Lisa Cassie
Todo adulto sonhou com alguma profissão quando criança, a minha, por exemplo, era ser arquiteta, mas quando cresci e descobri o mundo dos designers de interiores eu me apaixonei por ele. Fiz disso o objetivo de minha vida e estudei bastante para conseguir a vaga de emprego onde estou trabalhando agora.
Já havia desenvolvido vários trabalhos na empresa para a qual trabalho, Aquiles Designer, mas nenhum comparado ao projeto do Lux Hotel. Aquele projeto era o sonho de qualquer designer que queria se destacar na área, e muitas empresas o estavam disputando. Foram dias, mergulhada em um imenso trabalho, muitas horas debruçada sobre aquela mesa e na frente do meu notebook. Planejando, fazendo medições, escolhendo cores e estampas para que tudo ficasse além do perfeito, sem falar nas poucas horas de sono, mas enfim havia concluído com êxito tudo que imaginei para ele.
O projeto teria que ser aprovado pelo meu chefe e pelo chefe do meu chefe, e só após tudo isso, apresentado ao cliente. Então, quando menos esperei, a recompensa havia finalmente chegado. Descobrir por meio de um colega, em off, que o meu trabalho havia sido aprovado em todas as estâncias e escolhido pelo cliente, entre tantos outros projetos. Finalmente a minha chance de promoção havia surgido e eu estava radiante por aquilo. Haveria um grande evento onde o próprio hotel apresentaria o projeto e seu respectivo designer.
Decidi comprar uma roupa a altura do evento. Apesar de ser designer de interiores e meus projetos serem considerados muito elegantes e impecáveis, sempre gostei de me vestir mais à vontade. Sabia que a loja a qual entrei, estava bem acima de meus padrões, mas eu sabia que após aquela promoção que eu estava esperando ansiosamente, eu não teria problema em pagar pela roupa que escolhi. Olhei as etiquetas daquelas roupas e dei um leve assobio. Disse a mim mesma que eu merecia aquilo depois de todo o trabalho que tive. Me encaminhei para o caixa e entreguei o meu cartão de crédito, pedindo que a vendedora dividisse no máximo de parcelas possíveis. Estava certa que a promoção viria, mas não poderia dar chance para o azar. Passei em um salão de cabeleireiro e dei um retoque na beleza.
Sai do shopping com meu espírito renovado, mas quando coloquei meus pés em meu apartamento, a ansiedade que se manteve calada antes, deu seu ar da graça. Entrei no banheiro, tomei um banho e vestir meu roupão. Respirei fundo algumas vezes tentando manter uma conversa civilizada com ela. “Querida, descansa um pouco aí, e me deixa fazer o meu trabalho”. Quando dei por satisfeita na maquiagem, me vestir e me olhei novamente no espelho... caramba! Mulher de onde você surgiu? Como eu te escondi por tanto tempo?
Estava admirada com meu reflexo naquele espelho. Aquela mulher simples, normalmente vestida com roupas básicas, e que vivia com os cabelos sempre amarrados para não atrapalhar o serviço, tinha virado um verdadeiro mulherão. A mulher que me olhava de volta, era uma mulher elegante, charmosa e segura de si, apesar de que esse último adjetivo estava longe de ser verdade. Mas pelo menos nessa noite eu precisava ser confiante. A insegurança tentou me visitar, mas tratei logo de mandá-la a China.
Eu poderia ser aquela mulher pelo menos por algumas horas, fui minha própria fada madrinha, mas quem disse que eu também não poderia ser a Cinderela. Claro que meu interesse não era conquistar o príncipe encantado, mas ser reconhecida como a grande profissional que eu era. Peguei a minha bolsinha que finalizava aquele look, coloquei minha identidade, meu gloss e claro o convite que me daria acesso aquele evento. Era primordial não o esquecer, porque sem ele seria jogar todo esse trabalho e investimento fora. Solicitei um Uber pelo aplicativo do meu celular e desci para aguardá-lo na recepção.
O hotel em si era muito elegante, uma recepcionista me abordou para verificar meu nome e me encaminhou até minha mesa, pelo visto era um evento de lugares marcados. Assim que cheguei a mesa, alguns de meus colegas já estavam presentes, eles ficaram surpresos pela minha transformação. Minha amiga Emilly tinha mania de dizer que nossa aparência tanto pode abrir portas, quanto fechar. Aquilo me fazia rir porque eu nunca liguei para isso. Apesar de ser uma excelente profissional e ter um belíssimo portfólio, o mesmo não acontecia com minhas roupas e aquilo irritava a Emilly.
Quando nosso chefe chegou, ele estava radiante. Cumprimentou todos presentes na mesa, mas quando me viu, sua fisionomia mudou. Parecia que ele esperava que eu não tivesse vindo, mas, ao mesmo tempo, me comeu com os olhos. Um desconforto me preencheu por dentro, mas aquela noite, era uma noite de comemoração pelo meu sucesso, não de ficar preocupada com meu chefe ou com o que ele estava pensando a meu respeito.
Em um determinado momento o diretor de nossa empresa subiu ao palco e começou a discursar. A ansiedade, resolveu mais uma vez dar as caras. “Graças a mim você entregou o trabalho no prazo. ” Apenas ofereci o dedo do meio a ela, mas quando o diretor anunciou o nome do responsável pelo design vencedor, nós duas olhamos para o palco sem acreditar que de fato aquilo estava acontecendo. Frank James, meu chefe, foi chamado ao palco para ser prestigiado como o designer que desenvolveu todo o excelente projeto, e por conquistar o maior contrato que a nossa empresa tinha conseguido. Isso me fez sentir uma verdadeira profissional do circo. Porque aquilo só poderia ser palhaçada. Por isso aquela cara ríspida quando me viu, ele sabia o que iria acontecer e não tinha ideia do que eu poderia fazer ali diante de todos.
Um bom designer precisava trabalhar bem com a equipe e individualmente. Precisamos ceder, às vezes, renunciar a certas coisas para o bem maior. Porém, levar o crédito que deveria ser de outro, era muita sacanagem. Depois de toda aquela cena, Frank nem se quer voltou a nossa mesa. Acreditei que ele não teve coragem de me olhar nos olhos depois de toda merda que fez. Eu estava tão irritada comigo mesma por isso. Porque, de certa forma, fui uma trouxa. Confiei em quem não deveria confiar. Imaginei que ele estaria ali para nos ajudar, não para nos sacanear e assumir o crédito por nós. Aquilo foi uma verdadeira puxada de tapete. Nunca imaginei aquilo do Frank, e isso não ficaria assim.
Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha. Queria ter a certeza se ele estava pronto para a escalada. Me levantei linda da minha mesa, e fui até onde ele estava, na mesma mesa onde a diretoria de nossa empresa estava reunida. Ao notar minha aproximação, percebi Frank ficar tenso, mas mantive minha cara de pôquer. Quando estava diante dele e dos diretores, abri um sorriso falso e o parabenizei. Ele se levantou para me cumprimentar.
— Poderia não fazer escândalo na frente da diretoria? — Ele me perguntou num tom baixo e próximo ao meu ouvido, com um sorriso no rosto para disfarçar.
— Você acreditou de verdade que eu seria capaz de fazer um escândalo? — Perguntei o encarando, ainda com um sorriso no rosto. — Pode ficar despreocupado, sei ser muito mais profissional do que você. Eu apenas gostaria de entender o que aconteceu, mas teremos tempo para isso.
Dei uma boa olhada naquela mesa. Queria saber quem eu tinha que impressionar em uma próxima vez. Porque nem a pau eu confiaria mais completamente em meu chefe, então caminhei para longe dali. Sei que fui inocente confiando cegamente nele, sem assinar ou até mesmo lançar no sistema os projetos com minha identificação. Quando ele falou que eu não precisava se preocupar que ele mesmo lançava no sistema, cômodo a cômodo que eu ia terminando, não imaginei que ele estava me sacaneando e colocando a identificação dele em meus projetos. Então o sistema e toda diretoria reconheceu ele como o designer de interior responsável pelo projeto.
Só queria ver como ele iria desenvolver, na prática, tudo aquilo, já que não foi ele que havia criado. Algumas coisas ele até poderia desenrolar, mas existiam certos detalhes, que ele não saberia o que fazer. É o que eu chamava de poder curinga, o segredo a ser revelado, na prática. Pensei que naquela noite eu brilharia, mas tudo foi um verdadeiro desastre. Sai radiante de casa e voltaria arrasada. Como aquele escroto teve coragem de fazer tudo aquilo? Dei minha noite por encerrada e assim que cheguei em casa comecei a retirar aquela roupa que agora me parecia idiota demais. Além dos problemas profissionais, eu agora tinha um problema financeiro por conta daquela roupa. Quando a comprei, esperava que viesse com uma promoção, mas o que veio foi um cavalo de Troia. Meu telefone começou a tocar, naquele momento.
— Fala comigo, Emilly. — Eu disse já sabendo quem era do outro lado da linha.
— Florzinha, que silêncio é esse? — Imaginei que ela esperava escutar música alta e uma voz mega feliz.
— Estou em casa, Emilly.
— Como assim? Não era para você está comemorando sua promoção agora?
— Era, se meu chefe não tivesse roubado todos os créditos para si!
— Como é? Aquele escroto do seu chefe puxou o seu tapete?
— Acredito que você estava certa, quando falou que ele era escroto demais e que não era para eu confiar nele.
— Claro que eu estava, amiga! Conheço tipos iguais a ele. Pensam que porque tem 5 minutos de fama pode pisar em tudo e em todos. Arrume-se, estou chegando aí em 15 minutos. Vamos sair e ter uma noite das meninas.
— Aí Emilly, não quero sair, amiga! Prefiro ficar em casa afundada na minha amargura.
— Não aceito não, como resposta Lisa Cassie. Espero que quando eu chegar aí, a senhora já esteja na recepção me esperando. Você trabalhou muito nesse projeto, se não teve o reconhecimento que mereceu, pelo menos um tempo de qualidade podemos ter.
Apenas concordei com minha amiga. Ela realmente estava certa, não tinha porque eu ficar me afundando aqui em casa. Poderia me afundar no bar. Passei dias evitando sair, porque até nos finais de semana eu estava trabalhando, agora chega. Teria o final de semana que merecia e usaria ele para determinar o que faria da minha vida dali em diante.
Coloquei uma das minhas roupas básicas e desci para espera a Emilly. Assim que o carro dela parou, entrei e ela me olhou com um olhar reprovador. Emilly detestava minhas roupas, dizia que se eu tivesse um corpo feio, talvez fosse aceitável me vestir daquela maneira, mas eu era um mulherão, não devia usar esse estilo de roupa. A Emilly era designer que nem eu, mas ela optou por moda. Muitas vezes me fez de sua modelo particular. Julguei que ela teria aprovado as minhas roupas mais cedo.
— Foi com essa roupa que você foi para o evento?
— Nem me fale daquela roupa! Melhor que eu tivesse ido com essa, porque agora eu não estaria com mais um problema.
— Como assim? O que tem a ver sua roupa com mais um problema?
— A sua amiga idiota, contou com a promoção que ela imaginou que receberia, e foi em uma loja de prestígio do shopping e se presenteou com uma roupa que estava além das suas condições. Diga-se de passagem, contando com o bônus da promoção que não chegou. Agora a única promoção que ela irá ter, é a do cartão de crédito, promovendo-a a caloteira. — Emilly deu uma gargalhada, e eu também não consegui me controlar.
Eu e Emilly somos amigas desde a adolescência. Nossa amizade era tão sincera e forte que poderia ser comparada a um relacionamento entre irmãs. Era assim que nos considerávamos, irmãs de alma.
— Aí amiga, eu estou rindo, mas sinto muito por você!
— Não sei se quero continuar trabalhando lá, Emilly. — Nesse momento ela brecou o carro. Precisei me segurar para não bater contra o vidro. Olhei assustada para os lados, buscando o motivo daquela brecada.
— O que você acabou de falar? Como assim, você pretende sair? Lisa, você batalhou horrores para conseguir aquela vaga, e quer sair porque simplesmente puxaram teu tapete?
— O que você quer que eu faça, Emilly? Continue lá como se nada tivesse acontecido? Olhando para aquele idiota e sorrindo? Não consigo ser falsa a esse ponto.
— Você não pode desistir de fazer o que ama por isso, amiga. Não é justo! Sabe aquele ditado que diz: se a vida te deu limões, faça deles uma limonada? Aplique isso na sua vida! Você não precisa ficar rindo para aquele escroto, Lisa, você só precisa fazer muito bem seu trabalho. Da mesma forma que você brilhou dessa vez, outras oportunidades aparecerão, e as pessoas certas vão conseguir enxergar isso. Você não tem que desistir. — Minha amiga falou me encarando.
— Eu sei que você está certa, Emilly, talvez só esteja me sentindo impotente, mas vou arrumar uma forma de fazer aquece escroto se arrepender do que fez. Agora dê partida nesse carro e vamos embora curtir.
Minha amiga então voltou a dirigir e após mais alguns minutos parou em frente a uma boate. Olhei para ela sem acreditar. Como aquela louca me traz a uma boate com as roupas que estava vestida? Olhei para ela já negando com a cabeça. Nem me arrastando eu desceria do carro e entraria naquele lugar.
— Florzinha, viemos aqui aproveitar a noite entre amigas, não se exibi para ninguém. Então sua roupa é o que menos importa. Outra coisa, até se você estivesse vestida com um saco de batata, você ainda continuaria linda, então deixe de charme.
Só a Emilly mesmo para achar aquilo de mim. Ela estava certa, se a intenção era aproveitar a noite, então minha roupa era o que menos importava ali. Entramos e fomos até o bar, logo de cara a Emilly pediu dois kamikazes. Essa garota queria que eu ficasse bêbada rapidinha. Assim que o barman nos entregou a bebida de cor azul, brindamos e bebemos. Logo depois ela pediu a cerveja habitual dela e eu fui na minha caipirosca. Ela me chamou para a pista de dança. Após algumas músicas, ela voltou para o bar e eu fui até o banheiro. Enquanto estava na fila esperando, resolvi pegar o celular para dar uma olhada. Descobrir que no grupo do WhatsApp da empresa haviam várias imagens daquele evento e do idiota do meu chefe.
— Só pode ser um cretino mesmo...
— Quem? Eu? — Olhei para o homem de terno na minha frente e me dei conta que havia dito aquilo em voz alta, isso me deixou envergonhada.
— De forma nenhuma! — Apontei para meu celular que já estava apagado. — Meu chefe idiota que roubou um trabalho meu. — Olhei para aquele homem lindo na minha frente.
— Deve ser um idiota mesmo, e mais alguns outros adjetivos que ficaria feio dizer na sua frente. Melhor que ele tivesse roubado um beijo, talvez seria perdoável por você ser linda.
— Eu teria processado ele por assédio e ainda teria roubado o lugar dele, na empresa. — Falei achando graça daquele comentário.
— Seria bem-merecido! — Ele também ficou rindo. Chegou então a minha vez de entrar no banheiro e disse adeus para aquele homem.
Quando sair do banheiro, fui direto para o bar, mas logo a louca da minha amiga me puxou para a pista de dança. Enquanto dançava alguém segurou em minha cintura e colou o corpo em mim, aquilo incentivou mais meu rebolado. Olhei por cima do ombro e percebi ser o mesmo cara do banheiro, aquilo me fez sorrir, mas continuei minha ao som da música. Assim que ela finalizou, girei meu corpo e fiquei de frente para aquele cara, que já havia retirado o blazer e as mangas de sua camisa estavam dobradas até o antebraço.
— Poderia pensar que você está me seguindo. — Falei erguendo a sobrancelha.
— Quem disse que não estou? Você é linda demais para perder de vista. — Aquilo me fez dar uma gargalhada, e neguei com a cabeça. — Aposto com você que qualquer cara dali de cima, — Ele apontou para a área VIP. — Queria ter a oportunidade de ficar com você. Falando nisso, me chamo Erick.
— Prazer, Erick! — Simplesmente falei com um sorriso no rosto, me encaminhando para o bar.
— Nesse momento, o certo não seria você também dizer seu nome? — Ele perguntou me seguindo.
— Depende Erick. Se eu tivesse aqui para curtir com um cara lindo feito você, sim, mas infelizmente estou numa noite de meninas, então nada de meninos. — Falei rindo.
— Isso quer dizer que estou sendo trocado por outras mulheres? — Ele perguntou fazendo cara de cachorrinho largado na mudança.
— Não precisa ficar com essa carinha, não é por outras mulheres, é por uma amiga, mas vou te agradecer pela dança.
Me aproximei dele que me encarava e colei nossos lábios num beijo digno do Oscar. Uma de sua mão segurou minha nuca, enquanto a outra segurou meu quadril me puxando mais para si. Sua língua percorreu minha boca numa dança envolvente com a minha. Quando nos separamos nos encaramos e tinha que admitir existir química ali. Meu corpo inteiro estava acesso, e ambos estávamos ofegantes.
— Obrigada pela dança, Erick, mas agora preciso voltar para minha amiga. — Falei apontando para o bar e ele apenas confirmou sem fala, mas continuou a me observar. Quando cheguei no bar que olhei para trás não o vi mais.
— Que demora! Pensei que você tivesse fugido pelo fundo da boate. — Emilly disse.
— Estava batendo um papinho com o cara lindíssimo que dançou comigo.
— Onde ele está, que não te acompanhou até aqui? — Ela perguntou rindo.
— Noite das meninas, lembra? — Ergui a sobrancelha para minha amiga.
— Só por isso, você vai ser perdoada! — Então ela me abraçou.
Enquanto bebia ali no bar com a Emilly, vez ou outra me lembrava daquele beijo trocado. Aquele tal do Erick tinha realmente pegada e meu corpo inteiro acendeu por ele. Talvez eu estivesse muito tempo sem sexo e por conta daquilo meu corpo havia respondido daquela maneira. Isso me faz lembrar do escroto do meu chefe, porque foi devido aquele projeto que passei tanto tempo, reclusa em meu apartamento. Por sermos mulheres, alguns homens acreditavam poderem passar por cima de nós e tudo bem, e por mais inacreditável que pareça, isso muitas vezes era tratado como algo normal.
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