NOTA DO AUTOR:
********Essa é uma história de ficção. É uma história de romance sombrio e tem temas bem pesados. Manipulação, @buso, cenas de sexo e linguagem forte, entre outros********. Leia por sua conta e risco.
Angelina sempre admirou como a cidade se iluminava à noite. Milhares de luzes se acendendo de uma vez para interromper a escuridão inevitável. Mas, essa noite era diferente. Bem diferente.
Com o estômago embrulhado, ela quase sentiu o almoço subir de volta à garganta. Dedos trêmulos agarravam as bordas do seu casaco e seus olhos azuis da cor do mar estavam arregalados de terror.
“Royal Club” dava para ler isso no grande letreiro neon ameaçador acima da porta que levava a um porão. Sua luz vermelha lançava um brilho estranho sobre o segurança que estava embaixo, fazendo o homem careca parecer dez vezes mais assustador, como se as tatuagens e os olhos apertados não fossem o bastante.
A pobre garota loira que estava do outro lado da rua estava quase pronta para se curvar sobre a lixeira mais próxima. Ela não queria entrar lá ou estar perto daquele lugar, mas o relógio já tinha batido meia-noite há cinco minutos, e ela mal tinha escolha.
Forçando suas pernas tensas a se moverem, Angelina finalmente reuniu coragem suficiente para se aproximar. Ela tentou parecer corajosa, manter a cabeça erguida. Seus passos com os saltos altos eram desajeitados e sua aparência estava esverdeada.
Ela estava apavorada.
"Oi, meu nome é..."
"A porta dos fundos." O segurança resmungou sem olhar para ela uma segunda vez.
"Mas..."
"Os funcionários entram pela porta dos fundos." Ele repetiu, já soando irritado.
Ela não esperava uma recepção amigável, mas isso não era nada encorajador.
"Certo. Obrigada..."
“Primeira rasteira que meu pai me deu. Ah, pai... por que viemos parar aqui?” pensou ela, enquanto se afastava do segurança.
Havia apenas uma razão, e apenas uma, pela qual ela estava procurando entrar em uma casa de strip-tease: o vício do seu pai.
Ele sempre se envolveu em apostas, mas ela não tinha percebido a gravidade da situação, até alguns dias atrás, quando o encontrou no meio da sala de casa, cercado por três caras armados.
Pelo visto, dessa vez, ele estava devendo a um cara muito perigoso e, claro, sendo o péssimo jogador que é, estava completamente falido.
Então lá estava ela, procurando a porta dos fundos de algum clube de striptease russo para quitar a dívida dançando. Essa era a única alternativa mais rápida, já que ninguém queria contrata-la pela falta de experiência.
Cinco minutos depois, finalmente a deixaram entrar por outra porta. A fachada do prédio não tinha nada de especial, mas ao abrir a porta, ela ficou impressionada. A cor vermelha dominava o ambiente, exalando luxo e sensualidade. Quadros de mulheres nuas estavam pendurados em todas as paredes, não a deixando esquecer nem por um segundo onde estava.
O interior era magnífico, e isso era o menor dos seus problemas. Quando o segurança a levou para o camarim, foi recebida por vozes ensurdecedoras de duas mulheres.
“Meu Deus! Eu tô suando como uma porca!” Exclamou a primeira, jogada numa cadeira perto do grande espelho iluminado.
“É, porque você é uma.”
“Cala a boca, Zoe. Eu só ganhei dois quilos e eles estão na minha bunda, ao contrário de você.”
“O que você tá tentando me dizer, sua gorda-” A mulher irritada, Zoe, interrompeu o que estava falando, quando viu Angelina parada desajeitadamente na porta. Seus cílios longos e falsos abaixaram em Angelina, os olhos verdes a examinando dos pés à cabeça.
“E quem é você, hein?”
"Meu nome é Angelina... sou a nova... hum... dançarina.” Angelina tentou falar confiante, mas seu desconforto não podia ser escondido por nada nesse mundo.
A garota sentada na cadeira riu, "Dançarina, é?"
"Ignora essa vadia.” Zoe deu um olhar malvado para a outra mulher, seu sorriso voltando assim que ela olhou de volta para a garota loira.
"Aqui a gente usa a palavra stripper, querida, é o que a gente faz. Não tem como fugir, você vai ter que tirar a roupa." Ela apontou para si mesma como se fosse óbvio.
E era.
Ela estava usando apenas uma lingerie rendada com um roupão transparente e um par de saltos agulha. A maquiagem dela parecia pesada o suficiente para cair do rosto a qualquer momento. Quase nada escondia a profissão dela. Até o cabelo vermelho escuro dela tinha purpurina.
"Entra logo, a Jess já vai sair do palco e não vai ser bonito se você ficar no caminho dela," A mulher de cabelo vermelho puxou Angelina para dentro do camarim. "Aliás, meu nome é Zoe e aquela bruxa mal-humorada é a Lila."
"Te desafio a me chamar assim de novo."
"Ignora ela. Ela tá naqueles dias..." Zoe disse com desprezo. "Angelina, você disse? Que fofo, acho que tenho o nome de palco perfeito pra você."
"Nome de palco?" Angelina arqueou a sobrancelha. Por que alguém pediria o nome dela em primeiro lugar?, ela pensou.
"Ahan, aqui a gente não usa os nomes reais. Você não faz ideia da quantidade de stalker que vem aqui. Já é difícil o suficiente sem eles gemendo o meu nome de verdade quando eu me esfrego neles."
Isso fez Angelina se encolher.
A porta do camarim se abriu, de repente.
"Caramba, eu vou matar aquele velho! Que nojo." Outra mulher entrou furiosa, a pele bronzeada cintilando com suor. Suas bochechas coradas estavam infladas de raiva e seus lábios entreabertos. "Um velho tarado apalpou minha bunda de novo! Eles sabem que não podem tocar, mas ainda assim..." Ela bufou, parando apenas quando seus olhos encontraram os de Angelina.
"Quem é essa?"
"E aí, Jess. Essa é a nossa pequena Angel." Zoe apresentou, sorrindo animada.
"Na verdade, é Angelina."
"Ah, um anjo, você disse? Essa aí parece que caiu de um caminhão em movimento ao invés do céu. Ela vai se apresentar hoje?" Jess franziu o cenho, cruzando os braços bem embaixo de seus enormes seios tamanho super extra G.
Lila riu.
“Concordo. Se a gente deixar ela entrar assim, o Hoss expulsa todas nós”
Que rude, pensou Angelina.
“Tô nessa.” Zoe agarrou Angelina pelos ombros de repente.
“Vamos dar um trato nela. Cabelo loiro vai deixar os homens loucos, mas o resto... hm... a gente vai dar um jeito.”
Antes que a moça pudesse protestar, foi empurrada para uma das cadeiras. Zoe foi rápida em passar maquiagem e arrumar o cabelo dela. Quando terminou, Angelina mal conseguia se reconhecer no espelho. Ela parecia... mais velha, mais sexy. Os cílios longos e a grossa linha preta de delineador mudaram completamente seus traços. Mas, também a deixaram de uma forma totalmente diferente.
Ela não teve muito tempo para olhar mais, pois foi empurrada atrás da cortina vermelha para se trocar.
“Ainda bem que tenho alguns dos meus sutiãs antigos aqui. Senão, não teríamos nada pra te dar.” Zoe jogou a lingerie nas mãos de Angelina junto com duas coisas tipo gelatinas.
“O quê? O que são essas coisas?” Angelina perguntou, segurando uma delas entre os dedos.
“Puxa vida, essa garota realmente caiu do céu”, resmungou Lila.
“É para os seus peitos, querida. Coloque dentro do sutiã. Quanto mais peito melhor, os homens gostam disso.” Zoe instruiu, rindo.
“Eu realmente preciso? Quero dizer...”
“Angel, nenhum homem vai ficar excitado com uma vara molenga balançando. Faça isso.” Jess se intrometeu. “Só tente não deixar cair. A garota antes de você deixou, foi um escândalo.”
“Isso não é nada bom...”, suspirou Angelina, enfiando os enchimentos em seu sutiã. Eles pareciam estranhos. Mas ainda mais desconfortável era a calcinha fio dental. A tira fina não escondia nada da sua bunda. De jeito nenhum.
“Não tem outra lingerie pra usar?”
“Não! É o seu primeiro dia! É se mostrar ou cair fora!” Zoe abriu a cortina abruptamente, e seus lábios vermelhos curvaram-se para cima ao ver Angel. Após um breve momento de silêncio, ela concordou, satisfeita.
“É, você tá pronta. Coloque os sapatos e vamos lá. O próximo show vai começar logo e eu já avisei o DJ que um Anjo vai entrar em seguida.”
A lingerie branca que as mulheres deram a ela se encaixava bem no seu corpo. Mas isso não importava. Seu estômago estava embrulhado de preocupação, Angelina não sabia se poderia suportar.
“Você sabe dançar, né?” Lila perguntou a Angel, se preparando para seu próprio número.
“Não contratariam alguém que não soubesse.” Zoe respondeu, parecendo irritada com a garota de cabelos pretos.
"Eu sou dançarina. Mas não uma... stripper." Angelina falou envergonhada, olhando para baixo. A dança moderna não exigia mostrar a bunda para um bando de homens tarados ou usar sapatos de salto alto ridículos. Exigia precisão e paixão pelo movimento. Ela nem queria imaginar o que seus amigos pensariam se descobrissem sobre isso.
"Bem, mas agora você é uma stripper, então aguenta." Lila resmungou, voltando sua atenção para sua maquiagem.
"Como eu disse, ignora ela. Vamos logo." Zoe disse, ao perceber a tristeza nos olhos azuis de Angelina.
"Sabe o que eu adoro na dança de Strip?” Zoe perguntou quando as duas estavam longe das outras garotas. "Quando você está no palco, você não é você."
"Como assim?" Angelina riu amargamente, engolindo o nó na garganta. O trajeto foi bem mais curto do que ela esperava. Zoe parou na frente de outra porta. Música alta estava explodindo nos alto-falantes e os rugidos animados da plateia podiam ser ouvidos até o final do corredor.
Zoe então, se aproximou de Angelina, sussurrando em seu ouvido baixinho.
"Simples. Lá em cima você não é Angelina. Você é a Angel."
2 Dias Atrás...
“Pô, o treino hoje foi pesado! Como você tá tão animada aí? Minhas pernas tão parecendo gelatina”, resmungou Amanda do banco do motorista, segurando o volante como se fosse escapar das mãos dela a qualquer momento. Angelina riu.
“Não foi tão ruim assim.”
Sempre me diverte ver como a Amanda age quando tá com fome e ela sempre fica faminta depois do treino. Essa garota é praticamente uma criança de vinte anos.
“A competição tá chegando em algumas semanas, a gente tem que treinar mais forte que o normal se a gente quiser ganhar.”
“Ai, nem me lembra disso.” Reclamou Amanda. “Você tava toda empolgada porque dançou com aquele gato do Dário dessa vez.”
“Isso não é verdade!” Angelina rebateu, suas bochechas ficando vermelhas. E isso não passou batido por Amanda.
Um sorrisão zombeteiro estampou o rosto dela.
“Ahã, claro. Eu acredito totalmente em você. Quando é que você vai chamar ele pra sair?”
“Não começa!” Angelina adorava a amiga, mas a Amanda podia ser bem intrometida às vezes.
Juro, Amanda devia ter virado detetive em vez de entrar na faculdade de arte.
As duas se deram super bem logo no primeiro semestre da faculdade. Faziam o mesmo curso e tinham o sonho de virar coreógrafas. Angelina não tinha amigos verdadeiros no colégio. Conhecer a Amanda foi uma sorte pra ela.
“Ah, para! Você tá caidinha por ele desde sempre.” Pressionou Amanda.
“Não importa. Você sabe que eu nunca vou chamar. Ele tá muito fora do meu alcance.” As palavras de Angelina foram sumindo quando ela viu sua casa ao longe.
“Hein? Seu pai comprou um carro novo?” Amanda perguntou, enquanto o carro dela se aproximava cada vez mais da casa de Angelina.
“Até onde eu sei, não.”
Um SUV preto com vidros escuros estava estacionado na entrada da garagem. Por algum motivo, Angelina sentiu um mau pressentimento quando viu aquilo, que deixou o coração dela afundado.
Por favor, que não seja mais problema, pensou ela.
“Quer que eu vá com você?” Perguntou Amanda quando parou o carro vermelho dela na frente do jardim. Preocupação estava nas palavras dela, e Angelina não a culpava. Ela sabia do mau hábito do seu pai. E aquele carro estranho parado ali, não era um bom sinal.
"Não, não se preocupe." Angelina deu um sorriso fraco. "Tenho certeza que é só algum amigo dele que eu não conhecia."
A expressão da Amanda deixava claro que ela não estava convencida, mas também não insistiu.
"Tá bom. Me liga se acontecer alguma coisa, ok?"
"Vai ficar tudo bem. Te vejo amanhã." Angelina fechou a porta do carro e respirou fundo, quando se viu sozinha na frente de casa.
Seus passos nervosos a levaram até a porta da frente. Ela estava entreaberta.
Um arrepio desconfortável percorreu sua espinha enquanto ela entrava na ponta dos pés. Angelina não sabia ao certo porque estava andando na ponta dos pés, ela só estava seguindo seu sexto sentido.
"O tempo acabou."
A garota congelou ao ouvir a voz grave desconhecida de um homem vinda da sala de estar.
"O chefe foi paciente com você, mas ele quer o dinheiro de volta." Outra voz acrescentou, com um tom de ameaça.
Inconscientemente, Angelina cobriu a boca com a mão, encostando suas costas na parede. Ela então, reuniu coragem e espiou com cuidado atrás da parede.
Foi aí que ela viu aquela cena. Três homens grandes vestidos de preto cercavam seu pai, que estava todo machucado. A mesa de centro de vidro estava quebrada e ela conseguia ver pequenos pontos de sangue no chão misturados aos pedaços de vidro. Eles o fizeram se ajoelhar diante deles, tremendo de medo.
“Não, eu consigo o dinheiro! Juro! Só preciso de mais tempo.” O apelo do pai dela foi interrompido por um soco poderoso em seu queixo. Ele quase tombou no chão, a mão levando ao rosto machucado. Angelina tapou a boca para não gritar de horror, lágrimas começando a cair dos seus olhos.
“Eu disse que SEU TEMPO ACABOU!” O gangsta rugiu, fazendo as paredes tremerem.
“Já te demos tempo demais para pagar sua dívida, seu velho idiota. Agora vai pagar com a sua vida.” O outro homem sacou uma arma que estava escondida atrás da jaqueta, apontando-a para a testa do pai dela.
Angelina viu o dedo daquele homem no gatilho, ameaçando destruir a vida do seu pai ali naquele momento, então, movida por uma força desconhecida, Angelina agiu por impulso.
“Não!!”
Seu grito ecoou pelo cômodo e todos os olhos se viraram instantaneamente para ela.
Só então ela percebeu o que tinha feito e o terror tomou conta do seu corpo.
“Pensei que não tinha mais ninguém aqui”. Um dos criminosos olhou para baixo, a boca aberta em horror e choque, torcendo o rosto de forma estranha.
Claramente, o pai dela não esperava e nem queria vê-la ali. Ele tinha uma esperança ingênua de que ela estaria em casa muito mais tarde.
“N-não, não machuquem ela, por favor. Ela não tem nada a ver com isso.” Ele implorou, o desespero crescendo a cada segundo.
“O chefe não gosta de testemunhas e nós também não.” O homem com a arma se virou para ela. Apenas um único olhar dele a fez dar um passo para trás, tomada pelo medo.
“Pena matar uma coisinha tão bonita”, comentou o segundo homem.
“Você não precisa fazer isso!” Angelina engoliu o nó na garganta “Eu posso pagar essa dívida.”
O capanga armado jogou a cabeça para trás, rindo de maneira perversa.
“Haha, é mesmo? E como você vai pagar 100 mil dólares?”
A quantia fez sua cabeça girar.
Meu Deus! Pai! O que diabos você fez?!
“P-por favor. Eu vou conseguir o dinheiro.” Seu pai implorou novamente, só para ser silenciado por um empurrão violento do criminoso que estava atrás dele.
“Calado, velho.” Ele rosnou.
“Sinto muito, queridinha. O tempo dele acabou e o seu também.”
O coração dela parou quando viu a arma apontada para sua cabeça.
“Nada pessoal. Você só está no lugar errado, na hora errada.”
Em momentos assim, a mente para. Aquela arma, o terror absoluto no rosto de seu pai e toda a sua vida passou como um raio diante dos seus olhos.
Ela não conseguia se mover nem para salvar sua própria vida. Mas ainda havia algo que ela podia fazer...
“Posso trabalhar para vocês.” Angelina disparou, seu próprio cérebro tentando entender o que tinha acabado de dizer.
O mafioso com a arma parou, segundos antes de seu dedo apertar o gatilho. Intrigado, ele observou a jovem tremendo.
“Trabalhar para nós? Além de uma boa f0da, não tem nada que você possa nos oferecer, garota.” Ele riu sombriamente. “Se bem que eu não recusaria isso também”
Angelina deu um passo para trás quando o homem começou a se aproximar dela, a olhando dos pés a cabeça de forma nojenta.
“P-por favor, não...” Seus olhos se arregalaram, ela nem tinha pensado nas coisas que eles poderiam fazer com ela. Coisas piores que a morte.
“Espera.” O terceiro homem, que estava em silêncio o tempo todo, falou. Ele estava sentado na poltrona, com as pernas cruzadas e uma expressão entediada no rosto. De alguma forma, ele conseguia dar mais arrepios do que o cara com a arma. Seus olhos gelados pousaram em Angelina como se pudessem ver através de sua alma.
“Uma garota recentemente... desistiu. O chefe está procurando uma nova.” Ele declarou calmamente. Havia um ar de poder sobre aquele homem, ele comandava o ambiente sem se mover um centímetro. Era como se a cena não o incomodasse nem um pouco. Um homem sangrando ajoelhado no chão, uma mulher sendo ameaçada com uma arma; parecia que ele já tinha visto tudo aquilo e muito mais.
“Ela serve para o trabalho.”
Tempo presente...
As cortinas vermelhas e aveludadas foram abertas, revelando um grande salão agitado. As batidas de som alto que balançavam até a alma explodiam nos alto-falantes, enlouquecendo a multidão. Garçonetes sem blusa entregavam bebidas, rindo dos clientes que as tocavam sem vergonha, e mais algumas garotas os conduziam para as partes mais escuras do clube.
O ar tinha cheiro de sexo, nicotina e bebida forte.
“Boa sorte,” murmurou Zoe, empurrando Angelina para um palco com um pole dance.
A garota mal teve tempo de reagir ao ambiente antes de se encontrar no centro da atenção de todos. Uma nova música começou e os aplausos selvagens ecoaram pelo salão, apitos e palavras obscenas lançadas em sua direção de todos os lados.
Muitos homens, chapados do que quer que tenham tomado, gritavam para ela tirar a fina lingerie e se aproximar mais deles. Todo o seu ser gritava para ela sair daquele palco. Não havia uma única célula em seu corpo que não estivesse desconfortável fazendo aquilo.
Mas se ela escapasse significava morte para seu pai e até para ela mesma. Naquele dia, ela havia selado seu destino e agora só tinha que...
Aguentar tudo aquilo e rezar para que acabasse logo.
Com o primeiro movimento de seus quadris, a multidão abaixo do palco enlouqueceu. Ela tentava não olhar e ignorar as mãos esticadas tentando agarrá-la de todos os lados. Em sua mente, ela estava em um estúdio de dança vazio, ensaiando sua coreografia para a competição.
Seus movimentos eram afiados e precisos, ela se aproximava da borda do palco. Seus quadris se moviam no ritmo da música e suas mãos percorriam seu corpo sedutoramente. Ela não tinha a menor ideia de como trabalhar no pole dance, mas tinha visto filmes o suficiente e tinha experiência suficiente em dança para tentar.
Angelina agarrou a barra metálica bastante grossa, deixando o impulso levar seu corpo em um giro.
"Quero mais!"
"Quero ver sua bunda!"
"Vem mais perto, Angel!"
Seus olhos se fecharam, seu corpo se torceu em volta do poste de ferro.
Ignorar... ignorar... igno-
Então, ela viu. Olhos firmes a observando à distância. Olhos que eram diferentes daqueles dos clientes excitados se empurrando aos seus pés. O olhar daquele homem a comandava, como se quisesse que ela olhasse para ele.
E ela olhou.
Seu olhar encontrou dois poços cinzentos. Eram como fumaça soprando ao vento, vindos de um fogo que queimava tudo até o chão. O calor dos olhos cor de gelo dele poderia incendiar seu corpo.
Então, como se sofresse um curto circuito, Angelina paralisou.
Era a mesma sensação de ser encarada por um tigre faminto.
O cara tinha cabelos cor de amêndoa penteado para trás, barba no queixo e um terno impecável no corpo forte e alto... ele se destacava na multidão. A cabeça dele estava meio inclinada para o lado, a mão acariciando o queixo enquanto os olhos não saíam do corpo dela dançando.
Tinha algo naquele cara que dava arrepio. Ele parecia perigoso como uma bala perdida e bonito como um Deus grego.
Duas mulheres estavam sentadas de cada lado dele, desesperadas por sua atenção. Uma delas tinha a mão na perna dele e a outra estava tentando beijar o pescoço dele.
Mas ele parecia nem ligar.
Quando Angelina finalmente desviou o olhar dele, já tinha perdido o ritmo, deixando vários clientes decepcionados.
Ela ainda sentia o olhar dele sobre ela, enquanto se movia ao redor do poste, tentando terminar o número pelo menos de uma forma decente.
“Tira a roupa logo!” Exigiu um dos clientes, irritado pela falta de espetáculo.
Ela já estava praticamente nua, mas não era suficiente. Angelina ignorou o pedido, torcendo o corpo no poste enquanto a música chegava ao fim. Ela só queria sair do palco o mais rápido possível.
Mas não resistiu e olhou novamente. Seus olhos percorreram a multidão até a área VIP. O cara estava conversando com alguém, os olhos não mais na jovem dançarina. Alívio se espalhou por seus ombros.
Ele a deixava mais desconfortável do que a multidão barulhenta.
Ela rapidamente juntou o dinheiro que jogaram para ela e saiu do palco.
Não foi graciosa, nem sedutora. Ela literalmente correu o mais rápido que os seus saltos permitiram.
Zoe a cumprimentou nos bastidores com uma careta no rosto, disfarçada por um sorriso desajeitado.
“Aquilo foi... Deixa pra lá. Primeiras vezes sempre são ruins.” Ela assegurou, tentando não ofender.
“Mas você se saiu bem no pole, eu fiquei até chocada. Talvez ainda possamos fazer algo com você.”
Angelina deu um sorriso irônico.
“Não vou ganhar nada assim.”
Ela tinha apenas uns sessenta dólares na mão.
“Você ficou distraída ou algo assim? Teve uma hora que você ficou congelada, isso foi estranho.”
“É. Tinha um cara lá...”
Zoe riu.
“Querida, tem milhares de caras aqui.”
"Não. Ele era diferente. Ele parecia realmente...rico." Ela gaguejou, sem saber como descrever o estranho de olhos prateados.
"Tem muita gente rica aqui. Principalmente filhos de papais ricos ou os próprios papais." A ruiva explicou o óbvio, lançando um olhar estranho para a outra mulher.
"É o seu primeiro dia, não se estresse. Mais dinheiro virá com os shows particulares."
Isso não soa bem...
"O show que você fez lá vai atrair clientes. Os caras vão te pedir um showzinho particular se te acharem sexy. Simples assim." Zoe deu de ombros, marchando de volta para o camarim.
As duas mulheres pararam. Um cara baixinho e meio encorpado estava parado no meio da sala, esperando. Ele estava em uma conversa casual com Jess antes de seus olhos estreitos pousarem nas duas mulheres.
"E aí, Dog." Zoe cumprimentou, com uma certa irritação na voz.
Isso instantaneamente deixou Angelina nervosa. Era normal homens aleatórios aparecerem no camarim?
"O chefe pediu a Angel."
O tal 'Dog' disse com indiferença, claramente não se importando com as mulheres seminuas na sala.
O coração de Angelina começou a bater mais rápido. Suas mãos ficaram suadas, e sua pele ficou pálida.
Será que eu fui tão ruim assim?, pensou ela.
O medo se enrolou em seu estômago.
"P-pra quê?" Ela gaguejou, sua voz quebrada pela ansiedade.
Zoe tentou sair em sua defesa.
"Dog, é o primeiro dia dela-"
"Não importa. São ordens. Ele quer ver ela e vai ver." O homem afirmou, silenciando a mulher. "Vamos."
A ordem soou alta e clara, ela não tinha escolha. Angelina só pôde baixar a cabeça e deixar o homem guiá-la pelos corredores escuros do clube.
Apesar de ser baixinho, ele caminhava rápido, o que criou muita dificuldade para a garota mal vestida de salto alto.
Ele a levou para dentro de uma sala de estar privativa. Assim como o resto do clube, as paredes eram pintadas de vermelho, e um palco menor com pole dance, estava no meio.
Olhos ferozes encontraram os dela, assim que Angelina entrou na sala. O mesmo homem que tinha observado sua apresentação estava sentado em um longo sofá branco em formato de meia-lua. Um dos seus braços estava sobre uma bela morena e o outro segurava um cigarro aceso.
Ele deu uma longa tragada, observando Angelina dos pés à cabeça.
"Nikolai, achei que você gostava das mulheres peitudas." A morena ao seu lado falou com uma voz fina forçada, empurrando seus seios contra o braço dele. O olhar dela era venenoso. Se dependesse dela, Angelina estaria sangrando no chão.
Mas não era assim. O homem, Nikolai, tinha o poder, e parecia não hesitar em usá-lo.
"Cale a boca," Ele rosnou, os olhos ainda fixos em Angelina.
A morena deu um gritinho irritante quando foi bruscamente empurrada para o lado pelo mesmo braço que ela estava se encostando.
Nikolai se levantou lentamente, sua figura imponente pairando sobre todos na sala. O paletó que ele vestia antes agora estava ausente, a camisa preta justa revelava os músculos robustos de seus braços e de seu abdômen.
"Qual é o seu nome?" Fumaça saía de seus lábios finos com cada palavra brusca.
Angelina recuou, tropeçando desajeitadamente para trás quando a distância entre eles diminuiu.
Nunca revelamos nossos nomes reais... O conselho de Zoe ecoou em sua cabeça.
"A-angel."
"Seu nome verdadeiro." Ele exigiu.
"Angel." Sua voz soou como a de um personagem de desenho animado, aguda e cheia de medo.
Ela se sentia tensa e sobrecarregada. Suas bochechas queimavam febrilmente, e suas pernas tremiam como gelatina.
O homem bufou a fumaça restante pelo nariz, um pequeno sorriso perigoso se formando em seus lábios bem desenhados. Ele parecia quase impecável, exceto por uma velha e feia cicatriz em sua bochecha esquerda.
"Angel...” Ele prolongou cada letra como se estivesse saboreando o gosto daquele nome.
Ele se aproximou, ficando diante de sua figura pequena.
"Gosto disso... Inocente..."
Os olhos de Nikolai percorreram seu rosto, parando em seus seios.
"Tire o sutiã."
O comando repentino quase a fez engasgar com o ar.
"Eu não vou fazer isso." Suas mãos subiram para cobrir seus seios, o que só divertiu mais o homem.
"Seu pai me deve muito dinheiro, não é?"
Então, esse é o cara...
"Eu vou te pagar por tudo o que você fizer. Tire o sutiã e eu te dou 100 dólares. Você nunca vai ganhar o suficiente dançando naquele palco."
Angelina engoliu em seco, sentindo seu estômago se contrair. Ele pacientemente esperou, olhos cinzentos perfurando-a. Como um coelho na mira de um lobo, ela se sentia congelada.
Havia algo tenebroso naquele homem. Apenas um simples gesto normal dele, dava arrepios nela.
Seus dedos trêmulos subiram até os ombros. As alças do sutiã deslizaram e pouco depois, o fecho se desfez.
Ah, não, as almofadas dos seios!
Assim que o sutiã caiu no chão, os enchimentos gelatinosos que Zoe a fez colocar em seu sutiã, também caíram.
Ela havia se esquecido completamente deles.
Todas as suas inseguranças ficaram estampadas em seu rosto, suas bochechas ficando vermelhas como tomate.
Ela olhou estupidamente para as duas coisas gelatinosas aos seus pés, envergonhada.
Como uma verdadeira hiena, a risada da morena ecoou pela sala.
"Meu Deus! Que patético! A garota tem até menos coisa do que uma tábua"
Aquilo doeu.
Angelina sempre foi magrinha, mas ela não era completamente sem seios.
“Cai fora.” Nikolai rosnou, sem dar nem um olhar para a outra mulher. A risada dela parou.
Ela parecia pronta para matar Angelina, mas não se atreveu a responder o homem. Reclamando alguma coisa baixinho, ela saiu apressada do quarto, os saltos altos fazendo barulho no piso frio.
Embora Angelina estivesse contente por ter se livrado daquela garota, parte dela meio que preferia que ela continuasse lá.
Agora só restavam os dois. Ele não a tocou, não precisava. Seus olhos cinzentos inflexíveis, que examinavam cada centímetro do seu corpo, já faziam sua pele ficar vermelha.
“Dance para mim.” Ele exigiu de repente, dando um passo para trás para dar-lhe espaço. “Se você se sair bem, eu dobro o dinheiro. E não se cubra.”
As mãos trêmulas de Angelina abaixaram lentamente dos seus seios nus. O vento frio beijou sua pele, fazendo ela se arrepiar. Vergonha cresceu em sua barriga. Sob o olhar frio e observador dele, ela se sentia pequena e vulnerável.
Ela não conseguia encara-lo nos olhos, enquanto subia no pequeno palco.
Suas pequenas mãos se envolveram no poste, puxando seu corpo para a movimentação.
Não havia música.
Um pesado silêncio pairava sobre o ambiente abafado, às vezes quebrado pelo som de seus saltos batendo no palco.
Seus movimentos eram desajeitados e meio tímidos. Não havia ritmo para guiá-la, exceto as rápidas batidas do seu coração.
Com o canto do olho, ela viu Nikolai apoiado no sofá, os braços cruzados sobre o peito largo. Ele não parecia ter mais de trinta anos, mas não havia nada de infantil em seus traços. Eram sombrios, os de um homem que tinha visto o inferno e voltado amigo do diabo.
Ele pegou ela olhando para ele. Nada jamais escapava dele, cada olhar sutil era notado. Não havia nada que entregasse suas intenções quando ele se aproximou do palco de repente, como um predador espreitando sua presa.
Angelina parou, seu corpo se erguendo através do pole. Seus olhos azuis celestiais se encontraram com os dele, cinza aço.
Com o peito ofegante, ela o viu tirar notas de dólar do bolso. Ele não disse nada, e sua expressão não entregava nada também, enquanto ele colocava o dinheiro em sua calcinha.
Até que os dedos dele roçaram seus lábios inferiores, parando em cima deles. Seus olhos fixos na boca delicada de Angelina.
“Boa.” Ele murmurou roucamente, retirando a mão um momento depois.
Como se não tivesse feito nada, Nikolai deu um passo para trás e acendeu outro cigarro.
“Pode ir agora.” Ele disse para a garota atordoada.
Ela ainda podia sentir a sensação de seus dedos quentes em seus lábios, enquanto se apressava para sair do palco, o dinheiro ainda em sua calcinha.
Angelina não ousou olhar para ele enquanto saía correndo, suas palavras ecoando em seus ouvidos quando a porta se fechou atrás dela:
“A gente se vê de novo...Minha Anjinha.”
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