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Sangue E Honra

Capítulo 01

Aviso

Gatilhos: Os conteúdos são muito sombrios, com situações de gatilho, consentimento duvidoso entre os personagens principais, violência, tráfico de armas, perseguição, abuso sexual e psicológico, situações sexuais explícitas. Há também fétiches específicos, como jogos com armas, bandage e humilhação.

Playlist

. Still don't know my name- Labrinth

. We Go down together - Dove Cameron e Khalid

. Play with fire - San Tinnesz

. Gangsta - Kahlani

. I see red - Everybody loves en Outlaw

. Renegade - Aaryan Shah

. Carousel - Melanie Martinez

. Wallflower - Kimberly August

. Bad ideia - Dove Cameron

. Continuum - Tenerelle

. No Pressure - Justin Bieber

. Call out my name - The Weeknd

. Shut up and listen - Nicholas/Angélica e Spped Radio.

. Breakfast - Dove Cameron

. Do or Dai - Natalia Jane

. O Did Something Bad - Taylor Swift

. Cinderella's dead - Emeline

. Control - Halsey

.Never Tear Us Apart -Bishop Briggs

. Love is a Beth - Two Feet

. Monster - Shawn mendes Justin bieber

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Ouço o barulho da bala quebrar o seu crânio antes mesmo do sangue salpicar o meu rosto.

 Aquilo era tão familiar e comum na minha rotina, que não ficava mais deslumbrada com a cena. O corpo de Fixter simplesmente despencou do prédio de noventa e cinco andares. Fazê-lo suplicar pela vida enquanto caminhava no beiral da sua cobertura, me deu muita excitação.

Não era de praxe que humilhava as minhas vítimas, porém, Fixter simplesmente implorou por isso.

Guardei a minha arma no coldre entrando na imensa sala de jantar, limpei o rosto antes de ouvir as batidas insistentes dos seguranças do sociopata, vindo da porta de entrada. Eu precisava ser rápida como sempre.

Gatuna, silenciosa e invisível. O dulto de ventilação era o local mais próximo, mas não tão seguro. Prédios completamente espelhados não eram tão fáceis de penetrar ou escapar pelo lado de fora. Um estrondo vindo da porta principal, cinco dos melhores seguranças de Dubai, tragos por Fixter para Moscou, entraram chamando Fixter.

Não havia outra forma, eu teria que pular, era o único jeito. Respirei profundamente e corri para fora, em direção ao para peito. As batidas fortes do meu coração devido à adrenalina do momento eram surreal, e eu simplesmente amava aquilo. Subi no parapeito e corri em direção a ponta para dar impulso, era tudo ou nada. Em meio a escuridão da noite, me atirei. Tiros... eu podia ouvir tiros vindos da cobertura assim que pulei. Tentei não focar naquilo e comecei a contar. Um... dois… A gravidade estava fazendo seu papel, me atraindo, me lançando para a planície da terra. Era como estar livre e presa em simultâneo. Eu poderia morrer, mas, jamais seria pêga.

O brilho da lua, parcialmente encoberta por nuvens, refletia na superfície do lago à minha frente. Cinco... Seis... Era difícil admirar a beleza quando o seu pensamento está completamente envolto por morte.

Puxei a corda... O paraquedas abriu e pude respirar aliviada. Claro que corria o risco dele agarrar em algo, porém, a estética do edifício me ajudou bastante. O meu peito parecia querer explodir, contudo, o meu coração foi se acalmando com a brisa da noite tocando o meu rosto.

...💠...

A boate estava completamente cheia quando cheguei, fui direto para o camarim de Jasmine. Jasmine era a dona da boate " Sol da meia-noite". De origem árabe, os seus doces olhos grandes, cor de avelã, sempre me encantaram. A nossa amizade floresceu naquele lugar de perdição. Tínhamos um acordo, eu me apresentaria gratuitamente para relaxar, e ela poderia ficar com o dinheiro.

A dança... Sempre amei dançar, ter controle do meu corpo e despertar o brilho nos olhares dos que te observa, não tinha preço. Não sei bem como descrever a sensação de quando estou naquele palco, mesmo sendo uma dança erótica, ainda assim, é algo inexplicável.

 — Deveria perguntar se machucou desta vez, habibti? — Sonda cautelosamente enquanto massageia os meus ombros.

Jasmine naquele momento, sabia mais de mim que os meus irmãos e o meu pai. Apenas três anos e se tornara a irmã que nunca tive.

— Desta vez não. — Respondi palpando sua mão ainda em meu ombro— Hoje a casa está mais cheia que de costume. — Ela ri se sentando no pufe ao meu lado.

— Habibti— Ela toca o meu nariz com o indicador —, vai gostar dos homens desta noite. — Respiro fundo ajeitando os meus longos cabelos negros.

— Está noite só quero dançar. Diversão ficará para a próxima. — Ela me olha através do espelho e suspira.

— O seu coração frio apaixonou-se por algum homem misterioso? — Rio de escárnio.

— Jamais, Mine — mordo o lábio —,nele só há lugar para Rowan e Garratt , e olha que eles ocupam um espaço mínimo, o maior espaço é todo meu. Meu irmão Garratt nem merecia estar nele.

— Habibti. — Jasmine toma a máscara em arabesco que uso para ocultar minha identidade das minhas mãos — Deveria se envolver e principalmente, se apaixonar por um rapaz. É tão triste terminar a vida sozinha. — engulo em seco. — Olhe para mim! Já passei dos quarenta e me sinto uma velha solitária. — Ela amarra a fita da máscara delicadamente.

— Amar é uma fraqueza, Mine. E está fraqueza, não se aplica a mim. — Retiro a tampa do batom carmim, passando em meus lábios.

— Pelo contrário, habibti. O amor nos deixa mais fortes. — Passo os lábios um no outro, limpando o excesso com o papel antes de me levantar.

— Isso se aplica a pessoas comuns, não para a Feiticeira Escarlate. — Dou uma piscadela para Jasmine — É hora do ‘show’.

.........

As luzes haviam sido apagadas, a cadeira estava no centro do palco, Jasmine me anunciou, e quando o refletor se acendeu atrás de mim, assobios e aplausos preencheram o ambiente conforme a música tocava.

 Expirando profundamente, comecei a entrar na música lenta, com toques firmes e sensuais. Me tornei a música, me tornei os movimentos, lentos e macios do meu corpo tenso. Naquele momento eu não era Angeline Petrov, eu era a Feiticeira Escarlate. Envolta em tecidos leves de cor carmesim, rendas e fitas, com botas longas de couro, banhada de perfume importado e cabelos soltos. Senti o meu corpo se aquecer como brasa viva, aos olhares daqueles homens. Homens da alta sociedade, alguns casados, outros solteiros, alguns deles deviam ser conhecidos do meu pai, mas, não me importava. A maquiagem e a máscara me deixava oculta, apenas as pessoas mais próximas de mim — sendo poucas, iriam me reconhecer, entretanto, elas não frequentam este tipo de ambiente. A pouca luz que vinha de cada centro de mesa me deixava mais confortável a cada jogada de pernas, a cada alisadas de mãos. Eu sempre analisava os olhares que vinham na minha direção, todos, exatamente todos, eram de desejo. Desejavam o meu corpo perfeitamente desenhado por curvas exuberantes, os meus lábios carnudos cobertos pelo vermelho, principalmente quando os mordia em meio aos movimentos lentos.

  Toda via, me surpreendi ao olhar o homem na quinta mesa, no centro do salão. De onde ele estava, não conseguia observar a cor dos seus olhos, mas, o seu olhar não era de desejo. Havia outra coisa dentro daquele olhar. Ele segurava um copo com o que parecia ser whisky com gelo. Qual é o louco que aprecia whisky com gelo?

 Aquele rapaz me chamou a atenção, e mesmo não querendo diversão esta noite, ele conseguiu chamar a minha atenção, despertar a minha curiosidade. Os seus cabelos penteados para trás, eram impecavelmente arrumados, seu terno grafite, estava aberto e os primeiros botões da sua blusa vinho estavam abertos, revelando o que parecia ser uma tatuagem no pescoço que descia para o peito. Dei um sorriso torto de satisfação quando percebi ser uma serpente. Ele me intrigava ainda mais a cada toque da música.

 Ao término, Jasmine entrou no palco como de costume, eu nunca, jamais falei, ninguém naquele lugar, a não ser o 'escolhido' — título dado a meu brinquedinho da noite — sabia como era minha voz.

— Este seria o momento mais esperado da noite — anuncia ela em suspiros —, mas, nossa Feiticeira... — Aperto o seu braço, o mesmo que ela segura o microfone. Mine me olha surpresa.

 Em três anos, eu jamais voltei à minha palavra, eu fiquei tão surpresa quanto ela, com aquela minha vontade intrigante de saber o que aquele rapaz pensava, o que havia, ou melhor, o que aquele olhar representava.

 — Desculpe — retratou Jasmine —, me equivoquei. A feiticeira irá apontar o 'escolhido' desta noite. Como todos já sabem, o 'escolhido' terá direito a uma hora com a nossa Feiticeira. — ela abaixa o microfone — Depois vai me dizer o que te fez mudar de ideia — assinto.

— A mesa do centro, o de cabelos castanhos escuros. — Ela olha em direção ao rapaz intrigada.

 — Você não é nada boba, como sempre lindo. Desta vez, só desta vez, vou querer saber dos mínimos detalhes. — Ela sorri levando o microfone à boca — O 'escolhido' será o da mesa do centro, de blusa vinho e terno grafite.

Nenhum sorriso, nem sequer um resquício de um. O belo homem simplesmente se levantou, repousando o copo já vazio sobre a mesa, ajeitou o terno em seguida colocando as mãos nos bolsos, enquanto as meninas o guiavam para o quarto.

      Meu estômago deu um nó com a reação dele. Analisar as pessoas, sempre foi minha maior especialidade, e aquele homem era frio... tão frio quanto eu.

Capítulo 02

Música do capítulo: " Breakfast - Dove Cameron

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Paro em frente a porta de madeira maciça do quarto. O sol da meia-noite é a boate de mais requinte de Moscou, se bobear, de toda a Europa. Com os seus quartos de alto padrão, tapeçarias persas feitas a mão e design provençal. Os quartos, fazem você se sentir em um palacete, e o meu, não deixa a desejar. Respiro fundo antes de abrir a porta.

  O belo homem está apoiado sobre a cômoda, tomando mais um copo de whisky. Havia perdido para Mine deixar o whisky mais caro da casa, porém, sem gelo. Ele deveria aprender como degustar algo tão requintado. O seu olhar se dirigiu a mim, não dos pés à cabeça como os homens me olham ao entrar, o seu olhar veio direto para os meus olhos, cobertos pela máscara. Agora, podia ver de perto seus olhos, intensos e profundamente misteriosos, azuis turquesa, mas, o esquerdo é parcialmente marrom. O seu maxilar era marcante, com um furinho no queixo, sutil. Um pequeno riso escapou da sua garganta ao perceber uma das minhas sobrancelha erguida.

— Imagino que a Feiticeira não traz os garotos para o quarto apenas para embebedá-los. — A sua voz era tão grave e sensual quanto um fagote. — Ou é?

— Não. — respondo caminhando até ele, retiro o copo da sua mão, tomando o restante de whisky enquanto lanço um olhar sensual. — Nunca te vi aqui, é novo na cidade? — sondo servindo dois copos de bebida, uma risada sarcástica parte dele.

— Digamos que não. — ele brinca com a fita de cetim da máscara. — Suponho que a máscara irá ficar. — o entrego o copo.

— Não há Feiticeira sem a máscara. — arqueio uma sobrancelha. — Assim como não há nomes ditos neste quarto.

— Muito bem, mas, eu não trepo com qualquer mulher. — Rio de escárnio.

— Trepa? Linguajar chulo para um homem que veste Kiton. — os seus olhos se comprimem levemente. — Vejo que te deixei sem palavras.

— Evidentemente a senhorita entende de alta costura e bom gosto. — sorrio me sentando na cama, cruzando as pernas lentamente.

— Eu estar aqui, não significa que seja ignorante. — Ele assente — Diga-me, o que te trouxe aqui, ao Sol da meia-noite?

Ele retira o blazer, se acomoda na poltrona ao lado da cômoda, desabotoa as mangas da blusa e cruzando a perna sobre a outra.

— Precisava relaxar, e um amigo já havia comentado sobre o lugar. Havia me informado a respeito de uma ótima dançarina, que não aparecia todas as noites, porém, acredito que seja minha noite de sorte.

— Talvez. — respiro fundo — Mas como disse, você não trepa com qualquer mulher. Então, perdeu o seu tempo. — Ele ergue o queixo balançando o pé.

— Não quero trepar com você, raposinha, mas, te levar ao paraíso.— arqueio uma sobrancelha— Ou se preferir, mostrar a intensidade do inferno. — Rio de escárnio.

— Como? — Questiono.

— Te mostro.— Afirma — Com uma condição. — Expirando, me ajeito um pouco na cama. Devo prosseguir e ver onde isso irá me levar. Se for perigoso, é ainda mais excitante.

— O que você quer? — a sua língua umedece os lábios antes de responder.

— Me diga, porque me escolheu? — respiro fundo, soltando o ar lentamente.

— Confesso que você me deixou curiosa, completamente intrigada. É raro um homem conseguir despertar tamanho interesse da minha parte. — Agora é a vez dele arquear uma sobrancelha.

— Geralmente eu provoco isso nas mulheres.

Além de frio, ele é excêntrico e arrogante. Estou curtindo, só um pouquinho. O fato dele não estar jogado no chão, lambendo os meus pés ou o chão que piso, é a causa disso.

— A sua tatuagem tem algum significado? — os seus lábios se esticam ainda tomando a bebida, uma covinha começa a surgir do lado direito.

— Tem... — espero uma explicação, mas, parecia ser tudo à respeito que ele iria dizer. — E o seu nome artístico? — limpo os lábios com a língua após mais um pouco de bebida.

 Nenhum dos caras que privilegiei com a minha presença neste recinto, questionou-me sobre o meu nome artístico. Claro que, tiraram a conclusão pela veste escarlate, pelo poder de presença que a heroína possui, assim como eu, quando estou naquele palco.

— Tem... — respondi, dei a ele a mesma resposta incógnita. O seu olhar se comprimiu na minha direção, tentando penetrar através dos meus olhos. Como se quisesse obter alguma resposta através da minha alma.

— O que pretende fazer? — Sorri sem mostrar os dentes erguendo a sobrancelha.

— Reformule a pergunta. — Ordenei. Mais um riso partiu da sua garganta.

— O que quer fazer? — Mordi o lábio.

— Que se submeta a mim. — Nem uma reação ou resposta imediata.

Silencio por um longo momento, ele estava me analisando, analisando as opções. Ele tinha o porte de um dominador nato, e parecia ser difícil se submeter ao meu pedido. Respirando fundo, começou a bater o indicador no queixo pensativo. Predador... Visivelmente, ele era um predador.

 — Para isso, vamos ter que fazer um acordo.

— Acordo? — O que ele pretendia com aquilo? A minha curiosidade me faz dar corda a sua ousadia. — Como seria este acordo?

— Digamos que eu me permita ser dominado! Você me daria exclusividade? — Rio de escárnio.

— A Feiticeira não é exclusiva de alguém.

— Não quero a Feiticeira, mas, a mulher por trás da máscara. — Me levanto incomodada com o que disse. Me sirvo mais uma dose.

— A mulher debaixo da máscara não está em negociação. — Ele me puxa pelo braço, me sentando em seu colo. Desliza a mãos por minha coluna até meu pescoço, me olhando nos olhos.

— Você é uma raposinha astuta, mas, eu posso facilmente abater você. Prende-la em minhas armadilhas. — Levo a boca próximo a seus lábios, quase encostando nos dele. Em seguida, direciono para seu ouvido.

 — Duvido que consiga... — Ele aperta minha coxa. — Sou uma loba sedenta e insaciável, será difícil me capturar, tigrão.

 Afasto lentamente o meu rosto, antes de fixando o olhar no dele, observo o seu pomo de Adão se mover. Havia uma tensão sexual tão grande entre nós naquele momento, que ele me faria gozar com apenas um puxão de cabelo.

Os seus lábios tomaram os meus subitamente, com força e firmeza constante. Sua língua buscou a minha com ardor. O seu gosto era frutado devido ao whisky, o seu beijo era quente e excitante. A sua mão agarrou os meus cabelos, não muito forte, mas, o suficiente para me forçar a ficar em sua boca.

 Aqueles lábios rosados e carnudos, eram macios e completamente suculentos. Ele mal me deu tempo de respirar entre um beijo e outro. A mão que apertava a minha coxa, subiu para a cintura, me trazendo ainda mais para seu corpo. Tentei não demonstrar o quanto estava excitada, as minhas mãos permaneceram nos seus ombros o tempo todo. Quando, enfim, ele se afastou, pude respirar novamente.

— É só Isso que tem para me mostrar? — Sondei em provocação.

— Terá o céu ou o inferno se aceitar a minha proposta. — Mordo o seu lábio inferior levemente o puxando.

— A sua proposta não me beneficia em nada, como eu poderia aceitar? —me levantei pegando o copo na cômoda.

— Certo, vou acrescentar uma coisa. — seguro um sorriso.

— Sou todo ouvidos.

— Deixo você escolher onde e quando. — rio de escárnio.

— Como é generoso! Posso te dar exclusividade apenas da Escarlate, mas, jamais da mulher por trás da máscara.

— Já é um começo. — Afirma me estendendo a mão — Estamos acordados então? — Pego a sua mão, lhe dando um aperto firme.

 — Com as minhas regras e limites. — Ele sorri torto assentindo.

— Com suas regras, raposinha.

Capítulo 03

 Antes de entrar no imenso portão de casa, ligo para meu cliente. O mandante da morte de Fixter. Já são quase três da manhã, o telefone chama, no quinto toque ouço o barulho ao fundo e a sua voz.

— Escarlate, aguardava o seu retorno.

— Alvo abatido com sucesso. — Uma risada de satisfação.

— O dinheiro estará na sua conta pela manhã, mandarei mais mil euros como agradecimento pela rapidez.

— Perfeito.

— Como posso te encontrar se precisar novamente dos seus serviços?

— Você não me encontra, eu encontro você.

Desliguei. O guarda apenas assentiu, acionando o botão para o portão abrir. Parei próximo à entrada da mansão Petrov pensativa, olhando a imensa construção à minha frente.

 Ela foi construída exatamente como o desejo da minha amada e falecida mãe. Uma imensa fonte na entrada, com uma mulher amamentando um bebê, na sua mão livre um jarro emanando água. A minha mãe era estilo patriarca da família, mesmo jovem, carregava com si os deveres de gerar e cuidar. Sempre cuidando e zelando pelos deveres de boa mãe e esposa.

 A construção à minha frente foi construída exatamente, como as mansões do século XVIII, com colunas do chão ao segundo andar, outras do segundo ao terceiro. Janelas amplas e um jardim impecável, repleto de verde e muitas flores.

 Ela fazia falta, muita falta. E o seu aniversário de morte estava perto, o que me deixava angustiada. Ela faleceu quando Rowan ainda era um bebê. Foi assassinada a sangue-frio, protegendo e escondendo Rowan do assassino que se quer foi punido por sua monstruosidade.

 Entrei, subindo direto para o quarto de Rowan, a está altura, já estava dormindo como um anjinho. A luz do seu abajur espacial estava ligado, refletindo o universo inteiro no seu quarto. Ajeitei a sua coberta beijando o seu rosto, o que fez ele despertar.

— Onde estava Angel? Você disse que me ajudaria com o dever de álgebra.

— A senhorita Beatriz não te ajudou? — Negou se virando para me olhar melhor.

— Ela tem uma casa inteira para administrar.

— Certo. Onde está o seu caderno? — ele aponta para a escrivaninha. — Sei que fui uma péssima irmã mais velha, vou dar uma olhada. — Ele assente sonolento. — Agora, volte a dormir.

— Garratt e papai voltam amanhã? — Questiona abrindo a boca de sono.

— Provavelmente, descanse e nos falamos no café da manhã. Vou te levar para a escola para compesa-lo. — Rowan se acomoda novamente, fechando os olhos, beijo a sua bochecha. — Bons sonhos.

— Você também, Angel.

Pego o caderno e saio do quarto encontrando a porta. O quarto de Rowan é ao lado do meu. Tento ser mais presente que o meu pai, na vida dele. Rowan está cursando o segundo grau, mas, parece uma criança ainda, pelo menos para mim. Faço o que tiver a meu alcance para vê-lo feliz, até mesmo os seus deveres.

 Jogo o caderno na cama, tiro as minhas roupas e entro no banheiro, ligo o chuveiro, entrando ainda na água fria. O meu corpo já se acostumou com a baixa temperatura da água.

 Lembro da proposta feita, e me pergunto o motivo de tamanho interesse naquele homem.

 Ele era interessante, recheado de beleza e atrativos, porém, o fato de me deixar intrigada e me desafiar a se humilhar perante a mim, me fez querer ainda mais tê-lo.

...Seco os cabelos e os tranço antes de me deitar e fazer a tarefa de casa de Rowan. Acabo pegando no sono assim que termino....

...💠...

Após deixar Rowan no colégio, vou para a cafeteira no centro. Compro um café duplo e me dirijo para a loja de uma amiga, Lorelay.

 Ela é cinco anos mais nova que eu, nos conhecemos na faculdade, quando cursava medicina, que tranquei há três anos, sem o conhecimento do meu pai, é claro. Lorelay vem se passando pela reitora desde então, para o senhor William, meu prezado pai.

— O que devo a honra da sua presença Angeline?

— Vim buscar você para um dia de garotas. Preciso de um tempo. — Ela ri.

— Infelizmente não posso. A minha costureira está com as peças atrasadas para a minha nova coleção de outono, e preciso ir vê-la hoje.

— Faça isso amanhã, eu preciso da minha amiga hoje. — Ela entrega a sua prancheta para a funcionária.

— Veja quantas peças ainda temos neste tamanho e as coloque nas araras. — A funcionária assente, saindo em seguida — Sabe que tenho afazeres, Angeline. Não posso me dar ao luxo como você, de fazer o que quer, tenho que pagar a faculdade, fora meus fornecedores.

— Eu te dou o dinheiro, mas, sabe que posso ajudar sempre, não é? — Ela suspira.

— Não é sua responsabilidade. Preciso ganhar o meu próprio dinheiro.

— Não seja dramática, sabe que só tenho você. Entretanto, posso te ajudar de outras maneiras, que ver? Ei, você! — A vendedora que estava vestindo o manequim me olha. — Quero todas as peças da Coleção , tamanho XS por favor.

— O quê? — Lorelay me olha surpresa. — Não.

— Vamos garota, não tenho a manhã toda.

— Para, não, Dominica, ela está brincando.

— Não estou, arrume tudo, pego mais tarde. — Entrego o meu cartão a vendedora — É a vista, okay!? — Dominica assente.

— Você só pode ser louca.

— Agora pode sair comigo? — Lorelay revira os olhos.

— Onde vamos? — Sorrio.

— Se prepare para relaxar.

Dinheiro nunca foi um problema, e saber fingir ser o que não sou, também não. Amigos, sempre tive apenas um ou dois, desde criança. A vida e rotina da minha família nunca permitiu que eu tivesse vários amigos, que saísse de casa livremente. Para isso acontecer atualmente, tive que lutar bastante por meus direitos com o senhor William Dascovit Petrov. Lorelay sabe tão pouco sobre o que faço quanto o meu irmão e o meu pai, apenas Jasmine sabe, na verdade. Eu precisava ter alguém para me abrir, para recorrer se algo ruim acontecer. Jasmine tem acesso a minha conta particular na Suiça, sabe o meu número social e emergencial. Ela saberia o que fazer para ocultar as condições da minha morte se necessário.

 — Eu não sabia que precisava tanto disso. — Balbucia Lorelay em meio as mãos massageando os seus ombros.

— Se quiser, posso te buscar toda semana. — Ela sorri.

— Você é incrível Angeline. — Ela suspira. — Mas não posso me aproveitar disso, mesmo que queira.

 — Você sempre me acoberta, é uma amiga fiel, merece ser paparicada. Este Spar é só um pouco do que eu posso te proporcionar Lore.

— Obrigada.

— Depois que sairmos daqui renovadas, te deixo em casa. — Ela me olha franzindo o cenho.

— Não mesmo. Vamos passar o dia todo aqui, relaxando, fazendo as unhas, cabelo. Vamos sair daqui maravilhosas e quer ir para casa? Não mesmo.

— Preciso dar atenção para Rowan.

— Rowan já tem dezesseis anos Ang.

— Quinze. — A corrijo.

— Que seja, ele não precisa tanto assim de você. Você o trata como criança, deixa o garoto mal acostumado. — Respiro fundo.

— Eu apenas tento suprir a falta da nossa mãe Lore, ele não sabe como é ter uma.

— Exatamente, como você sente falta daquilo que nunca teve? Olha, sei que você se cobra por Rowan, mas não é responsável por isso.

— Não sou, entretanto, eu sou a irmã dele, Garratt está sempre ausente com o meu pai, então só resta a mim.

— Você se cobra demais, senhorita perfeita! — Suspiro.

De certa forma, Lorelay estava certa. Eu me cobrava demais quando o assunto era Rowan, mas, queria suprir todas as necessidades dele. Não era justo que Garratt e eu tivemos tempo com a nossa mãe e Rowan não. A culpa era do nosso pai, e eu odiava ele por isso, odiava muito.

— Onde quer ir? — Perguntei para fugir do assunto. Aquele assunto era como espinhos de rosas me perfurando, arranhado meus membros.

— Uma nova Casa noturna que abriu no subúrbio.

— Preciso estar em casa até às seis para o jantar, meu pai ...

— Não se preocupe, estará em casa às seis. — Argumenta Lorelay — Ela abre às três e vai se sentir no meio da noite.

— Você venceu, vamos à Casa noturna, Lorelay.

O sorriso nos olhos de minha amiga indicava satisfação e empolgação. E minha resposta foi um sorriso amarelo. Não estava tão empolgada quanto ela, mas, como fui eu que arrastei ela para cá, era justo ir onde ela queria.

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