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!