Me chamo Joana , tenho 32 anos.
Sou paulistana , nasci em São Paulo e me criei na Bahia.
Somos quatro irmãos, três meninas e um menino, o
meu irmão também foi criado na Bahia, minhas duas
irmãs nasceram na Bahia e foram criadas aqui em São Paulo.
Por isso o meu sotaque baiano, eu e o meu irmão
não conseguimos mudar o sotaque mesmo estando
morando aqui em São Paulo por tanto tempo.
A minha mãe conta que quando eu nasci eu engolir
sujeira do parto ,nasci bem miudinha, ela fala que eu
cabia em uma caixa de sapato.
Essa foi uma forma dela expressar como eu era tão pequena.
O meu avô o pai da minha mãe falou , está daí mesmo não que vai se criar.
Meu avô já não está mais aqui entre nós.
eu sobrevivi estou aqui.
Meu pai trabalhava em uma boa empresa .
minha mãe também trabalhava, eu era pequenininha,
quem me olhava para minha mãe poder trabalhar era meu tio irmão da minha mãe.
A minha avó, mãe do meu pai, morava na Bahia , ela
ficou doente , e meu pai precisou pedir licença na
empresa que ele trabalhava para poder buscar ela e era urgente.
A empresa é muito boa, meu pai tinha convênio
então ele conseguiu os remédios todos dela pela empresa com desconto.
Minha avó conseguiu fazer todos os tratamentos dela .
Quando ela ficou boa, meu pai teve que levar ela de volta.
Quando o meu irmão era bebezinho meu pai deu a louca que queria morar na Bahia.
Minha mãe falou que não queria ir.
porque na Bahia não tem emprego .
minha mãe é do Piauí, ela não conhecia a Bahia.
Mas ela ouvia todo mundo falar aqui em São Paulo que na Bahia era ruim de emprego.
Meu pai achou ruim, não concordou. meu pai é
aquele tipo de homem ignorante ogro e quando ele falar que ele quer é aquilo e acabou.
Então tudo decidido para ele vir morar na Bahia. a família da minha mãe implorando para ela não vir.
Mesmo assim ela veio.
Tinha que acompanhar o marido dela.
Chegou na Bahia, comprou um lote , lote longe de
Tudo , não tinha água dentro , quando o lote não tem água dentro não é valorizado .
Água dentro é quando tem lagoa poço assim que não precisa sair para fora para trazer água.
Não podia criar um animal porque dentro do lote não tinha água.
O lote, a terra não era muito boa e nem tudo que plantava dava.
Já foi um erro dele, porque ele não conhecia de terra , foi morar na Bahia sem ter experiência nenhuma.
O meu avô já morava lá , ele tem dois lotes, os lotes
dele tem água dentro e lá fala agrovila que é duas
ruas bem grandes onde tem mercearia, coisas bem
pouca , não havia asfalto , eram Ruas de Terra bem vermelha.
Era um lugar bem difícil de se virar.
Tudo era muito longe, se precisar de médico urgente era complicado.
mas era o que tínhamos no momento.
Era um lugar no meio do nada, não tinha nada, não tinha médico perto farmácia .
O único tempo bom lá era o tempo da lavoura.
Tempo das frutas. O tempo de tudo que plantamos
precisava colher.
O único tempo que passamos bem era o tempo das colheitas.
Quando passava o tempo da colheita que entrava o verão, aí começavam as dificuldades, porque tudo que colhemos acabou.
Não tinha mais nada.
Meu país não tinha emprego , ia comprar o que comer com o quê?
Meu avô construiu um Paiol no fundo da casa dele.
o quintal da casa do meu avô era muito grande, tinha dois pé de manga pé de goiaba pé de a romã pé de pinha.
No Paiol o meu avô guardava abóbora chamada de jacaré.
Ela dura muito tempo.
Milho seco, feijão seco, arroz, milho de pipoca. Amendoim, gergelim semente para próxima plantaçã .
Ele armazenava uma quantidade de alimento para
dar para os animais durante o verão e nós comer.
Abóbora e jacaré para quem não conhece é uma abóbora que é bem grande e dura, ela tem que ser cortada de Machado.
No tempo da colheita era muita melancia cabaça, melão de cheiro aquele melão que se parte quando ele amadurece era muita coisa mas nem todas as coisas podiam ser guardadas.
A melancia que ficava guardada há muito tempo ela apodrecia e tinha que ser jogada para os porcos.
Meu avô criava porcos e galinhas.
os porcos tinham que ser presos porque eles eram muito grandes e eles comiam as galinhas .
O chiqueiro era feito todo no cimento, com um tanque para os porcos ficarem dentro da água, era tudo limpinho.
O sol da Bahia é muito quente, por isso os porcos tinham que ficar sempre na água ou lama.
Milho seco era colocado de molho para poder fazer cuscuz no dia seguinte.
O milho poderia ser debulhado para moer no moinho ou colocado de molho na espiga e ralado no ralo.
Quem não tinha moinho.
Meu avô também plantava mandioca, tinha uma casa de farinha.
Onde a gente fazia farinha e também o beijo a tapioca como é conhecida aqui em São Paulo.
Mas essas coisas tudo era do meu avô, não do meu pai.
passou a colheita meu pai, ele não tinha mais nada , porque ele não tinha como armazenar os alimentos. Só que o meu avô era um homem muito bom.
Ele nunca fez questão de nada.
Mas a minha avó .
minha avó fazia questão de mamão.
Que era uma coisa que tinha em todos o quintais.
Minha avó ela chegou cortar pé de goiaba porque eu e a minha tia gostava de comer goiaba.
Ela cortou o pé da goiaba para a gente não arrancar mais goiaba.
Quando ela ficava nervosa, ela tacava a vassoura na galinha e a galinha já caía morta, só batia as asas.
Os porquinhos ela fazia a mesma coisa, tacava a vassoura e o porquinho saía arrastando o quadril no chão gritando de dor.
às vezes meu avô tinha que colocar remédio no ferimento, tinha porcos que nem resistia.
Meu avô falava assim para ela, quando você morrer você vai sofrer muito
você vai pagar por tudo que você faz com os animais.
É realmente ela sofreu muito antes de morrer muito mesmo.
Minha avó teve problemas de coração.
o coração dela foi entupido, teve que tirar uma veia da colcha para poder colocar no coração.
Ela sofria muito com falta de ar e caía desmaiava, ficava muitas horas para poder voltar às vezes quando voltava, fazia xixi e cocô na roupa.
Meu avô e a minha avó moravam na mesma casa, mas eles não dormiam juntos, eles estavam separados.
Ele falava enquanto ela estivesse viva, ele nunca iria procurar outra mulher.
Meu avô era um negro forte morreu com 102 anos. A minha avó morreu com 60 anos e tinha muitos problemas de saúde.
Meu avô quando chegava o dia dele receber a aposentadoria dele, ele ia para uma cidade próxima para poder tirar o dinheiro e lá ele já fazia compra .
Ele trazia tudo de fartura e trazia pães que para nós eram novidades.
A minha avó escondia para não dar para mim meus irmãos.
Eu voltava para casa chorando.
Minha mãe chorava ao me ver chorando porque a minha avó negou um pedaço de pão.
Carne meu avô trazia a carne e mandava dividir com gente.
ela cortava os pedaços mais ruins para dar para gente.
Um dia meu pai mandou eu devolver a carne .
não precisava dar mais nada para a gente .
Meu avô pediu para ver a carne e ela tomou da minha mãos.
Você não precisa ver , diz ela .
meu avô tomou dela e quando ele viu, ele fala isso aqui não dá nem para um cachorro.
isso aqui e os piores pedaços da carne que você tá dando para eles.
Tem toda razão do seu filho recusar.
Nesse dia foi um quebra pau .
Ela foi na casa da minha mãe tirar satisfações .
A minha avó era uma mulher assim que gostava muito de fofoca barraqueira por onde ela passava, ela levava e trazia fofoca.
Um dia, por causa de uma fofoca que ela mesmo inventou, ela correu atrás do meu pai com uma barra de ferro
Tacou nele se tivesse pegado , teria morrido ou ficado com sequelas.
Ele não queria enfrentar ela, afinal de contas era sua mãe.
Para os irmãos do meu pai ele era um monstro, na verdade ele sempre foi o ruim da família.
Um dos irmão dele xingou tanto ele.
depois dessa briga da casa dos meus pais para a casa do meu avô só tinha uma casa no meio que era a casa da Joana e do Antônio.
da casa dos meus pais dava para ouvir o meu tio xingando meu pai.
Eu era pequena e muitas coisas eu ainda me lembro. Minha avó tratava bem todos os filhos, menos o meu pai até hoje eu nunca entendi.
Minha tia fala que quando meu pai era jovem ele dava muito trabalho para minha avó talvez seja isso.
Minha mãe começou a criar galinhas, fazia uma costura aqui outra ali para ter um trocado, e meu pai cuidava da roça, tinha que limpar para deixar limpa para próxima lavoura.
Meu avô ia em casa ver a gente.
Falava ó Paiol tá cheio se vocês precisarem pode ir lá pegar.
Não importa com que a avó de vocês vai dizer.
Só que a minha mãe não ia.
Então ele pegou tudo o que ele achava que a gente estava precisando e trazia para nós.
Minha mãe ficou bem conhecida pelas suas costuras.
Então, graças a Deus começaram a surgir muitas encomendas.
Ela já tinha muitas galinhas ovos.
A casa da minha mãe começou ter muitas pessoas atrás de costura e a minha avó não gostou disso.
Porque a casa dela era uma casa que não tinha visitas , ninguém ia não era uma casa Alegre.
Ela chegou até dizer que minha mãe não trabalhava bem.
mas a prova disso eram encomendas que ela tinha seus clientes que procuravam o tempo todo.
Meu tio mais novo veio para São Paulo,
tia filha mais nova da minha avó veio também trabalhar.
Foi vindo para São Paulo para trabalhar na Bahia, não tem emprego.
Ficou uma tia minha lá para cuidar dela,
não tinha ninguém mais para cuidar da roça do gado.
Meu pai não queria mais morar perto da casa do meu avô .
então o que que ele fez ?
Ele trocou a casa dele em uma casa distante.
Minha avó começou a passar mal e teve que ir às pressas para São Paulo .
Fazer uma cirurgia de coração , quem teve que levar meu pai.
Teve que deixar a roça dele.
Quem terminou de limpar a roça foi eu e a minha mãe já estava tudo plantado e não podíamos deixar o mato tomar conta.
Meu pai ficou um mês e não podia ficar mais tempo por causa da roça.
Como as filhas da minha avó estavam algumas aqui em São Paulo, só tinha uma que ficou lá na Bahia então ela ficou para fazer o tratamento que ela precisava.
Como eu disse, ela tinha problemas de coração, foi tirada uma veia da coxa para poder colocar no coração que estava entupido.
Então ela ficou morando um tempo aqui em São Paulo .
mas a minha avó era assim, ela ia na casa de uma filha e ela levava uma fofoca.
ela ia na casa de outra filha levar uma outra fofoca.
e aí ela começou a falar que meu pai estava vivendo na Bahia as custas do pai dele tava sugando o próprio pai.
Como a gente soube dessa história ?
uma das irmãs dele contou para minha mãe.
Depois que a minha avó fez a cirurgia voltou para Bahia quem trouxe ela ?
UM dos irmão do meu pai, o mais velho.
Chegou na Bahia, ele queria me trazer para morar com ele .
Ele tinha três filhos e a mulher dele precisava de uma menina para ajudar .
ela estava doente.
Meu pai falou que não.
Mas ele queria porque a minha avó já tinha dito que meu pai estava passando dificuldades.
Então ele queria me trazer.
queria dizer que meu pai não tinha condições de criar quatro crianças.
Meu avô não tinha ninguém para cuidar da roça e nem do gado.
propôs ao meu pai construir uma casa no lote dele.
Meu pai não viu problemas nenhum porque meu avô sempre foi muito bom para ele.
Então ele construiu a casa e fez dois quartos e uma sala e cozinha.
Colocou piso todo de pedra ,dava até para lavar o piso.
Ficou um lugar bem aconchegante para se morar .
Como lote do meu avô era perto da rua, dava para mim ir para escola como o meu irmão.
À tarde eu trabalhava e fazia de tudo para poder ajudar meus pais.
Minha mãe levou as galinhas que ela já tinha para lá começou criar patos peru galinha da Angola porcos.
Então a vida da gente melhorou um pouco porque já tínhamos leite bastante ovos, se precisasse de carne matava uma galinha e um porco .
Só que alguns irmãos do meu pai não aceitaram muito bem.
principalmente o mais velho, ele falou que meu pai só sugando o pai dele.
Então meu pai saiu do lote do meu avô, vendeu a casa dele, comprou uma casa na agrovila nove onde era mais desenvolvido e foi aí onde meu avô ficou muito mal.
Ele quis saber o motivo que meu pai estava se afastando dele!?
Meu pai respondeu que não aguentava mais ouvir os irmão dele falar que ele estava sugando o próprio pai.
O meu avô chorou quando ele soube disso.
Porque ele gostava muito dos netos próximo a ele. Lá minha mãe conseguiu emprego em uma oficina da prefeitura cooperativa.
Só que ela tava fechada a prefeitura montou mas não conseguiu ninguém para trabalhar.
A sogra do prefeito pediu para que a oficina fosse liberada para ela.
Elas pegaram serviço e trabalharam com quem queria trabalhar.
Como ele era a sogra do prefeito, foi fácil
Ai minha mãe ficou trabalhando um bom tempo com ela.
Lá era bom, tinha o mercadão do povo e tudo era mais barato .
A minha mãe conseguiu fazer uma bela compra.
Todo mundo foi embora para São Paulo, meu avô ficou sozinho
Natal ano novo ele passava sozinho , os vizinhos falavam para o meu pai que ele chorava muito sentindo a nossa falta.
A última filha que tava lá com ele veio embora para São Paulo e trouxe a filha dela .
Meu avô também vendeu a casa dele lá da cidade 17 e comprou uma casa do lado do meu pai na cidade 9.
Lá é bom porque tem um hospital próximo, tem um clube bem em frente da casa do meu avô onde faz festa
Tem a feira tem supermercado tem padaria tem uma quadra é duas vezes desenvolvido que a 17.
Foi lá que meu avô reencontrou a mulher que ele gostava.
Como a minha avó já não estava mais entre nós, ele foi morar com ela.
Mesmo ele estando sozinho, ainda teve filhos que não aceitou.
Só que não estava lá do lado dele quando ele precisou ,
Ela estava sozinha.
Antes do meu avô se mudar para a cidade 9, a minha avó chegou a morar um tempo com a gente, ela ficava mais com a gente do que na casa dela porque ela sempre estava doente.
E lá tem um hospital bem próximo então era um dia boa outro no hospital até o dia do seu óbito. Quando ela morreu, estava no hospital.
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