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Atrás da Sua Morte

Capítulo 1

Todos temos segredos coisas que não queremos que ninguém saiba, sobre coisas vergonhosas que nos acontecem, sobre alguém que nos agrada, sobre uma infidelidade, algo que calamos por medo. Mas há segredos que são muito pesados de carregar, que mesmo depois da morte continuam pesando.

Dizem que os segredos mais difíceis de ver são aqueles que se escondem à vista de todos ou aqueles que todos sabem, mas finjo não saber para não acabar manchado por ele, sem se dar conta de que estão consumidos por ele até o pescoço, apenas por desviar o olhar para outro lado.

Meu nome é Alicia Morgan, tenho 26 anos e sou médica legista. Toda a minha vida era normal, minha melhor amiga era minha irmã gêmea Alana.

Apesar de vivermos a quilômetros de distância, éramos muito unidas. Nos víamos nas férias, no Natal ou quando tínhamos a oportunidade. Quando meus pais se divorciaram, nos fizeram escolher com quem iríamos morar e nos separaram. Eu fui para a cidade com minha mãe, começando uma nova vida, e minha irmã Alana ficou morando com meu pai. Os anos se passaram e crescemos, mas nossa conexão especial continua lá. Quando estávamos juntas, essa conexão é mais forte, a ponto de assustar nossos pais, porque podíamos sentir o que estava acontecendo com a outra.

Quando tínhamos nove anos, decidimos subir em uma árvore para resgatar a pipa da minha irmã, que estava presa nos galhos. Mas ao subir, o galho se partiu e bateu na minha cabeça, me deixando inconsciente no mesmo instante. Um dos nossos amigos alertou nossos pais sobre o ocorrido e nos encontraram inconscientes.

Embora o médico tenha examinado minha irmã e ela não tivesse absolutamente nada, ela só conseguiu acordar quando eu acordei. Depois disso, as brigas dos meus pais se tornaram evidentes, dia após dia, até o ponto em que eles se divorciaram e nos separaram. Foi um golpe duro para nós, porque fazíamos tudo juntas, mas o tempo nos fez seguir nossos caminhos. Ela se formou como professora na cidade e começou a trabalhar em uma escola secundária. Todo mundo gostava dela porque ela era doce, calorosa e te fazia querê-la imediatamente.

Mas tudo mudou naquele dia, naquele maldito dia, 06 de junho. Acordei como qualquer outro dia com meu alarme, arrumei minha cama, peguei meu uniforme limpo e o guardei na mala com todas as minhas coisas prontas para o trabalho. Já tinha um ano sendo a segunda médica legista da polícia.

Tomei banho, me arrumei, fiz um sanduíche de presunto e queijo. Mas desde que acordei, senti esse sentimento de tristeza, algo que oprimia meu peito, esse mau pressentimento.

Decidi ligar para Alana, mas ela não atendeu, insisti várias vezes. Mas nada, tomei café da manhã rápido porque meu namorado ligou dizendo que estava me esperando embaixo.

Lavei o copo do suco, peguei minha bolsa e saí a caminho de encontrar William, enquanto terminava meu sanduíche. Cheguei para encontrar meu namorado, que me entregou um café como todas as manhãs, desde que começamos a namorar há dois anos. O que me fez me apaixonar por ele é que ele é um cavalheiro e me apoia em tudo.

Mas tenho essa sensação que não consigo explicar.

William: Ali, amor, estou falando. Enquanto ele dirige.

Ali: Desculpe, eu estava distraída.

William: Se nós vamos à festa de aniversário da Tamy hoje à noite.

Ali: Não sei, não estou com vontade, amor, tenho um pressentimento estranho.

William: Já chegamos, amor. Só vamos um pouco e você se distrai e tira essa expressão do rosto, passo para te pegar, ok!

Ali: Tudo bem, me despedindo dele com um beijo, que ele me retribui com outro mais apaixonado antes de entrar para o trabalho. Cumprimento todo mundo, troco de roupa, leio o relatório e só há duas autópsias programadas.

Após terminar, liguei para minha irmã, mas ela não atende. O dia transcorreu normalmente, mas aquela sensação que não me deixava em paz. Liguei para meu pai, mesmo não tendo um bom relacionamento com ele. Mas ele não atendeu. Saí do trabalho e liguei para minha mãe, que está viajando com seu marido em um cruzeiro, para saber como ela está. Mas ela parecia muito feliz. Depois de falar com ela, me arrumei. Mas não me sentia bem, a angústia estava me matando e esse sentimento era muito forte. Quando Will foi me buscar para a festa de Tamy, ele falava e minha mente parecia estar em outro lugar. Não conseguia pensar em nada, apenas nesse sentimento que me sufocava, mas não sabia o que fazer, não sabia nada sobre meu pai e minha irmã Alana.

Chegamos ao local da festa. Will ficou responsável pelo presente, desejamos feliz aniversário para Tamy. Todos estão dançando, mas eu só quero sair daquele lugar que me sufoca. Sem que ele perceba, roubo as chaves do meu namorado enquanto ele conversa com os amigos.

Saio do local da festa planejando dirigir até a cidade. Preciso ver minha irmã, ouvir sua voz para saber que está bem. Está a quatro horas de distância. Meu celular começa a tocar, é William, mas não me importo. Só quero ver minha irmã, porque ela não está me respondendo. O céu está escuro e a escuridão é iminente. As gotas começam a cair, uma tempestade se aproxima. No instante em que meu peito dói, sinto que não consigo respirar enquanto dirijo. Quando perco o controle do carro, só sinto um impacto forte e o carro sacode. Ouço um zumbido alto nos ouvidos. Meu telefone, com a tela quebrada, começa a tocar. Como posso, com meu corpo dolorido e mãos sujas de sangue, pego o telefone. Não consigo pedir ajuda, pois não consigo falar.

Apenas ouço a voz e aquelas palavras que me destroem.

"Lamentamos informar que sua irmã Alana. Seu corpo foi encontrado sem vida, tudo indica que ela cometeu suicídio... Olá, alguém aí... você está me ouvindo?" Enquanto só vejo a chuva caindo e tudo fica escuro ao meu redor...

Capítulo 2

É como se estivesse presa em um sonho, perseguindo minha irmã Alana, mas não consigo encontrá-la. Ou quando finalmente a encontro, ela desaparece diante de mim.

Mas há algo diferente nela, seus olhos não têm alegria, seu vestido está rasgado e ela tem hematomas no corpo, eu só consigo ouvir sua voz.

"Ali, não fui eu".

Quero dizer algo a ela, mas vejo imagens de nós rindo, brincando como sempre fazíamos, e depois imagens de mim na estrada, perdendo o controle do carro. A última coisa que ouvi me fez acordar em um quarto, não sei onde estou, me sinto perdida pela claridade. Até que vejo minha mãe chorando de felicidade.

Violetta: Filha, você acordou. Pensei que também te perderia.

Ali: Mamãe, estou com sede. Confusa

Violetta: (limpo minhas lágrimas, passo um copo de água com canudo para ela beber) Faz três meses que você está em coma, você não sabe a dor que eu senti ao perder minha filha tão repentinamente e sem explicação, e depois te dizer que sua outra irmã está na UTI eu senti que estava morrendo.

Ali: Mamãe... mamãe, diga que é mentira, que minha irmã está me esperando lá fora.

Violetta: Com um nó na garganta e com o coração doendo. - Filha, como eu queria poder dizer isso...

arrasada

Ali: Mamãe, ela não faria isso, estou certa disso. Sinto que meu mundo está desmoronando, sinto uma faca afiada atravessando meu peito, machuca, arde e dói com todo meu ser, tento me livrar de tudo, só repito.

- Ela não fez isso\, ela não fez isso - começo a tirar tudo desesperadamente\, quero sair deste lugar\, sinto que não consigo respirar -

Violetta: Por favor, me ajude! Um médico! - gritando e segurando minha filha

Até que o médico entra e administra um tranquilizante.

Vejo ela ficar quieta, consigo ver que ela está destruída. Desde que nasceram, elas foram uma só. O estranho é que já se passaram três meses desde o acidente, os médicos disseram que ela não tinha nenhuma lesão ou fratura no corpo, mas seu corpo não reage, é como se estivesse em sono profundo. Eu tenho a sensação de que minha menina sentiu a morte da irmã, sempre foi assim desde pequenas, tinha algo estranho entre elas que me assombrava um pouco.

Observo William entrar no quarto.

William: Fui avisado e vim o mais rápido possível. Como ela está? Preocupado

Violetta: (Sequei minhas lágrimas)

Ela teve uma crise, o médico teve que me medicar. Observando minha filha que está dormindo na cama.

- Obrigada por não abandoná-la nesse tempo e por ter ficado com ela -

William: Não precisa agradecer, você sabe que eu a amo. E já está tudo pronto, meu diploma em Inglaterra. Vou pedir para ela ir comigo, só quero que ela possa se afastar um pouco para que seja menos doloroso para ela. Conversei com meus pais e eles disseram que ajudariam para que ela faça um diploma em criminologia.

Violetta: Obrigada, é o melhor para ela. Me alegro que ele seja o namorado da minha filha, você é um bom rapaz.

(Horas depois)

Ali: Acordo e o vejo dormindo na poltrona do quarto.

Tento me levantar, mas sinto meu corpo um pouco pesado e quase caio, mas sou segurada por Will.

Ele me ajuda a andar até o banheiro e me ajuda de volta.

- Oi - digo a ele.

William: Oi, você não sabe o quão feliz estou por te ver com esses olhos verdes novamente. Quase fiquei louco quando soube disso.

A abraço para beijá-la, ela se agarra a mim.

Nesse instante, uma enfermeira entra com comida, vejo ela devorar tudo.

- O médico disse que vai fazer um exame e\, se tudo der certo\, posso voltar para casa -

Ali: Posso te pedir um favor?

Você pode conseguir o relatório da autópsia da minha irmã.

William: Está bem, vou conseguir. Se isso trará tranquilidade.

Ali: Me diga o que você sabe ou o que mamãe te contou.

William: Me sento na cama e seguro sua mão.

- Por favor\, descanse. Depois haverá tempo para isso -

Ali: Quero saber tudo. Sei que ela não fez isso, farei tudo ao meu alcance para provar.

William: Sei que a decisão que sua irmã tomou é difícil de aceitar, até sua mãe não sabe o que aconteceu. Seu pai cuidou de tudo.

Só sabemos que encontraram o corpo dela no jardim de sua casa, enforcada com uma corda no pescoço.

Ali: Sei que ela não fez isso, ela não deixaria uma carta ou algo dizendo por que fez isso.

William: Não ouvi nada sobre isso, amor, eu fiquei com você, sua mãe viajou para o funeral no interior.

Ali: Funeral? Desconcertada - Já foi o funeral dela, não pude me despedir dela nem vê-la pela última vez - enquanto minhas lágrimas molham minhas bochechas, sinto seu abraço.

William: Isso foi há três meses.

Ali: Fiquei desnorteada - Quer dizer que passei três meses aqui no hospital -

William: Amor, quero te perguntar algo.

Ali: Sim, diga.

William: Você quer ir para a Inglaterra comigo? Uma mudança lhe faria bem, meus pais ofereceram ajuda para que você faça uma especialização.

Ali: Amor, você sabe que te amo, mas não farei isso - olhando-o nos olhos.

William: Amor, pense sobre isso, é bom para o nosso futuro.

Ali: Eu sei. Mas não tenho nada para pensar agora, mais do que nunca sei o que quero, e não ficarei tranquila e não me perdoaria se não fizer isso. Vou voltar para o interior e investigar o que aconteceu com minha irmã. Se você quer me ajudar com alguma coisa, fale com seu pai para conseguir um emprego como legista na minha cidade. Sei que seu pai tem influência.

William: Está bem, vou falar com meu pai e tirar um ano sabático para te ajudar.

Ali: Não faça isso, vá para a Inglaterra, estude, realize seus sonhos, não quero que você fique estagnado por minha causa. Se eu permitir que você vá comigo, cometerá um grande erro. Por isso, quero que terminemos. Quero chorar, mas engulo as lágrimas. É o melhor para ele.

William: Como você me pede para terminarmos? Você não me ama?

Ali: É porque eu te amo que peço que terminemos, que você vá embora e estude, realize seus sonhos. Eu tenho coisas para resolver e não descansarei até encontrar a verdade.

William: Tem certeza dessa decisão, porque quando eu passar por aquela porta, tudo terá acabado entre você e eu.

Ali: Sim.

William: Por favor, Ali, repense.

Apenas me deito de costas, para que ele vá embora, mesmo que doa, é o correto...

Capítulo 3

Após a partida de Will, minha mãe logo surgiu enfurecida pelo que eu tinha feito, mas a decisão estava tomada e ninguém me faria mudar de ideia. O médico me deu alta do hospital e estávamos a caminho de casa.

Ali: Observava as ruas e seus arredores enquanto minha mãe dirigia.

— Mãe, e o Roberts?

Violetta: Ele está trabalhando, me ajudou muito a cuidar de você.

Ali: Mãe, você é feliz com ele?

Violetta: Sim, muito feliz. Ele é um homem incrível, filha.

Ali: Meu pai me visitou no hospital.

Violetta: Apenas uma vez.

Filha, tem certeza do que quer fazer?

Ali: Sim, quero saber a verdade.

Violetta: No meu coração, sinto que ela não fez isso. Mas promete que vai se cuidar e me ligar todos os dias? E se descobrir algo ou correr perigo, volta para casa, filha. Você sabe que eu te amo e não suportaria perdê-la.

Ali: Eu prometo, mãe. (sorri)

Chegamos em casa e minha mãe me entregou uma caixa com um celular novo, com o mesmo número. Alguns dos meus amigos estavam lá em casa numa espécie de celebração de boas-vindas. Diverti-me por um tempo até receber uma ligação de William, que queria falar comigo. Chamo um táxi e vou até o apartamento dele. Chego e começo a bater na porta até que ele a abre.

William: Olá, entra. (abrindo mais a porta para eu passar)

— Queria te procurar assim que te deram alta, mas quis te dar teu espaço. Tem certeza do que quer fazer?

Ali: Sim, agora mais do que nunca.

Vejo-o caminhar até o balcão da cozinha e pegar um envelope de manila.

William: Falei com meu pai. Conseguiu o cargo para você por acaso; não há médico legista porque um renunciou. (me entrega o envelope)

Ali: Renunciou? (confusa)

William: Renunciou logo após a autópsia de sua irmã. Aqui tem uma cópia do relatório da autópsia.

Ali: (abro, retiro os papéis e começo a ler). Este relatório está incompleto. Faltam muitos dados sobre a vítima, resultados de exame estomacal, testes de urina e se há rastros de droga no sangue. Isso está muito estranho, há muitas inconsistências...

Informação

RELATÓRIO FORENSE do Instituto de Medicina Legal do Pueblo de Denver

Solicitado por: Autoridade Judicial de Denver

Objeto do relatório: Opinião sobre a causa da morte

Alana Morgan Smith

Local: Denver

Data de execução: 07 de junho de 2022, às 10h

Médico legista: Esteban Sáez

Preâmbulo: O cadáver foi encontrado na madrugada do dia 07 de junho de 2022, pendurado por uma corda no jardim. No levantamento do cadáver (10h), após ser despendurado, verifica-se que o laço tem 2 mm de espessura e o nó se encontra na parte posterior do pescoço. Ao entrar na casa, percebe-se que está em completo ordem. Não foi encontrada nota de despedida da falecida. O último contato não consta em sua lista de chamadas; está limpa.

Exame externo: O corpo foi encontrado pendurado, descalço, vestindo um vestido lilás que revela arranhões e hematomas nos braços, fixados ante mortem.

Características gerais:

Nome completo da falecida: Alana Morgan Smith

Estatura e peso: 1,62 cm e 60 kg

Constituição: Magra

Cabelo: Castanho escuro

Idade: 26 anos

Estado civil: Solteira

Sinais particulares: Tatuagem de uma lua no pulso esquerdo

À primeira vista não se observam sinais de desidratação na pele ou nas mucosas, exceto pelo sinal de Stenon Louis por ter sido encontrada com os olhos abertos. As manchas de livor são fixas na região do pescoço, o que concorda, mostrando que o tempo transcorrido é entre 12 a 16 horas. Quanto à rigidez, é difícil de superar, e nota-se protuberância lingual devido à língua inchada, pressionando contra os dentes. No pescoço há sulcos, e nas orelhas há um pouco de sangue. As manchas de livor são vermelhas nas extremidades, concentrando-se nas regiões mais distais. Na boca encontram-se espuma e no rosto, palidez e petéquias na pele. Removido o laço, conclui-se que se trata de um enforcamento completo, com o corpo em suspensão completa, simetria ao ter o nó justamente na nuca e típico pelo localizado na parte posterior do pescoço. A corda usada é uma corda dura que produz sulcos igualmente duros.

Causa da morte: Suicídio

Ali: Não pode ser, estão ocultando informações. Nem sequer consta a autópsia, somente a descrição do achado do corpo. Às vezes, ao examinar uma vítima, devemos olhar além. Às vezes, um detalhe muda tudo. Agora está tudo claro, alguém está se dando ao trabalho de esconder coisas. E me parece muito suspeito que o legista tenha renunciado. (fazendo aspas com as mãos)

Além disso, os arranhões podem ter sido fruto de defesa. Sei que minha irmã era lutadora e lutaria até seu último suspiro.

Simplesmente desabo no sofá enquanto choro, e sinto os braços de Will até me acalmar.

— Creio que devo ir embora. Obrigada por me ajudar, como sempre —

Enquanto ele segura minha mão.

William: Espera, toma isso. É uma passagem aérea para a Inglaterra para depois de amanhã. Só esperarei se você não aparecer; sem você, partirei sozinho.

Mas fique esta noite comigo.

Ali: Apenas o observo e afago seu rosto, enquanto ele beija minha mão. Então me aproximo dele, imergimos em um beijo que aos poucos se intensifica, até que nos envolvemos no prazer, adormecendo juntos.

Levanto-me antes do amanhecer, visto-me, pego minhas coisas e o olho pela última vez, deixando a passagem aérea na mesa de cabeceira, para que saiba que não irei e não deve me esperar.

Pego os papéis do legista e saio para arrumar minhas coisas e buscar a verdade sobre o que está por trás da morte da minha irmã...

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