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MISTÉRIOS NA CHAPADA

UM BOM DIA PARA REFLETIR

BRASIL. Uma nação que deseja a democracia, mas não tem amor por ela. Que deseja a liberdade, todavia não lhe tem zelo. Uma nação que sustenta como princípios a ordem e o progresso, contudo, seu povo vive de modismos, e se rendem a prazeres transitórios, abandonando o compromisso com o desenvolvimento coletivo, e as pessoas passam a viver egoisticamente isoladas, Cada um em sua própria "ilha da fantasia". — avaliava Arthur, refletindo acerca da situação do Brasil, do ponto de vista político-educacional e da capacidade de auto-organização de seu povo. Ou melhor: a falta de capacidade de auto-organização.

— É realmente triste, meu caro Arthur, mas o teu povo tem orgulho da ignorância, e vê graça e beleza na estupidez. — concluiu Arthur, proferindo aquela triste sentença para si, com ar triste, lamentando a

decepcionante realidade. Todavia, embora triste, devido a esta constatação, Arthur não desanimava. Pelo contrário: escolhia, internamente, continuar acreditando, e contribuindo, com sua postura e seu comportamento, ético e comprometido, para que o mundo seja cada dia melhor.

— É isso, Arthur. O que importa é que tens feito o teu melhor para que o muno seja melhor... e não perdes uma oportunidade para fazer os indivíduos refletirem acerca da importância das atitudes pró-coletividade. Sim. Estou contribuindo... É pouco? Sim. Pode até ser pouco. Mas, estou tentando contribuir. — consolava-se Arthur, refletindo sobre seu comprometimento com pessoal para o desenvolvimento da sociedade, pois entendia que cada pessoa impactada por sua conduta seria mais um potencial soldado para o fomento de sociedade mais justa. E seguia mergulhado em seus aforismos. Em um canto qualquer, de uma casa qualquer, a bela cidade de Salvador, aproveitando o prazer de ficar escornado no tapete da sala, onde mais uma vez estava bebendo seu suco favorito e comendo uma porção generosa de salada.

Exatamente: só mais um sujeito qualquer que vê mais um dia iniciando. Sem qualquer expectativa, ou sem grandes projetos. Apenas mais um cidadão que aguardou amanhecer para lançar-se ao mundo, mais uma vez, aventurando-se. Mais um, com uma certeza apenas: é preciso tentar, movimentando-se, fazendo-se ser notado para, quem sabe, algo de bom acontecer. E acaso não consiga realizar tudo que pretende ao menos lhe restará o conforto de ter tentado. com a máxima dedicação e comprometimento.

Alguma o incomodava. O dia estva estava estranho. Havia algo no ar. Embora ainda não percebesse nada de concreto, sentia-se incomodado. Era algo que vinha de dentro. Não havia coisa alguma, conscientemente, que justificasse aquela angustia.

Nenhuma ligação fatos recentes, ou a noite mal dormida. Simplemente alguns dias ele se sentia assim.

As luzes pareciam mais intensas. O mundo parecia mais barulhento. Havia algo no ar. Apesar de muito incomodado, não descobria do que se tratava. Talvez intuição. Mas era algo que ainda não sabia explicar. Era algo que lhee apertava por dentro. Provocava na alma um incomodo profundo.

Nos ultimos tempos estava piorando. Naquele dia, por exemplo, desde a madrugada se sentia daquele jeito.

E continuava sem entender o porquê.

— Bom. Deixa para lá. — Repetia para si, apoós os momentos que se detinha, pensativo, mas não conseguia as respostas. E também não conseguia deixar de pesnar naquilo e continuava ruminando seus pensamentos por algum tempo. Mesmo enquanto organizava suas coisas para sair, continuava buscando na mente uma possível causa para esse desconforto. Sua mente é teimosa e não descansa. Não desiste. Quando surge algo ela só para após encontrar uma solução ou uma opção.

— Opa! É isso. Esse é o tipo de coisa que justificaria esta sensação ruim que me toma: O Aniversário do AI-5... uau!... Como pode um povo esquecer das consequências de algo tão importante e tão grave?

— Mais tranquilo por descobrir a origem do desconforto, Arthur organiza as ideias acerca do assunto:

— 13 de dezembro de 2022. Mais um ano. Tanto tempo se se passaram e as pessoas não entenderam o que foi o AI5. — Continuou falando para si, as paredes e o que havia ali, mergulhado nos seus pensamentos.

— É por isso que estou me sentindo assim? Não acredito. Esta manhã tão estranha, até diria sombria, para quem tem memória. A maioria dos brasileiros já ouviu falar do AI-5 (Ato Institucional Número 5), mas poucos se dão conta que foi uma das medidas mais repressivas da Ditadura Militar no Brasil. Independente dos interesses dos gruopos políticos, ou das correntes ideológicas, uma ditadura nunca será a melhor opção.  Nehum regime de govermo e/ou sistema de governos jamais será mais eficiente que uma democracia. — Arthur seguia refletindo.

— O pior é que a mioria das pesoaos nem mesmo fazem ideia do que foi esse decreto e a situação que ele estabeleceu no Brasil.  Talvez até por não saberem, e não entenderem, é recentemente muitos indivíduos ocuparam espaços, aproveitando-se da rede mundial de computadores para pedirem um novo “AI-5”. É assustador, mas alguns cidadãos estavam indo às ruas pedir que este decreto fosse reeditado.

Hmm. É esse o preço de ter um povo que não conhece a história. Se eles ao menos soubessem o que significaria implantar, hoje, o AI-5 nos moldes do que foi em 1964. — Arthur nem tinha cereza  de que era isso que o incomodava. Todavia, continuou a revisão da história:

— Lamentavelmente o meu povo não é capaz de entender nem mesmo o cenário no qual este instrumento de controle foi editado , no Brasil de outrora. Muito menos entederiam que o momento é distinto. Talvez, haja muito oque ser discutido e ajustado no pais, mas nada justificaria a implantanção de uma ditadura.

Em 1964 os militares assumiram o controle do país, criaram uma junta governamental composta,  exclusivamente, por militares e assim governaram por decretos chamados “Atos Institucionais” (AI).

O primeiro ato foi assinado em 9 de abril de 1964 (AI-1), que atendendo a interesses estratégicos da junta governamental, suspendia por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão que fosse encarado por eles como opositores ao novo regime. Ressalta-se neste ponto que pouco importava se se o suposto inimigo era civil ou militar. A partir daquele momento, religiosos, acadêmicos, artistas, comunicadores, ou qualquer indivíduo visto como possível influenciador (Formador de opinião), e, principalmente, aqueles que fizeram parte do antigo governo, todos, estavam sob a rigorosa vigilância dos militares. E bastava pouco para que um indivíduo fosse declarado “inimigo da pátria”.

É premente a necessidade de mencionar ainda que este primeiro decreto também estabelecia que a eleição do próximo presidente da república seria indireta, onde os Congressistas que não tiveram o mandato cassado deliberariam acerca de quem seria a melhor opção para governar o Brasil. E, neste cenário, em 15 de abril, o general Castelo Branco assumia a presidência do Brasil, em circunstâncias e condições absolutamente atípicas.

De parte a parte, todos cometeram excessos. E somente quem teve suas perdas pode medir a dor. Mas, pelo bem do Brasil, as pessoas não poderiam esquecer os fatos, a história... e, muito menos, ficar pedido por algo que não entendem. É triste ver que tanta gente se decepcionou com os governantes a tal ponto de desejarem uma ditadura. Isso que é o mais triste em tudo.  — Fazendo esta análise Arthur retoma a sua rotina.

— Vamos à luta parceiro. O dia será longo e difícil. Além do mais, esta sensação, não deve ser por nada disso. afinal periódicamente você se flagra assim. e isso já vem de alguns anos. Então, meu caro Arthur, ou você está ficando coma alguma doença pisocológica, ou jáestá doente. — disse Arthur, para si, rindo.

EU SOU ARTHUR BRASIL CARUSO

Salvador, 20 de dezembro de 2022.

Arthur estava no seu escritório refletindo acerca de sua vida, e o rumo que ELA tomara. por mais que ele tentasse fazer outras coisas, tudo acontecia para que ele acabasse voltando para sua agência de investigação particular. O imóvel que escolhera para instalar a sua agencia, tinha um letreiro grande na frente, confeccionado em madeira, onde se lia: "ÔMEGA". E logo abaixo estava escrito: Agência Particular de Investigação.

Todas as vezes que entrava Arthur levantava a mão direita e tocava na placa.

Realmente o dia fora corrido para ele. E devido às manifestações pró governantes e/ou oposicionistas não pode resolver tudo que precisava. a cidade estava um caos.

O investigador saiu ligando alguns interruptores e desligando outros, conferiu algumas coisas, e depois arrumou sua cadeira para se sentar, diante de sua escrivaninha. Uma mesa grande, feita com madeira de jaqueira, confeccionada por um amigo do interior. Um marceneiro tradicional, da região de Sauipe, no estado da Bahia.

Foi tirando algumas coisas do bolso e arrumando sobre a mesa e permaneceu pensativo.

— Meu nome é Caruso... Arthur Brasil Caruso...

Meu nome é Arthur... Arthur Brasil Caruso...

Meu nome é Brasil... Arthur Brasil Caruso....

— Pronunciou seguidas vezes seu próprio nome. De maneiras diferentes, como se ensaiasse. Imaginava-se a se apresentar para um cliente importante, que lhe traria um caso importante, algum dia.

— Sou Arthur. — Falou rindo, pois agora falara como se estivesse se apresentando para si. E continuou:

— Apaixonado por história e teologia, amante da tecnologia e fascinado pelas civilizações antigas. Sou um conciliador de conflitos e mediador de negociações.

Investigador particular a serviço de uma companhia de seguros, e como freelancer, ajudo a esclarecer casos de adultério e fraudes empresariais.

Dou aulas particulares de história, produção textual e Fotografia. E faço consultoria na área de segurança. E serviços de manutenção em centrais de processamento de dados. Tudo para levar uma vida digna e honesta.

Manter a dignidade em uma nação onde as pessoas não se importam com as outras. Um povo individualista que apenas se une nas ocasiões de festejos. Mas gosta de dizer que é acolhedor e fraterno. A impressão que tenho às vezes é que no Brasil tudo é uma grande farsa. E todas as vezes que alguém tenta falar a verdade é agredido e destroçado por esta sociedade hipócrita que gosta de viver este faz de conta.

Ah! Uma coisa muito importante: para tudo isso que faço, conto com o apoio da minha maravilhosa assistente: a senhorita Sônia. Ela reclama quando a chamo assim. Diz que soa muito formal. Como disse: uma pessoa maravilhosa.

Ela é inteligente e experta... forte, sem abrir mão da sensibilidade; meiga, mas sabe se virar bem... é uma pessoa fascinante. Bonita. N-não... linda. É isso. Sônia é linda!... a melhor pessoa que já conheci... — fez uma pausa e pensou por um instante.

— Calma Arthur! Não se empolgue. — disse para si mesmo, interrompendo suas reflexões.

— Ma-mas... é que... não é nada disso... — continuava tentando se justificar.

— Droga, Arthur!... deixa de ser teimoso admite logo: você é louco por ela. — seguia se confrontando, em atitude desafiadora.

— Ela é... uma pessoa por quem tenho muita admiração. Sônia é dedicada, divertida... sabe aquela pessoa divertida que sabe se impor? Ela é assim. Reservada, discreta, profissionalmente. Perspicaz, inteligente... genial... dócil e meiga, mas também é forte e determinada. É a pessoa mais legal e divertida do mundo... sou apaixonado por ela... ah, droga!... acabei dizendo. — protestou, quando se deu conta do que acabara de afirmar.

— Sim, seu grande babaca. Você não é apenas apaixonado. Se fosse só isso você já teria aproveitado as oportunidades que teve. Afinal, paixão é isso: desejo, atração. E você sabe que ela também quer você. Então sabe porque você não aproveitou as oportunidades que teve? Porque você a ama, seu grandissíssimo romântico, de uma figa. Sim. Você a ama e por isso tem medo de terminar estragando as coisas e acabar fazendo que ela se afaste. Por isso vive fugindo das investidas dela. — disse Arthur, agora sendo mais firme consigo.

— É verdade. Você é apaixonado por ela e a ama... digo: eu sou apaixonado por Sônia e a amo. Mas esse é um assunto para outro momento. prometo que na próxima oportunidade conversarei abertamente com ela sobre isso.

O assunto do momento, meu caro, é a situação do pais. A capacidade do nosso povo e se manter ignorante e estupido. Esta análise me entristece, contudo, dói mais a certeza que tão cedo nada muda.

Arthur avaliou rapidamente que o dia foi perdido e decidiu voltar para seu recanto de descanso.

Lá é como um templo sagrado, onde se recupera de tudo e se renova. — Ele pegou a casaca no cabideiro e vestiu olhando em volta perguntando-se:

— Por quanto tempo poderei manter este lugar? — Pegou o seu velho companheiro de estrada (Um quepe tipo italiano, preto), logo depois saiu. Não é de ficar reclamando da vida, muito menos de lamentar por nada, todavia, por um instante, parou, na calçada, e olhou para o céu. A chuva que se anunciava para aquela noite certamente não seria passageira.

— Dia sem proveito e noite chuvosa... grandessíssima porcaria! — murmurou.

— Voltou para casa e passou boa parte da noite lendo as notícias do dia no smartphone, enquanto ouvia música, confortavelmente jogado na rede que mantém na varanda do apartamento, mesmo sendo objeto de piada entre os amigos por causa dela. Mas Arthur é Assim: Quando quer, quer. Se não quer, não importa o que digam ou façam. Então, pouco lhe importava que os amigos fizessem piadas, pois ele gostava muito daquela grande cadeira velha. E Sônia também gostava. Então o resto não importava.

Saiu da cadeira e foi para a rede. Sentando, forçou com a perna provocando um leve balanço na rede.

Levantou-se, apressado, pois decidiu ir à padaria.

Saiu. Atravessou a rua, quando teve a chance, apressado, como se estivesse fugindo. Sem perder tempo fez suas compras e saiu do estabelecimento.

Enquanto aguarda para atravessar a rua em segurança, pois agora havia muitos carros passando, viu ao longe uma garota bonita, caminhado em sua direção. Enquanto a observava, refletiu rapidamente sobre vida e deu conta que havia um tempo sem se envolver com ninguém. Desde quando conheceu Sônia não se envolvera com mais ninguém.

Aquela mulher caminhava pela calçada como se desfilasse, sensualmente. Parecia iluminar-se mais a cada passo.

Arthur desistiu de atravessar. Tudo que conseguia fazer era permanecer de pé na calçada, observando-a.

Quando ela chegou perto de Arthur olhou para ele, com um olhar encantador, e depois veio um sorriso que poderia iluminar a vida de qualquer um. Arthur, riu. Era Sônia. Ela abriu os braços e avançou para o abraçar. Ele tentava segurar suas compras, se machucá-la e sem deixar cair tudo, enquanto a garota o apertava em seus braços, e sussurrou:

— Que saudade!...

— Arthur, que já havia organizado as coisas para se encaixar naquele abraço, lembrando suas reflexões de mais cedo, agora relaxou e aproveitou o momento.

— Imagino que sim. Há três dias que não nos vemos... eu também senti tua falta. — disse Arthur, que ficou face a face com ela e olhando nos seus olhos, preparou-se para beijá-la e...

Sentiu uma língua crespa passando pelo rosto. Acordou, e deu de cara com Fifi, a gatinha dos vizinhos, que o despertou, interrompendo seu sonho, no melhor momento.

— É você, Bebete? — reagiu Arthur, abraçando a gatinha e depois fez um carinho. Calma vou explicar. Os vizinho chamam a gata de Fifi, mas Arthur a chama de Bebete. Isso porque, quando gata ainda era muito novinha, certa vez Arthur a encontrou na frente do prédio onde mora e tendo procurado saber de quem era, sem encontrar ninguém que a reclamasse para si, acabou levando-a consigo. Levou para o veterinário vacinar, e dar banho, comprou brinquedinhos, e voltando para casa a alimentou. Mesmo sem ter decidido se ficaria com ela ou se daria para alguém, continuou cuidando. Até viu a movimentação de seus vizinhos comentando com o porteiro que haviam perdido uma gatinha.

Sem falar do que se tratava, pediu que esperassem, voltou ao seu apartamento pegou Bebete e desceu para entrega-la aos seus donos. Quando Carlos e Lúcia a viram na mão de Arthur ficaram muito felizes.

— Fifi, por onde você andou, minha filha? O moço sequestrou você, foi? — Lúcia correu para pegá-la. Enquanto fazia um carinho em sua cabeça foi falando.

Arthur conversou com Carlos, explicando o corrido e depois que os vizinhos gradeceram Arthur, avançou para sair, mas a gatinha pulou do colo de sua dona e correu até Arhur. Ela ficou se esfregando em suas pernas até que ele a pegou e fez um carinho.

— Não, Bebete. Agora encontramos tua família. Você precisa ir com eles. — disse Arthur, carinhosamente para a gata.

— Mas o nome dela não é Bebete... é Fifi. — reagiu Carlos.

— Acontece, amigo, que eu não tinha como adivinhar. E ela não estava identificada. Como está agora. Pois a levei ao veterinário, que lhe deu banho, cuidou dos pelos e a vacinou. Mandei fazer est medalhinha, que está em seu pescoço, e estava cuidando dela, até que aparecesse um dono, ou doaria para... para alguém... qualquer pessoa que a quisesse.

— Desculpe, cara é que foi estranho ver você chama-la de Fifi. — explicou-se Carlos. Arthur olhou para ele, olhou para Lúcia, devolveu a gata para Carlos, e disse para Lúcia:

— Se ele reagiu assim, por causa do nome da gata, imagina se a senhora trocar o nome dele... — Depois saiu.

— O que ele disse? — perguntou, Carlos que insistiu até que obteve a resposta.

— Nada, amor. Ele só disse para cuidarmos melhor dela.

Bom. A historia de “Fifi” ou “Bebete” é essa. Nos dias seguintes, quando Arthur passava, chegando em casa, ou saindo, Bebete ficava agitada. Quando seus donos perceberam acabaram falando com Arthur. Assim eles abriam a porta, ela brincava um pouco com ele e voltava a entrar para a casa de Carlos e lúcia.

Depois de um tempo, Fifi já estava mais crescida e acabou passando pela varanda, uma noite, enquanto Arthur dormia na rede, e o acordou do mesmo jeito que sempre faz quando seus donos a deixam na varanda à noite.

Arthur se sentou na rede e riu muito enquanto brincava com a gata. Ele também se acostumou com ela, e gostava da sua companhia. Seus donos já haviam reclamado que ela parecia gostar mais de sua ficar com Arthur  do que na residência deles.

Arthur colocou um pouco de leite, fresquinho para Fifi.

E foi tomar banho. Depois preparou sua janta. E Fifi após

— Droga, ainda chove. Mas preciso voltar para o trabalho, mesmo sem trabalho para fazer. — Voltou à sala onde pegou uma capa e vestiu saindo. Pensou em passar pela padaria, antes de ir ao escritório, para tomar uma porção de chocolate quente ou um café, mas, não o fez e logo depois chegou ao seu pequeno escritório.

Ainda era sete horas da manhã. Tinha como hábito chegar na primeira hora para organizar os documentos, avaliar as coisas do dia anterior e calcular os passos que seriam dados durante o dia.

Abriu a porta, olhou em volta, tirou a capa e a pendurou no cabideiro. Atirou quepe sobre a mesa e sentando por detrás desta, escorou na cadeira, tombando a cabeça para trás.

Permaneceu nesta posição por algum tempo.

Estava mergulhado em pensamentos. Lembrando das pessoas a criticarem porque não ia às baladas, beber com os amigos e azarar a mulherada, porque não saía com os amigos, porque não ia aos jogos, etc.

Arthur deixou brotar o sorriso mais irônico. Esticou vagarosamente as pernas, repousando-as sobre uma banqueta que havia junto à escrivaninha. Pegou o quepe e descansou-o sobre o rosto, mantendo a cabeça escorada para trás.

Refletia sobre a vida e o trabalho. Qual seria para si a melhor profissão?

Formado em História e Filosofia, uma porção de outros cursos sem muita importância, querendo cursar de direito e jornalismo. Estava atuando como investigador particular fazia uns cinco anos. Pensou em muitas coisas tentando pensar em coisa alguma.

Depois de alguns minutos acabou cochilando.

Nos últimos meses, sempre que ia para o escritório era aquilo que acabava acontecendo. Dormia naquela cadeira de tanto que ficava esperando que alguém telefonasse ou entrasse por aquela porta para oferecer-lhe um caso.

Salvador não é um dos melhores lugares do mundo para se ganhar dinheiro como investigador particular. Mas apostava que havia ali um ramo novo para explorar na cidade e enquanto isto não dava resultado, fazia muitas outras coisas para pagar as contas e ocupar a cabeça.

BOM DEMAIS PARA SER VERDADE

Arthur continuava mergulhado em suas reflexões. Em certo momento, como que por um gesto de auto afirmação disse para si:

— Arthur. Meu nome é Arthur. Alguns dos poucos amigos me chamam de ABC, devido à piada que meu pai fez com meu nome. — seguia naquele monólogo, melancólico: Estava entediado. Não aguentava a falta de ação. Começava a me sentir à beira do fracasso nesta escolha. Temia que sua credibilidade estivesse abalada por não conseguir resolver o último caso. E apenas tinham aparecidos poucas clientes para investigar os maridos. Famílias querendo saber o que os filhos andavam fazendo.

Já passava das dez horas da manhã e continuava ali, diante da escrivaninha, ora pensando na vida, ora cochilando.

Em certo momento chegou a pensar que estava na hora de desistir daquilo e, como dizem alguns de seus poucos amigos: procurar um trabalho de verdade... Arthur deu com os ombros, cobriu o rosto outra vez, escorando na cadeira e começou mais um longo cochilo.

Depois de um tempo o telefone tocou. Já acostumado com os trotes dos amigos, as velhinhas que estavam querendo descobrir que fim levara o seu gatinho ou seu colar antigo e as associações filantrópicas pedindo doações. Não atendeu. Virou o aparelho para que entrasse no modo não perturbe. Pensando no ocorrido, deu com os ombros mais uma vez, fez o maior e melhor bico que pode, torceu demoradamente, quase alcançando a orelha, largou um muxoxo caprichado e se ajeitando na cadeira, continuou a boa pestana.

Lembrou de sua querida mãezinha, levantou apreensivo e desvirou o telefone para conferir o número.

— Não foi ela... número desconhecido. Não lembro e não está na lista.

Ao ser deixado sobre a mesa, o aparelho voltou a vibrar. Era o mesmo número. Arthur não atendeu, e o aparelho continuou a vibrar.

Depois de muitas chamadas, recompondo a postura na cadeira, pegou o telefone e, caprichando no tom de voz, atendeu:

— Alô... Alô?...

— Tudo o que ouviu do outro lado foi o som do telefone sendo desligado. E isso aconteceu mais algumas vezes.

O parelho vibrava, ele atendia, a ligação caia...

Sussurrou um desabafo e voltou a se escorar na cadeira, desta vez olhando para o telefone.

Era como se o telefone estivesse, deliberadamente, esperando que voltasse a se refestelar na cadeira para vibrar.

E foi exatamente assim: Várias vezes foi escorregando pela cadeira, olhando para o telefone, e voltava logo para não ser pego de surpresa.

Depois de algum tempo, Arthur deixou o corpo escorrer de vez e relaxou. Finalmente o smartphone anunciou uma nova chamada.

Quando atendeu: Silêncio. Respiração ofegante. Nenhuma palavra sequer. E logo depois a chamada caiu. Restou apenas aquele bipe infernal se repetindo.

Isso aconteceu mais quatro vezes, após a quarta chamada, pulou da cadeira, pegou o quepe, vestiu a capa e ia saindo quando o telefone voltou a tocar.

Prostrou-se à porta indeciso.

— Devo atender?

Não... não vou ficar fazendo papel de palhaço. Seja quem for...

Espera!... É melhor atender. É isso... Vou atender... vai que é algum trabalho. — pensou Arthur, levando a mão ao telefone.

— Não!... isso coisa de gente desocupada. — comentou, indignado.

Talvez seja melhor atender. Pode ser que agora alguém esteja mesmo precisando falar comigo. — Atendeu e uma voz masculina, como se a pessoa estivesse cansada e fazendo grande esforço, balbucia algumas palavras que mal posso entender. Ficou em silêncio por um instante, e depois, uma voz diferente começa a falar. A pessoa parecia mais calma que a anterior. Uma voz feminina. Apenas forneceu um endereço e um horário. Desligou.

— Pronto... agora tenho um caso. Ou uma nova piada para os amigos.

Arthur refletia acerca de que tudo aquilo estava bom demais para ser verdade.

Quando já estava próximo da meia-noite, o investigador se dirigiu para o local combinado.

Quando chegou ao bairro Santo Antônio, carregava um semblante apreensivo. Jamais alguém o havia contratado em uma situação tão complexa, e nenhuma abordagem, dentre todos os seus clientes anteriores, fora tão cercada de mistério e sigilos.

Parou a uma certa distância, como se estivesse avaliando o cenário. Enfiou a mão no bolso, apressado, e sacou deste a caderneta na qual havia tomado nota do endereço. Estava conforme o sujeito lhe dissera. Ele estava no lugar certo.

Arthur não sabia, mas estava a alguns de mergulhar na maior aventura de sua vida. Estava a alguns instantes de mergulhar naquele drama.

Segurava firme sua caderneta de anotações. Sentia a texturada capa de couro, nas pontas dos dedos. Enfiou sua caneta no bolso, e enquanto avançava, caminhando na direção do prédio, guardou a caderneta.

Enquanto caminhava, atravessando a rua, lembrou do dia em que Sônia, presenteou-o com aquele pequeno objeto tão útil. Revivendo aquele instante em sua memória, bateu com a mão sobre o bolso, onde a guardara, demonstrando o quanto aquele mimo era de grande estima para ele. Sônia era uma grande amiga.

Arthur se aproximava cautelosamente. O tempo que permaneceu de pé, um pouco distante, foi para observar o ambiente. Queria se certificar de que a rua estava minimamente segura.

Continuava se aproximando, aos poucos, cauteloso.

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