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Ambição

Prólogo Parte 1

Havia um jardim imenso.Flores diversas cresceram na relva verde de maneira desordenada, selvagem e indomável.Borboletas batiam suas asinhas delicadas revoando o jardim vivaz, pousando numa pequenina petala avermelhada.A flor se mexeu.A borboleta se moveu rapidamente.Naquele canteiro rubro de petúnias perfumadas, olhos atentos acompanhavam uma movimentação crescente ao redor.Segurando uma risada infantil ao observar Anne correr aflita a sua procura, a menina ficou imóvel, aguardando que estivesse longe o suficiente para partir.Quando os cabelos dourados de Anne se difundiram entre as folhagens viçosas, Esmeralda se empertigou por entre as petúnias, atravessando aquele mar de flores difusas, um perfume enjoativamente floral invadindo suas narinas. 

Se rastejando entre os canteiros, avistou um buraco muito bem escondido pelas folhagens.Fosse um pouco maior e não passando, mas seu corpo magro e esguio se tornou muito útil naquele momento.

Colocando-se de barriga para baixo, ela rastejou para fora do buraco e o atravessou, sendo recebida por uma natureza ainda mais selvagem e indomável que seu jardim.Árvores de copas largas produzem uma sombra refrescante e agradável no verão, por entre os galhos retorcidos, escondiam-se animais que não cessavam o seu falar próprio e único.Conversamos entre si. 

Seus olhos verdes absorvem cada detalhe já muito bem conhecido. 

— Esmeralda, por favor, pare de se esconder!— Anne tinha apresentações, gritava ainda mais alto.Aproveitando-se do momento, começou a correr. 

Desviava de galhos secos e caídos, de raízes retorcidas, arbustos espinhosos e ameaçadores.Uma vez ou outra tropeçava nas armadilhas da floresta, mas rapidamente se recuperava.Sempre verificada no tronco rugoso das árvores uma marcação feita à adaga.Quando se aventurou pela primeira vez, se perdeu.Para não repetir o erro, iniciei marcações nas árvores até encontrar o caminho.

Esmeralda parou de súbito quando avistou a cachoeira.O som da água despencando, caindo sobre pedras musguentas e úmidas era uma sinfonia para seus ouvidos.Com passos leves, mudou-se do rio sinuoso que deslizava morosamente, descendo e descendo.Ele seguiria seu caminho cortando três vilarejos ao oeste e mais algumas cidades.Logo, se encontraria com o rio Osmund, muito mais largo e profundo, responsável por levar água a cidades importantes como a capital Caylin.

Algumas vezes, Esmeralda pensava em acompanhar o percurso do rio, conhecer novas cidades, vilarejos, pessoas.Ver o mundo.Já havia feito o projeto de uma jangada improvisada, mas falhava sempre que subia nela.Galhos pequenos e frágeis não são o melhor material para isso, mas era o único que uma pequena menina conseguiu juntar no momento.

 Subitamente, senti o calor voltando ao seu corpo exposto ao sol.Rapidamente se livrou do vestido, já muito puído e rasgado, ficando com uma camisola fina acompanhada de suas calças de linho.Não demorou muito para que a água gelada se infiltrasse no corpo, envolvendo-a em uma carícia molhada e fria.

Às vezes, Esmeralda inventava brincadeiras próprias, fingia ser personagem de algum livro que lia no momento, sempre era uma exploradora, em busca de algo, um pirata com um graveto que se tornava uma longa espada.Outras vezes, se deixava parar sobre uma pedra gigante que ficava imersa no rio, onde se deitava apreciando o sol, a brisa suave e o bater da água gelada em seus pés.Nesses momentos, se lembrava de como a vida era boa.

O tempo passou, inexorável, imperdoável como sempre.A tarde se evitou e viu a necessidade de partir.Quando a noite caia, a floresta se tornava muito mais arredia e perigosa, além de que não levados de arriscar ser pega pelos homens de seu pai que logo estariam a sua procura.Claro que em segredo de sua mãe, todos a temiam terrivelmente e ninguém ousava comentar sobre as escapadas de Esmeralda.Às vezes a própria Esmeralda tinha medo dela.

A menina já tinha ficado tempo o suficiente no sol para as roupas secarem, de maneira que quando foi colocado o vestido, não o encharcou por completo, apenas seus cabelos encaracolados deixaram um rastro por suas costas.Ela terminava de abotoar os botões quando as escadas se mexiam.Parou de súbito, apurando os ouvidos.O mesmo barulho se repete.Alarmada, correu para debaixo de uma folhagem.Estava com medo.Não sabia se era uma fera, ou os homens de seu pai a procurar.Desejou fervorosamente ser o primeiro.

Passou-se o tempo.Um silêncio mórbido invadiu a floresta.Estava furiosa consigo mesma, pensada ter sido uma grande boba assustada.Decidida a seguir seu caminho, se clamou, mas o barulho repetiu.Desta vez, irritada com a brincadeira boba que ocorria, lançou ao seu espião uma pergunta emitida aos berros.

– Quem está aí?— o silêncio a respondeu.Ainda mais furiosa, a pergunta-se não estaria sendo tola ao conversar com o nada, prosseguiu — Diga logo, quem está aí?Prometo que não contarei para ninguém que estava me espionando.

– Mas eu não estava te espionando — a voz rebateu dentre os arbustos.Esmeralda explodiu em uma zumbi e saiu de seu esconderijo.

– Ah não?Pois bem, então o que faz escondido?Obviamente parece mais um espião que qualquer outra coisa.Bem, se não estava me espionando, o que faz em meio aos arbustos?— a voz ficou em silêncio — saia logo daí, quero ver com quem estou falando, acho que tenho o direito de ver o meu espião.

Um garoto de cabelos loiros e olhos dourados saiu dentre os arbustos, seu rosto apresentou uma séria determinação, exatamente a de uma criança que acabou de ser contrariada.

— Eu já disse, não estava te espionando, eu estava…

— Estava…?

— Passando por aqui perto, eu queria entrar no rio, mas como vi que já tinha alguém, fiquei esperando para que você saísse, afinal não é nada próprio para uma dama e um cavalheiro ficarem sozinhos dessa maneira — o menino disse com um tom sério e seguras.Esmeralda abriu um pequeno sorriso diante desse comportamento.

– Se é assim, está bem, qual o seu nome?— Esmeralda disse se aproximando com cautela.

— Lucius e o seu?

– Esmeralda... Você mora por aqui?

– Ah... Bem... Eu venho visitar os meus tios que moram numa vila aqui perto, todo verão eu venho visitá-los.E você?

– Moro aqui perto também... – Esmeralda estava em dúvida se devia falar que era filha do conde de Bullock, o garoto com certeza se assustaria e dificilmente se encontraria com ela novamente, por isso devia ser cautelosa, pois no fim não possuía muitos amigos com quem brinca e por esse motivo resolveu criar uma mentira, que provavelmente se arrependeria mais tarde – é uma vila também não muito longe, mas não acho que deva ser a mesma do seu tio, eu nunca te vi por lá.

– Deve ser... – por um momento os dois ficaram em silêncio, incertos do que falam para o outro.Esmeralda era um tanto envergonhada de ter mentido para alguém que tinha acabado de conhecer, para ela deveria ao menos ter conhecido uma pessoa por um mês antes de mentir.

Ela fitava o rio pensando em algo para que lamentasse com a conversa quando descobriu que as sombras das árvores tinham terminado, o sol estava se pondo e logo a noite chegaria e caso isso acontecesse antes de retornar para casa, ela se perderia e seria o seu fim.Se não fosse morto pelos animais seria morto pelo seu pai assim que a encontrasse.

– Eu preciso ir, está ficando tarde... Você deveria ir logo também, à noite a floresta fica perigosa – disse apressada enquanto corria para o meio dos arbustos, mas antes de sumir em meio as folhas, se virou timidamente e de forma acanhada o indagou: – você vem amanhã?

– Mas é claro que sim, depois do almoço?– respondeu, pois por mais que fosse estranho convidar aquele que a espionava e que mal conhecia para brincar, para uma criança sem a maldade dos adultos no coração aquilo era perfeitamente normal e aceitável.

– Depois do almoço – prometeu com um sorriso radiante que logo foi retribuído e então em seguida correu para dentro da floresta sumindo da vista de Lucius.

Prólogo Parte 2

Ao chegar em casa, Esmeralda ouviu os sermões que Anne dava enquanto penteava o seu cabelo.É claro que a empregada não contaria ao seu pai o que aconteceu, ela seria punida severamente e depois despedida, por isso a única coisa que poderia fazer além de dar as broncas era rezar para que ninguém descobrisse as escapulidas da menina e dado a esse motivo sempre como acobertava, os tutores estavam no mesmo barco que Anne, não podendo tomar nenhuma medida em relação aquilo apenas vivenciaram de momentos livres enquanto recebiam um bom pagamento por algo que não faziam.

– Eu não entendo porque tenho que aprender tudo isso Anne, nunca vou ir para a corte ou encontrar com nenhum nobre, nunca saio de casa mesmo... – reclamou como sempre fazia quando escutava as inúmeras reclamações sobre seu comportamento.

– Toda moça precisa ser bem educada, mesmo que a senhorita não vá sair para encontrar com essas pessoas ou se relacionar com elas futuramente, deve aprender bons modos, afinal seu pai é um conde e não é um dos títulos mais baixos e a senhorita sabe disso.

– Eu sei Anne, mas é tudo tão monótono... A única diversão que tenho é visitar a cachoeira e isso sozinha, sem nenhum amigo para brincar.

Momentaneamente Anne ficou em silêncio em fitando a criança à sua frente.Embora ela não aprovasse a decisão dos condes de criarem sua filha longe de tudo e de todos, o que mais poderia fazer se não confortar aquela menininha?Não era justo a privarem de sua infância, mesmo sendo uma nobre, era certo que ela podia desfrutar aquele pedaço da vida onde tudo era esperança, onde a maldade do mundo ainda não havia sofrido seu coração puro.Por isso a criada ficou em silêncio e Esmeralda contínua:

– Por que não posso brincar com outras crianças?Nunca visitei nenhuma vila ou cidade aqui perto, eu sempre devo ficar trancada dentro de casa!

– Oh meu bem – Anne se ajoelhou, ficando da mesma altura que Esmeralda e encarou profundamente e, ignorando todas as regras de etiqueta, tocou a face de sua senhoria – eu entendo como se sente, de verdade, mas o conde se preocupa tanto com você.Muitos poderiam fazer mal a você para atingir o seu pai, entende isso?– embora nem Anne soubesse ao certo do porquê a protegerem tanto, era o único palpite aceitável para aquela situação.

- Acho que sim...

– Posso te pedir para que não saia mais escondida?

Esmeralda hesitou.Já tinha mentido hoje e não queria o fazer tão cedo.E onde ia não era um lugar muito visitado e sempre tomava cuidado para não ser vista, sendo assim não encontrava um motivo bom o suficiente para ludibriar a sua empregada, pois mesmo que mentisse ambas saberiam a verdade.

– Sabe que não posso prometer isso.Se não posso visitar vilas e cidades ao menos quero ir à floresta – Anne suspirou derrotada, sabia que não podia dizer nada que convencesse a menina do contrário então desistiu de convencê-la, pois aquela não era a primeira conversa referente às suas escapadas e ela sabia que de nada adiantaria com aquilo, já que resultaria apenas em uma mentira.

– Apenas tome cuidado – disse com um meio sorriso e Esmeralda a abraçou com força – bem, é melhor descer logo para o jantar antes que se atrase.Seu pai acaba de chegar de viagem e está ansioso para te ver.

O condado de Bulock não era muito próspero, suas terras não eram muito férteis e difíceis tanto para o plantio quanto para a criação de gado, pois era próximo as montanhas não havendo muito espaço para a empreitada.A mineração já havia sido cogitada, mas não houve representações de pedras preciosas, causadas apenas em compreensão para os ancestrais do conde.

A produção madeireira até seria interessante, caso houvesse cidades próximas onde vender e exportar aquele produto era impensável, seria muito caro investir em estradas que desaguariam para o mar, ainda mais para exportar madeira que havia em todos os lugares.O conde apenas possuía dinheiro por ser um homem de negócios que ia para a cidade frequentemente, era um investidor muito inteligente, sabia ver grandes oportunidades de longe e possuía negócios próprios que lhe davam bons lucros, o suficiente para manter sua família em um conforto digno de seu título.

Por esses e outros motivos era um grande frequentador de cidades grandes, inclusive na capital, onde era muito bem visto e era regularmente chamado para festas e bailes onde a condessa também participava, algo que apreciava muito.

Em sua última ida a Cailyn conseguiu fechar um bom negócio que lhe renderia gordos lucros e era por isso que aquela noite o jantar seria especial, seria para receber o conde de uma longa e bem sucedida viagem.Por esse motivo, Esmeralda trajava o seu melhor vestido, um branco cravejado com minúsculas pedras verdes ao redor de toda uma saia, o cabelo de um mogno escuro estava preso em uma trança lateral, também enfeitado com pequenas pedrarias verdes.

Ao chegar à sala de jantar logo avistei sua mãe e seu pai conversando afetuosamente.Esquecendo todas as regras de etiqueta, escrevi para o seu pai e deu um forte abraço que logo foi retribuído.

– Papai!Estava morrendo de saudade de você – disse segurando as lágrimas de alegria.Assim que se levou um pouco olhou melhor para o homem à sua frente e deu um largo sorriso.

– Também estava morrendo de saudades de você minha bonequinha.Vamos jantar?A viagem foi longa e estou morrendo de fome.

– Clarck, isso são modos?Ainda mais na frente de duas damas?– a condessa ralhou, mas o conde apenas riu em resposta e um abraçou carinhosamente.

– Minha velha!Estamos em família...

– Velha?– Esmeralda colocou ambas as mãos sobre a boca, tentando abafar a risada.Enquanto isso apenas observava a briga se desenrolar diante de si.Apesar dessas pequenas discussões o conde e a condessa se amavam muito.Clark não se importava muito com as etiquetas e sempre ficava ao lado de Esmeralda sobre o quanto era inútil para ela aprender, mas ele era rigoroso em dela questão fugir das aulas e deixar todos mortos de preocupação.Já a Condessa Amélia era o oposto.Por ser filha de uma família de duques ao lado de sua irmã mais velha, foi criada em meio ao requinte e luxo e era claro que queria que sua filha adquirisse o mesmo conhecimento, mesmo que não fosse necessário, pois a precedência e a educação eram priorizadas pela condessa.

– Acho que o jantar vai seguido se continuamos demorando muito – Esmeralda disse enquanto tentava segurar o sorriso de diversão que teimava em escapar ao observar a briga cômica se desenrolar a sua frente.Eram raros os momentos em que havia uma briga de verdade e quando seguramente era por baixo dos panos.

No fim todos se sentaram à mesa que havia sido posta de forma suntuosa.Evidentemente tinha sido a condessa que havia organizado tudo de modo tão requintado digno de um rei, ao menos aos olhos de Esmeralda.

Ao olhar para a mesa entulhada de comida de todos os tipos e sentindo o aroma de tudo aquilo, Esmeralda percebeu o quão faminta estava.Ensopado de peixe de água doce, cogumelos na manteiga, codornas recheadas, vegetais salgados, pão branco, queijos variados... Aquilo era um delírio para os olhos e estômago de qualquer um, principalmente para uma criança que havia brincado o dia inteiro sem pausa para um lanche.

O transcorreu de forma amena, a conversa foi agradável sem muitas surpresas e com os temas habituais de sempre como a condessa infecciosa das novidades recentes, comentando de velhas amigas, enquanto o conde sobre novidades da casa, que não eram muitas, e como estavam os estudos de Esmeralda, esse último foi descrito de uma forma um tanto vago pela menina que frequentemente fugia de suas lições de etiqueta, comentando apenas sobre as matérias que aprendia de jantar matinal.

No fim do jantar foram para a sala de estar para continuar a conversa como o habitual, pois era apenas naquele momento em que tinha tempo para se verem e por isso era muito bem aproveitado, afinal a condessa estava sempre ocupada com os assuntos da casa, já o conde os seus negócios e quanto a Esmeralda seus estudos.

Esmeralda se sentou ao lado do pai que ficava aconchegado em uma poltrona em frente a lareira, enquanto a condessa ficava próxima a janela observando a noite devorando os arredores da casa.Olhando para o seu pai, que parecia muito satisfeito e feliz, colocou a expressão que vinha treinando há algum tempo.Olhos brilhantes, sobrancelhas franzidas em sinal de tristeza e lábios para baixo, como um cachorrinho pedindo atenção.Com esse semblante, olhou para o seu pai e disse com a voz suave e suave:

– Papai... Por que não posso sair de casa para visitar outros lugares?

– Mas você não vai à campina fazer piqueniques?E visitamos o tio Cal de vez em quando... Não é verdade Amélia?

– Mas eu queria visitar outros lugares, ir com você e com a mamãe para a cidade.

– Meu amor, já conversamos antes, não se lembra?– Amélia andou até onde Esmeralda estava e se ajoelhou, acariciando seu rosto carinhosamente, limpando as lágrimas que deslizavam pela deixada da menina.Aquilo não havia sido ensaiado.

– Eu sei, mas não podemos viver a vida com medo, certo?Do que adianta viver uma vida longa, mas trancada em casa?

– Você não fica só em casa, você pode cavalgar com a Platina, visitar a campina, temos um lindo jardim também, um lago... – Clark foi logo interrompido.

– Não é a mesma coisa, eu estou sempre sozinha, só tenho vocês e a Anne e ninguém da minha idade para brincar!– exclamou exasperada, as lágrimas correndo livremente pelas suas gordas e rosadas.Será que nenhum deles poderia entendê-la?Era tão triste viver só!Até quando ela seria resguardada do mundo?

– Um dia você vai entender meu amor, você vai ver que estamos fazendo isso para o seu bem – Amélia a abraçou carinhosamente e deu um beijo em sua testa – acho que já está tarde, que tal você dormir um pouco?Vou te colocar para dormir.

Esmeralda se despediu do pai com um beijo e um abraço e logo em seguida acompanhou Amélia em direção ao quarto.Ali a condessa ajudou a filha a se trocar e se higienizar, desfez o penteado e penteou os cabelos da menina cuidadosamente.Só então a colocada na cama e se deitou ao seu lado, colocando a cabeça de Esmeralda no seu colo enquanto acariciava os cabelos da menina.

– Mãe, quando eu crescer poderei ir aos bailes com você?

– Achei que não gostasse dessas coisas, mais do que ninguém você detesta excesso de etiqueta, nos bailes você se depararia com tudo isso.

– Mas eu conheceria pessoas, e duvido que ali correria algum risco.

– Ah, mas você se engana.Sabia que George V foi envenenado em um baile de máscaras?Ninguém nunca descobriu o culpado.

– Então a resposta é não?

– Veremos daqui alguns anos...

– Promete?

– Prometo.

Prólogo Parte 3

No dia seguinte estavam todos reunidos novamente para o café da manhã. A conversa da noite anterior já havia sido esquecida. Esmeralda não tinha certeza do porquê, mas após ver aquele garoto nunca sentiu tanta vontade de visitar uma cidade ou um vilarejo que seja.

Era a primeira criança que via além de seus primos, que eram bem mais velhos que ela, tão perto da propriedade. Ela não tinha uma noção tão boa da distância de sua casa com um povoado próximo, mas tinha certeza que eram alguns quilômetros de distância, ela viu no mapa.

Será que ele tinha mentido? Talvez estivesse ali para caçar ou então tivesse fugido de casa, se fosse esse o caso, será que ele teria se alimentado numa hora dessas? Talvez assim que fosse vê-lo seria legal levar algum lanche. Também iria confrontar e pedir a verdade, ele não deveria ter mentido para ela, se bem que ela tinha mentido para ele também. De qualquer forma levaria um lanche.

Após o café da manhã foi logo para as primeiras aulas do dia, apesar de ser uma menina fazia questão de aprender tudo que um garoto aprenderia, e apesar do escândalo de sua mãe, conseguiu a permissão de seu pai, de manhã seriam estudos da ciência da natureza, desde matemática a história, enquanto à tarde aprenderia tudo o que uma dama deveria aprender.

Não que bordar, pintar, cantar, dançar e outras mais, não fosse legal, seus bordados não eram excepcionais, mas estavam na média, sabia tocar um piano e uma harpa de forma razoável, e sabia dançar sem pisar no pé de seu par e para ela isso era o suficiente, mas as etiquetas... Existiam maneiras diferentes de cumprimentar uma pessoa, talheres adequados para usar, roupas, acessórios, modo de falar, como se portar, tudo isso era desnecessário e o principal de tudo chato, segundo Esmeralda. Sua mãe ainda dizia que em breve ela deveria aprender a organizar uma mesa de jantar, e logo uma festa! Só de pensar nisso sua cabeça doía...

As aulas da parte da manhã transcorreram bem, exceto que estava ansiosa para dar logo a hora do almoço e se encontrar com o seu novo amigo. De quando em quando olhava para o relógio e o ponteiro parecia nunca andar, era uma verdadeira tortura!

Quando finalmente deu o horário mal acreditou e saiu toda feliz em direção a sala de jantar, onde devorou a comida rapidamente, ocasionando algumas broncas da mãe e mal terminou saiu correndo para a cozinha, onde pegava a comida que levaria, pão, queijo e alguns biscoitos de canela.

Assim que chegou na cachoeira escolheu uma sombra confortável para esperar e ali ficou. Já tinha trocado de vestido para um mais simples destinado para ir à cachoeira e mergulhar. Na sombra, confortavelmente instalada e de barriga cheia, foi o suficiente para que adormecesse. Seus olhos aos poucos ficaram pesados e logo ela se rendeu ao sono.

Havia um comichão em seu rosto. Ela passou a mão para tirar a possível formiga ou mosca que a incomodava. E de novo o mesmo comichão. Irritada ela abriu os olhos e se deparou com um par dourado que a olhava fixamente junto de um sorriso largo.

– Você é uma dorminhoca, tem um sono muito pesado. Sabia que estou aqui já faz vinte minutos? – ainda um pouco confusa por ter acabado de acordar, Esmeralda lhe lançou um olhar irritado.

– Eu te esperei e você demorou a vir. Combinamos logo depois do almoço!

– Desculpa, tive algumas complicações antes de vir, mas agora estou aqui, é isso o que importa, certo? – Lucius disse de uma maneira um tanto envergonhada, mas ainda com um sorriso no rosto. Esmeralda ficou com raiva de si mesma por ter sido tão mal com o menino.

– Tudo bem, não deveria ter te tratado daquele jeito – ela se levantou e foi em direção ao rio – você não vem cachinhos dourados?

– Não me chame assim! – Lucius reclamou enquanto se aproximava de Esmeralda que estava próxima ao rio. Ela soltou uma gargalhada e logo em seguida adentrou na água convidativa.

– Você não vem?

– Eu não trouxe outra roupa e minha mãe vai brigar comigo se voltar molhado... – falou de modo hesitante e novamente a menina riu.

– Medroso! Está com medo da mamãe? – provocou com um enorme sorriso no rosto enquanto o via corar.

– Mas é claro que não!

– Então entre, caso contrário você vai ser um frangote – ameaçou e logo em seguida começou a imitar uma galinha. Em questão de segundos Lucius entrou na água e começou a espirrar água na menina que ria alegremente.

O resto da tarde transcorreu com ambos brincando na cachoeira. O sol começou a se pôr e já combinavam de se encontrar novamente no dia seguinte. Esmeralda aprontava suas coisas para ir embora, quando Lucius notou uma pequena sacola de pano e então indagou o que era.

– Ah sim, eu trouxe para comermos, mas acabei esquecendo. Você quer? – perguntou oferecendo o pacote. Lucius negou e afirmou não estar com fome. Esmeralda ainda estava em dúvida se ele havia fugido de casa e se estava passando fome, mas a aparência de seu amigo estava ótima e ele parecia bem alimentado, mas para não arriscar ofereceu novamente – se eu levar de volta minha família vai começar a me fazer perguntas, eles não sabem que venho para cá e se descobrirem vão me proibir de sair sozinha, você pode pelo menos levar? – sem saber o que fazer Lucius aceitou e pegou o pacote das mãos da menina que logo em seguida desapareceu em meios as árvores. A caminho de casa Esmeralda pensou que nunca tinha se divertido tanto e como estava feliz por ter finalmente um amigo.

O verão correu agitado, tanto para Esmeralda como para Lucius que viviam se encontrando na cachoeira. Havia dias que não conseguiam escapar dos olhos dos adultos, mas sempre que conseguiam se encontrar o tempo passava de maneira tão rápida que logo se entristeciam na partida. Com o tempo, Esmeralda constatou que Lucius era bem alimentado, possuía uma boa aparência de quem estava sendo bem cuidado, até trazia lanches e doces para os seus encontros. Ambos tinham desenvolvido um laço de amizade muito forte e se tornaram quase que inseparáveis.

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