Marko Kovak
Cada passo que damos faz o chão abaixo de nós tremer. Cada olhar provoca medo. Meu nome é Marko , mas sou mais conhecido como O Demônio de Belgrado . E esta noite, os ventos trazem promessas de sangue.
Nossa presença é tão suave quanto um vendaval. Quanto mais nos aproximamos da sede da máfia rival, mais o fedor do medo se torna perceptível. As luzes se apagam à nossa frente, como se a própria escuridão estivesse a nosso favor.
- Preparem-se- eu vocifero para os meus homens. Eles estão prontos , homens frios e cruéis como o inverno mais rigoroso , cada um com um sorriso selvagem que faz meus inimigos tremerem. Apertamos nossas armas e avançamos.
As balas zunem ao nosso redor como vespas irritadas. Mas nós somos o enxame verdadeiro. Os inimigos caem como dominós aos nossos pés. Alguns suplicam por suas vidas; outros tentam lutar, sua coragem em vão. Não permito que símbolos de afeto ou misericórdia se infiltrem nessa dança de morte. Não há lugar para fraquezas aqui.
O fogo crepita ao redor do ambiente, reflexo da ira incandescente em meu coração. O chefe da máfia rival deve pagar pelo roubo feito na minha guarda. Ninguém mexe com o que é meu.
Atravessamos o corredor abarrotado de corpos, um testemunho de nossa destruição e chegamos ao escritório principal. A porta do gabinete do chefe se ergue diante de nós. Arrombo a porta com um chute e entro , Porém, quando a poeira se acomoda e a fumaça clareia, o gabinete está vazio. O covarde conseguiu escapar.
- Ele se foi, chefe- diz um dos meus, Heinz, entrando no escritório com um olhar alarmado.
- Diga-me, Heinz- respondo em um tom perigosamente suave
- Onde você estava quando isso aconteceu?
Ele pigarreia, se desvia dos olhos frios que eu lanço sobre ele. Ele sabe que cometeu um erro.
- O... o chefe deixou seu celular para trás, no carregador. Podemos conseguir pistas...
Sua voz vacilante desafia minha pergunta.
- Não foi isso que perguntei- eu digo, minha voz é uma navalha cortando o silêncio sufocante na sala. Heinz engole em seco, mas antes que ele possa dizer outra palavra, a minha pistola já está fora do coldre. Com um estalo rápido e abafado, Heinz cai morto no luxuoso tapete persa sob nossos pés.
Seu sangue começa a manchar o opulento tecido. Um lembrete para aqueles que falham sob o meu comando. Duas regras. Não falhe. Não desobedeça.
Nas mãos agora frias de Heinz, está o celular. Com um olhar de desdém para o homem caído, passo por cima do cadáver e apanho o aparelho. Está protegido por algum código. Uma proteção patética, considerando que tenho recursos que podem facilmente desbloqueá-lo.
A sala se enche de tensão à medida que me aproximo dos meus homens. Seus rostos se tornam pálidos à luz fantasmagórica do incêndio que logo irá engolfar a sala.
- Queimem tudo- ordeno, minha voz reverberando nas paredes de pedra da sala. -Não quero que Russo tenha para onde voltar.
Obedientes, eles se dispersam, carregando consigo recipientes cheios de gasolina roubada do depósito. Em instantes, um forte cheiro de combustível enche a sala. Saio do prédio e o ar frio da noite atinge minha pele, mas não tenho tempo para apreciar a sensação.
Pego meu celular e disco o número do único que pode desbloquear . Viktor.
- Viktor- digo assim que ele atende
- Preciso que desbloqueie um celular para mim. Com urgência.
Mila Popovic
A chuva está caindo lá fora, pontuando a tarde com um ruído constante nas janelas. O céu está cinza, escurecendo mais cedo do que de costume, pressagiando a falta de sol que logo tomará o dia.
Estou no orfanato, cercada por rostos jovens e sorrisos inocentes apesar do mau tempo. São as crianças do meu orfanato, as pequenas almas que cuido com todo amor e carinho.
Mas, mesmo na alegria desses momentos, algo dentro de mim parece incomodado, um pressentimento estranho que subiu em minha espinha desde que a chuva começou a cair. Tento afastá-lo, focando nos pequenos desafios e alegrias na frente de mim.
As risadas destacam-se acima da chuva batendo nas janelas. Estou ajudando Oscar a ler um novo livro, e Sophie e os outros estão pintando na mesa ao lado. Essa conexão com eles, essa simples alegria de estar presente em suas vidas, ofusca a maioria das minhas preocupações. Mas essa sensação persiste.
Então, Martha aparece na porta, uma expressão séria .
-Mila - ela diz, seu tom de voz tão firme quanto sempre.
- Seu pai está no escritório . Ele está esperando para falar com você.
Instantaneamente, um frio permeia a sala e a sensação de inquietação se intensifica.
O que ele veio fazer aqui?
- Obrigada, Martha- eu forço um sorriso, prometendo a Oscar que voltarei em breve, e me levanto.
À medida que me afasto do aconchego da sala de aula, a chuva bate mais forte nas janelas, como se estivesse acompanhando meu próprio sentimento de temor. Lá fora, o pai de quem lutei para me distanciar espera por mim, trazendo com ele as sombras do mundo que deixei para trás.
Empurro a porta do escritório, e lá está ele - meu pai. Meus olhos encontram os dele, parecem mais velhos, cansados. As rugas aprofundadas em seu rosto contam histórias de batalhas que preferiria não ouvir. Mas algo não está certo.
Uma mancha escura, visivelmente fora de lugar em sua camisa branca, chama minha atenção. É sangue. Pânico e preocupação tomam conta de mim e eu corro até ele.
- Pai! O que aconteceu?- Eu grito, sem perceber que minha voz está aumentando de tom.
Ele olha para mim, um sorriso triste brincando nos cantos de sua boca.
-Estão atrás de mim. Eu preciso da sua ajuda, Mila
- De quê... do que você está falando?- Eu pergunto, com minha mente girando.
- Os Homens de Marko Kovak.-Ele suspira profundamente, suas palavras saindo manchadas de dor.
- Estávamos em uma guerra com uma máfia rival. As coisas estavam ficando difíceis e... Nós roubamos algumas munições.
- Roubar? Dos Kovak ?- A confusão e o medo estão se enfrentando em minha mente.
-Mas por que você faria uma coisa dessas?
- Eu estava desesperado. E, bem, Marko não levou isso muito bem.Ele diz, e eu posso ver em seu olhar o entendimento claro do perigo que ele colocou a si mesmo e possivelmente, a mim e as crianças
A chuva lá fora soa mais forte agora, acrescentando à atmosfera sufocante do quarto.
- Pai, não posso escondê-lo aqui- digo, com minha voz tremendo com a seriedade de nossas circunstâncias.
- Isso colocaria as crianças em risco. Mas eu sei onde você pode se esconder por enquanto.
Ele assente, os olhos estranhamente lúcidos para alguém que acabou de ser baleado. Então começo a fazer o que posso, limpando o ferimento e fazendo um curativo improvisado. Felizmente, o tiro parece ter sido de raspão.
Larica, uma das nossas enfermeiras, sempre mantém um kit de primeiros socorros no escritório para emergências. Nunca imaginei que usaria para curar meu próprio pai depois de um confronto com uma máfia rival.
Uma vez que o ferimento está tratado, ele tenta se levantar, cambaleia. Corro para o seu lado, amparando-o. Seu corpo é pesado contra o meu, mas eu mantenho firme, liderando-o para a saída do prédio.
A chuva está mais forte agora, e corre em riachos pelo estacionamento do orfanato. Levo meu pai até meu carro, rezando para que nenhuma das crianças decide espiar pela janela no momento.
Instalo-o cuidadosamente no banco do carona, fechando a porta atrás dele antes de correr para o lado do motorista. Minhas mãos tremem enquanto coloco a chave na ignição, uma sensação jamais imaginada se instala em mim – medo.
Mas lá no fundo, sei que vou enfrentar o que vier pela frente. Pelo meu pai, pelas minhas crianças ...
Aviso : Não escrevo hots
Mila
Conduzo meu pai para longe do orfanato, para um destino conhecido apenas por mim. As luzes da cidade gradualmente desvanecem em nosso retrovisor, substituídas pela vastidão calmante do campo, A fazenda.
Localizada a alguns quilômetros de distância da agitação da cidade, a fazenda sempre foi o meu refúgio pessoal. É isolada, tranquila, quase idílica. Era aqui que eu escapava quando precisava de fôlego, de espaço para pensar. Nunca imaginei que um dia seria o esconderijo do meu pai.
Estaciono o carro ao lado da casa principal. Meus passos soam excessivamente altos no silêncio da noite enquanto ajudo meu pai a sair do carro e caminhar pela pequena trilha até a porta. A chuva, que antes era forte, agora é apenas um sussurro gentil contra as folhas.
A luz dourada da casa banha-nos enquanto entramos. O chão de madeira ecoa sob nossos pés enquanto carrego meu pai para um dos quartos. A cama, arrumada e inutilizada por tanto tempo, agora se torna um local de repouso. Acomodo-o nos lençóis, tentando ignorar a pálida cor de seu rosto.
- Obrigado, filha - diz ele, a voz enfraquecida.
- Você estará seguro aqui, pai. Pelo menos por enquanto- Repondo rápido, tento tranquilizá-lo. Ele sorri fracamente, fechando os olhos.
Deixo-o descansando e me dirijo à cozinha para preparar algo para comermos. O silêncio da casa é apenas quebrado pelo farfalhar dos utensílios na cozinha e pelo suave farfalhar da chuva lá fora.
Enquanto o estômago ronca e o cheiro do jantar enche a cozinha, percebo que, apesar dos desafios, encontrar forças para continuar não é tão difícil quanto parece.
Desvio meu olhar da panela borbulhante para a janela da cozinha. À medida que a escuridão cai sobre a fazenda, meu coração enche de preocupação. Preocupação com o estado do meu pai. Preocupação com as crianças no orfanato. A chuva parece carregar com ela um mau presságio.
Suspiro, esfregando o rosto cansado. Seria tão mais fácil, tão mais pacífico, se pudesse simplesmente viver longe do submundo da máfia e de todos os seus tentáculos venenosos. Acima de tudo, queria proteger minhas crianças, aquelas pequenas almas que encontravam consolo e segurança sob o telhado do orfanato, mas infelizmente meu pai é o chefe da máfia Russa, que também tem sede aqui na Sérvia
Sacudindo esses pensamentos, volto minha atenção para a comida à minha frente. Se tem uma coisa que aprendi, é que preocupar-se demais com o que não posso prever não ajuda em nada.
Pouco depois, o jantar está pronto. Sirvo um prato cheio para o meu pai, o aroma reconfortante enchendo a sala. Carregando cuidadosamente, vou para o quarto onde deixo meu pai descansar.
Ele parece estar dormindo e por um momento, hesito. Mas, lembro-me de que ele precisa comer. Toquei-o suavemente
- Pai- chamo-o. Ele desperta, e seu olhar volta para o prato que o entrego
- Precisa se alimentar
- Obrigado, minha querida- diz ele, com um sorriso cansado.
- Espero que esteja bom- Repondo com amenidade, ele sorri de volta para mim, um breve flash de alegria que acalma minhas preocupações crescente
Olho ansiosamente para meu pai quando ele leva uma colherada da sopa à boca. Assim que ele prova, seu rosto parece brilhar.
-Está deliciosa- ele diz, tomando outra colherada.
Um sorriso borbulha em meu rosto com suas palavras.
-É uma receita da mamãe- eu confesso, lembrando-me do modo como minha mãe dançava pela cozinha, cativando todos nós com suas risadas e comida deliciosa.
O sorriso do meu pai fica mais caloroso à menção dela.
- É por isso que está tão bom. Sua mãe era uma cozinheira incrível.
Há um momento de silêncio enquanto ele perde-se em suas próprias lembranças. Eu posso ver a sombra de tristeza em seus olhos.
- Sinto muita falta dela- ele admite, em tom baixo.
Com cuidado, estendo a mão e seguro a dele. - Eu também, pai. Eu também.
Eu pauso, as próximas palavras se formando com cuidado, coração e amor.
- Mas eu sei que ela estará sempre conosco. Nas lições que passou, no amor que ela nos deu.
Esse pensamento, a ideia de minha adorada mãe ainda cuidando de nós mesmo depois de sua morte, é um conforto. E neste momento e em todos os momentos que virão, eu sou grata a ela. Sou grata por tudo o que ela me ensinou, e por tudo o que continuo a aprender.
Meu pai me olha, os olhos cheios de uma tristeza profunda, mas também de um amor imenso.
- Você se parece muito com ela- diz ele, a voz engasgada.
- Bondosa, corajosa. Você cresceu nesta família, nesta... vida, mas nunca deixou que isso contaminasse seu coração. Seu coração é dela.
Sinto um nó na garganta, uma mistura de saudades e gratidão. Um sorriso amargo e doce brota em meus lábios.
- Eu acho que já mencionei isso antes, pai
eu respondo.
- Devo tudo a ela
Olho para o pai e vejo o homem que ele se tornou um homem dividido entre seus erros e um amor tão profundo por sua família que corta seu coração em pedaços. E mesmo com tudo que ele fez, todas as falhas, todas as feridas que abriu, não posso negar que ainda o amo.
Nessa noite silenciosa, percebo que o amor de uma filha por seu pai é algo enraizado tão profundamente que nem mesmo o peso do tempo ou o amargor dos erros podem quebrar.
Papai desvia o olhar do meu e volta para o prato de sopa, uma distração bem-vinda dos pensamentos pesados.
- Você não vai comer, filha ?- Ele questiona, sua voz cheia de preocupação
- Depois- eu respondo, forçando um sorriso. & Vou ficar com você um pouco primeiro.
Passamos o tempo, ele comendo, eu observando, como fazíamos quando eu era pequena e as preocupações do mundo ainda não invadiam nosso espaço. Falamos de coisas mundanas, do tempo, da fazenda. Durante esse tempo, o peso do mundo parece, pelo menos por alguns momentos, um pouco mais leve.
Uma vez que papai terminou de comer, retiro o prato vazio de suas mãos e volto para a cozinha me sento para desfrutar de minha refeição. Mesmo a simplicidade de uma sopa caseira parece ter sido contaminada pelas tensões do dia.
Depois do jantar, volto para o quarto de meu pai, encontrando-o já adormecido. Silencioso, deslizo um cobertor do armário e o acomodo carinhosamente sobre ele. No silêncio do quarto, o som de sua respiração tranquila é o único ruído que quebra o silêncio.
- Boa noite, papai- eu sussurro, antes de me retirar, fechando a porta atrás de mim.
Deixo meu pai no sono calmo e retorno ao quarto ao lado. Sozinha com meus pensamentos, sua palavras me acompanham. Não importa o quão profundo seja o buraco em que estamos, como filha, sempre haverá espaço para o amor de meu pai na minha vida.
Russo
Marko
Estou no escritório com Viktor. Sua perícia com tecnologia finalmente rendeu frutos ele conseguiu desbloquear o celular de Russo. Vasculhamos as mensagens, os contatos, as ligações. Uma presença se destaca sua filha, Mila
Meus olhos percorrem rapidamente as mensagens
Me volto para o meu irmão, monopolizando sua atenção longe das numerosas telas brilhantes em sua mesa.
-Viktor, preciso que encontre a localização de Mila Popovic
Ele não precisa de mais informações, apenas acena e embarca na tarefa. Depois de um tempo que parece muito mais longo do que realmente é, ele me dá um endereço.
Estou prestes a sair do escritório quando Viktor me chama.
- Marko ,Você já escolheu uma nova noiva?
Revirando os olhos, encaro meu irmão
- Não, Ainda não
Ele suspira, olhando em meus olhos.
- Estamos sob pressão interna para que você se case. Um chefe da máfia sem filhos... não é bem visto
- Sabe que estou ciente disso, Viktor respondo, com irritação em minhas palavra
- Mas há questões mais importantes a tratar agora.
- Marko você não acha que já causou bastante dano a Russo ? acredito que ele já tenha aprendido a lição , não é melhor deixá-lo agora?
-Do que você está falando? eu rosno para ele, irritado.
-Nosso rival se aproveita da nossa bondade, rouba nosso armamento, e você sugere que deixemos isso para lá? Você está perdendo a cabeça?
Viktor ergue as mãos em um gesto defensivo. - Só estou dizendo, Marko - ele diz.
- Afinal, ele não causou nenhum dano real. Ele já pagou em dobro por suas ações, não?
Ignorando sua última pergunta, se concentro no que mais importa.
- Se deixarmos Russo desimpedido, outros vão seguir seu exemplo - comento.
- Não posso permitir que isso aconteça.
À minha afirmação firme, Viktor suspira, claramente resignado.
-Tudo bem, Marko. Então eu irei com você. Alguém tem que cuidar desse seu temperamento
Entrei no carro, deslizando para trás do volante. Viktor se junta a mim como co-piloto, e enquanto saímos para a noite, vejo que seu rosto tem um toque de inquietação.
Sei que ele não está me acompanhando somente com o fim de me ajudar, ele ficou paranóico depois que me viu esquartejando um traidor ainda com vida , confesso que a cena foi um pouco grotesca mas no fim aquele bastardo mereceu e até que foi interessante o observar sangrar até a morte , sempre gostei de observar os minhas vítimas morrerem ... É ainda mais fascinante saber que meu rosto foi a última visão que eles tiveram antes de a vida os deixar
Desde então, Viktor tem agido cauteloso, quase paranóico. Ele tem medo de que a história se repita, que minha fúria possa criar um problema que não podemos resolver.
Sua atitude pode me irritar, mas eu sei que no fundo, ele só está sendo cauteloso. E apesar de tudo, eu permito que ele me acompanhe. Não só por que é útil ter um par de olhos extras, mas porque... bom, porque ele é meu irmão.
A estrada desaparece sob os faróis do meu carro, meus pensamentos a única companhia no silêncio entre mim e Viktor. Eventualmente, as luzes do GPS se acendem, nos direcionando para nosso objetivo. Faltam apenas alguns minutos para as quatro da manhã quando a fazenda finalmente aparece à vista.
Paro o carro a uma distância segura, meu olhar escrutinando a propriedade à nossa frente. Todas as luzes estão apagadas, o silêncio noturno aparentemente intocado. Não há sinais de seguranças fazendo rondas
Russo realmente poderia ser tão estúpido?
Um pequeno sorriso de escárnio se forma em meu rosto. Seria muito conveniente para nós se acertassemos um Russo sem vigilância. No entanto, uma parte de mim está ciente da severidade de não subestimar o inimigo - isso poderia ser apenas outro truque de Russo.
- Definitivamente não parece que um chefe de máfia está escondido aqui, não é?- eu murmuro, meu tom cheio de deboche enquanto olho para o cenário pacífico.
- Russo pode ser mais esperto do que esperávamos... ou mais estúpido
Com cautela, pego o telefone desbloqueado de Russo do bolso, sua tela brilhante cortando a escuridão da noite. Com poucos toques, disco o número de Mila , a filha de Russo, e coloco o aparelho contra a orelha.
O som da discagem preenche o silêncio enquanto espero que ela atenda. Poucos segundos depois, uma voz sonolenta ressoa do outro lado da linha.
- Papai, está tudo bem?"
Uma risada amarga escapa dos meus lábios. - Papai é o caramba- resmungo, irritado.
- Passe o telefone agora para Russo ou eu entro na fazenda e estouro a cabeça dele na sua frente."
Silêncio. Depois, o som abaixado de choros vem através da linha. A garota começa a implorar. Implorar por ele. Implorar por mim não prejudicar seu pai. A audácia dela apenas adiciona à minha irritação.
Dou um suspiro exasperado.
- Escuta aqui, sua imbecil, vou contar até dez. Se você não passar esse telefone para Russo, vou invadir a fazenda.
Do outro lado da linha, posso ouvir a ressonância da porta se abrindo, passos apressados correndo. Alguns segundos de silêncio se passam antes que, finalmente, a voz trêmula de Russo rompa o silêncio.
- Marko Kovak...
A familiaridade com a qual ele diz meu nome me provoca.
- Achou que poderia fugir de mim? Da Crvena?"- A intensidade das minhas palavras parece percorrer a linha, alcançando Russo onde quer que esteja.
O som começa a vacilar do outro lado, mas posso ouvir Russo tentando controlar seu medo.
- Nós podemos negociar. Posso te dar algumas cargas e ...
Interrompo seu discurso.
- Não vim para fazer negócios- respondo, cortante.
- É melhor aparecer se não quiser que eu coloque fogo nessa fazenda imunda como fiz com o seu covil.
— Já estou descendo - Russo responde rapidamente.
Encerro a ligação. Começo a fazer a longa caminhada até a porta da frente, tirando a arma e a verificando. Viktor segue meu exemplo, fechando a porta do carro com um estampido abafado.
Algumas luzes começam a se acender na fazenda, e vejo a silhueta de Russo se formando na porta.
Atravesso os metros finais até Russo. Ele fica na porta, um alvo claro. Levanto minha arma e meu dedo se aconchega contra o gatilho.
Mas algo muda. Uma figura se move rapidamente na minha visão periférica, e de repente há uma mulher na minha mira. A audácia dela me deixa surpreso, e solto uma risada de descrença.
— Olha só que bom que você apareceu, murmuro
- Assim posso acabar com os dois de uma vez e me poupar de ter que te procurar nesta casa enorme.
Apesar de seu medo evidente, ela não se move. Russo empurra sua filha para trás, protegendo-a com seu corpo.
- O seu problema é comigo, Marko. Deixe a minha filha em paz- ele ruge.
- E para quê?- eu questiono.
-Para que ela tente se vingar depois da sua morte?
Com um estrondoso cansaço, levanto o dedo em direção ao gatilho.
- Eu me caso com você...-
A declaração abrupta me pega de surpresa. Olho de volta para a mulher, uma sombrancelha arqueada.
- O quê?
-Eu... fiz uma breve pesquisa - ela começa, sua voz tremendo com o medo inerente em contrariar um homem como eu.
- Com alguns contatos do meu pai... há algumas horas, descobri que você e precisa se casar... eu me caso com você... em troca, você deixa meu pai vivo e assume a liderança da Cartel, a máfia que meu pai comanda
Russo grita um comando para que ela se cale e que vá para dentro de casa, mas ela permanece inerte me olhando fixamente , eu solto uma gargalhada
-Você é corajosa- admito, incapaz de esconder o divertimento em minha voz.
- O que te faz pensar que eu aceitaria essa proposta, acha que é tão valiosa assim?
- Você estaria em vantagem- ela responde, a determinação se firmando em sua voz.
- Além de parar de sofrer pressão interna para se casar... teria uma nova máfia para comandar... teria mais... poder...
Viktor se aproxima, lançando um olhar pensativo para Mila .
- Não é uma má proposta...
Não, não é uma má proposta,mas desconfio que tenha algo por trás dessa proposta.
Russo está claramente agitado, desesperado para proteger sua filha
- Isso é um absurdo. Me mate, Marko . Mas deixe minha filha em paz... ela nunca desejou essa vida
- Sua filha é mais esperta que você, Russo - respondo com um sorriso vitorioso.
Guardando a arma, me aproximo e estendo a mão para Russo.
- Eu aceito a proposta - digo
- Mas não se atrevam a tentar me passar a perna
Russo está horrorizado, sua impotência em proteger sua filha claramente o perturbando. Mas é tarde demais.
Me viro para Mila, inclinando-me para sussurrar em seu ouvido
- Não pense que vai viver um conto de fadas... você é a filha do meu inimigo... se ousar me trair,eu te mato sem pensar duas vezes.
Minha ameaça paira no ar entre nós, aguda e fria como a lâmina de uma adaga.
Dito isso, endireito-me novamente. O ar ao redor parece carregado, a tensão quase palpável. Lanço a Mila um último olhar, um aviso mudo sobre o futuro que ela acabou de escolher.
Dando as costas, caminho de volta para o carro, o som dos meus passos quebrando o silêncio da noite. Viktor se junta a mim, e juntos voltamos para o veículo.
As rodas soltam um som áspero contra o cascalho quando partimos, deixando para trás a fazenda , peço a Viktor que está ao meu lado para que envie a localização da fazenda para o chefe de segurança e mandem homens para cá , para que vigiem Mila a fim de que ela não fuga . Não, a vida da jovem Mila não será nenhum conto de fadas. Como a nova prometida do Demônio de Belgrado, a única coisa que ela pode esperar é a morte
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