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AMÉLIA, A CAÇA-VAMPIROS

Capítulo 1: Whitechapel Lhe Dá Boas-Vindas

Era uma noite sombria em Whitechapel, um bairro assolado pela pobreza e pela névoa sinistra que envolvia suas ruas estreitas. Os poucos transeuntes caminhavam apressadamente, evitando olhares e mantendo-se alerta diante do perigo que espreitava em cada esquina.

Em meio a esse cenário sombrio, um bar mal iluminado despertava a atenção dos que se aventuravam pela noite. Os sons abafados de conversas e risadas ecoavam no interior do estabelecimento, contrastando com a atmosfera carregada que envolvia o lugar.

A porta rangente se abre, e uma jovem adentra o recinto. Seu porte esguio, roupas em perfeito estado e chapéu interessante chama a atenção de todos os presentes. Os olhares dos homens se fixam nela, um misto de admiração e curiosidade, enquanto as sombras parecem se afastar momentaneamente para lhe dar passagem.

A jovem se dirige ao balcão e se senta em um banquinho desgastado. Seus cabelos escuros caem em cascata sobre os ombros, enquadrando um rosto pálido e expressivo. Seus olhos penetrantes examinam o ambiente, observando cada detalhe com cautela.

Ela olha para o garçom, um homem calvo, com um bigode proeminente e um semblante cansado e cauteloso. É ele que dá a primeira palavra, se dirigindo à moça dizendo:

- Boa noite, senhorita. O que posso servi-la?

- A mais forte que você tiver, por favor.

- Compreendo...

O garçom vira para pegar uma velha garrafa laranja que exalava um odor forte o suficiente para derrubar um cavalo. Enquanto estava de costas, o homem se viu diante de uma preocupação, conhecendo a índole dos frequentadores daquele estabelecimento. Ele enche um pequeno copo de vidro e serve para a moça.

- Qual o seu nome, senhorita?

- Amélia. - Diz ela dando o primeiro gole da bebida 

- Escute, Amélia, este lugar não é o mais seguro para uma moça como você. A noite em Whitechapel é repleta de perigos.  As ruas ficam infestadas de vagabundos e bandidos, preparados para arranjar confusão com qualquer um. Talvez seja melhor procurar outro local.

- Eu sei exatamente onde estou. Mas não se preocupe, não vim para beber somente. Estou em busca de informações.

- Informações? Sobre o quê?

- Sobre um homem chamado Charles Hoodle.  Dizem que ele vive nesta região. Eu preciso encontrá-lo.

- Desculpe, senhorita, mas não tenho conhecimento sobre esse nome.  Em um lugar amplo como este bairro, é difícil acompanhar tudo que acontece.

A jovem suspira de frustração, pensando ter perdido mais tempo valioso.

- Ao menos você conhece alguém que saiba de algo? Talvez um dos rapazes ali de trás possa me ajudar.

- Se eu fosse você nem pensaria nisso. Eu só aturo estes vagabundos pois eles me dão dinheiro, nada além disso. Já ouvi coisas que até o criador duvida. 

O garçom então se aproxima de Amelia para sussurrar em seus ouvidos. 

- Veja, olha para trás e confira por si só. Não tiraram os olhos de você desde que chegou aqui. Tenho medo do que possam fazer contigo, por isto saía, agora mesmo.

- Eu agradeço a sua preocupação, mas não temo nenhum deles. Consigo me virar sozinha, acredite em mim.

O garçom continua nervoso observando os arredores, e dá sua resposta final.

- Eu... não tenho informações. Me perdoe. Se te serve de consolo, este gole será por conta da casa.

A jovem, enfurecida pela falta de informações, bebe o restante da bebida de um só gole, sentindo o líquido ardente queimar sua garganta. 

-  Obrigado pela bebida.

Ela se levanta abruptamente e deixa o bar com passos firmes, deixando o garçom perplexo e temeroso. 

Enquanto deixa o bar, a jovem carrega consigo um misto de frustração, por não encontrar o que desejava, e determinação para continuar sua busca.

Amélia continuou sua busca incansável pelas sombrias ruas de Whitechapel, com seus passos ecoando pelo calçamento gasto. A névoa sinistra envolvia os becos estreitos, criando um véu misterioso que ocultava tanto perigos quanto segredos.

Enquanto seus olhos perscrutavam cada canto escuro, Amélia procurava sinais da presença de Charles. Afinal, ele era um caçador noturno habilidoso e poderia estar em qualquer lugar, aguardando nas sombras.

Em meio à escuridão opressiva, um som estridente rompeu o silêncio. Era grito por socorro, como o de uma criança. Amélia imediatamente seguiu o rastro do som para encontrar o garoto. A princípio, parecia que ele estava desamparado, solitário naquela sinistra viela. No entanto, Amélia, com sua audição afiada, percebeu algo além das aparências.

Os olhos treinados da jovem  captaram o movimento furtivo no ar. Criaturas aladas emergiram das sombras, suas silhuetas imponentes destacando-se contra o céu noturno. Eram as temidas gargulas, monstros petrificados que ganharam vida e agora ameaçavam o garoto indefeso.

Por um momento, Amélia aguardou, esperando que um caçador surgisse para enfrentar a ameaça. Talvez aquela fosse sua oportunidade de encontrar o que tanto desejava. Contudo, nenhum herói se manifestou. Os monstros, cada vez mais próximos, aproximavam-se do garoto com suas garras letais prontas para atacar.

A tensão crescia no ar, mas Amélia permanecia imóvel, avaliando a situação com uma calma inabalável. O grito desesperado do garoto ecoava pela rua vazia, invadindo em sua mente. Enquanto uma das agarrou a criança, levantando o nos ares, o momento crucial se aproximava.

O pobre e desesperado humano encarou aquele ser de outro mundo bem nos olhos. Sua boca exalava uma secreção estranha, e seus dentes afiados se moviam como imãs para a carne de sua presa.

Mas foi quando um estrondo ensurdecedor irrompeu pelo ar, interrompendo o avanço das gargulas. Amélia, movida por um ímpeto de coragem, saltou em meio à escuridão, empunhando com destreza suas armas, um par de foices reluzentes. O brilho roxo-prateado emanava das lâminas, iluminando o beco sombrio com uma aura mística.

Com um movimento ágil e preciso, ela atingiu a gargula que segurava o garoto, despedaçando-a no ar. Os fragmentos petrificados caíram em cascata, enquanto a jovem caçadora pousava graciosamente no chão, segurando o garoto e respirando aliviada. 

Enquanto ao restante das gargulas, atordoadas por esse ato de bravura, avançaram com uma fúria incansável. Ela se pôs diante do garoto, para protegê-lo, e avançou em resposta contra as criaturas. Com uma dança letal, Amélia girou suas foices no ar, desferindo golpes certeiros. O metal encontrava a pedra com um estrépito metálico, fragmentando as criaturas em estilhaços enquanto a adrenalina corria em suas veias.

Quando a poeira da batalha finalmente abaixou, ela olhou ao redor e respirou fundo. Ela se viu rodeada pelos destroços petrificados das gargulas, enquanto o garoto resgatado permanecia seguro e atordoado.

Com um suspiro de alívio, Amélia deixou escapar um breve sorriso. Ela foi se aproximando do garoto, com seu tom de voz suavizando enquanto perguntava com preocupação:

- Você está bem? Não se machucou?

O pequeno respondeu cabisbaixo.

- Estou bem... Apenas assustado.

-  Entendo. Então, qual seu nome?

- Meu nome é... Cody. E o seu?

- Amélia! É um prazer, Cody! Mas enfim, o que você faz sozinho nessa hora da noite em um lugar desses? Onde estão seus pais? Por que você está sozinho aqui?

- É que... fugi de casa. Houve uma briga, e eu fiquei com medo de sobrar para mim de novo. Meu pai sempre passa dos limites. 

Amélia sentiu um aperto no coração ao ouvir as palavras do garoto, enquanto ele continuava a contar o ocorrido.

- Corri sem rumo, não sabia para onde estava indo, apenas queria ir o mais longe possível. No fim eu acabei naquele beco escuro, e o resto da história você já sabe.

- Sinto muito por tudo o que está passando. - Diz Amélia enquanto estende sua mão ao garoto. - Se quiser, posso te acompanhar de volta para casa e garantir que esteja seguro.

O garoto se alegra, mas responde de forma hesitante.

- Você faria isso por mim? Mesmo depois de tudo que viu?

- Claro, não se preocupe! Eu trabalho com coisas assim, então entendo melhor do que a maioria das pessoas. Vamos, vou te ajudar.

Com um sorriso no rosto, Amélia segue o garoto no caminho para sua casa, examinando cada canto do local naquela noite iluminada pelo brilho da lua.

Conforme caminhavam juntos pelas ruas escuras, Amélia aproveitou a oportunidade para obter mais informações de Cody a respeito do que eles tinham presenciado. Ela perguntou com curiosidade:

- Cody, sabe essas criaturas estranhas? Você costuma ver coisas assim com frequência? Não pareceu-me ser muita novidade para você.

Olhando ao redor com cautela, o garoto responde.

- Sim... Elas estão em todo lugar, mas ninguém parece notá-las. Apenas eu consigo vê-las.

- Entendo como é se sentir assim. Mas saiba que você não está sozinho. 

- E você me parece ser mais inteirada nisso do que eu. Deve ser horrível lidar com coisas assim.

— Depois de um tempo você meio que se acostuma, vira parte da rotina. Meu trabalho é manter vocês seguros.

- Você faz o mesmo que meu tio faz? - Disse o garoto com curiosidade. - Pensei que ele fosse o único. Ele sempre me disse para nunca falar sobre isso com ninguém.

- Eu faço. Às vezes, as pessoas têm habilidades especiais para lidar com o que a maioria não consegue. Eu também posso lutar contra criaturas, como você bem viu. Sou uma caçadora, assim como seu tio. E como ele teve que lhe contar o segredo?

- Um dia ele me salvou de um ataque, assim como você fez. Às vezes sinto que sou assombrado, essas criaturas parecem ser atraídas por mim.

- Fica tranquilo, tá bom? Você pode confiar em mim. Posso pedir a você para me guiar até onde seu tio costuma estar? Talvez eu possa chegar lá antes de você voltar para casa.

O garoto pensou por um momento, ponderando se poderia confiar em Amélia ou não.

- Ele geralmente está em uma capela abandonada, no final desta rua. Mas você não pode dizer que foi por minha causa, certo?

- Claro, seu segredo está seguro comigo. Vamos, me leve até lá. Será de grande ajuda.

O garoto assentiu com a cabeça, um sorriso tímido surgindo em seu rosto enquanto ele começava a orientar Amélia pelo caminho até a capela abandonada.

- E qual é o nome do seu tio mesmo? - Perguntou Amélia pensando que o parente do garoto poderia se tratar do Charles. Mas o garoto relutou um pouco antes de falar.

- E... E... di... gar. Edgar.

Amélia se frustrou novamente, e estranhou um pouco a relutância do garoto, mas decidiu continuar seguindo o caminho que ele indicava.

Amélia parou diante da imponente figura da velha e abandonada capela, sua arquitetura gótica se destacando contra o céu noturno. As paredes de pedra cinzenta, corroídas pelo tempo e pelas intempéries, erguiam-se altivas, guardiãs silenciosas de segredos sombrios. Videiras entrelaçadas serpenteavam pelos contornos das janelas em arco, como tentáculos em busca de vida.

Empurrando a porta de madeira gasta, Amélia sentiu uma resistência momentânea, seguida pelo rangido arrastado que ecoou por todo o entorno. A atmosfera dentro da capela era densa, um eco do passado religioso que se misturava com o manto de abandono e desolação. O cheiro de mofo e pó impregnava o ar, sussurrando histórias antigas de fé e devoção.

Amélia caminhou com cautela pelo espaço sagrado, seus passos ecoando no chão de pedra gasta. A luz escassa filtrava-se pelas janelas manchadas de vitrais coloridos, criando reflexos fantasmas em meio à penumbra. Pedaços de vitrais quebrados jaziam no chão, como fragmentos esquecidos de um passado glorioso.

Enquanto Amélia prosseguia, seu olhar perspicaz capturava os detalhes da capela. O altar principal, outrora adornado com símbolos sagrados, agora exibia marcas de vandalismo e negligência. O odor agridoce de velas derretidas pairava no ar, uma lembrança fugaz de devoção há muito abandonada.

— Senhor Edgar! Senhor Edgar! — Gritou Amélia, na esperança de encontrar com Edgar. Mesmo que ele não fosse o objetivo em si, seria uma peça crucial para encontrar Charles Hoodle. Todavia, sem obter nenhuma resposta, ela gritou mais alto. 

E mais alto, e cada vez mais alto. Entretanto, nada acontecia. O lugar continuava imóvel.

O eco do nome de Edgar se dissipou, deixando Amélia diante da imensidão vazia do local sagrado. Seus olhos perscrutaram as sombras que dançavam nas extremidades do recinto, mas não havia traço algum de seu contato desejado. Apenas a quietude impregnada de um mistério sombrio permanecia.

Nesse breve momento de frustração e incerteza, Amélia sentiu uma onda de inquietação percorrer sua espinha. Era como se as próprias paredes da capela ressoassem com uma energia tensa e latente. 

Foi então que um movimento sutil capturou a atenção de Amélia. O som suave de patinhas roçando contra o chão de pedra invadiu seus ouvidos, rompendo a quietude que reinava. Era como se a própria capela ganhasse vida em um prenúncio sinistro

E então, sem aviso, um enxame de ratos irrompeu de diversas frestas e orifícios da capela. O lugar, antes vazio e inerte, foi preenchido com a agitação frenética dos roedores. 

Os roedores tomaram o espaço sagrado, reunindo-se em um agrupamento tumultuado onde a missa era celebrada. A visão daquela massa compacta de ratos era um testemunho grotesco da corrupção que assolava a capela. Suas pequenas patas rastejantes pareciam formar um padrão macabro no chão de pedra, deixando pegadas efêmeras em sua passagem.

E então, como uma visão saída dos pesadelos mais sombrios, uma criatura surgiu daquela amálgama de roedores. Seu corpo bípede era distorto e desfigurado, com características humanas distorcidas e uma natureza bestial. A face desgastada e deformada exibia dentes afiados, olhos brilhantes e uma expressão maligna. Suas garras alongadas, afiadas como punhais, eram a manifestação física de sua crueldade.

Em resposta à traição e à ameaça imposta, Amélia endureceu seu olhar, sua postura exalando uma determinação implacável. 

— Não acredito que aquele garoto fez isso. — Sussurrou ela, mas sua voz ainda conseguiu ser ouvida pelo monstro, que comentou em resposta.

— Não culpe o pobre garoto por isso. Culpe a si mesma por acreditar tão facilmente nas pessoas, ainda mais em um bairro como Whitechapel.

Capítulo 2: Caçador de Caçadores

A escuridão opressora envolvia a capela abandonada, onde sombras sinistras dançavam entre os pilares desmoronados. O monstro em forma de rato se ergueu diante de Amélia, suas presas à mostra e seus olhos brilhando com uma malignidade inescrutável. Ele emitiu um rosnado baixo e sombrio, ecoando nas paredes escuras da capela.

— Pelo seu porte e aparência, você deve ser um dos caçadores. — proferiu o monstro com uma voz sibilante, cheia de um veneno ancestral. — Não julge o garoto, as coisas estão mais difíceis ultimamente. Os corações humanos se tornaram mais duros e frios, nem todos se importam com o próximo. Mas eu vivo pelos poucos que se importarem, afinal, eles encontrarão seu destino em minhas presas. Já tive alguns encontros com outros como você, e para ser sincero, vocês caçadores me dão nos nervos! Acham que podem derrotar as sombras que habitam este mundo, mas não passam de formigas diante do poder que elas possuem.

Amélia ouviu cada palavra como um prenúncio de uma batalha ainda mais cruel, mas sua determinação implacável não vacilou diante da ameaça.

— Cale a boca! — Bradou Amélia, sua voz ecoando no vazio da capela. A ira ardente brilhava em seus olhos, alimentando sua coragem diante do mal que se erguia à sua frente. — Você fala de mais. Se quiser me vencer, me mostre do que é capaz.

O monstro soltou um grunhido feroz após ouvir as palavras da moça, com sua forma tremendo de raiva. Suas garras afiadas se estenderam, prontas para retalhar sua presa.

— Você pagará por sua ousadia, caçadora insolente — rosnou ele, preparando-se para atacar.

Sem mais palavras, a luta se desencadeou em um frenesi de movimentos velozes e letais. A criatura saltava e atacava com agilidade sobre-humana, seus golpes velozes e precisos não concedendo espaço para Amélia revidar. Ela se esquivava com destreza, movendo-se com a graça de uma dançarina em um palco sombrio e mortal.

No entanto, Amélia não perdia a concentração. Ela buscava pacientemente uma abertura na guarda implacável da criatura. Seus olhos perspicazes analisavam cada movimento, cada brecha mínima que pudesse ser explorada. E então, como um raio cortando a escuridão, Amélia encontrou sua chance.

A lâmina de sua arma cortou o ar, encontrando seu alvo certeiro. Um golpe poderoso que separou o braço do monstro de seu corpo. O membro decepado caiu no chão, enquanto um grito de agonia rasgava o ar.

No entanto, antes que a vitória pudesse ser comemorada, a criatura começou a se desfazer. Seu corpo se desintegrou em um monte de ratos, espalhando-se pelo chão como uma enxurrada de pequenas sombras.

— É inútil! — Gritou o rato, assumindo a forma de uma grotesca entidade, ainda impregnada com a maldade que o envolvia.

A dança entre Amélia e a criatura prosseguia em um frenesi veloz de ataques e defesas. A moça demonstrava uma habilidade formidável, bloqueando os golpes do monstro com precisão e agilidade. Cada movimento era calculado, cada parada de sua lâmina no momento exato para impedir os avanços adversários.

No entanto, a criatura astutamente usou a concentração de Amélia a seu favor. Num salto audacioso, ele se lançou na direção da caçadora, atacando com ferocidade. O impacto do golpe arremessou Amélia para trás, fazendo-a cambalear pelo chão.

Mas Amélia não hesitou. Mesmo com o corpo dolorido pelo impacto, ela se levantou rapidamente. Com uma determinação inabalável, ela ergueu suas armas ao céu, invocando o poder que residia em seu interior. 

— Venha até mim! Crepúsculo!

Um brilho intenso e prateado irradiou das lâminas, mesclando-se com a escuridão da noite.

As duas foices, anteriormente independentes, começaram a se fundir lentamente. A energia mágica que fluía por elas as conectou, transformando-as em uma única arma. Agora, Amélia empunhava uma lâmina imponente e poderosa, e sem hesitar, retornou ao ataque.

Com um movimento fluido e rápido, ela girou a arma ao seu redor, lançando-se contra a criatura com um ataque devastador. Um turbilhão de golpes velozes cortava o ar, direcionado não apenas à forma monstruosa à sua frente, mas também aos ratos que caíam dela. O objetivo era claro: causar danos à criatura e minar suas defesas.

O monstro, antes confiante, começou a vacilar. O temor se instalou em seus olhos selvagens, enquanto Amélia avançava impiedosamente. A estratégia arquitetada pela caçadora estava surtindo efeito, e a criatura começava a temer pelo seu estado.

Desesperado, o monstro tentou aumentar a intensidade de seus golpes, mas Amélia permaneceu inabalável. Em um giro mortal, ela penetrou as defesas da criatura, cortando-a ao meio em um movimento poderoso. Um silêncio tenso pairou no ar, e Amélia soltou um suspiro aliviado, acreditando que o confronto havia chegado ao fim.

No entanto, suas esperanças foram logo frustradas. 

Um rugido ensurdecedor reverberou pela capela, fazendo com que mais ratos emergissem das sombras mais uma vez. Os pequenos roedores se espalharam por toda a construção, suas patas arranhando as paredes e abalando suas já frágeis estruturas. Consciente do perigo iminente, Amélia correu em busca de um local mais seguro na capela, seus olhos fixos no monstro que se erguia novamente, transformando-se em uma massa grotesca e amorfa de ratos.

Em meio ao caos, a escuridão da capela parecia se contorcer enquanto os ratos se transformavam em uma massa grotesca e ondulante. Amelia sentiu o peso da incerteza em seus ombros, mas a firmeza em seu coração não vacilou. Ela apertou o cabo de sua arma, determinada a enfrentar aquela abominação.

No entanto, antes que pudesse agir, uma voz ecoou pelo ambiente. Uma voz calma e serena, como um sussurro macabro saindo das sombras. 

— Grasne, Corvo. — Foi tudo o que disse, mas suas palavras carregavam um poder misterioso.

No instante seguinte, um estrondo ensurdecedor sacudiu a capela. Os vitrais, símbolos de uma fé outrora presente, estilhaçaram-se com violência sob a entrada triunfal de um corvo negro como a noite. Suas asas batiam com força, enviando rajadas de vento gelado por todo o lugar.

O corvo mergulhou no caos, atravessando a massa de ratos com uma precisão mortal. A cada golpe, corpos de ratos caíam, dissipando-se em pequenas nuvens de poeira negra. Amelia e a criatura monstruosa assistiam, atônitas, sem compreender a natureza desse novo jogador.

Num derradeiro movimento, o corvo se elevou aos céus da capela, mergulhando de volta em direção à massa de ratos. Seu voo era como uma dança sinistra, cortando o mar de criaturas ao meio com um único golpe. E no momento em que a poeira assentou, uma figura emergiu das sombras do corvo, deslizando elegantemente até pousar no chão.

Era um homem alto vestido em trajes negros, com os cabelos amarados e portando uma enorme gadanha, que estava se retorcendo até formar uma enorme espada, que mais parecia apenas uma grande placa de metal.

Os ratos começaram a desaparecer, dissipando-se em uma cortina de fumaça negra que se desvanecia no ar. Amelia, finalmente compreendendo o que acabara de presenciar, encarou o misterioso ser e não pôde evitar perguntar, com uma ponta de sarcasmo em sua voz:

— Você demorou bastante, não acha? 

— Corvos são os vigias da escuridão, eu encontraria você uma hora ou outra. — Disse Charles Hoodle em pessoa para Amelia, com um tom calmo e despreocupado.

A capela mergulhada na escuridão era o cenário perfeito para o encontro entre Amelia e o homem que tanto buscara, Charles Hoodle. Sua figura imponente destacava-se na penumbra, sua postura confiante e serena mostrando a determinação de um verdadeiro caçador.

Amelia se aproximou, sentindo uma mistura de alívio e uma leve pontada de raiva. Os dois se entreolharam por um instante, como se a escuridão ao redor ganhasse vida própria, observando a conexão silenciosa entre eles. E então, a conversa começou.

 — Que tal me agradecer por salvar sua pele? — Disse Charles em um tom jocos, buscando talvez arrancar uma risada de Amélia e apaziguar o clima após aquela luta. Mas ela respondeu sem largar o osso:

— Um pouco mais de esforço e eu teria matado esse. Já abati vários como ele de uns tempos pra cá.

— Parece que você evoluiu bastante nesses meses em que não te vi, mas nem todos que você derrotou devem ter tido esse tamanho. Enfim, gostou de dar uma volta por essas bandas?

— Eu odiei. Whitechapel é um lugar sujo e infestado de ratos, metafórica e literalmente.

— Concordo em partes, alguns dos habitantes daqui realmente não tem cura nem tratamento, porém seria hipocrisia da minha parte julgar a todos. A vida aqui é bem difícil mesmo, e com esses malditos a solta, ninguém tem um pingo de descanso.

Foi então que um som interrompeu o diálogo. Os passos apressados de alguém ecoaram pelo corredor sombrio. Amelia se virou, seus olhos encontrando o garoto que corria em sua direção, lágrimas escorrendo por seu rosto. Era Cody, o garoto que havia encontrado momentos antes e que agora buscava consolo e segurança em seus braços.

Amelia acolheu-o com ternura, envolvendo-o em um abraço protetor. Charles observou a cena, compreendendo a angústia do garoto. Charles se aproximou dos dois, mantendo uma expressão séria em seu rosto. Ele olhou para Cody com uma compaixão misturada com pesar.

— Cody foi uma peça crucial nessa batalha, Amélia — explicou Charles em um tom grave. — Ele estava observando a capela de fora, parecia muito preocupado. Eu já havia rastreado sua assinatura de energia, então sabia que você estava aqui. Mas quando cheguei mais perto, encontrei com ele. O garoto me disse como o monstro funcionava, e gracas a ele consegui expurgar essa ameaça.

Amélia ternamente para os olhos do garoto e então disse:

— Cody, você está bem? Onde estão seus pais afinal?

Com um soluço, Cody começou a falar.

— Meus pais… eles foram mortos pelo rato — disse ele em meio às lágrimas. — Desde aquele dia, sou obrigado a servi-lo, a fazer tudo o que ele ordena. 

Amélia e Charles ficaram atônitos com a revelação. A tragédia que havia se abatido sobre a vida do garoto era profunda e dolorosa. A moça segurou a mão de Cody com gentileza.

— Você não está sozinho agora, Cody. Iremos ajudá-lo — prometeu Amélia com determinação em suas palavras.

Charles assentiu, colocando a mão no ombro de Cody em um gesto de apoio.

— Vou utilizar meus contatos para garantir que você seja protegido e cuidado adequadamente — afirmou Charles com seriedade. — Você estará seguro, meu jovem.

Cody olhou para Amélia, sua voz trêmula, mas cheia de esperança.

— Só aceitarei ir para algum lugar se Amélia puder me visitar. Prometa, por favor - suplicou ele.

Amélia sorriu, segurando a mão de Cody com firmeza.

— Eu prometo, Cody. Visitarei você onde quer que esteja. Você sempre terá alguém para contar — assegurou ela com ternura.

Quando os dois conseguiram acalmar o garoto, Charles o deixou em seu alojamento pessoal, antes de prosseguir com amelia para outro lugar. A caçadora e o garoto trocaram um forte abraço antes de se despedirem, carregados de uma saudade que ainda os abalaria por um período. 

Pouco tempo depois, Amélia e Charles caminhavam pelas ruas da Leman Street, com suas vozes ecoando entre os becos escuros como antigas canções perdidas no tempo. Amélia olhava para Charles com uma expressão levemente contrariada, enquanto ele exibia um sorriso malicioso.

— Charles, eu poderia ter usado sua ajuda quando cheguei a Whitechapel — disse Amelia, cruzando os braços em um gesto de descontentamento. — Não foi muito gentil da sua parte deixar-me às voltas por conta própria.

Charles deu de ombros, seu olhar expressando uma mistura de despreocupação e sabedoria.

— Ah, minha querida Amelia, você é mais do que capaz de se virar sozinha - respondeu ele, com um tom descontraído. — Além disso, estava ocupado rastreando alguns vampiros insidiosos pela cidade. Prioridades, minha cara, prioridades.

Amelia soltou um suspiro exasperado, mas não pôde deixar de sorrir. Ela sabia que Charles estava tentando cuidar dela à sua maneira peculiar, mesmo que nem sempre correspondesse às suas expectativas.

— Bem, ao menos estou aqui agora. Onde posso encontrar um lugar seguro para descansar? — perguntou ela, olhando em volta.

Charles apontou para um beco sombrio à frente deles, perto da Torre de Londres, onde a escuridão parecia engolir a luz. Amelia franziu a testa, perplexa com a revelação.

— Uma fortaleza escondida no meio de Whitechapel? Como é possível? — questionou ela, seguindo Charles em direção ao beco.

Charles sorriu, lançando um olhar de cumplicidade para Amelia.

— Ah, minha cara, a magia do sobrenatural é tão vasta quanto misteriosa. Nós, caçadores, descobrimos maneiras de ocultar nossa existência daqueles que nos ameaçam. Este beco é a porta de entrada para um local onde nos reunimos, treinamos e nos preparamos para enfrentar as criaturas das trevas.

— E o que mais posso esperar encontrar nesse lugar, Charles? — perguntou ela, curiosa.

Charles lançou um olhar misterioso para Amelia antes de responder, sua voz ressoando com um tom solene.

— Conhecimento, treinamento, aliados leais e, acima de tudo, a oportunidade de se tornar a caçadora que você tanto deseja. — Disse ele, com um toque de orgulho em sua voz. — Está preparada para isto? Ainda há tempo de mudar sua decisão.

Amelia sentiu uma mistura de emoções ao ouvir aquilo: excitação, determinação e um toque de apreensão. Seu coração hesitou um pouco antes de responder, mas quando entendeu a mensagem, disse sem meias-palavras:

— Não há mais volta, Charles. Não existe outro caminho há muito tempo.

Capítulo 3: Sombras Gentis

Os passos de Amélia e Charles ecoaram no beco escuro, enquanto se aproximavam de uma antiga porta de madeira envelhecida em meio a sombras que vazavam por detrás dela. Charles parou em frente à porta e olhou para Amélia com um olhar determinado.

— Bem-vinda à nossa fortaleza, Amélia! — Disse ele com um tom de confiança. — Este é o nosso santuário, onde nos reunimos e nos preparamos para a luta contra as forças das trevas.

Amélia sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto observava Charles abrir a porta com um movimento firme. A porta rangeu ao se abrir, revelando um longo corredor escuro, iluminado apenas por tochas tremeluzentes. O som dos próprios passos ecoava nas paredes de pedra.

Eles adentraram o corredor, e não tão distante dali, chegaram a uma porta de ferro maciço. Charles colocou a mão em uma fechadura complexa e murmurou algumas palavras em uma língua antiga. Com um estalo, a porta se abriu, revelando um amplo salão iluminado por velas.

Amélia adentrou o salão principal, e seus olhos se encontraram com uma visão impressionante. Um antesalão amplo se estendia à sua frente, adornado com majestosidade gótica. O chão era revestido por um tapete vermelho intenso, que corria pelo centro do espaço como uma trilha de sangue, contrastando com o brilho das pedras escuras do piso. As paredes altas eram decoradas com tapeçarias antigas, retratando cenas misteriosas e figuras sombrias da mitologia.

Lustres imponentes pendiam do teto abobadado, espalhando uma luz fraca e enigmática por todo o ambiente. Suas luminárias adornadas de cristal emitiam brilhos esmaecidos, criando sombras dançantes pelas paredes. O ar carregava um leve aroma de incenso, evocando uma atmosfera enigmática e sagrada.

Ao longo do tapete vermelho, havia bancos de madeira escura, cuidadosamente alinhados e vazios, aguardando a presença de caçadores para descansar ou conversar. Um silêncio solene preenchia o espaço, interrompido apenas pelo eco dos passos de Amélia ao caminhar em direção à mesa onde os gêmeos a aguardavam.

A jovem caçadora se sentiu momentaneamente deslocada, imersa na grandiosidade do salão e na presença dos gêmeos que irradiavam uma aura peculiar. Porém, ela manteve-se reservada, apenas observando o ambiente enquanto procurava se acostumar com aquele novo cenário e com a companhia dos enigmáticos instrutores.

Charles conduziu Amélia por entre os corredores do salão principal, cumprimentando outros caçadores pelo caminho. A atmosfera era de intensa atividade, com caçadores discutindo estratégias, afiando suas armas e compartilhando informações vitais.

Amélia subiu os degraus da escadaria, guiada Charles, sentindo uma mistura de curiosidade e cansaço se misturarem em seu corpo. Ao chegarem ao topo, eles adentraram uma pequena sala que seria o seu aposento na base dos caçadores.

A luz suave de uma luminária a óleo iluminava o quarto, revelando uma cama simples, mas confortável, coberta por lençóis de linho branco impecavelmente dobrados. Ao lado da cama, havia uma mesinha de madeira com uma pequena jarra de flores frescas.

Charles olhou para Amélia com um sorriso afetuoso e disse: 

— Este será o seu refúgio durante a sua estadia aqui, Amélia. Espero que encontre algum descanso merecido e rejuvenescedor.

Amélia assentiu, agradecida pelo gesto de Charles. Ela sentia o peso do cansaço em seus ombros após os desafios enfrentados nas últimas horas. Saber que teria um lugar tranquilo para descansar era reconfortante.

Charles continuou: 

— Quando acordar amanhã, dê uma boa olhada no refeitório. Já informei todos aqui de sua presença anteriormente, mas meus contatos vão lhe testar para saber se você está preparada ou não. 

— E como saberei que são eles? — Indagou Amélia.

— Um é a cara do outro, são um par de gêmeos. Será bem fácil de encontrar.

Amélia assentiu novamente, sentindo-se grata pela oportunidade de fazer parte daquela comunidade de caçadores experientes. Ela sabia que ainda tinha muito a aprender e que a convivência com os outros caçadores seria fundamental para o seu crescimento nessa jornada.

Charles concluiu: 

— Descanse bem, Amélia. A jornada que está à sua frente será desafiadora, mas estou confiante de que você está preparada para enfrentá-la. É uma pena que não estarei aqui amanhã, pois tenho vários afazeres pendentes, mas se precisar de qualquer coisa, pode contar com eles. Aproveite o seu descanso e nos vemos pela manhã.

Amélia agradeceu mais uma vez a Charles e observou enquanto ele se retirava do quarto, deixando-a a sós com seus pensamentos e a promessa de um novo dia cheio de desafios e descobertas.

Ela deitou na cama, sentindo o conforto do colchão envolver seu corpo. Fechou os olhos e permitiu que o cansaço a levasse para um sono reparador, ansiando pelo amanhecer que traria novos encontros e possibilidades naquele mundo misterioso dos caçadores das sombras.

Na manhã seguinte ao acordar, Amélia não tardou de seu próximo objetivo. Ela desceu as escadas em direção ao desconhecido, sentindo um misto de ansiedade e expectativa pela nova jornada que estava prestes a começar. Ao chegar ao antesalão, ela se deparou com um amplo corredor que parecia se estender infinitamente em ambas as direções.

Enquanto caminhava pelo corredor, Amélia avistou dois indivíduos conversando animadamente próximo a uma grande porta de madeira esculpida. Ao se aproximar, ela se deparou com um homem de porte alto e cabelos loiros contrastando com a vestimenta preta de sua beca. Ao seu lado, estava uma jovem de cabelos brancos e rosto que emanava uma aura de serenidade e bondade.

O homem percebeu a chegada de Amélia e dirigiu-lhe um sorriso caloroso. 

— Saudações, Senhorita Amélia. Meu nome é Franklin Hawthorn e sou o administrador geral desta repartição dos Inspetores Sobrenaturais. É um prazer finalmente tê-la conosco depois de todo esse tempo aguardando. Espero que sua noite tenha sido proveitosa e que tenhas conseguido descansar completamente.

Amélia retribuiu o sorriso, sentindo-se acolhida pela recepção calorosa. 

— Bom dia, Franklin. Agradeço pela hospitalidade. 

Ashley, com seu olhar gentil, acrescentou: 

— Olá, Amélia. Sou Ashley Lancaster, e estou muito feliz em conhecê-la. Espero que nossa convivência seja proveitosa e que possamos aprender muito juntas.

Amélia assentiu, sentindo-se grata por encontrar pessoas tão receptivas logo no início de sua jornada. 

— O prazer é meu, Ashley. Estou ansiosa para compartilhar conhecimentos e crescer ao lado de vocês.

Franklin indicou a direção do refeitório, dizendo: 

— Sei que você deve estar faminta após a noite de descanso. O refeitório fica logo ali adiante. Lá você encontrará uma variedade de alimentos deliciosos para repor suas energias e se preparar para mais um dia turbulento.

Amélia agradeceu a orientação e se despediu dos dois, seguindo em direção ao refeitório, e ainda que agradecida, percebeu que o homem se comportava como um padre e parecia ser de falar mais do que o necessário, e quando pensou nisso ela imediatamente soltou uma leve risada.

Um pouco mais adiante, Amélia entrou no refeitório e ficou impressionada com o ambiente. O local era amplo e iluminado por grandes janelas góticas, que davam uma visita aérea da cidade inteira e permitiam a entrada de feixes de luz pálida. As paredes de pedra cinza estavam adornadas com tapeçarias antigas, representando cenas de caçadas e batalhas épicas contra criaturas das trevas. Longas mesas de madeira ocupavam o centro do refeitório, cercadas por cadeiras rústicas. Sobre as mesas, havia uma variedade de alimentos e bebidas dispostos em tigelas e jarras de vidro.

Os contatos de Charles não estavam muito distantes, se encontrando sentados em uma das mesas próximas à janela, conversando animadamente. Havia um rapaz de estatura média e esbelto, com cabelos loiros claros que caíam em mechas desalinhadas sobre a testa. Seus olhos azuis brilhavam com entusiasmo e curiosidade, sempre transmitindo uma aura de energia contagiante. Um sorriso cativante se estendia pelos seus lábios, revelando uma personalidade extrovertida e brincalhona. Vestia uma blusa branca encardida pelo tempo e pela fumaça da cidade, um par de luvas, calças marrons com suspensórios e botas robustas, que refletiam seu espírito aventureiro.

A outra pessoa, por sua vez, era uma moça de beleza serena e elegante. Seus cabelos longos e castanhos caíam em ondas suaves pelos ombros, contrastando com seus olhos azuis profundos, que transmitiam calma e sabedoria. Sua expressão tranquila escondia uma determinação silenciosa, revelando uma força interior. Vestia uma jaqueta de couro marrom e calças escuras, em perfeita harmonia com seu estilo reservado e distinto.

Apesar das diferenças visíveis entre os gêmeos, eles compartilhavam uma semelhança única que refletia a conexão especial entre irmãos. Ambos irradiavam uma aura de confiança e experiência, como se estivessem interligados por uma força além da compreensão.

Amélia se aproximou com cautela, ainda se ajustando à presença dos gêmeos. E assim que a perceberam, o moço a cumprimentou:

— Amélia, que bom que você chegou! Estávamos esperando por ti.

Amélia assentiu e se sentou na cadeira ao lado da moça, sentindo-se um pouco deslocada. Ela olhou para os gêmeos com curiosidade, ainda não se sentindo totalmente à vontade em sua presença. As palavras escapavam dela enquanto ela tentava absorver tudo o que estava acontecendo.

— Então vocês devem ser os contatos do Senhor Charles. — Perguntou a jovem, e logo foi respondida pelo moço.

— É asem que ele nos chama pelas costas? Acho que merecemos ao menos ter sido nomeados.

— Ele é um pouco largado às vezes, vive dizendo coisas pela metade e esquecendo dos detalhes.

— Mas enfim, sem mais delongas, vamos às apresentações apropriadas: eu sou Jones Winchester, e essa é a minha irmã Jane Winchester. 

— Olá! Perdoe o jeito do meu irmão, ele é um pouco animado demais. — Disse Jane.

— Nem vem, eu estou apenas sendo legal para ajudar ela a se sentir parte da família.

Amélia soltou um leve sorriso, com o coração levemente aquecido, e respondeu aos gêmeos dizendo:

— Não se preocupe, irmãos geralmente são assim. O mau mais novo se comporta exatamente desse jeito.

— Mas no nosso caso eu sou o mais velho.

— Por alguns segundos, e vive se gabando disso.

— Não quero entrar nesse mérito agora, pois já discutimos bastante sobre isso. Bem, Senhorita Amélia, alimente-se bem, porque teremos um longo dia pela frente.

Amélia decidiu saciar sua fome imediatante ao ouvir isto. Com uma bandeja em mãos, ela escolheu cuidadosamente alguns alimentos para compor sua refeição. Ao retornar a mesa, ela deu algumas mordidas em seu alimento, enquanto Jane tomou a palavra e explicou com serenidade:

— Amélia, nosso papel é conduzir um teste para avaliar suas habilidades como caçadora. Normalmente isto não acontece, visto que os caçadores da base são treinados aqui, mas tivemos que fazer esta adaptação ao seu caso. Bem, através dessa avaliação, poderemos identificar seu nível de proficiência e orientar seu desenvolvimento na organização. Analisaremos suas capacidades medindo sua força, velocidade, resistência, estratégia e combate.

As palavras de Jane fizeram Amélia erguer uma sobrancelha, demonstrando sua reação de interesse. Ela engoliu o alimento e encarou a instrutora, pronta para saber mais detalhes.

Enquanto a conversa prosseguia, Amélia começou a notar a aproximação do momento em que partiriam para o teste. Nesse instante, uma voz misteriosa irrompeu no ambiente, capturando a atenção de todos. O som ecoava suavemente, pairando no ar como uma brisa sussurrante. A grossa voz declarou incisivamente.

— Sob ordens dos superiores, declaro que eu irei com vocês à sala de treinamento.

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