O meu mundo desaba quando leio o e-mail da minha mãe, me pedindo para voltar para casa, desde que completei os meus dezoito anos, que não coloco os meus pés naquela casa.
O receio é que eles me obriguem a casar assim como fizeram com a minha irmã que não conseguiu pensar rápido e acabou morta para não se casar com um desconhecido.
O problema é que toda a responsabilidade se voltou para mim, quando tinha apenas quinze anos, foi nesta época que tingi os meus cabelos de várias cores até chegar no roxo e os mantenho até hoje para afastar os conservadores que repudiam esses comportamentos.
— Parece que viu um fantasma — a voz da Cassie me trouxe de volta, somos da mesma idade e as nossas fugas são parecidas já que ela não quer retornar por conta das cobranças dos seus pais.
— A minha mãe…
— Ferrou — a sua espontaneidade é o que me sempre e levanta o humor.
— Ela está doente, de acordo com o e-mail está quase morrendo.
— O golpe está aí cai quem quer — nego com a cabeça pensando se realmente é golpe mesmo, mas e se ela estiver doente e... — Escuta, para de pensar nisso, estou escutando a sua cabeça borbulhar se está com medo de seja verdade vai, agora se for mentira você me liga que dou a louca e chego na voadora para te salvar.
— E para onde vamos depois?
— Vamos para a praia vender artesanato, no caso eu grito e você faz o artesanato já que sou péssima nisso.
Eles sempre souberam onde me encontrar, nunca escondi a minha localização, apenas emendei uma faculdade na outra para não retornar, com isso estou há sete anos fora, os sete maravilhosos anos sem nenhum casamento arranjado.
Mando um e-mail avisando que volto no outro dia cedo, mas a minha mãe me liga avisando que o motorista já deve estar chegando e que não tínhamos tempo, para quem estava quase morrendo achei normal essa pressa toda.
Assim que coloquei os pés dentro daquela casa a minha espinha gelou, algo não estava certo e quando observei a minha mãe vir sorrindo para mim descobri que fui enganada.
— Querida, que ótimo que finalmente retornou.
— Mentirosa — ela chegou fechar a mão de raiva, mas não me tocou, a minha pele clara ajudou no processo, mas como o seu sorriso permaneceu no seu rosto eu que comecei a tremer, afinal teria alguém nos observando.
— Onde estão os seus modos minha princesa? — ela se aproxima me abraçando para se aproximar do meu ouvido — Se comporta ou além de trancada, vai ficar sem comer — o seu sussurro me provou que caí na sua armadilha.
A minha bolsa foi retirada da minha mão e quando ela pega o meu celular o vejo afundar dentro do vaso ao nosso lado, agora mais que nunca entendi o que minha irmã sentiu, mas não vou me entregar.
— Quando?
— Garota esperta, o casamento será na outra semana, até lá você não sai do quarto e está proibida de se comunicar com o mundo – o sorriso da minha mãe apenas crescia.
— Vai me manter prisioneira?
— Você não me deu escolhas, agora a levem — ela sinaliza para os seguranças e antes que eles me toquem eu gritei.
Eu sabia o caminho, não preciso dessa humilhação de ser escoltada até lá, mesmo assim eles me acompanharam e trancaram a porta, merda eu preciso pensar em uma forma de sair daqui.
Porém, vou entrar no seu jogo, uma hora ela vai ter que me soltar e nessa hora vou estar preparada, não demorou nada para alguém bater na porta e logo uma bandeja é deixada dentro do meu quarto.
Não conhecia mais os funcionários desta casa e não daria tempo de pedir ajuda deles, então me mantive em silêncio.
O resto da semana passou rápido e como eu pretendia os meus pais já tinham surtado e se acalmado, então na sexta o meu quarto ficou destrancado e as minhas refeições foram feitas na mesa em completo silêncio.
Aproveitei para gravar todas as saídas, sejam as principais como as alternativas, a minha bolsa já estava pronta e a minha roupa para a fuga também. O meu estômago se revirou quando descobri que o meu casamento já estava certo com o herdeiro Hensei.
Ele nunca foi visto depois que completou os seus quinze anos e isso me assustava, afinal ninguém some assim na vida, a não ser que ele tenha alguma psicopatia e precisava ser escondido da sociedade…
Meu Deus eu preciso parar de ler livros de fantasia e romance, ele só deve ser feio e escroto com todos.
Mas ele já tem um ponto, afinal não quer me ver antes do casamento. Gostei de verdade, pois assim não precisei mentir para ele que vou estar no altar no dia do casamento.
A minha última satisfação foi quando a minha mãe descoloriu o meu cabelo para tirar o roxo e assim que ela saiu do quarto eu o tingi novamente com a tinta que havia escondido na bolsa.
— Iris, esse contrato é muito importante, então se comporte.
— Claro, mãe, calada, pernas abertas e finge que g0zou.
— Sua insolente — ela me empurrou para trás, me fazendo cair sentada por conta dos altos saltos que estavam no meu pé — Onde foi que eu errei com você?
— Quando me obrigou a casar, ou melhor, a cumprir um contrato que você me vendem para o homem que se diz ser o meu noivo.
— Não toque nela — a voz do meu pai fez a mão da minha mãe parar no ar — Ela não pode ter um arranhão, essa foi à exigência.
Exigência? Não, seria porque a sua amada filha não deve apanhar? Um pior que o outro, eu realmente deveria ter escutado a minha irmã quando me mandou correr e nunca mais parar.
Mas dessa vez eu vou fazer isso, assim que o jantar começar vou me fingir indisposta e subo para o meu quarto para tomar um remédio, por conta dos convidados ele não viram atrás de mim.
Estava indo conforme eu imaginei, ou pelo menos tudo já que o homem que representava o meu noivo não tirava os olhos de mim, então tive que improvisar e durante o jantar comecei a fazer algumas caretas e apenas sorria quando alguém falava comigo.
— Me perdoem, mas preciso me ausentar por alguns minutos — sorrio enquanto a minha mãe me olhava como se fosse me matar ali na frente de todos.
— Aconteceu algo? — como o esperado, ele me perguntou, abaixo a cabeça como se estivesse envergonhada.
— Infelizmente estou… Bem, estou com cólica, não queria trazer esse assunto, mas realmente preciso me ausentar.
— Iris — a minha mãe faz sinal para me sentar novamente, mas o homem se levanta vindo até a minha cadeira, não me lembro do nome dele.
— Ele me perdoaria se permitir que a sua noiva passou dor — a forma como ele se referia ao meu noivo parecia que ele tinha medo além do respeito.
Agradeço com um sorriso e saio para o meu quarto tentando ao máximo não correr, mas assim que fechei a porta já me livrei daqueles saltos e fui puxando o vestido para colocar a roupa que havia preparado.
Assim que coloco o meu tênis escuto batidas na porta, era aquele homem, merda… pensa rápido… puxo toda a roupa para o banheiro e abro apenas uma parte da porta, mas o seu olhar percorreu por que tudo.
— Desculpa, mas vou precisar trocar o vestido, pode me aguardar mais uns dez minutos?
— Claro — o seu olhar encontra com o meu e agora entendi a péssima fama deles.
A fama do grupo Hensei era que eles tinham apoio da Yakuza, ou seja, não eram pessoas para se ter como inimigos. Era o que uma pessoa sensata e com juízo consideraria, mas se tem uma coisa que eu não tenho é juízo.
Respiro fundo e abro a minha janela, me preparando para pular, era apenas o segundo andar, então não iria causar muitos danos, ou era assim que eu me lembrava…
Respiro fundo e pulo com os olhos fechados, mas me lembro de forçar o meu corpo para frente me fazendo rolar.
O meu pulo pelo jeito fez mais barulho do que planejei e logo começaram a gritar num idioma que não faço ideia de qual seja, mas também não fiquei para entender e sai correndo como se não houvesse amanhã.
Com todo o tumulto eles nem perceberam quando passei pelo portão, não me atrevi a parar de correr, muito menos de olhar para trás, mesmo que não estivesse mais os ouvindo tenho certeza que ainda estão atrás de mim.
— Shiiii… — sou puxada com tudo para dentro de uma porta, o lugar estava escuro e a pessoa pelo jeito era o dobro do meu tamanho, já que a sua mão não tampou somente a minha boca.
— Ar… — consigo falar abafado atrás da sua mão enquanto a minha respiração ainda estava acelerada.
— Eles ainda estão ali fora e qualquer barulho eles entram aqui e te levam — apenas confirmo com a cabeça e assim que dou um passo para frente a porta é aberta com tudo.
Ele me puxa de uma vez contra o seu corpo, mas desta vez não tampa a minha boca e eu como não sou burra prendi até a respiração para não arriscar fazer nenhum barulho.
Logo uma arma passou rente por onde eu estava, mas ele me mantinha imóvel o momento todo. Escuto falarem alguma coisa enquanto se afasta.
Após alguns minutos ele me solta, quando vou sair por onde entrei, mas sou puxada para irmos na direção contrária, tentei me soltar de todas as formas, mas o seu aperto era forte.
— Se não percebeu, as minhas pernas são curtas.
— O que fez para irritar eles?
— Não sei quem são el… — sou prensada contra a parede enquanto a sua mão me segurava pelo pescoço — Püta merda que susto seu idiota.
— Sem mentiras.
— Eu fugi dele e vou continuar fugindo.
— Boa sorte — ele começa a rir e sai andando, acabo indo atrás dele quando vejo um carro que pelo jeito é muito caro a nossa frente — Entra no carro.
— Nem pensar e se você me levar de volta?
— Então, por que te ajudei? Se fosse fazer alguma coisa já teria feito.
— Não sei o seu nome.
— Isso realmente é importante? — ele respira fundo mordendo os lábios — Otto.
— Do quê?
— Você é chata para car@lho, né? Otto Unmei, satisfeita? Agora entra no carro e vamos dar o fora daqui.
— O que vai cobrar em troca Otto? Por que está me ajudando?
— As pessoas que estão atrás de você não vão ser nada gentis quando colocar as mãos em você, vou te deixar num lugar que vai ficar segura.
Apenas confirmo com a cabeça entrando no carro, ele parou em um posto de gasolina próximo a rodoviária e novamente vejo aqueles homens passarem por ele, não era justo ele se machucar por minha causa.
Sem pensar muito saio correndo e entro no primeiro ônibus que vejo com a porta aberta, o motorista me olha assustado e quando ergue o olhar deve ter observado o Otto ou os outros homens, pois fecha a porta e me manda entrar atrás do seu banco.
Alguns tiros fazem o motorista abrir a porta, eles entram com tudo no ônibus, mas como não me encontram saem sem falar nada. Após bons minutos que o ônibus está em movimento que o motorista me manda ir para algum acento, mas me pediu para ficar próxima vai que preciso me esconder.
Sinto alguém me cutucando e quando finalmente abro os olhos, percebo que já amanheceu, não faço a menor ideia de onde estamos, mas sei que está bem frio, agradeço e quando saio do ônibus começo a olhar ao redor, mas o motorista me informou que aqui não seria procurada.
— Onde estou?
— Londrina, se cuida garota — ele sorri fraco quando volta para o ônibus já saindo em seguida.
— Püta merda vim parar no sul do país, agora preciso comer alguma coisa e achar um lugar para ficar… e certamente um banho.
Ainda estava tentando entender o que raios eles estavam fazendo, o meu sangue ferveu quando a vi correr para o ônibus e eles irem atrás dela, mesmo não sabendo para onde ela está indo, posso resolver isso tranquilamente pelo localizador que deixar na sua roupa.
Assim que entro em casa Itoko vem correndo na minha direção, mas para assim que percebe que estou de péssimo humor, alguns dos seus seguranças tentam me parar.
— Não toquem nele, se quiserem permanecer vivos — Itoko solta um grito os parando no mesmo momento, o meu sorriso acaba crescendo, aprendi com os anos a apreciar o medo das pessoas.
— Pode me explicar que inferno foi aquele?
— Eu errei, deixei ela escapar… — Itoko foi no meu lugar naquele jantar, mas mesmo a sua presença ali não a intimidou o suficiente para evitar a sua fuga.
— E MANDOU CAÇAREM ELA? — acabo me exaltando o fazendo se encolher — Poha Itoko, ela poderia ter morrido seu imbecil.
— Espera… Foi você que ajudou?
— Sim, iria a levar para um lugar seguro e depois…
— Você é um gênio Otto — Itoko começou a sorrir — Claro, você a salva e ainda por cima a conquista…
— Sabe perfeitamente que estou me casando por obrigação, o meu passado não permite que ninguém esteja ao meu lado sem ter um alvo gigantesco nas costas.
— Mas você saiu, vai assumir tudo logo…
— Primeiro preciso da noiva que graças a você, fugiu — não consigo segurar a risada, pelo menos ela não era uma patricinha irritante.
— Não sei o que aconteceu entre vocês, mas não me lembro da última vez que vi você sorrindo desta forma — foi preciso apenas olhar para ele se calar, mas foi por pouco tempo — Quais as ordens?
— Vou atrás dela, mantenha os pais dela longe.
— Vão perguntar sobre o seu casamento.
— Você fica no comando até a minha volta, a segurança e a integridade dela são prioridades.
Itoko não se atreveu a falar mais nada, mas sei que ele quer me perguntar mais coisas, porém tem juízo de não me perguntar nada agora. Vou até o escritório para saber para onde ela está agora.
Assim que deixo tudo conectado com os meus dispositivos vou para o meu quarto, o dia foi turbulento demais e nem de longe terminou da forma como eu queria.
Mas não deixei de sorrir me lembrando dela correndo, tenho que admitir ela deu uma canseira e tanto para eles.
No outro dia, ainda no café da manhã, Itoko me passou tudo o que tinha de informações da Iris, muitas coisas eu já tinha noção como ela estar fugindo de todos os contratos que os seus pais já tentaram concretizar, os seus cabelos coloridos eram a prova viva disso.
Sendo que eu achei muito estiloso, ela era ousada, então um cabelo roxo deu um toque a mais na sua personalidade, mas quando li sobre a sua irmã foi que entendi que ela também tem um passado nada normal.
— Como ficou a sua situação com a organização? — Itoko, sabia o momento exato para me fazer perguntas sem que eu quisesse matar ele.
— Preciso me casar o quanto antes ou volto para o meu posto.
— Se aquela maluca não tivesse… — ele perde a voz quando eu finco a faca próximo a sua mão — Ok, eu entendi…
— Não ofenda ela, você leu isso? — jogo a pasta na sua frente enquanto ele ainda me olha assustado — Você não sabe nada sobre ela?
— Apenas que ela tem a fama de fujona, mas não que as coisas eram tão graves assim — ele estava lendo por cima sobre a sua irmã — Que bando de carniceiros…
— Não faça nada com eles, pelo menos nada de bom, mas os mantenha vivos.
— Vai atrás dela?
— Sim, pela a sua localização ela está indo nos arredores no norte do Paraná.
— Quais as ordens enquanto estiver fora, acredito que não vai querer falar comigo por um tempo.
— Não vou mesmo, então permaneça na presidência da empresa e não toquem mais no assunto, os pais devem ficar na linha e de boca fechada, o resto permanece em segredo.
Me levanto já saindo da casa sem dar oportunidade dele me responder, entro no carro que dei carona e ainda consigo sentir o seu perfume, mesmo fraco ainda estava lá. Me permito fechar os olhos e aproveitar o seu perfume.
Desde quando ela retornou para a casa dos seus pais eu estou a observando, devo admitir que ela foi bem inteligente e soube se livrar dos seus pais, ela teria conseguido escapar tranquilamente.
Claro se eles não estivessem tão furiosos, por um lado eu os entendo, perder para uma garotinha que não tem treinamento algum, não era nada bonito para prestar contas depois.
Acelero o carro o máximo que posso, preciso chegar o quanto antes. Pelo horário ela já chegou em Londrina e não acredito que ela saiba se virar sozinha, a cidade é calma, mas ela chama muita atenção por onde passa.
A encontro ainda com as mesmas roupas comendo um lanche, pela sua expressão parece que ela não come a muito mais tempo do que eu pensava, foi aí que me lembrei que ela quase não tocava na comida que deixavam para ela no quarto.
Foi quando eu percebi que ela não estava mais sendo observada apenas por mim, tinham mais cinco homens a rondando e esperando o momento exato para a abordar, coisa boa certamente não era.
Ela pelo jeito também percebeu, pois, se colocou em movimento, ela protegia aquela bolsa com muita força, então o dinheiro deve estar lá dentro, merda ela vai ser assaltada.
Quando ela entra no shopping que tem ali no centro percebo que juízo ela certamente não tem, pois, foi o que eles precisavam para a emboscar, aperto o meu passo o máximo que posso, pois, já estava chamando muita atenção e correr não iria ajudar.
Assim que entro já não os encontro, acesso o localizador e a encontro dentro das docas, eu sabia que iria dar merda, mas nada me preparou para a cena que me estava a minha frente.
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