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LOVING IN MANHATTAN

CAPÍTULO 1

H. BLACKWOOD

   Era manhã em Nova York...

   O enterro já tinha sido finalizado e eu estava dando o meu último adeus ao meu querido irmão. Eu estou vestindo roupas escuras por causa do meu luto e da forte dor que me sufoca cada vez mais por ele não estar mais presente. O meu irmão e melhor amigo está morto. Ele morreu em um acidente na estrada enquanto voltava de uma reunião no centro. John Blackwood era o seu nome.

   Depois de me despedir de John e me afastar da lápide cheia de flores, eu entro no carro que está a minha espera e o meu motorista olha para mim através do espelho retrovisor. O nome dele é Ian, o meu motorista, o que sempre esteve presente quando eu voltava para casa para visitar John e foi através dele que eu soube da notícia triste que me abalou.

   Ian era um homem de quarenta anos, sua pele era clara, seus cabelos eram loiros e seus olhos eram castanhos. Tinha uma postura elegante e era simpático.

   Ian continua me olhando, sua expressão é de tristeza porque ele era muito apegado a John, pois já trabalhava pra ele há muito tempo.

   Eu vejo o meu rosto no espelho retrovisor e lágrimas escorrem pelo meu rosto. Meus olhos verdes estão inchados de tanto que chorei enquanto acompanhava o enterro. A minha pele é clara e os meus cabelos são negros e tudo ao meu redor fazia questão de combinar com aquele triste momento.

— Senhorita Blackwood... os amigos de John ainda estão se despedindo — Ian diz e aguarda em silêncio.

— O que isso tem haver comigo? — eu pergunto com a voz rouca.

— Senhorita... você deveria ir falar com eles pois é a única parente de John presente, seria uma forma de se aproximar. Mas sei que a senhorita nunca conheceu os amigos de John porque sempre viajou a negócios a pedido de seu irmão.

— Ian, eles não são meus amigos... não quero falar com ninguém. Quero ir pra casa.

— Está bem, senhorita — Ian fica em silêncio novamente e da a partida no carro. Então nós seguimos para casa.

   ***

   Duas semanas depois do enterro...

   TOQ, TOQ...

   Alguém bate na porta do meu escritório que fica num lugar reservado em minha casa e eu mando entrar. Estou sentada em minha cadeira confortável lendo um documento importante.

A porta abri e Ian entra com uma xícara de café em uma bandeja.

— Aqui esta o seu café sem açúcar, senhorita Blackwood — ele coloca na mesa longe do computador, pois há alguns papéis e canetas bagunçados porque eu baguncei.

— Obrigada, Ian.

— É um prazer, senhorita!

— Ian... — paro de ler por um instante e pego a xícara. Dou um gole rápido — não precisa ser tão formal, me chame apenas de Hannah!

— Certo, senhorita Hannah.

— Ah?

— Quer dizer... Hannah! — ele sorri um pouco envergonhado.

— Melhor!

   Dou mais um gole e Ian fica parado em silêncio. Ian além de motorista, às vezes faz coisas fora de sua obrigação, deve ser por isso que John nunca o demitiu. Ele é uma pessoa confiável. Posso contar com ele para tudo.

   O telefone toca e Ian rapidamente atende, me poupando o esforço. Eu apenas escuto a conversa...

" Sim?... Aqui é da casa do senhor... quero dizer... da senhorita Blackwood, como posso ajudá-la?"...

   Eu continuo lendo o documento enquanto ele conversa com a pessoa do outro lado. Aquele documento era na verdade uma cópia do testamento de John. O testamenteiro o trouxe para mim mais cedo para que eu assinasse. Depois que assinei, eu me tornei a nova chefe da empresa Blackwood e dona de todos os bens que pertenciam a John.

   Mas antes de ter aquele presente de John, eu tive uma conversa longa com o testamenteiro. Ele me disse que John teria feito o testamento porque ele estava sofrendo de uma doença incurável e que a qualquer hora poderia morrer. Isso era um segredo entre os dois. Mesmo assim, John se foi antes do seu tempo.

   No início, fiquei chateada e chorei bastante por saber disso por terceiros. John não teve coragem de me contar, mas depois eu entendi o sofrimento que seria se ele tivesse me contado. Sofreria em dobro porque a ideia de que ele poderia morrer a qualquer momento me deixaria sem chão. A minha vida iria se tornar negra. A solidão seria a minha amiga.

   Eu estou sofrendo por ter perdido o meu porto seguro. A riqueza que ele me deixou não se compara a um abraço sincero ou ao carinho que ele tinha por mim.

   Ian desliga o telefone e diz:

— A senhorita Lisa Mitchell deseja falar com você em um restaurante no centro.

— Ela disse o por quê?

— Disse que é sobre negócios.

— Negócios uma ova! Aquela vadi... — me calo porque não posso expor tal linguajar para ele, que parece surpreso com o meu tom agressivo.

— Perdão, senhorita.

— Não peça perdão... eu só perdi o controle — eu falo normalmente depois de me tranquilizar.

— Ok... mas você vai ao encontro?

— Não! Ela não merece me ver. Eu preciso dormir porque amanhã eu vou ter que assumir o meu lugar na empresa.

— Certo. Então vou ligar de volta avisando que não poderá comparecer.

— Não faça isso. Deixe ela no vácuo.

— Como quiser, senhorita.

   Dou mais uma olhada na cópia...

— A senhorita deseja algo diferente para o jantar?

— Sim... mas peça para a Lili escolher. Não estou com mente para pensar nisso.

— Ok. Então agora vou me retirar.

— Sim. Vá descansar!

— Hoje eu vou ir visitar a minha mãe, senhorita, mas só se você permitir, é claro.

— Sim... não se preocupe. Se eu precisar sair, eu dirijo.

— Muito obrigado. Então... com licença.

— Tenha uma boa noite.

   Ian sai do meu escritório e eu termino de beber o café. Me levanto e guardo a cópia do testamento no cofre que fica atrás de um quadro com uma pintura bonita. Aquele quadro pertenceu a John e agora me pertence. Tudo o que era dele se tornou meu.

   Saio do meu escritório me sentindo exausta, passo pela grande sala vendo todos os móveis luxuosos e subo a longa escada. Vou direto para o meu quarto.

   Na casa há vários quartos. Não é uma mansão, mas estava quase chegando ao mesmo nível. John gostava de viver bem. Milionário, trabalhador, dono de empresa, resultado? Vida mais que organizada.

   Eu vou para a suíte. Preparo a água na banheira, tiro minhas roupas e entro de uma vez. A água quente relaxa os meus músculos e anula toda a minha exaustão. Aquela exaustão era o resultado triste que as minhas lágrimas me causaram toda a semana de luto e ainda sinto que vou chorar mais vezes. É uma dor horrível. Perder a única pessoa que me fazia feliz e a única que eu demonstrava sinceramente todo o meu amor de irmã.

E naquela noite eu choro novamente.

   Depois do banho quente, eu saio da suíte vestida em meu robe branco e me deparo com uma bandeja de prata em cima da minha cama. É uma refeição — a que Lili mandou preparar para mim — O cheiro daquela maravilha de prato é delicioso e logo desperta a minha fome. Lili sabia como chamar a atenção do meu apetite. Havia também uma taça de vinho tinto e algumas frutas vermelhas.

   Chego em minha cama gigante e me sento ao lado da bandeja. Começo a comer as frutas, mas antes vejo um bilhetinho pequeno por baixo do prato.

Pego o mesmo e leio...

 Bilhete: " Com carinho. Aproveite ".

   Lili sempre cuidando de mim...

   Ela é uma senhora morena, de pequena estatura, tem os cabelos ondulados num corte chanel. Ela sempre está usando vestidos floridos e um relógio de prata no pulso esquerdo.

Ela é uma pessoa que a muitos anos trabalhou para John, mas agora está trabalhando pra mim. Ela me ajudou muitas vezes como se fosse a minha mãe e eu nunca a maltratei, pois ela é um amor de pessoa.

Como, bebo, me deito e decido descansar daquele longo dia.

CAPÍTULO 2

   

9 a.m.

   Ian para o carro na frente do grande prédio da empresa Blackwood localizada em Lower Manhattan e olha para mim através do espelho retrovisor. Eu olho através do espelho do carro para as portas de vidro do prédio e sinto uma emoção repentina. John não estará mais lá em sua sala quando eu entrar. Não me dará mais broncas, não me servirá mais o bom uísque e não me olhará mais como sua garotinha mimada.

   Sinto um lágrima escorrer em minha bochecha e limpo de imediato porque eu não desejo que Ian e nem os empregados da empresa vejam o meu sofrimento. Eu devo ser forte. Devo fazer isso para honrar a confiança que John depositou em mim.

   Olho para Ian e digo:

— Você pode tirar o dia de folga. A noite me busque, mas só se eu te ligar.

— Entendido, senhorita.

— Certo. Tenha um bom dia.

   Saio do carro e quando piso na calçada, sinto um vento forte soprar os meus cabelos. Uma ótima sensação. Estou vestida conforme uma dona de empresa deve se vestir, seguindo a elite e o meu amor por ternos. Algo que sempre fiz.

   O carro sai e eu sigo para a entrada. Passo pelas portas de vidro e cumprimento os seguranças na portaria. Passo pelas garotas da recepção e aceno para elas, pois elas já me conheciam e sabiam que eu não era um tipo de chefe durona com os empregados. Então sigo para o elevador e aperto no último andar, onde era localizado o escritório de John e que estava à minha espera para se tornar meu. Entro no elevador e em seguida ele se fecha.

   As portas do elevador se abrem e eu saio. Após uns passos, eu chego no departamento e me deparo com os empregados bem concentrados. Uma organização impecável. Todos olham para mim surpresos porque nem imaginavam que eu estaria de volta a empresa tão cedo depois que John faleceu. Entre eles há alguns rostinhos novos, mas há também um rostinho familiar que pertence à senhorita Miranda Costello. Ela trabalhava como secretária do meu irmão e agora seria a minha secretária.

   Miranda acena para mim ao me ver e vem rapidamente ao meu encontro. Ela é baixa, negra, seus cabelos são castanhos mel e os seus olhos são pretos. É uma senhora elegante.

— O que faz aqui tão cedo, senhorita? — ela pergunta com um sorriso no rosto e se aconchega em mim me dando um abraço de lado.

— Vim assumir o meu novo papel, infelizmente! — eu digo tentando manter a minha seriedade.

— Senhorita Blackwood... meus pêsames. O senhor John era uma pessoa muito querida. — ela se afasta de mim porque os funcionários nos olham e vêem que ela está me abraçando como se fôssemos amigas íntimas. — Fui visitar ele no cemitério, mas não pude comparecer ao enterro.

— Não se preocupe, Miranda e obrigado por ter estado sempre ao lado dele.

— De nada.

   Caminho em direção a ex-sala de John e Miranda me acompanha...

— Senhorita... aconteceram algumas mudanças nesses dois meses que você esteve no exterior.

— Quais tipos de mudanças, Miranda?

— Bem... eu não sou mais a única secretária destinada a trabalhar somente para o senhor John ou agora... para a senhorita.

— Como assim? — eu paro há alguns centímetros da sala e Miranda acaba tropeçando sem querer em mim. Eu seguro ela para ela não cair, e ela se afasta rapidamente quando está firme e olha ao redor para ver se algum dos funcionários está nos observando.

— Bem... o senhor John contratou uma nova secretária devido ao acúmulo de ligações e por causa de um atraso com algumas papeladas.

— Ele fez o certo... poupando você de tanto trabalho. Você é uma pessoa tão dedicada que deveria ganhar dinheiro sem ter que trabalhar.

— Obrigada, senhorita — ela agradece um pouco envergonhada.

— Não fique assim... gosto de elogiar quem é dedicado, você sabe.

— Verdade.

   Rimos em silêncio...

— Mas... ele diminuiu o seu salário quando diminuiu o seu trabalho?

— Não, senhorita... pelo contrário. O senhor John aumentou o salário de todos desse departamento.

— Ótima notícia — eu afirmo e gosto do que ouvi. John fez uma coisa boa antes de morrer.

— Sim, senhorita. Isso ajudou muitos dos empregados.

   Continuo o caminho até a minha mais nova sala e entro pois a porta já está aberta. Aquele agora é o meu escritório.

   As paredes são cinzas, a cor favorita de John. A vidraça é a esquerda e virada para outros prédios. Há alguns quadros médios e um sofá de cor preto. Era nele que John gostava de jogar baralho comigo. Uma lembrança muito viva em mim. E no final da sala estava a mesa marrom e a cadeira de cor preta que ele sentava todos os dias. O computador, o telefone, as canetas, os papéis e a xícara vermelha com o nome da empresa que era o nosso sobrenome.

   Me aproximo da vidraça e olho para os prédios, enquanto Miranda está em silêncio, porque sabe que estou me recordando de vários momentos com o meu irmão.

   Uns minutos depois, eu vou para a mesa e me sento na cadeira. É tão confortável aquela cadeira, tanto que é bem fácil de cair no sono.

— Senhorita Blackwood... vou deixá-la sozinha agora.

— Sim, Miranda.

— A senhorita quer tomar algo? Posso providenciar!

— Sim, Miranda... café sem açúcar.

— Sim, senhorita — Miranda sai fechando a porta e eu fico pensando em coisas aleatórias porque se pensar somente no meu irmão, vou acabar desabando em lágrimas.

   Em meio aos meus pensamentos, acabo lembrando que Miranda me falou sobre uma nova secretária, mas não detalhou nada sobre a mesma. A nova secretária já estava trabalhando na empresa a dois meses, o tempo que eu fiquei no exterior resolvendo alguns assuntos pessoais e assuntos envolvendo a empresa. Eu era a mão direita do meu irmão quando ele não podia deixar a empresa. Eu sempre ia em seu lugar, porque John optou por não ter esposa e nem filhos.

   Um tempo passa e Miranda está de volta em minha sala. Ela deixa o café na mesa e uns papéis ao lado.

— Aqui esta, senhorita.

— Obrigada. Vou me sentir bem melhor depois de tomar o café.

— Eu sei, senhorita — ela diz com um sorriso genuíno.

— E esses papéis? O que são?

— Ah... são alguns documentos que precisam da sua assinatura. A partir de hoje você fará isso com frequência.

— Ok, Miranda — sorrio para ela.

— Me avise quando estiverem assinados.

— Sim.

— Estou indo, com licença — ela diz e vai na direção da porta.

— Espere, Miranda — eu peço.

— Sim, o que deseja? — ela diz um pouco de lado sem se virar completamente.

— Bem... eu quero saber o nome da nova secretária. Você não me disse ainda.

— Oh, sim... o nome dela é Mia Lancaster. Se deseja saber mais alguma informação sobre ela, dê uma olhada em seu currículo. Esta tudo no computador.

— Obrigada, Miranda... pode ir agora e obrigada de novo pelo café.

   Miranda sacode a cabeça positivamente com um sorriso e sai da sala fechando novamente a porta. Eu começo a beber o café e dou uma olhada nos documentos que devo assinar.

   Me levanto da cadeira, ando na sala enquanto tomo o café e decido ir ver o currículo da nova secretária. Abro o computador depois de me sentar na beirada da mesa. Procuro o currículo com o nome “ Mia Lancaster ” e logo encontro.

   Vejo que há uma foto nele. Também vejo que a tal Mia Lancaster tem uma bela aparência. Um currículo impecável pois é fluente em francês e italiano. Sua idade é de 22 anos e ela mora no lado norte da cidade.

   Na foto, posso ver que sua pele é clara, seus cabelos são castanhos claros e longos e os seus olhos são verdes escuros. Tem um rosto atraente.

   Deixo o currículo de lado por um momento e pego o telefone. Ligo para Miranda que atende depois de chamar várias vezes.

— Sim, senhorita Blackwood?

— Miranda, eu gostaria de conhecer a senhorita Lancaster, então peça para ela vir à minha sala.

— Senhorita... Mia Lancaster não está na empresa... ela está de atestado médico e retornará ao trabalho somente amanhã.

— Tudo bem, Miranda... mas aproveitando essa ligação, venha buscar os documentos.

— Ok... estou a caminho.

   A ligação é encerrada e eu volto para a minha cadeira para assinar os documentos. Logo que assino, escuto batidas na porta.

— Entre! — digo porque sei que é Miranda.

   Quando a porta se abre, uma mulher loira, alta e da pele clara entra e vem diretamente em minha mesa. Ela está vestida em um vestido bege que desce até o meio da coxa e que realça as suas curvas e também em um salto alto preto. E em seu braço direito carrega uma pequena bolsa preta. Aquela mulher é ninguém menos que a pessoa que eu dei um vácuo. A vadia rica.

   Continuo sentada em minha cadeira e nisso vejo ela se curvar sobre a mesa tentando parecer sexy e enquanto isso, ela me encara com seus olhos azuis claros.

   Lisa Mitchell era a minha ex-namorada e agora que eu estava de volta em Nova York, ela veio ao meu encontro para tentar convencer-me a voltar com ela. — Mas não, jamais! — O que ela fez comigo era algo imperdoável. Nem mesmo as suas, milhões de ligações conseguiram fazer-me esquecer da sua maldita traição.

CAPÍTULO 3

— O que quer aqui? — eu pergunto olhando para a mulher em minha frente. “ Acho que ela veio me visitar para tentar voltar comigo. ”

— Quero saber porque você me deixou plantada te esperando no restaurante! — ela parece irritada comigo, mas ela até que tem um pouco de razão. Eu simplesmente ignorei o convite dela.

— Simples... eu tenho comida em casa.

— Só isso que tem pra me falar?

— O que quer que eu diga?

— Quero que me peça desculpas!

— Não fiz nada de ruim a você... então, não preciso pedir desculpas.

— Você me deve uma explicação! Poderia ter dito que não iria se encontrar comigo e eu usaria o meu tempo em outra coisa.

— Como sempre, Lisa. Você me trocou várias vezes lembra?

— Isso é passado, Hannah... podemos deixar lá e focar no presente. Eu ainda gosto de você.

— Lisa... — me levanto da cadeira e dou a volta na mesa. Paro na frente dela e nos olhamos mais de perto — o meu momento presente está sendo difícil e parece que você não percebeu como estou infeliz.

   Me afasto dela e ando na sala...

— Você deveria respeitar o meu momento e buscar na sua memória que o meu irmão acabou de morrer... a única coisa de valor na minha vida eu perdi e agora estou sozinha — me calo e uma lágrima escorre em meu rosto. Me viro para a vidraça e limpo o rosto para que ela não veja.

   Lisa fica em silêncio. Olho para ela e me lembro de como ela feriu e machucou o meu coração quando ainda éramos um casal. Eu deveria ter escutado John quando ele me avisou sobre ela e como ela usava a sua beleza para se divertir e se aproveitar do primeiro que aparecesse. Não sei o porquê ela está de novo atrás de mim.

— Quero que continue longe de mim e agora que sou a dona da empresa, quero que fique longe dela também.

— Hannah... eu esqueci totalmente da morte de John.

— Um hum — observo a falsidade saindo através de suas palavras.

— E já que quer que eu continue longe... eu ficarei.

— Obrigada... agora saia... estou esperando outra pessoa.

— Mas não se esqueça que você jamais amará outra pessoa como amou a mim.

— Isso você não pode decidir por mim.

   Escutamos algumas batidas na porta e então Miranda entra. Quando ela vê Lisa e ambas trocam olhares, Lisa simplesmente sorri com falsidade em seu olhar para mim e sai da sala desfilando como se fosse uma modelo. Ela não tem vergonha de ser tão cínica e falsa.

   Eu me viro para a vidraça novamente e digo:

— Os documentos estão na mesa, Miranda... pegue e saia e não deixe ninguém se aproximar da minha sala, não quero ver mais ninguém.

— É... é... como quiser, senhorita.

   Depois que Miranda se vai, eu fico naquela sala na companhia do silêncio, um inimigo sem voz que muitas pessoas tinham em comum.

   No silêncio daquela sala, eu me pego a pensar nos conselhos de John. Conselhos que muitas vezes ignorei. Conselhos que eu guardava na memória. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu choro de tristeza, solidão e de saudades do meu querido e honrado irmão.

   Passei o dia todo trancada na escritório. Revisei uns documentos, dei uma olhada nas transações, me alimentei e olhei a agenda. As importações estavam corretas e não havia nada fora do comum. A empresa Blackwood trabalhava com importações e exportações e também com a telecomunicação. Era uma empresa muito valorizada no mercado de trabalho e também no exterior.

   Estou em um bar próximo ao prédio da empresa, um que sempre frequentava depois de algumas viagens. Bebo uísque enquanto estou encostada no balcão pensando no dia de hoje. Ligo para Ian e peço para ele vir me buscar, porque não gosto de táxis, mesmo sendo um veículo seguro.

\*\*\*

   Me levanto às 11 a.m, tomo um banho quente no chuveiro e me visto para encarar o segundo dia como a Ceo da empresa Blackwood.

   A caminho da empresa, eu começo a trocar umas ideias com Ian, enquanto ele dirige:

— O que você acha de chamar a Lili para sair?

— Como assim, senhorita? — ele pergunta com sua voz um pouco trêmula.

— Estou dizendo para você chamar a Lili para sair porque há muito tempo vejo como você a olha e como ela olha para você.

— Isso não seria correto, senhorita. Somos colegas de trabalho. Ela é a governanta e uma mulher de respeito, já eu... sou apenas um motorista.

— Você acha que ela pensa como você?

— Bem... não sei, senhorita.

— Ian, você gosta da Lili?

— É... eu não sei o que dizer, senhorita.

— É só... sim ou não!

   Quando me calo, o carro para de uma vez e eu sou jogada para frente e quase topo no banco, mas por pouco eu não me machuco pois o cinto de segurança me protege.

— Por que freou desse jeito?

— Desculpa, senhorita. Olhe! — ele aponta para fora do carro e eu vejo uma jovem caída na calçada.

— Você atropelou ela?

— Não, senhorita... ela que passou na frente do carro, mas por sorte o carro não a atingiu.

   Saio do carro na intenção de ajudar a jovem, mas ela logo se levanta como se estivesse com pressa e corre. Vejo que ela não se machucou, ainda bem, mas eu não consegui ver o rosto dela por causa de seus cabelos castanhos e longos.

   Entro no carro e tento acompanhar ela com os olhos e consigo gravar na memória somente a cor vermelha da bolsa que ela estava carregando e da blusa sem manga branca.

— Podemos ir,  senhorita?— Ian pergunta enquanto eu coloco o cinto.

— Siga em frente e fique atento na rua!

— Me perdoe, senhorita?

— Não se preocupe.

   Ian volta a dirigir o carro e não fala mais nada. Ele ficou tão tenso quando estávamos conversando que a sua atenção no trânsito falhou. Ele não tinha culpa.

   Chego na empresa e logo me encontro com Miranda. Ela está tomando café em sua mesa...

— Hoje decidiu chegar mais tarde, senhorita Blackwood?

— Sou a dona da empresa... posso fazer isso.

— E como pode — ela diz com um sorriso.

— Certo... vou para o meu escritório — começo a andar...

— Espere — ela pedi e eu paro, mas não me viro.

— Sim?

— Bem... é sobre a secretária Mia Lancaster.

   Me viro automaticamente como se aquele nome tivesse me atraído.

— Diga.

— A senhorita Mia chegou atrasada hoje na empresa.

— E a que horas isso aconteceu?

— Há dez minutos atrás.

— E onde ela se encontra? — pergunto e olho todo o departamento.

— Provavelmente... no banheiro.

— Certo... diga a senhorita Lancaster para vir a minha sala.

— Ok.

   Sigo para o meu escritório e lá eu me sento no sofá, ignorando por um momento a mesa.

   Começo a pensar na jovem que Ian quase atropelou. Será que ela está mesmo bem? Será que ralou o joelho quando caiu? Porque ela estava com tanta pressa?.

   TOQ, TOQ...

   Batidas na porta me tiram dos meus pensamentos. Mia Lancaster está batendo e agora estou certa do meu palpite, porque ontem eu errei e acabei me encontrando com uma pessoa indesejável.

— Entre! — eu digo.

   A porta se abre e eu vejo uma jovem de branco entrar em minha sala. A blusa dela não possui mangas e eu acabo me recordando da garota na rua. Os cabelos dela estão amarrados em um coque frouxo mostrando o seu pescoço. Ela está de costas para mim a minha procura, ela olha na direção da minha cadeira que está virada para trás, talvez está pensando que estou sentada na mesma. Suas pernas estão a vista pois está vestida em uma saia justa da cor preta que desce até o meio das coxas. E que realça bastante suas curvas.

— Vire-se! — eu peço e a jovem se vira para mim automaticamente ao tomar um susto.

   Os olhos dela se encontram com os meus e eu vejo um sorriso tímido em seus lábios, mas também vejo algumas mechas caídas sobre o seu rosto, como se ela tivesse acabado de arrumar os cabelos.

   Eu continuo olhando para ela como se ela fosse um farol, simplesmente por sua beleza surreal. Meus olhos descem por todo o seu corpo e eu vejo um bandete no joelho esquerdo dela.

— Você está machucada?! — eu pergunto automaticamente preocupada. Nem sei o porquê de estar assim, é a primeira vez que a vejo.

   Ela olha para os seus tênis casuais várias vezes, com certeza procurando um lugar para enfiar a cabeça por estar envergonhada e por eu ter feito aquela pergunta óbvia. E assim ela esconde as mãos atrás das costas.

— Sente-se aqui... você está machucada! — eu mando e ela simplesmente continua de pé, mas agora me olhando. Os olhos dela são tão atraentes e ao mesmo tempo fofos.

   Me levanto e me aproximo da jovem tímida em minha frente. Ela continua olhando e agora está mais atenta em mim enquanto eu me aproximo.

— Você é a senhorita Mia Lancaster, certo?

— Sim — ela responde e me surpreende com a sua voz firme, descartando toda a timidez do início.

— Sente-se no sofá — paro a alguns passos dela.

— Estou bem assim... senhora Blackwood.

   Meu coração palpita rápido quando ela me chama de senhora.

— Não... não está! Sente-se no sofá... o seu joelho está ferido.

— Não é nada demais, senhora... eu posso ficar de pé.

— Não me chame de... senhora! Temos quase a mesma idade!

— Mas... chamá-la com respeito é um dos trabalhos de um funcionário. O senhor John sempre disse isso.

— Sim... o meu irmão era uma pessoa que merecia respeito... mas... eu não sou ele.

— Desculpe... eu não quis ser...

— Esqueça isso — digo e volto a me sentar no sofá.

— A senhora deseja algo de minha parte?

— Sim — eu olho novamente para o joelho dela fazendo com que ela note — quero que se sente no sofá... o seu joelho não parece bom.

— Estou bem, senhora — ela insiste em ficar de pé.

— Ok — eu desisto de tentar fazer ela se sentar — então... me diga... Por que chegou no trabalho três horas depois do horário de chegada? Os funcionários devem chegar às oito horas da manhã!

— Senhora... eu tive um contratempo em casa e por isso não pude chegar no horário.

— Um... E o que aconteceu em sua casa? — pergunto, mas acho que me intrometi demais.

— Eu prefiro não compartilhar detalhes da minha vida pessoal... desculpe.

— Você está certa em fazer isso — eu afirmo e continuo preocupada com o joelho dela, porque tenho quase certeza de que ela e a jovem na rua são a mesma pessoa.

— Obrigada por entender, senhora...

— Hannah! — eu digo o meu nome porque não suporto mais ser chamada de senhora. Eu só tenho vinte e oito anos... “ Oras! ”

— Oi? — ela pergunta confusa e um pouco surpresa.

— Meu nome é Hannah, senhorita Lancaster. Não me chame mais de senhora e isso é... uma ordem!

— Como desejar... Hannah — ela diz um pouco apreensiva.

   Sinto um alívio quando ela fala o meu nome, mas eu não demonstro.

— Bem melhor! E obrigada por me... obedecer.

   Mia somente sacode a cabeça positivamente e finalmente coloca as mãos para frente. Eu vejo que suas unhas estão pintadas de preto e eu logo gosto do que está em minha frente. A minha cor favorita.

— Senhorita Lancaster, eu...

— Mia!

— Hum? — fico confusa.

— Me chame de Mia.

— Ah... e isso é... uma ordem?

— Não, não, não — ela diz repetidamente sacudindo as mãos para negar. Gosto do jeito expressivo dela. Ela é tímida, mas ao mesmo tempo cheia de atitude. E é engraçada.

— Já entendi, Mia! Não precisa disso tudo — ela me faz sorrir de suas ações e fica sem graça quando vê o meu sorriso — eu só queria quebrar a tensão que estava entre nós.

— Você me assustou. — ela enfim me chamou de você, sem ter percebido. Maravilha de mulher. — obrigada por se explicar.

— De nada.

— Hannah... você... você... a senhora... é...

— Para... não diga mais nada... você está pensando demais. Pode voltar ao trabalho.

— Mas... e o assunto sobre eu ter chegado atrasada? — eu já tinha esquecido disso.

— Ah... é isso. Finja que isso nunca aconteceu. Não se preocupe com o seu salário, não será descontado.

— Sério? — ela fica surpresa — Mas...

— Volte ao trabalho e... cuide bem do seu joelho!

— Um... acho que vou indo então... tenho que atender algumas ligações e revisar umas papeladas.

— Isso... faça isso.

— Com licença?

— Toda... aliás, bonjour?!

   Mia sorri timidamente e sai lentamente da sala, e leva consigo os meus olhos, até que a porta é fechada.

   Fico sozinha novamente, mas com a lembrança do sorriso tímido de Mia Lancaster.

   Algumas horas se passam e eu finalmente decido sair um pouco de minha sala. Nesse tempo sozinha, eu recebi ligações de empresários que eram amigos e conhecidos de John. Todos me desejaram boa sorte e dois deles marcaram uma reunião comigo.

   Saio da minha sala e ando pelo departamento enquanto observo os empregados trabalhando, cada um em sua mesa. Alguns me olham, mas logo voltam a trabalhar. Sei que ainda é cedo para confiarem em mim e se sentirem confortáveis como eram com John. Como se eu fosse uma pessoa má... Sou uma pessoa má... mas não muito.

   Continuo andando pelo departamento e então vejo Miranda conversando sobre alguma coisa com a senhorita Lancaster. Ambas tinham suas mesas lado a lado, algo que facilitava muito a comunicação e o trabalho entre elas. Tinham ideias parecidas, eram inteligentes e trabalhavam no mesmo cargo.

   Penso em ir falar com Miranda sobre as reuniões que marquei com os empresários, porém Mia está com ela. Acho que Mia não se sentiu confortável quando falou comigo. Então decido voltar para a minha sala e ligar para Miranda.

   Sentada na beirada da mesa, eu pego o telefone e ligo para Miranda...

— Sim?

— Miranda... venha a minha sala

— Olá, senhorita Hannah...

   Percebo que a voz não pertence a Miranda e então eu desligo imediatamente o telefone.

   A voz pertence a Mia. Eu estou querendo evitar falar com ela hoje devido a minha insistência e preocupação com o seu joelho. Talvez amanhã eu esteja mais confiante.

   Não sei o que está acontecendo comigo! Geralmente, eu não rejeito um rostinho bonito e nem um corpo sensual. Ela tinha um corpo chamativo.

   Espero que Mia esqueça essa ligação e fique quieta trabalhando... Isso é tudo o que eu desejo, apesar de querer vê-la novamente.

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