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Por Um Idiota, Apaixonada

Prólogo

“Me tem na sua palma e você sabe bem.

Te tenho no coração, favor, não partir...

Seja pra mim. Só, seja pra mim.”

Poesia Acústica #6

Narrado por Liandra

Quando o táxi para em frente a minha casa a noite, noto pela grade alta que cerca a casa, o carro de meu pai estacionado no pequeno quintal muito florido e estranho ele já estar por aqui neste horário. É certo não nos vermos por muito tempo. Acontece com grande frequência desde que ficou viúvo e eu acabei me acostumando com sua ausência e afastamento. Meu pai simplesmente se afunda em trabalho. E eu sinto por minha irmã caçula sofrer a carência da falta dele.

Após pagar o motorista que me trouxe, entro em meu humilde lar, num bairro nobre da cidade e dentro de um condomínio fechado de casas, admiro um pouco as belas flores do jardim e respiro antes de subir os três degraus, passo pelo vão coberto e abro a porta de entrada da casa, após um dia puxado, cansativo e exaustivo na faculdade. Fecho a porta e retiro meus tênis, junto as meias, desejando apenas relaxar em minha cama depois de um banho quentinho, porém ouço o que parece ser gritos, vindos do corredor.

– Isso é inaceitável, Letícia! – a voz alterada de meu pai me preocupa em procurá-los apressadamente, pois, Seu Leonardo, nunca havia usado este tom para suas filhas, por mais que a Letícia, minha irmã mais nova, aprontasse bastante.

Ando pelo corredor e noto que eles estão no escritório de meu pai.

– Papai... – Let, parece estar chorando!

– Com licença, família... – entrei no local, pronta para apaziguar como sempre faço, mas além de ser notada, fui incluída na discussão.

– Aí a Liandra. Estuda e tem planos concretos. Madura e não se preocupa com essas bobagens. Deveria seguir o exemplo da sua irmã! – papai grita novamente.

– Mas, que droga! Eu não sou ela e tenho meus próprios objetivos e também estudo para alcançá-los. – Let fala mais alto do que deveria.

– Estuda tanto que me apresentou um boletim com as notas baixíssimas do semestre passado.

– Não foi em todas as matérias e muito menos somente as minhas. Saberia disso se você comparecesse as minhas reuniões escolares.

– Tenha respeito, mocinha!

– Então me respeite também e não me compare com a Lia, poxa!

– Você deveria seguir o exemplo dela.

– O senhor tem duas filhas e caso não tenha reparado por sequer nos ver, ambas somos diferentes.

– Está passando do limite.

– Acho que já passei do meu há muito tempo.  Devo me inspirar em Lia só por ela parecer com a mamãe?! – os olhos castanhos de meu pai arregalam – Se eu me pareço com o senhor, aceite seu fardo.

– Letícia... – tento interromper, chamando-a em um tom baixo.

– E ainda fala que é madura com esse comportamento infantil. – meu pai retorna a discussão.

– Se é infantil te contestar... – Let responde.

– Você – ele aponta para mim, interrompendo-a – Deu muita liberdade a ela. – vira para ela de novo – Se não tem responsabilidade com as notas, seus estudos, te falta disciplina. Se deu para me desrespeitar, agora ainda mais, um namorado está fora de questionamentos. – papai dá sua última fala e sai do local enraivecido. Então esse é o motivo da discussão, meu Deus?!

– Let... – falei.

– Eu não sei a razão de eu ainda pensar que alguém aqui me conhece e que somos uma boa família. – ela cruza os braços e meu lado estudante de Psicologia se aperta ao entender o seu lado. Ela seca algumas lágrimas que escorrem pelo seu rosto pequeno.

Aproximei-me e a abracei.

– Minha linda, acalme-se, talvez ele esteja incerto sobre dar permissão por você só ter dezesseis anos...

– Não! Não é isso. Ele mesmo deixou claro. Não quer me deixar namorar por você nunca ter namorado. Como uma honra já que você é a perfeitinha desde sempre e não dá trabalho a ele desde que a mamãe morreu. – Let arregala os olhos após a última frase, pois sabe que falar disso me machuca – Desculpa, Lia. Mas, agora preciso de qualquer coisa menos você. – se vira para sair do local, mas ao chegar na porta, continua – Eu sei que é bem capaz de você se afastar como sempre faz e eu já estou cansada disso. –  sai correndo, com certeza em direção ao seu quarto.

Saio do escritório segurando as lágrimas e encontro com Dona Júlia, governanta da casa que foi babá minha e de Let. Uma senhora que deve estar em seus quarenta e sete anos e que é uma referência de mãe para mim.

– Lia... - Ju me chama, preocupada. Por mais que ela tenha nos adotado como suas filhas em seu coração, ela não se intromete nas discussões dessa família.

– Ju, por favor, não se preocupe comigo. É... Eu não irei jantar hoje. Estarei no meu quarto e não quero que ninguém me perturbe. – tento soar firme – Com licença.

Subo as escadas, após ela assentir e corro pelo corredor até a última porta.

Entro em meu quarto, fecho e tranco a porta.

– Ah, meu Deus! – desabei.

Capítulo 1

Narrado por Liandra

– Você ENLOUQUECEU? Só tem essa explicação. Pelo amor de Deus, você bateu a cabeça? – Mariah, minha amiga, grita, chamando atenção das pessoas espalhadas pelo refeitório da faculdade.

– Ei, fala baixo. – enquanto falo, ela respira ofegante e começa a contar até dez pausadamente e me olha como se ainda não acreditasse.

– Me diz, por favor, que é uma pegadinha, uma brincadeira sem graça para ver minha reação... – ela fala.

– Mari, me escuta! Eu pensei muito ontem e tomei essa decisão. – falo determinada.

– Amiga, nem sempre você terá que ajudar a sua irmã a cumprir as vontades dela. Ela também tem que ouvir “nãos”! – ela tenta me convencer.

– Eu sei amiga. Mas quero que ela cresça e que curta também. Papai se fechou muito após a morte... – suspiro – Miga, só tenho que arranjar um namorado, algo combinado por um tempo determinado. Papai terá que liberar-me e

consequentemente à minha irmã também. No fundo eu sei que ele não permitiu por minha causa. – ela ainda me olha ela ainda me olha em choque como se não soubesse o que pensar da situação.

– Eu definitivamente nunca vou entender o que se passa na cabeça do seu pai. – sua expressão é de desacreditada.

– Nem mesmo eu consigo entender. Por isso me preocupo com a Let. Ao contrário de mim, ela gosta de curtir.

– Ela vive né, amiga. Você é fechada numa bolha de perfeição, vulgo chatice.

– Não irei continuar esse assunto no nosso diálogo para não discutirmos.

– Certo, sua fujona. – reviro os olhos e ela sorri sarcástica.

– Eu só quero que ela tenha uma boa vida. Ela é corajosa para impor o que quer e se ela deseja isso, eu quero ajudá-la a ter. – a razão talvez seja por eu não ter tido, mas não preciso falar isso para a Mari. Ela me olha fixamente por um tempo, como se me analisasse, mas por fim, sorri e diz:

– Sabe que pode contar comigo sempre, né? E fica se aproveitando! – rio e ela completa – Vou te ajudar a achar um cara perfeitinho e maluco para te aguentar e que aceite essa loucura. – ela revira os olhos, mas estranhamente

quando foca em mim novamente eles brilham. Ops lá vem.

– Mas, terá me prometer algo, para obter minha ajuda.

– Estava fácil demais... O quê? – digo.

– Prometa que o tempo que passar namorando... – ela começa.

– Que será um combinado. – ressalto interrompendo-a.

– Que seja! – ela exclama, e balança as mãos, fazendo pouco caso da coisa mais importante da situação, sendo mandona como sempre – Terá que aproveitar a vida de comprometida, já que nunca namorou.

– Quem nunca namorou? – pulamos de susto com a voz de Nathan, meu melhor amigo – Com certeza Lia, a encalhada! – diz e eu reviro os olhos.

– Não já sabe que só pode ser ela. – Mariah o ajuda a zoar com minha cara e ele ri.

– Por acaso estamos mentindo?! – continua a me provocar.

– Falou o cara que sofre quando o assunto é vida amorosa! – digo e vejo Nath rir como quem diz que vai ter volta, enquanto Mariah franze as sobrancelhas.

– Nath, você não estava amarrado com aquela chata da Estefânia? – Mariah pergunta e eu levanto uma de minhas sobrancelhas para o assunto já velho.

– Passado. – limita-se.

– Graças a Dona Maria das Coxinhas de Frango! Ela era grudenta demais. Você encontra outra melhor! – Mariah só falta soltar fogos de artifício, enquanto eu rio.

– E já tem um bom tempo, na verdade. Está por fora, Mariahzinha. – tenta cortar o assunto, mas percebo as interrogações no olhar de minha amiga que fica a postos para questionar o coitado que está transmitindo em seu rosto certa frustração por causa do assunto e terei que encerrar.

– Você já está liberado Nath? – pergunto, antes da Mari falar alguma coisa.

– Sim e você?

– Também. Vamos? – Nath assente. Ele mora próximo a mim, então sempre me dá carona na vinda e voltamos juntos quando os nossos horários batem.

– Afs! Vou ter que ficar aqui solitariamente abandonada porque tenho mais duas aulas! – já falei que Mariah é a estudante de moda mais dramática que existe?

– Pensa pelo lado bom. Teu boy irá vim lhe buscar, gracinha! – ela sorri apaixonada e eu rio. –Tchau miga, me conta tudo depois.

Nath se despede dela com um abraço e seguimos pelo corredor na direção do estacionamento conversando sobre nossos respectivos dias, rindo e fazendo piadas, até chegarmos ao carro de seu pai que ele usa emprestado.

Entramos, colocamos nossos cintos, e ele pergunta:

– E então, o que falavam baixinho antes de eu chegar?

– Contei para Mariah que estou pensando em começar um namoro... – comecei sem saber como terminar.

– Sério? Você? Achei que morreria sem te ouvir falar algo parecido. Tá gostando de quem? Eu conheço? – Nath metralha perguntas.

– Eu... Não sei... – digo, pois não quero contar a ele o meu real propósito.

– Você é maluca, na moral. Me explica porque não estou entendendo. – Nath me olha revezando a visão na estrada, mas eu conheço esse olhar de quem sabe que contei meia verdade. Esse é o "problema" quando a pessoa te conhece há muito tempo.

– Nath, só foi um pensamento. Não pretendo aparecer namorando do nada. – ele está ligado as minhas palavras. – Só acho que devo abrir-me nesta área, pois alguém legal pode aparecer. – vejo um biquinho se formar com minha última frase, mas, sai tão rapidamente que o considero como seu modo de ponderar e analisar o que eu disse, mesmo que seja um gesto que raramente ele faz para mim.

– É você se abrindo e eu me fechando nessa área. O mundo vai acabar! – diz como piada e rimos.

Quando ele para em frente a minha casa, nos despedimos como sempre, eu o abraçando e ele deposita um beijo em meu cabelo ruivo cacheado que tanto ama, retribuímos sorrisos e eu saio do carro, acenando um tchauzinho com uma das mãos e ele, sorrindo, espera eu entrar para partir.

***********************************

Abro a porta de casa, entro e fecho-a logo em seguida. Está tudo em silêncio.

Vou em direção à cozinha, apesar da minha completa falta de fome totalmente normal quando qualquer coisinha acontece – sensibilidade absurda é meu sobrenome, mas sou o contrário de muita gente que desconta na comida. Pego uma das maças empilhadas sobre bananas na vasilha de frutas da bancada central e a mordisco enquanto vou para o meu quarto e tranco-me nele. Observo o cômodo quadrado com as paredes em tom azul ciano com móveis de madeira tais como meu guarda-roupa, um baú que abriga os meus vários bichinhos de pelúcia, uma bancada para escrever e estudar e um espelho acima dela e minha cama que fica alinhada ao lado aposto da porta, centralizada com duas janelas em cada lado. Os lençóis que a forram são brancos e os dos três travesseiros são pretos. Eu não me identifico como princesinha, mas sou um tantinho delicada. Lanço-me na cama de barriga para cima e não sei ao certo quando acontece, mas adormeço.

Capítulo 2

Narrado por Liandra

Estava novamente naquele parque. Mamãe que fora uma pessoa amante da natureza e por isso tinha feito questão de ter um pequeno jardim no quintal da nossa casa, sempre me levava com Let para brincarmos lá. Eu, de volta aos meus “quase sete anos”, como me referia a idades na época e minha maninha em seus “quase dois”. Éramos vigiadas por mamãe. Enquanto eu brincava no escorregador, pude avistar quando Let, ao correr pela grama na sua própria brincadeira livre, caiu, machucou a boca e começou a chorar. E mesmo indo “voando” em sua direção, sentindo tamanha aflição e preocupação, infelizmente não pude fazer nada pelo meu nervoso ao ver o sangue que saia de sua boca e até atormentei um pouquinho a mamãe que como sempre demonstrava calma, paciência e facilmente resolveu a situação, comprando uma garrafinha com água para fazer uma lavagem e verificou o corte que o dente deixou nos lábios pelo impacto com o chão. Comprou picolé que na minha cabeça era para fazer a Let parar de choramingar, mas, tenho ciência hoje que era para estancar o sangue.

Voltamos para casa mais cedo naquele dia. E na hora de dormir, mamãe conversou comigo, como sempre fazia, citando daquela vez o incidente que havia ocorrido naquela tarde. Ela me disse:

“Mesmo que de longe, meu amor, ao virmos para perto mostramos que nos importamos e que amamos as pessoas. Sua irmãzinha sempre vai precisar de você, dos seus cuidados e da sua ajuda para aprender as coisas.

Essa é sua missão de irmã mais velha!”

Acordei com o barulho irritante do despertador e fui me aprontar para o dia, mesmo sendo perseguida pelas lembranças que vieram como sonho e me sentindo meio perdida por conta delas que me recordam da falta que ela faz.

Depois daquele dia, ainda pude aproveitar e desfrutar da presença dela mais um pouco. Entretanto, teria aproveitado mais os seus abraços, sorrisos, olhares e cafunés se soubesse que eu a teria por um mísero e mínimo tempo na infância, graças ao cruel destino.

A perdemos em um acidente de carro. Eu tinha dez anos e a Let, apenas cinco. Ou seja, ela quase não se lembra do ser humano mais amável que já existiu. E eu imagino a falta que ela sente, que apesar de ser diferente da minha por eu tê-la perdida em meio as memórias, sentir a falta de alguém que você mal conheceu tem a mesma mensura de dor, mas pode ser ainda mais complicado.

Nós voltávamos do parque. Tenho flashes de lembranças em que vejo o caminhão parecer engolir o nosso veículo e do olhar preocupado que ela me lançou. Após a batida, ela ainda conseguiu alcançar o retrovisor interno nos buscando, aflita e ao encontrar os meus olhos, me lançou um sorriso e um olhar de amor de alívio. Recordo-me vagamente que ainda conversamos. Ela perguntou da Let e eu respondi que ela estava dormindo na cadeirinha. Me perguntou se me machuquei e lhe disse que minha cabeça estava doendo, que a bati muito forte no banco da frente, mas que o cinto de segurança havia “me salvado”. Lembro da sua risada. Ela me contou que poderia ir para o céu, mas que sempre estaria conosco. Que era para eu ser corajosa e uma ótima irmã mais velha, filha e aluna assim como era. Que nunca mudasse quem sou e não deixasse ninguém fazer isso. Me disse que me amava muito e pediu para eu dizer o mesmo a Let e ao papai. Depois, eu comentei que estava ficando com sono e ela disse que tudo bem, que a ambulância já devia estar chegando. Lembro-me que acordei quando me retiravam do carro e de ver seus olhos tão cinzas quanto os meus e os de Leti, sem vida em nossa direção e sabia que ela já havia partido. Suas pernas haviam sido esmagadas no impacto da batida e de sua cintura para baixo estava preso nas ferragens e fora perfurada na coxa, inevitavelmente teve uma grave hemorragia e o culpado do acidente foi um miserável que estava alta e exageradamente embriagado e só teve alguns arranhões no rosto e nos braços proveniente dos estilhaços dos vidros dianteiros. O desgraçado ficou preso durante cinco anos e teve o direito de obter a habilitação para dirigir suspenso por se tratar de um caso de homicídio culposo que é quando o resultado de morte não era esperado. Entretanto, não demorou uma semana depois que saiu da penitenciária para dirigir e, embriagado novamente causou outro infeliz acidente que levou dessa vez sua própria vida, livrando o mundo de mais um bárbaro dentre tantos outros. O destino o fez sofrer da mesma forma que ele causou a morte da minha mãe e pelo que saiu nos jornais, a sua cabeça estava ensanguentada do lado de fora do vidro dianteiro. Pena, eu não senti e muito menos serei capaz de sentir algum dia. O que tenho é a persistente saudade da minha mãe levada tão cedo pela morte por causa da imprudência de um indivíduo.

Ao me olhar no espelho, já pronta, recordo do quanto eu e a Dona Luma nos parecíamos muito, tanto de personalidade quanto na aparência. E como ela era cópia de minha avó, que faleceu aos meus sete anos, a semelhança era incrivelmente fascinante. Sempre fui um grude com ela, apesar de ser muito apegada a todos da minha família.

Papai se fechou muito com a perda, pois mamãe era o seu apoio e aparentemente a razão de sua vida. Eu testemunhei um pai e marido amoroso se tornar em alguém distante e impossível de alcançar. E ter duas crianças meninas para criar, só foi possível pelo auxílio de Dona Ju que trabalha conosco desde o nascimento da Let. Acho que o mais difícil para ele tenha sido ver uma mini cópia de seu falecido amor todos os dias, vulgo eu. A Letícia herdou apenas a cor dos olhos da mamãe. Talvez esse fator tenha influenciado numa diferença de tratamento que na verdade não é bom para ninguém dessa família.

Estou com uma baita dor de cabeça e dou muitas Graças quando enfim minha turma é liberada pelo último professor do dia. Meu corpo parece ser um cadáver ambulante muito pesado para carregar e estou me sentindo como uma alma presa. Tive que aguentar ainda a Mariah me enchendo de perguntas sobre “as caraterísticas que quero no meu boy”. Resumindo, ela está empenhada em me ajudar a desencalhar e também está se achando uma investigadora do FBI ou senão do CSI. Deve ser meu talento atrair gente doida para serem meus amigos.

O que me faz lembrar a razão para eu ter pensado nesse plano maluco de arranjar um namorado por causa da minha irmã e, de alguma forma aquelas lembranças fizeram uma parte de mim ter um certo receio e outra um tanto de coragem para realizá-lo.

 Encontro com Nath no estacionamento para irmos cada um para sua casa e durante o caminho ele faz o silêncio que o pedi, por conta da dor de cabeça que está me perseguindo, após praticamente me obrigar a tomar um remédio que ele tinha guardado na gaveta do carro.

– Hoje faz dez anos que ela se foi. – comento de repente. Nath já era meu amigo quando a tragédia aconteceu. Ele ficou ao meu lado, me abraçou e até me pôs para dormir nas primeiras semanas. Passou por esse processo doloroso junto comigo e eu sou muito grata a ele. As nossas famílias eram amigas desde a geração de nossas avós maternas que se conheceram na Universidade e juntamente aos nossos avôs já descansam no paraíso. Então todos sentiram a dor do luto e nos deram apoio, além de compreender as atitudes do meu amigo, preocupado comigo.

 – Eu sei. – sua voz grave soa em um tom manso – Imaginei que seu desânimo hoje era por conta disso. – ele falou e eu soltei um suspiro cansado.

– Está com o resto do dia livre? – o perguntei.

– Sim, por quê? – indagou e eu tirei a mão do rosto e me virei para o lado para vê-lo dirigindo o carro.

– Me leva para qualquer lugar que não seja minha casa. – pedi e ele ficou alguns segundos me fitando antes de assentir e fazer com que o carro tomasse um destino diferente do qual eu não sabia qual seria, mas, confio nele e sinto-me segura com sua companhia. Decido permitir que o sono me leve e deixo ele nos guiar pelo caminho que quer.

Ouço uma voz longe parecer me chamar e o som de vento forte ao fundo. Abro os olhos e pisco meio sonolenta, me sentindo ser sacudida levemente. Desperta, vejo Nath agachado ao meu lado, fora do carro com a porta aberta.

– Caraca meu! Tenho quase cinco minutos te chamando. Já estava desistindo. – resmunga e eu rio ainda meio grogue.

– Foi mal, me perdoe. – digo, me espreguiçando.

– Relaxe. Gosto de ver que não mudou o jeito de dormir e a lerdeza de quando acorda. Quase nenhuma mudança a não ser essa “comissão de frente” aí. – fala rindo – Ai! – resmunga depois de levar um tapa no braço.

– Idiota! – falo – E então, para onde nos trouxe? – questiono passando meus dedos em meus olhos.

– Para uma praia. Achei que precisava respirar um pouco e como você ama o mar, foi fácil decidir o lugar. Esta, fica a mais ou menos duas horas da cidade vindo pela via principal. – arregalo os olhos.

– Eu dormi todo esse tempo? Meu Deus! “Bati” meu recorde. – falo e vejo seu sorriso.

– Com certeza. Como são exatamente três horas e trinta minutos da tarde, – diz olhando o relógio em seu pulso esquerdo – você deve estar com fome, porque eu estou. Então vamos almoçar uma moqueca de camarão naquele restaurante ali. – aponta para um restaurante simples do outro lado da pista. Sorrio olhando ao redor e vejo que estamos em um estacionamento feito provavelmente pela prefeitura praticamente de frente para praia.

– Você que vai pagar não é? Tá me convidando! – indago brincando, voltando minha atenção para Nath que se levanta.

– Ainda duvida da minha personalidade cavalheiresca, cara dama? Como ousas?! Como consequência irá me presentear com a sobremesa. Quero uma cocada de maracujá. – diz entrando no jogo e até exagera nos seus gestos de cortês.

– Oh, perdão meu senhor. Irei retratá-lo como me pedes. – digo saindo do carro e fechando a porta – Fazes tanto por mim, como poderia negar tal simplicidade, meu caro moço? – ele gargalha e me abraça tão apertado que me tira do chão e gira comigo em seu colo enquanto rimos. Mas na verdade, ele me faz sentir sair do chão, pois tira todos os problemas da minha cabeça, me deixando leve.

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